Música Comfortably numb, de Pink Floyd

Rebeca Fuks
Rebeca Fuks
Doutora em Estudos da Cultura
Tempo de leitura: 10 min.

Comfortably numb é a sexta faixa do segundo disco do álbum duplo The Wall, do conjunto Pink Floyd.

Criada em 1979, numa parceria composta pelo guitarrista David Gilmour e pelo baixista Roger Waters, a música foi um dos maiores sucessos do grupo britânico e é considerada um dos clássicos do rock.

Letra

Hello
Is there anybody in there?
Just nod if you can hear me
Is there anyone at home?

Come on now
I hear you're feeling down
I can ease your pain
And get you on your feet again

Relax
I need some information first
Just the basic facts
Can you show me where it hurts

There is no pain, you are receding
A distant ship smoke on the horizon
You are only coming through in waves
Your lips move
but I can't hear what you're saying
When I was a child I had a fever
My hands felt just like two balloons

Now I've got that feeling once again
I can't explain, you would not understand
This is not how I am
I have become comfortably numb
I have become comfortably numb

Ok
Just a little pin prick
There'll be no more
But you may feel a little sick
Can you stand up?
I do believe it's working, good
That'll keep you going, through the show
Come on it's time to go

There is no pain you are receding
A distant ship smoke on the horizon
You are only coming through in waves
Your lips move
but I can't hear what you're saying
When I was a child
I caught a fleeting glimpse
Out of the corner of my eye
I turned to look but it was gone
I cannot put my finger on it now
The child is grown
The dream is gone
And I have become comfortably numb

O senso comum acredita que a letra de Comfortably numb trata da experiência vivida a partir do consumo de drogas, mas o autor da composição, Roger Waters, insiste que não.

A música faz parte do álbum duplo The Wall (1979), que narra a jornada emocional de Pink. O álbum também é um filme e a canção faz parte da trilha sonora de uma cena em que Pink, o protagonista, encontra-se no seu quarto de hotel sob efeitos das drogas que acaba de tomar, incapacitado de atuar no concerto que teria agendado para a noite.

Entorpecido, em meio a uma de suas viagens psicológicas para o passado, Pink é interrompido quando invadem o quarto do hotel.

Um médico injeta uma substância que o tirará da sua overdose, garantindo que ele ainda possa se apresentar no concerto daquela noite.

A letra começa com um sujeito solitário, aparentemente perdido, e um pedido de ajuda, não sabemos bem a partida dirigido a quem.

Hello
Is there anybody in there?
Just nod if you can hear me
Is there anyone at home?

O que vamos percebendo, aos poucos, é que esse alguém se encontra debilitado, deprimido, sem forças e desconectado da realidade.

Quem tem voz na música, então, interfere, pede algumas informações básicas, pergunta onde dói e se é possível colocar-se de pé.

Embora a imagem que tenha sido cristalizada da música seja de alguém que experimenta entorpecentes e perde a conexão com a realidade, o autor e a própria letra deixam claros que se trata de um período da infância quando Rogers ficou doente.

A composição é bastante explícita:

When I was a child I had a fever
My hands felt just like two balloons

Quando tornou-se adulto, a sensação se repetiu algumas vezes, do mesmo jeito, um ingresso em um estado de delírio, totalmente fora do ar.

Durante um dos picos da hepatite, Roger precisou fazer um show na Filadélfia (na Arena Spectrum, no dia 29 de junho de 1977) e o médico aplicou uma injeção para a dor, julgando que se tratava de algum problema muscular. Roger Waters escreveu parte da letra inspirada nessa uma experiência.

Just a little pin prick
There'll be no more
Harm
But you may feel a little sick
Can you stand up?
I do belive it's working, good

Além dessa ocasião, em outras oportunidades o compositor se desconectou da realidade quando teve picos de febre ou de dor, Waters relembra:

"Eu me recordo de ter tido gripe ou algo do gênero, uma infecção que me deu uma febre de mais de 40° e me fez delirar. Não foi uma coisa engraçadinha como muitos pensam, foi terrível."

Embora a letra de Comfortably numb fale de situações pontuais vividas pelo compositor, é provável que o ouvinte já tenha se tornado confortavelmente entorpecido com alguma coisa na vida, em algum momento específico de dificuldade.

Se a composição começa de uma maneira desesperada - com um homem perdido, mergulhado em si, isolado - depois da chegada do médico e da administração do medicamento o estado de torpor melhora. O personagem se levanta, demonstrando ser capaz de realizar o show.

That'll keep you going, through the show
Come on it's time to go

Sobre a criação da música

No caso de Comfortably numb, a melodia surgiu antes da letra. Dave Gilmour escreveu a canção enquanto trabalhava em seu primeiro álbum solo, em 1978.

Quando estava gravando as sessões de The Wall, Gilmour levou o trabalho para Roger Waters apreciar e, possivelmente, criar uma letra. Os versos de Comfortably numb acabaram sendo efetivamente compostos pelo baixista.

O senso comum costuma associar a música as reações derivadas do consumo de drogas. Mas a verdade é que a criação, segundo o artista, gira em torno de um adulto que volta a se sentir criança quando está com febre.

Waters afirmou que já teve essa sensação algumas vezes ao longo da vida. Em uma entrevista concedida a revista Mojo, em dezembro de 2009, argumentou:

"When I was a child I had a fever / My hands felt just like two balloons" são versos autobiográficos. Eu me lembro quando era criança e tinha gripe ou alguma outra doença, uma infecção qualquer, quando a temperatura subia muito, eu entrava em delírio. Não era como se as minhas mãos, de fato, aparentassem balões, mas eu olhava para elas e sentia que eram enormes, assustadoras.

Em uma outra entrevista concedida, dessa vez nos anos 80, em Los Angeles, Waters relaciona a música com o período em que teve hepatite, embora ainda não tivesse o diagnóstico da doença.

Comfortably numb foi a última música criada pelos parceiros Waters e Gilmour. Em 1986, Waters deixou os Pink Floyd. Em 2008, o tecladista Richard Wright morreu, vítima de um câncer devastador.

A banda acabou por se reunir em 2014 para lançar o álbum Endless River, primeira coletêna original dos últimos 20 anos. No total, o conjunto lançou quinze álbuns originais, o primeiro foi em 1967 (intitulado The Piper at the gates of Dawn).

Tradução

Olá!
Há alguém aí dentro?
Só acene com a cabeça se você consegue me ouvir
Há alguém em casa?

Vamos, vamos, agora
Ouço dizer que você anda deprimido
Posso aliviar sua dor
Pôr você em pé de novo

Relaxe!
Eu preciso de alguma informação primeiro
Apenas os fatos básicos
Você poderia me mostrar onde dói?

Não há nenhuma dor, você está recuando
Um navio distante soltando fumaça no horizonte
Você só está sendo captado em ondas
Seus lábios se movem
Mas não consigo ouvir você
Quando era criança, tive uma febre
Minhas mãos me pareciam dois balões

Agora tenho essa sensação mais uma vez
Não consigo explicar, você não entenderia
Não é assim que eu sou
Me tornei confortavelmente entorpecido
Me tornei confortavelmente entorpecido

Ok!
Apenas uma picadinha de agulha
Não haverá mais
Mas você poderá se sentir um pouco enjoado
Você consegue se levantar?
Acredito mesmo que esteja funcionando, bom!
Isso o fará aguentar fazer o show
Vamos, está na hora de irmos

Não há nenhuma dor, você está recuando
Um navio distante soltando fumaça no horizonte
Você só está sendo captado em ondas
Seus lábios se movem
Mas não consigo ouvir você
Quando era criança
Eu peguei um vislumbre passageiro
Pelo cantinho do olho
Me virei para olhar mas tinha ido embora
Não consigo detectá-lo agora
A criança cresceu
O sonho acabou
Me tornei confortavelmente entorpecido

Álbum The wall

Lançado no dia 30 de novembro de 1979, The wall é um disco duplo - o décimo primeiro - do conjunto de rock britânico Pink Floyd. Foi o último trabalho realizado com a presença de todos os integrantes considerados lendas do grupo.

As gravadoras responsáveis pelo projeto foram a Harvest Records (no Reino Unido) e a Columbia Records (nos Estados Unidos) e o álbum foi considerado um dos trabalhos mais vendidos do mundo do rock.

Descubra as faixas do álbum duplo:

Disco 1:

1. In the Flesh? (Lado A)
2. The Thin Ice (Lado A)
3. Another Brick in the Wall (Part I) (Lado A)
4. The Happiest Days of Our Lives (Lado A)
5. Another Brick in the Wall (Part II) (Lado A)
6. Mother (Lado A)

1. Goodbye Blue Sky (Lado B)
2. Empty Spaces (Lado B)
3. Young Lust (Lado B)
4. One of My Turns (Lado B)
5. Don't Leave Me Now (Lado B)
6. Another Brick in the Wall (Part III) (Lado B)
7. Goodbye Cruel World (Lado B)

Disco 2:

1. Hey You (Lado A)
2. Is There Anybody Out There? (Lado A)
3. Nobody Home (Lado A)
4. Vera (Lado A)
5. Bring the Boys Back Home (Lado A)
6. Comfortably Numb (Lado A)

1. The Show Must Go On (Lado B)
2. In the Flesh (Lado B)
3. Run Like Hell (Lado B)
4. Waiting for the Worms (Lado B)
5. Stop (Lado B)
6. The Trial (Lado B)
7. Outside the Wall (Lado B)

Capa do álbum The wall.
Capa do álbum The wall.

The Wall, o filme

O longa metragem lançado em 1982 foi dirigido por Alan Parker baseado no álbum The Wall, lançado pelos Pink Floyd em 1979.

O filme foi escrito pelo próprio vocalista e baixista Roger Waters e conta a história de um astro do rock extremamente problemático que, por conta do seu isolamento social, acaba enlouquecendo.

Bob Geldof interpreta o protagonista Pink enquanto adulto e Kevin McKeon quando o famoso ainda é criança. Christine Hargreaves e James Laurenson interpretam os pais do artista enquanto Eleanor David interpreta a esposa.

Cartaz do filme.
Cartaz do filme.

Uma particularidade da produção é que existem pouquíssimos diálogos na telona, o filme é basicamente embalado pelas letras dos Pink Floyd.

Comfortably numb, o livro

Intitulado "Comfortably numb: the inside story of Pink Floyd", o livro escrito por Mark Blake promete ser uma contar os bastidores da banda de rock britânica Pink Floyd.

O autor é um profundo conhecedor do tema e já havia escrito outros livros dedicados à música (como Rolling Stone, The Times e Classic Rock).

A edição foi lançada em novembro de 2008.

Comfortably Numb: The Inside Story of Pink Floyd

Conheça também:

Rebeca Fuks
Rebeca Fuks
Formada em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2010), mestre em Literatura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2013) e doutora em Estudos de Cultura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e pela Universidade Católica Portuguesa de Lisboa (2018).