Futurismo: principais obras do movimento que exaltava a tecnologia


Carolina Marcello
Carolina Marcello
Mestre em Estudos Literários, Culturais e Interartes
Atualizado em

O Futurismo foi um movimento artístico e literário que surgiu no começo do século XX, representando uma das vanguardas europeias que visavam quebrar tradições e explorar outros modos de criação.

No dia 20 de fevereiro de 1909, o poeta italiano Filippo Marinetti publicou o Manifesto Futurista no jornal francês Le Figaro, marcando o começo oficial do movimento.

Influenciado pelos tempos modernos e suas transformações, rejeitava o passado e exaltava as novas tecnologias, elogiando aspectos como a sua energia e velocidade.

Cavaleiro Vermelho

Quadro Cavaleiro Vermelho.

A obra criada por Carlo Carrá em 1913 também é inspirada em uma ação cotidiana, neste caso o esporte, sob a forma de corridas de cavalos. Observando as patas e os cascos do animal, podemos perceber que ele é retratado em plena ação: está no meio de uma corrida.

De forma impressionante, a tela consegue sugerir que o animal se move a alta velocidade. Isso se torna visível, por exemplo, na postura curvada do cavaleiro, que parece fazer esforço para se segurar.

O Dinamismo de um Automóvel

O Dinamismo de um Automóvel (1912).

O quadro de 1912 foi criado por Luigi Russolo e retrata um automóvel em andamento nas ruas de uma cidade. Mais do que representar o estilo de vida da época, com as máquinas que estavam surgindo, a obra expressa a paixão do artista pelos avanços tecnológicos deste "novo mundo".

Ilustrando o cotidiano das metrópoles com cores fortes e contrastes, a obra traduz uma sensação de movimento e velocidade bastante característica do Futurismo.

Dinamismo de Um Cão na Coleira

Dinamismo de Um Cão na Coleira (1912)

Datada de 1912, a pintura de Giacomo Balla é outro exemplo bastante célebre da exaltação do movimento e da velocidade através da arte futurista.

Ao desenhar um cachorro que está passeando, o artista consegue traduzir o entusiasmo do animal, dando a impressão de que o corpo dele estremece. As patas, as orelhas e a cauda dele também parecem se mexer de forma frenética, balançando a corrente.

Conseguimos ainda vislumbrar os passos do dono, que caminha do seu lado. Na obra, encontramos a influência da cronofotografia, uma técnica fotográfica da Era Vitoriana que registrava as várias fases de um movimento.

Hieróglifo dinâmico do Bal Tabarin

Hieróglifo dinâmico do Bal Tabarin (1912).

A tela de Gino Severini foi pintada em 1912 e apresenta uma cena cotidiana do famoso cabaré parisiense Bal Tabarin. Extremamente colorido e cheio de vida, o quadro simboliza a vida boêmia e se foca principalmente em diversos corpos e formas humanas.

Os indivíduos parecem se sobrepôr, como se dançassem; na verdade, a obra relaciona as ideias de movimento, dança e música. Aqui, já são visíveis algumas influências do cubismo francês, como a técnica de colagem usada para decorar as vestes.

Formas Únicas de Continuidade no Espaço

Formas Únicas de Continuidade no Espaço (1903),  Umberto Boccioni

Uma das mais famosas esculturas do Futurismo, Formas Únicas de Continuidade no Espaço foi criada por Umberto Boccioni no ano de 1913. A peça original, feita de gesso, se encontra exposta no Museu de Arte Contemporânea da USP, na cidade de São Paulo.

Já as cinco versões posteriores, feitas de bronze, se encontram espalhadas por várias partes do mundo. Foi precisamente pelo movimento, tão exaltado pelos futuristas, que esta obra se tornou incontornável.

Descrevendo um corpo no tempo e no espaço, que parece caminhar para a frente enquanto o seu corpo é puxado para trás, Boccioni esculpiu algo inigualável. Como se lutasse contra algo invisível que o empurra, este sujeito transmite, em simultâneo, as sensações de força e leveza.

Características do Futurismo

  • Valorização da tecnologia e das máquinas;
  • Valorização da velocidade e do dinamismo;
  • Representação da vida urbana e contemporânea;
  • Rejeição do passado e do conservadorismo;
  • Ruptura com as tradições e modelos artísticos;
  • Busca daquilo que representa e simboliza o futuro;
  • Temáticas como a violência, a guerra e a militarização;
  • Aproximação entre a arte e o design;
  • Posicionamentos de ideologia fascista;

Na literatura, os futuristas se destacaram pelo uso da tipografia, valorizando a propaganda enquanto veículo de comunicação. Nas obras, escritas em linguagem vernácula, tipicamente nacional, se destaca o uso de onomatopeias. A poesia da época se caracteriza pelo verso livre, as exclamações e a fragmentação das frases.

Já na pintura, há um claro elogio ao dinamismo. Através de cores vivas e contrastes fortes, assim como da sobreposição de imagens, os futuristas retratavam os objetos em movimento.

Assim, os elementos representados não se esgotavam nos seus contornos ou limites visíveis; pelo contrário, eles surgiam como se estivessem se movimentando no tempo e no espaço.

Principais artistas do Futurismo

Como referimos acima, foi sobretudo entre os criadores italianos que o Futurismo teve um impacto maior. Embora tenha começado com um texto, o movimento logo se traduziu em inúmeras produções artísticas, sobretudo nas áreas da pintura e da escultura.

Depois da publicação do texto de Marinetti, vários artistas começaram a produzir obras que seguiam os preceitos que o Manifesto Futurista reivindicava. Na verdade, apenas dois anos depois, os italianos Carlo Carrà, Russolo, Severini, Boccioni e Giacomo Balla assinaram o Manifesto dos pintores futuristas (1910).

Retrato dos pintores futuristas em 1912.
Retrato dos futuristas italianos (Luigi Russolo, Carlo Carrà, Filippo Marinetti, Umberto Boccioni e Gino Severini) em 1912.

Luigi Russolo (1885 — 1947) foi um pintor, compositor e teórico que chamou a atenção tanto na arte, como na música. O artista incorporava alguns sons de máquinas e da vida urbana nas suas composições musicais, entre as quais se destacou A arte do ruído (1913).

Carlo Carrà (1881 — 1966) foi um pintor, escritor e desenhista que marcou profundamente o movimento futurista. Em uma fase posterior, ele também se dedicou à pintura metafísica, pela qual ficou bastante conhecido.

Entre os autores do manifesto de 1910, o pintor, escultor e desenhista Umberto Boccioni (1882 — 1916) é apontado como o mais notório. O artista teve uma morte prematura em 1916, depois de ter se alistado no exército, quando caiu de um cavalo durante um exercício militar.

Retrato de Umberto Boccioni em 1914.
Umberto Boccioni (1882 — 1916), pintor e escultor italiano.

Gino Severini (1883 — 1966) foi um pintor, professor e escultor que também se evidenciou no Futurismo, tendo sido um dos principais divulgadores do movimento no exterior da Itália. A partir de 1915, ele se dedicou à arte cubista, destacando as formas geométricas nas suas obras.

O seu professor, Giacomo Balla (1871 — 1958), foi outro artista que se evidenciou no Futurismo. O pintor, poeta, escultor e compositor trabalhou como como caricaturista por muitos anos e suas telas ficaram conhecidas pelo modos como jogavam com as luzes e o movimento.

Retrato de Amalda Negreiros em 1917.
Almada Negreiros (1893 — 1970), artista multidisciplinar português.

Também em Portugal, o movimento futurista ganhou força, principalmente através de Almada Negreiros (1893 — 1970). O pintor, escultor, escritor e poeta foi uma figura vanguardista central das primeiras gerações do Modernismo. Entre as muitas obras famosas de Almada, destacamos Retrato de Fernando Pessoa (1954).

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Carolina Marcello
Carolina Marcello
Mestre em Estudos Literários, Culturais e Interartes e licenciada em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Apaixonada por leitura e escrita, produz conteúdos on-line desde 2017, sobre literatura, cultura e outros campos do saber.