Saci-Pererê: lenda e curiosidades desse ícone do folclore brasileiro
Uma das figuras mais emblemáticas do folclore brasileiro é, sem dúvida, o Saci-Pererê, ou simplesmente, Saci. É um ser mítico envolto em mistérios e fantasia que vive nas matas e está sempre aprontando travessuras.
Conta a lenda que o Saci é um menino de baixa estatura, negro e pré-adolescente, com cerca de 11 anos. Ele possui apenas uma perna e veste um gorro vermelho que lhe confere poderes mágicos. Além disso, gosta de fumar seu cachimbo, que vive pendurado na boca.
Quem é o Saci?
Arteiro e desobediente, o pequeno ser encantado se locomove num redemoinho, é muito ágil e esperto e está sempre pregando peças nos vivos. Não é descrito como uma criatura maldosa, e, sim, travessa e agitada.
Algumas de suas travessuras estão relacionadas a pequenos acidentes domésticos, como queimar ou salgar a comida, esconder objetos e dar nós nas crinas de cavalos. Dizem também que ele é uma das entidades protetoras das matas e que seu assobio estridente é atordoante.
Há quem diga que é possível capturar o Saci. Para isso, é preciso jogar uma peneira dentro do redemoinho, enquanto ele se locomove de um lugar para outro.
Após pegá-lo, é necessário tirar seu gorro, assim ele perde os poderes e pode ser preso em uma garrafa.
Como o Saci-Pererê perdeu a perna
A história sobre a perda da perna do Saci é cheia de mistérios. Não se sabe ao certo como e porque o garoto tem apenas uma perna e vive pulando em um pé só. Muitos acreditam que ele tenha a perdido durante uma luta de capoeira.
Entretanto, como é um ser lendário criado na época da escravidão, há estudiosos que relacionam essa característica aos abusos e torturas sofridos pela população negra nesse período, onde nem as crianças escravizadas eram poupadas.
Como se sabe, muitas pessoas escravizadas foram submetidas a diversas atrocidades, inclusive amputações. Assim, a ausência de uma perna pode ser vista como uma marca da violência, ao mesmo tempo que não impede a entidade de correr com agilidade e desobediência enquanto espírito livre. O Saci pode ser interpretado como um espírito jovem que conseguiu resistir à escravidão.
Significado do capuz vermelho
De acordo com estudos da doutora em história Enidelce Bertin, a carapuça do Saci pode ser associada à liderança em grupos de capoeira. Naquela época, alguns poucos negros usavam gorros vermelhos e eram tidos como líderes de grupos capoeiristas em São Paulo.
Assim, a carapuça que dá poderes ao pequeno garoto é um símbolo de prestígio e resistência. Podemos também relacionar o vermelho ao elemento fogo, ao poder e magia. Sendo uma cor vibrante e presente na cultura africana e indígena, essa tonalidade confere ao mito do folclore magnetismo e vigor.
Origem do Saci-Pererê
Segundo o historiador e folclorista Câmara Cascudo, não se sabe com exatidão quando surgiu a história do Saci. Mas foi no século XIX que esse personagem apareceu na região sudeste do país, levando a crer que tenha relação com a escravidão presente nas lavouras de café, além de influências indígenas.
Mais tarde, em 1918, Monteiro Lobato lançou Sacy Perere – O resultado de um inquérito, publicação feita após estudos e relatos de brasileiras e brasileiros sobre o personagem. O livro foi um dos primeiros registros escritos sobre o Saci, tornando-se uma referência e consolidando algumas características da lenda.
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Referências bibliográficas:
Fronteiras: Revista de História, Dourados, v.24, n.43, p. 54-69. jan. / jun. 2022. Artigo: Saci-Pererê e São Benedito: entidades negras, religiosidade e memórias da escravidão, Elaine Pereira Rocha.