Impressionando os Anjos de Gustavo Mioto: história e significado da música


Carolina Marcello
Revisão por Carolina Marcello
Mestre em Estudos Literários, Culturais e Interartes

Escrita em parceria com o compositor Theo Andrade, a música Impressionando os anjos é um sucesso do cantor sertanejo de Votuporanga (São Paulo) Gustavo Mioto. A letra gira em torno da história de um homem que perde a esposa e se vê tendo que criar a família sozinho.

História da música

Em diversas entrevistas concedidas, Gustavo Mioto contou que um dia sonhou que estava cuidando de duas crianças. Passados alguns dias, o cantor assistiu uma reportagem na televisão onde um pai efetivamente cuidava sozinho de duas crianças. Foi aí que o sertanejo ficou impressionado com a suposta premonição.

Quando se encontrou com o amigo Theo Andrade ficou surpreso ao ouvir que o desejo do também compositor era fazer uma música como se fosse uma oração, um chamamento para alguém que está distante. Logo a seguir Mioto contou o tal sonho e juntos chegaram a conclusão que deveriam criar Impressionando os Anjos.

Segundo o próprio cantor e compositor:

Pensamos em um jeito diferente de falar sobre perder alguém. Queria passar a mensagem de que quem perde alguém que ama pode continuar vivendo, com saudade, o que é natural e até saudável, mas sem aquele sentimento de fim da linha.

Explicação da letra

Já nas primeiras linhas ficamos conhecendo o drama do eu-lírico, que chega tarde do trabalho, cansado, e sente uma enorme falta da parceira que não se encontra. Ele afirma que a saudade já é um sentimento cotidiano e o compara com a presença da tia chata, trazendo uma dose de humor para uma canção que trata de temas tão densos. Os primeiros versos se encerram com uma frase que é, ao mesmo tempo, um lamento e um suspiro: "ah, saudade da gente".

Depois a canção aborda aspectos mais práticos do dia a dia, fala do crescimento e do desenvolvimento dos filhos (a Julinha e o Pedro), para então tratar da conta bancária e da resolução da dívida do carro.

Tirando isso do resto até que eu estou dando conta
A Julinha tá banguela e o Pedro só apronta
O que faltava do carro eu já quitei a conta

A letra é quase um diálogo com alguém que está distante. Nela o eu-lírico aproveita para colocar a amada a par daquilo que está se passando na sua vida. Um dos exemplos dessa característica de diálogo é a forte marca de oralidade ("Falando nisso").

A grande angular se fecha e o assunto deixa de ser a família para passar a ser o casal. A distância da amada parece não fazer muito tempo porque ele diz que terminou o livro que ela havia sugerido que o parceiro lesse e que, só agora, com a falta, ele consegue entender ao ler o poema de Camões (O amor é fogo que arde sem se ver).

Após contar tudo o que se passa na sua vida, o eu-lírico deseja conectar-se com a mulher, ouvir o que ela sente e como estão as coisas do seu lado. Ela, entretanto, já não pode responder, e é nessa altura que percebemos que a amada faleceu.

Como é que tá ai? De você faz tempo que não ouço nada
Fala um pouco sua voz tá tão calada
Sei que agora deve estar impressionado anjos com sua risada

A maneira como os compositores anunciam a ausência é extremamente sensível e delicada. Ao invés de falar da morte como algo pesado, o que eles fazem é tentar conferir leveza ao dizerem que a amada deve estar fazendo companhia aos anjos.

Ao mesmo tempo que trata de um tema pesado como a morte, a viuvez e a orfandade das crianças, a canção tem uma pegada poética, um tom de conversa, de chamamento e de troca. É como se o casal nunca deixasse de ser um par, apesar da distância que os separa.

Letra

Hoje foi tudo bem, só um pouco cansativo
Dia duro no trabalho que acabou comigo
Tô aqui com os pés pra cima pronto pra dormir
A saudade de você é visita frequente
Que nem a sua tia chata que irritava a gente
Ah, saudade da gente

Tirando isso, do resto até que eu estou dando conta
A Julinha tá banguela e o Pedro só apronta
O que faltava do carro eu já quitei a conta

Falando nisso, terminei o livro que você pediu pra eu ler
E só na página 70 entendi você
Naquela parte onde diz que o amor é fogo que arde sem se ver

Como é que tá ai? De você faz tempo que não ouço nada
Fala um pouco sua voz tá tão calada
Sei que agora deve estar impressionado anjos com sua risada

Mas de você faz tempo que não ouço nada
Fala um pouco sua voz tá tão calada
Ai de cima fala alto que eu preciso ouvir, como é que tá ai?

Tirando isso do resto até que eu estou dando conta
A Julinha tá banguela e o Pedro só apronta
O que faltava do carro eu já quitei a conta

Falando nisso, terminei o livro que você pediu pra eu ler
E só na página 70 eu entendi você
Naquela parte onde diz que o amor é fogo que arde sem se ver

Como é que tá ai? De você faz tempo que não ouço nada
Fala um pouco sua voz tá tão calada
Sei que agora deve estar impressionado os anjos com sua risada

Mas de você faz tempo que não ouço nada
Fala um pouco sua voz tá tão calada
Fala alto ai de cima que eu preciso ouvir, como é que tá ai?

Sei que agora deve estar impressionado os anjos com sua risada

Fala alto que eu preciso ouvir
Como é que tá ai?

Descubra Gustavo Mioto

O cantor sertanejo Gustavo Mioto é natural de Votuporanga, interior de São Paulo, e nasceu no dia 12 de março de 1997. Seu pai, Marcos Mioto, é um nome conhecido no universo sertanejo, por isso o garoto começou a frequentar os palcos quando era criança, já aos seis anos.

Aos dez anos, Gustavo já havia criado a primeira música (É você quem vai chorar). A carreira do rapaz estourou quando fez parcerias com Jorge e Mateus (com a música Anti-amor), com Claudia Leitte (Eu gosto de você) e com Anitta (com a música Coladinha em mim).

Gustavo Mioto

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Carolina Marcello
Revisão por Carolina Marcello
Mestre em Estudos Literários, Culturais e Interartes e licenciada em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Apaixonada por leitura e escrita, produz conteúdos on-line desde 2017, sobre literatura, cultura e outros campos do saber.
Rebeca Fuks
Edição por Rebeca Fuks
Formada em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2010), mestre em Literatura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2013) e doutora em Estudos de Cultura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e pela Universidade Católica Portuguesa de Lisboa (2018).