11 melhores livros da literatura brasileira que todos deveriam ler (comentados)


Rebeca Fuks
Rebeca Fuks
Doutora em Estudos da Cultura

A literatura brasileira é um oceano de obras-primas e diante desse manancial de possibilidades elencamos as onze obras-primas que você não pode deixar de ler.

A lista abaixo foi composta em ordem cronológica e contempla os grandes nomes da literatura do nosso país desde o século XIX até os dias de hoje.

1. O cortiço, de Aluísio Azevedo (1890)

O cortiço

O cenário do romance de Aluísio Azevedo é o cortiço São Romão, situado no Rio de Janeiro, durante o século XIX. O proprietário do estabelecimento é João Romão, um português que se muda para o Brasil em busca de uma vida melhor e consegue montar seu próprio estabelecimento.

No princípio o proprietário tinha apenas três casas, depois consegue comprar casas ao lado e aos poucos vai levantando novas habitações.

Nada lhes escapava, nem mesmo as escadas dos pedreiros, os cavalos de pau, o banco ou a ferramenta dos marceneiros. E o fato é que aquelas três casinhas, tão engenhosamente construídas, foram o ponto de partida do grande cortiço de São Romão. Hoje quatro braças de terra, amanhã seis, depois mais outras, ia o vendeiro conquistando todo o terreno que se estendia pelos fundos da sua bodega; e, à proporção que o conquistava, reproduziam-se os quartos e o número de moradores.

João Romão tem como companheira Bertoleza, uma escrava fugida. Querendo ampliar cada vez mais os negócios, o português faz uma sociedade com o vizinho Miranda, e, para selar a união, propõe o casamento com Zulmira, a filha do sócio.

Sem saber o que fazer com a sua companheira Bertoleza, João Romão pretende denunciá-la como escrava fugida. O romance de Aluísio Azevedo narra, com pormenores, o cotidiano miserável daqueles que vivem no cortiço.

2. Dom Casmurro, de Machado de Assis (1899)

Dom Casmurro

A pergunta que até hoje perdura na literatura brasileira permanece sem resposta: Capitu traiu ou não traiu Bentinho? O clássico Dom Casmurro, de Machado de Assis, conta a história de um triângulo amoroso composto pelo narrador Bento Santiago, pela sua esposa Capitu e pelo melhor amigo do narrador, Escobar.

Um ciumento inveterado, Bentinho via nos gestos da esposa possíveis sinais de que ela estaria tendo um caso com o seu amigo de infância. Mesmo após a morte do amigo, Bentinho segue assombrado pela desconfiança. Ainda no velório ele interpreta o olhar de Capitu em direção ao morto como um olhar apaixonado.

Enfim, chegou a hora da encomendação e da partida. Sancha quis despedirse do marido, e o desespero daquele lance consternou a todos. Muitos homens choravam também, as mulheres todas. Só Capitu, amparando a viúva, parecia vencer-se a si mesma. Consolava a outra, queria arrancá-la dali. A confusão era geral. No meio dela, Capitu olhou alguns instantes para o cadáver tão fixa, tão apaixonadamente fixa, que não admira lhe saltassem algumas lágrimas poucas e caladas...

A suspeita da traição ganha mais força quando nasce Ezequiel, filho do casal, um bebê que o narrador afirma carregar os traços do melhor amigo, e não os seus.

Leia a análise detalhada do livro Dom Casmurro.

3. Triste fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto (1915)

Triste fim de Policarpo Quaresma

Policarpo Quaresma é o protagonista do romance de Lima Barreto passado no Rio de Janeiro no final do século XIX. Considerado uma obra pré-modernista, o livro conta a história de um patriota ufanista que faz de tudo para louvar o que é nacional.

Policarpo consegue alcançar o cargo de subsecretário do Arsenal de Guerra e se radicaliza cada vez mais em nome da sua paixão: passa a comer apenas comidas típicas brasileiras, aprende modinhas nacionais no violão e decide se comunicar em tupi-guarani.

Havia um ano a esta parte que se dedicava ao tupi-guarani. Todas as manhãs, antes que a "Aurora, com seus dedos rosados abrisse caminho ao louro Febo", ele se atracava até ao almoço com o Montoya, Arte y diccionario de la lengua guaraní ó más bien tupí, e estudava o jargão caboclo com afinco e paixão. Na repartição, os pequenos empregados, amanuenses e escreventes, tendo notícia desse seu estudo do idioma tupiniquim, deram não se sabe por que em chamá-lo — Ubirajara.

O extremismo começa a trazer problemas e Policarpo muda-se com a irmã para o campo. A mudança, no entanto, não faz com que os conflitos desapareçam, as desavenças entre os vizinhos no interior trazem a tona novas questões.

Conheça também o artigo Livro Triste Fim de Policarpo Quaresma: resumo e análise da obra.

4. São Bernardo, de Graciliano Ramos (1934)

São Bernardo

Paulo Honório é o personagem central do romance modernista escrito por Graciliano Ramos, é através dele que conhecemos a dura realidade do nordeste brasileiro. Criado sem pai nem mãe, sem nenhuma espécie de afeto, o rapaz envolve-se em uma confusão por conta de uma namorada e vai parar na cadeia. Lá passa três anos e torna-se ainda mais frio e violento.

Depois de traçar um plano para conseguir as terras de São Bernardo, uma propriedade onde já havia trabalhado, Paulo Honório consegue concretizar o seu desejo e torna-se um latifundiário.

A fim de ampliar a fazenda, manda matar o vizinho, Mendonça, com quem tinha problemas de relacionamento, e expande ainda mais o território.

Domingo à tarde, de volta da eleição, Mendonça recebeu um tiro na costela mindinha e bateu as botas ali mesmo na estrada, perto de BomSucesso. No lugar há hoje uma cruz com um braço de menos. Na hora do crime eu estava na cidade, conversando com o vigário a respeito da igreja que pretendia levantar em São Bernardo. Para o futuro, se os negócios corressem bem.

- Que horror! exclamou Padre Silvestre quando chegou a notícia. Ele tinha inimigos?

- Se tinha! Ora se tinha! Inimigo como carrapato. Vamos ao resto, Padre Silvestre. Quanto custa um sino?

O narrador, Paulo Honório, casa-se com Madalena e tem um filho. Madalena não aguenta a pressão de viver com aquele homem e se suicida. Solitário, Paulo Honório decide escrever um livro para contar a história da sua vida.

Leia a análise detalhada do livro São Bernardo e veja as Principais obras de Graciliano Ramos.

5. Morte e vida severina, de João Cabral de Melo Neto (1944)

Morte e vida severina

A criação de João Cabral de Melo Neto é a primeira da lista composta exclusivamente em versos. Considerada pela crítica como uma obra regionalista e modernista, o livro conta a história de um retirante nordestino chamado Severino.

O meu nome é Severino,
como não tenho outro de pia.
Como há muitos Severinos,
que é santo de romaria,
deram então de me chamar
Severino de Maria;
como há muitos Severinos
com mães chamadas Maria,
fiquei sendo o da Maria
do finado Zacarias.

Os versos dramáticos narram a viagem do sujeito rumo à vida nova, fugindo da seca. Depois de passar por imenso sofrimento - fome, solidão, miséria, preconceito - Severino resolve se suicidar. O nascimento de uma criança é o que o demove de tão severa decisão.

A poética de João Cabral é uma forte crítica social que resistiu ao tempo.

Leia a análise detalhada de Morte e vida severina.

6. Grande sertão: Veredas, de Guimarães Rosa (1956)

Capa da primeira edição de Grande sertão: Veredas

O narrador da história é Riobaldo, um jagunço do interior do nordeste que acompanha um bando em lutas travadas pelo sertão. Riobaldo apaixona-se por Diadorim, um dos membros do bando, e sofre calado por achar que estava encantado por um homem.

O nome de Diadorim, que eu tinha falado, permaneceu em mim. Me abracei com ele. Mel se sente é todo lambente – “Diadorim, meu amor…” Como era que eu podia dizer aquilo? E como é que o amor desponta?

O jagunço reprime esse amor por aquele que acredita ser um homem e, ao longo das seiscentas páginas do livro, reflete sobre a vida, sobre o encantamento, sobre a solidão, sobre a guerra.

7. A hora da estrela, de Clarice Lispector (1977)

A hora da estrela.

A hora da estrela é uma das preciosidades compostas pela escritora Clarice Lispector. O narrador Rodrigo S.M, conta a história de Macabéa, uma nordestina que vive sozinha no Rio de Janeiro. Sem ser especialmente qualificada nem bonita, Macabéa é uma jovem alagoana de 19 anos que sempre passa despercebida.

No Rio de Janeiro, trabalha como datilógrafa, vive em um quarto, come ao almoço cachorro-quente com Coca-Cola e, nas horas vagas, ouve rádio. Um belo dia conhece um também imigrante Olímpico, e começam a namorar. O rapaz, metalúrgico, trata-a muitíssimo mal, e, por fim, a troca por uma colega, Glória.

Desesperada, Macabéa procura uma cartomante, a senhora diz que o destino da jovem irá mudar depois de conhecer um estrangeiro rico. Assim que sai da cartomante, repleta de esperança, Macabeia atravessa a rua e é atropelada por uma Mercedes-Benz. Ninguém oferece ajuda e a moça morre na hora, na calçada.

Então ao dar o passo de descida da calçada para atravessar a rua, o Destino (explosão) sussurrou veloz e guloso: é agora é já, chegou a minha vez!

E enorme como um transatlântico o Mercedes amarelo pegou-a — e neste mesmo instante em algum único lugar do mundo um cavalo como resposta empinou-se em gargalhada de relincho.

Leia a análise detalhada do livro A hora da estrela.

8. O caderno rosa de Lori Lamby, de Hilda Hist (1990)

O caderno rosa de Lori Lamby.

O caderno rosa de Lori Lamby é, de longe, o título mais polêmico da lista. Escrito por Hilda Hilst no princípio da década de noventa, o romance tem como protagonista uma menina de oito anos que se prostitui e tem prazer nos atos que pratica.

O leitor tem acesso ao suposto diário da menina, onde Lori Lamby confessa os pormenores obscenos dos encontros com os clientes e a negociação por trás da venda do próprio corpo. Vale observar que supostamente os pais agenciam a própria menina.

Eu tenho oito anos. Eu vou contar tudo do jeito que eu sei por-que mamãe e papai me falaram para eu contar do jeito que eu sei. E depois eu falo do começo da história. Agora eu quero falar do moço que veio aqui e que mami me disse agora que não é tão moço, e então eu me deitei na minha caminha que é muito bonita, toda cor de rosa. E mami só pôde comprar essa caminha depois que eu comecei a fazer isso que eu vou contar.

9. Cidade de Deus, de Paulo Lins (1997)

O romance Cidade de Deus foi o livro de estreia do escritor Paulo Lins. A história contada se passa na favela Cidade de Deus, um dos maiores conjuntos habitacionais do Rio de Janeiro.

A violência é uma constante ao longo da narrativa que tem como protagonistas os moradores em meio ao fogo cruzado das lutas pelo poder entre as facções criminosas e a polícia.

O romance foi adaptado para o cinema em 2002, pelo cineasta Fernando Meirelles, e teve imenso sucesso de crítica e público.

10. Eles eram muitos cavalos, de Luiz Ruffato (2001)

Eles eram muitos cavalos.

O livro de Luiz Ruffato tem data e local bem demarcados: a narrativa se passa em São Paulo, no dia 9 de maio de 2000. A escrita contempla micro relatos de pessoas das mais diversas classes sociais que tem como casa a megalópole de São Paulo.

São sessenta e nove histórias independentes, retratos de diferentes ângulos tirados em um mesmo dia, em um mesmo lugar.

Ajeitando no nariz os óculos de massa preta, a haste esquerda colada com esparadrapo, as lentes de vidro arranhadas, a mulher penetra com vagar na pequena cozinha, dirige-se à pia, destorce com dificuldade a torneira atipoiada com elástico e barbante entrelaçados e lava um copo-de-requeijão, Frajola persegue o Piu-Piu no decalque. O marido, que sentado à mesa levava à boca uma xícara de café com a mão direita, enquanto a esquerda segurava aberto um livro, ligeiramente inclinado para proporcionar foco à vista astigmatizada, assusta-se, eleva os olhos, Aconteceu alguma coisa?

11. A chave de casa, de Tatiana Salem Levy (2007)

A chave de casa.

A personagem principal da obra inaugural de Tatiana Salem Levy recebe do avô uma chave da antiga casa da família na cidade de Esmirna, na Turquia. Essa é a premissa do romance que faz com que a personagem saia do Rio de Janeiro em busca da história dos seus antepassados.

Com uma forte pegada autobiografica, o romance narra a viagem que é, ao mesmo tempo, física e subjetiva, uma caçada em direção às raízes da protagonista, a sua genealogia familiar.

A essa altura já deveriam por certo ter mudado, se não a porta, certamente a fechadura. [...] Por que essa chave, essa missão descabida?

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Rebeca Fuks
Rebeca Fuks
Formada em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2010), mestre em Literatura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2013) e doutora em Estudos de Cultura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e pela Universidade Católica Portuguesa de Lisboa (2018).