Análise e letra de What a wonderful world de Louis Armstrong


Rebeca Fuks
Rebeca Fuks
Doutora em Estudos da Cultura

Lançada em single 1968, a música What a wonderful world ficou consagrada na voz rouca do cantor de jazz norte-americano Louis Armstrong. A composição, no entanto, não é de sua autoria, trata-se de uma criação feita em parceria entre Bob Thiele (1922-1996) e George David Weiss (1921-2010).

Quando lançada pela primeira vez, durante o outono de 1967, o intuito era acalmar os ânimos exaltados devido a conflitos sociais, políticos e raciais nos Estados Unidos.

Letra e análise

I see trees of green,
Red roses too
I see them bloom
For me and you
And I think to myself,
What a wonderful world

I see skies of blue
And clouds of white,
The bright blessed day,
The dark sacred night
And I think to myself,
What a wonderful world

The colors of the rainbow
So pretty in the sky
Are also on the faces
Of people going by
I see friends shaking hands,
Saying: "How do you do?"
They're really saying
"I love you"

I hear babies crying,
I watch them grow
They'll learn much more,
than I'll never know
And I think to myself,
What a wonderful world

Yes, I think to myself,
What a wonderful world

A composição criada por Thiele e Weiss pretende mostrar o que há de belo na vida e muitas vezes passa despercebido diante da pressa da nossa rotina. Os músicos chamam a atenção para detalhes simples do nosso cotidiano como as cores do céu, das árvores, do arco-íris e deixam claro para o ouvinte que a beleza pode ser encontrada nas miudezas do dia-a-dia.

Com um olhar extremamente otimista e solar, o que a canção faz é tentar mostrar o "copo meio cheio", as coisas boas da vida, a perspectiva solar do planeta.

A letra começa transmitindo as cores e a beleza da natureza,

I see trees of green, (Vejo árvores verdes)
Red roses too (Rosas vermelhas também)

A natureza mencionada na canção é aquela que podemos encontrar no nosso cotidiano, passeando na rua, olhando para a vitrine de uma floricultura qualquer. Thiele e Weiss escolhem elementos muito banais e corriqueiros, justamente para demonstrar que todos temos acesso a eles, basta ter olhos para ver.

O eu-lírico observa então o processo de crescimento da natureza, o ciclo da vida, do desenvolvimento das plantas.

Como sabe que a maior parte das pessoas não se dá conta desses pequenos milagres cotidianos, ele sublinha que repara na beleza em seu próprio nome, mas também em nome dos outros:

I see them bloom (Vejo-as florescer)
For me and you (Para mim e para você)
And I think to myself, (E eu penso comigo mesmo)
What a wonderful world (Que mundo maravilhoso)

Além de enfatizar as exuberâncias da natureza, do amadurecer da vida, e de passar em revista as belezas do clima (o céu azul, as nuvens brancas, o arco-íris colorido), a canção norte-americana sublinha os encontros do ser humano, a comunhão entre os amigos, a partilha entre as pessoas que se querem bem:

see friends shaking hands, (Eu vejo amigos se cumprimentando)
Saying: "How do you do?" (Dizendo: "Como você vai?")
They're really saying (Eles estão realmente dizendo)
"I love you" ("Eu te amo")

Além de olhar para o presente e encontrar beleza no aqui e no agora, o eu-lírico mira o futuro. Ele repara nos bebês e observa o privilégio de poder assistir o crescimento e o amadurecimento das próximas gerações, que irão produzir muito mais progressos do que a nossa:

I hear babies crying, (Eu ouço bebês chorando)
I watch them grow (eu os vejo crescendo)
They'll learn much more, (Eles vão aprender muito mais)
than I'll never know (do que eu jamais vou saber)

Em síntese, a música cantada por Armstrong é extremamente solar, otimista, positiva e transmite sobretudo uma mensagem de amor, de esperança e de crença em dias melhores.

Tradução

Vejo árvores verdes
Rosas vermelhas também
Vejo-as florescer
Para mim e para você
E eu penso comigo mesmo
Que mundo maravilhoso

Eu vejo o céu azul
E nuvens brancas
O abençoado dia claro
A sagrada noite escura
E eu penso comigo mesmo
Que mundo maravilhoso

As cores do arco-íris
Tão bonitas no céu
Estão também nos rostos
Das pessoas a passar
Eu vejo amigos se cumprimentando
Dizendo: "Como você vai?"
Eles estão realmente dizendo
"Eu te amo"

Eu ouço bebês chorando
eu os vejo crescendo
Eles vão aprender muito mais
do que eu jamais vou saber
E eu penso comigo mesmo
Que mundo maravilhoso

Sim, eu penso comigo mesmo
Que mundo maravilhoso

Sobre o lançamento da música

Apesar de ter sido divulgada nos Estados Unidos, a música interpretada por Armstrong não fez muito sucesso inicialmente na América. O diretor da gravadora não gostou da canção e praticamente não a promoveu.

What a wonderful world veio a estourar primeiro do outro lado do oceano, no Reino Unido, e depois regressou ao seu país de origem já como um hit.

Lembramos que Armstrong não era nenhum garoto quando a canção foi gravada. O cantor já havia completado 66 anos quando recebeu de presente a música composta por Thiele e Weiss especialmente para ele.

Tanto Thiele quanto Weiss eram nomes conhecidos no universo da música americana. Thiele foi produtor da gravadora ABC Records e Weiss ajudou a compor uma das versões da famosa The Lion Sleeps Tonight.

O single que abrigava What a wonderful world foi lançado durante um período político bastante delicado. A população norte-americana temia uma guerra civil e a escalada de violência era evidente nos ataques a lojas judaicas.

Os compositores Thiele e Weiss e escolheram:

" o embaixador perfeito para restaurar as relações entre pessoas brancas como eles e a comunidade afro-americana"

Single
Capa do single original, lançado pela ABC Records.

A música What a wonderful world ganhou maior visibilidade na América após ter sido usada como trilha sonora no filme Good Morning Vietnam, do diretor Barry Levinson.

O uso da música como tema de fundo em um filme que tratava de uma violenta guerra era evidentemente uma forma sarcástica de provocar a audiência.

Cartaz do filme Good Morning Vietnam.
Cartaz do filme Good Morning Vietnam.

Trilha sonora do filme Madagascar

Lançado em junho de 2005, o filme de animação Madagascar trazia a clássica música de Armstrong como trilha sonora. What a wonderful world ilustra as aventuras do leão Alex com os seus amigos Marty (a zebra), Melman (a girafa) e Gloria (a hipopótamo).

Gravação feita em 1967

Uma das primeiras apresentações da música estrelada por Louis Armstrong encontra-se gravada e está disponível online. Trata-se de uma pérola de 1967, quando a canção havia sido recém-lançada:

Quem foi Louis Armstrong

Figura central para o jazz norte-americano, Louis Armstrong nasceu no dia 4 de agosto de 1901 em Luisiana, nos Estados Unidos. De origem pobre, o menino foi criado pela mãe (Mayann) e precisou abandonar a escola cedo para ganhar a vida.

Foi trabalhando para a família Karnofsky que o jovem conseguiu juntar dinheiro para comprar a sua primeira corneta.

Na véspera do ano-novo de 1912, Louis foi preso e mandado para uma casa de correção. Foi lá que aprendeu propriamente a tocar corneta com rigor e disciplina.

Tornou-se líder da Brass Band da Waif e virou músico profissional. Armstrong recebeu o apadrinhamento de Joe "King" Oliver, o maior cornetista da cidade, e assim foi começando a trabalhar, tocando especialmente em barcos.

Em 1922, o padrinho Oliver pediu que Armstrong se juntasse a sua banda em Chicago. No ano a seguir já começaram a gravar discos juntos.

Foi na banda que o músico conheceu aquela que viria ser sua esposa, Lillian Hardin, a pianista de Oliver. A pedido da esposa, em 1924, Louis começou desenvolver uma carreira solo.

Louis

Outras versões da música

Apesar da versão mais consagrada ter sido aquela realizada por Armstrong, muitos artistas reinterpretaram a música acrescentando o seu toque pessoal.

What a wonderful world já foi tantas vezes regravada ao redor do planeta que escolhemos incluir aqui apenas as versões mais populares:

Israel Kamakawiwo'ole

Rod Stewart

Tiago Iorc, abertura da novela Sete Vidas (rede Globo)

James Morrison

Sam Cooke

Michael Buble

Conheça também

Rebeca Fuks
Rebeca Fuks
Formada em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2010), mestre em Literatura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2013) e doutora em Estudos de Cultura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e pela Universidade Católica Portuguesa de Lisboa (2018).