Lenda do Saci Pererê: a história desse ícone do folclore brasileiro


Laura Aidar
Laura Aidar
Arte-educadora, fotógrafa e artista visual
Publicado em

Uma das figuras mais emblemáticas do folclore brasileiro é, sem dúvida, o saci pererê, ou simplesmente, saci. É um ser mítico envolto em mistérios e fantasia que vive nas matas e está sempre aprontando travessuras.

O pequeno garoto negro de uma perna só permeia nosso imaginário há séculos, sendo uma representação muito potente e icônica da cultura popular.

Saci Pererê

Origem do Saci Pererê

Segundo o historiador e folclorista Câmara Cascudo, não se sabe com exatidão quando surgiu a história do saci.

Mas foi no século XIX que esse personagem aparece na região sudeste do país, levando a crer que tenha relação com a escravidão presente nas lavouras de café, além de influências indígenas.

Mais tarde, em 1918, Monteiro Lobato lançou Sacy Perere – O resultado de um inquérito, publicação feita após estudos e relatos de brasileiras e brasileiros sobre o personagem. O livro foi um dos primeiros registros escritos sobre o saci, tornando-se uma referência e consolidando algumas características da lenda.

Quem é o saci e qual sua história

Conta a lenda que o saci é um menino de baixa estatura, negro e pré-adolescente por volta dos 11 anos. Ele possui apenas uma perna e veste um gorro vermelho que lhe confere poderes mágicos. Além disso, gosta de fumar seu cachimbo, que vive pendurado na boca.

Arteiro e desobediente, o pequeno ser encantado se locomove num redemoinho, é muito ágil e esperto e está sempre pregando peças nos vivos. Não é descrito como uma criatura maldosa, e sim travessa e agitada.

Algumas de suas travessuras estão relacionadas a pequenos acidentes domésticos, como queimar ou salgar a comida, derramar o leite, esconder ferramentas e outros objetos, e ainda dar nós nas crinas de cavalos e atrasar viajantes.

Dizem também que ele é uma das entidades protetoras das matas e que seu assobio estridente é atordoante.

Há quem diga que é possível capturar o saci. Para isso, é preciso jogar uma peneira dentro do redemoinho, enquanto ele se locomove de um lugar para outro. Depois de pegá-lo, é necessário tirar seu gorro, assim ele perde os poderes e pode ser preso em uma garrafa.

Como o saci pererê perdeu a perna

A história sobre a perda da perna do saci é cheia de mistérios, não se sabe ao certo como e porque o garoto tem apenas uma perna e vive pulando em um pé só. Muitos acreditam que ele tenha a perdido durante uma luta de capoeira.

Entretanto, como é um ser lendário criado na época da escravidão, há estudiosos que relacionam essa característica aos abusos e torturas sofridos pela população negra nesse período, onde nem as crianças escravizadas eram poupadas.

Como se sabe, muitas pessoas escravizadas foram submetidas a diversas atrocidades, inclusive amputações. Assim, a ausência de uma perna do saci pode ser vista como uma marca da violência, ao mesmo tempo que não impede a entidade de correr com agilidade e desobediência enquanto espírito livre. O saci pode ser interpretado como um espírito jovem que conseguiu resistir à escravidão.

O que significa o capuz vermelho

De acordo com estudos da doutora em história Enidelce Bertin, a carapuça do saci pode ser associada à liderança em grupos de capoeira. Naquela época, alguns poucos negros usavam gorros vermelhos e eram tidos como líderes de grupos capoeiristas em São Paulo.

Assim, a carapuça que dá poderes ao pequeno garoto é um símbolo de prestígio e resistência.

Podemos também relacionar o vermelho ao elemento fogo, ao poder e magia. Sendo uma cor vibrante e presente na cultura africana e indígena, essa tonalidade confere ao saci magnetismo e vigor.

Você também pode se interessar:

Referências bibliográficas:

Fronteiras: Revista de História, Dourados, v.24, n.43, p. 54-69. jan. / jun. 2022. Artigo: Saci-Pererê e São Benedito: entidades negras, religiosidade e memórias da escravidão, Elaine Pereira Rocha.

Laura Aidar
Laura Aidar
Arte-educadora, artista visual e fotógrafa. Licenciada em Educação Artística pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e formada em Fotografia pela Escola Panamericana de Arte e Design.