Quincas Borba: resumo completo do livro (explicado)


Rebeca Fuks
Rebeca Fuks
Doutora em Estudos da Cultura

Publicado em 1891 inicialmente em formato de folhetim, Quincas Borba pertence a trilogia realista de Machado de Assis composta por Memórias Póstumas de Brás Cubas e Dom Casmurro.

Resumo do livro Quincas Borba

O protagonista Pedro Rubião de Alvarenga era um professor primário que se tornou enfermeiro e amigo do milionário Quincas Borba.

Com a morte de Quincas Borba, Rubião herda tudo o que pertencia ao magnata: escravos, imóveis, investimentos. Além de herdar a fortuna, Rubião, que tinha na altura do inventário cerca de 40 anos, também recebeu o cão, igualmente chamado, assim como o antigo dono, Quincas Borba.

Quando o testamento foi aberto, Rubião quase caiu para trás. Adivinhais por quê. Era nomeado herdeiro universal do testador. Não cinco, nem dez, nem vinte contos, mas tudo, o capital inteiro, especificados os bens, casas na Corte, uma em Barbacena, escravos, apólices, ações do Banco do Brasil e de outras instituições, jóias, dinheiro amoedado, livros, - tudo finalmente passava às mãos do Rubião, sem desvios, sem deixas a nenhuma pessoa, nem esmolas, nem dívidas. Uma só condição havia no testamento, a de guardar o herdeiro consigo o seu pobre cachorro Quincas Borba, nome que lhe deu por motivo da grande afeição que lhe tinha.

O então falecido acreditava que, se morresse antes do animal de estimação, o nome sobreviveria através do cachorro.

Juntos, Rubião e o cão Quincas Borba mudam-se de Barbacena (interior de Minas Gerais) para a Corte.

Na viagem de trem rumo ao Rio de Janeiro - mais precisamente na estação de Vassouras - o professor conhece o casal Sofia e Cristiano de Almeida e Palha. O casal, interesseiro, percebe a ingenuidade do mais recente milionário e resolve tirar proveito da situação.

Rubião se muda para uma casa em Botafogo e passa a andar cada vez mais próximo do casal Palha. Eles o ajudam com a decoração da casa, com a contratação de funcionários, o apresentam para o seu círculo social. As relações se estreitam tanto que Rubião acaba se apaixonando por Sofia.

A proximidade do casal trata-se, porém, de pura conveniência. Aos poucos, Rubião vai percebendo que Sofia não está interessada e que o casal tira proveito da sua condição financeira. Com o desgosto, Rubião começa a apresentar traços de demência.

O patrimônio vai diminuindo e o casal Palha, percebendo a condição do "amigo", se responsabiliza pelos cuidados do doente. A situação se agrava até que Rubião vai parar em um hospício.

Com crises cada vez mais frequentes de demência, Rubião acredita ser um imperador francês e consegue fugir do hospício com o cão. Juntos voltam para Barbacena, porém não recebem abrigo e passam a noite ao leu, na rua.

Rubião, insano, morre poucos dias depois.

Personagens principais do livro Quincas Borba

Quincas Borba

Quincas Borba era um intelectual que vivia em Barbacena, interior de Minas Gerais. Foi apaixonado por Maria da Piedade, irmã de Rubião. A moça morreu jovem e Quincas Borba não deixou nenhuma viúva ou filho. O herdeiro escolhido, registrado em testamento, foi o grande amigo Rubião, que esteve ao seu lado nos últimos meses antes da morte.

Quincas Borba, o cachorro

Além do grande amigo Rubião, Quincas Borba tinha outro fiel escudeiro: o seu cão. Tratava-se de um cachorro de meio tamanho, pêlo cor de chumbo e malhado de preto. Era um companheiro para todas as horas, dormia com o dono, partilhavam o mesmo nome:

— Bem, mas por que não lhe deu antes o nome de Bernardo, disse Rubião com o pensamento em um rival político da localidade.

— Esse agora é o motivo particular. Se eu morrer antes, como presumo, sobreviverei no nome do meu bom cachorro. Ris-te, não?

Rubião

Ingênuo, o antigo professor primário Pedro Rubião de Alvarenga recebe, aos quarenta anos, uma herança de Quincas Borba. Após a morte do amigo, Rubião descobre um inesperado testamento que o deixava como único responsável por todos os bens: imóveis, investimentos, livros. Também havia herdado o cão, Quincas Borba.

Sofia Palha

Casada com Cristiano Palha, Sofia é a musa de Rubião. O rapaz apaixona-se pela moça desde o momento que a conhece, na estação de Vassouras. Sofia tinha entre vinte e sete e vinte e oito anos e era descrita como uma belíssima senhora.

Cristiano Palha

Interesseiro, Cristiano de Almeida e Palha vê em Rubião uma oportunidade para crescer na vida. A partir do momento que percebe a ingenuidade do rapaz, Cristiano tenta tirar vantagem da sua condição financeira abastada.

Já ouviu falar na expressão "ao vencedor as batatas"? E na teoria filosófica do Humanitismo?

No capítulo seis do romance de Machado de Assis, Quincas Borba discursa para ensinar o amigo Rubião o conceito filosófico do Humanitismo.

A teoria, fundada nos ensinamentos do filósofo Joaquim Borba dos Santos, tem como base a noção de que a guerra seria uma forma de seleção natural.

"Supõe tu um campo de batatas e duas tribos famintas. As batatas apenas chegam para alimentar uma das tribos, que assim adquire forças para transpor a montanha e ir à outra vertente, onde há batatas em abundância; mas, se as duas tribos dividirem em paz as batatas do campo, não chegam a nutrir-se suficientemente e morrem de inanição. A paz, nesse caso, é a destruição; a guerra é a conservação. Uma das tribos extermina a outra e recolhe os despojos. Daí a alegria da vitória, os hinos, aclamações, recompensas públicas e todos demais efeitos das ações bélicas. Se a guerra não fosse isso, tais demonstrações não chegariam a dar-se, pelo motivo real de que o homem só comemora e ama o que lhe é aprazível ou vantajoso, e pelo motivo racional de que nenhuma pessoa canoniza uma ação que virtualmente a destrói. Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas."

Sobre a escrita do livro

Publicado em capítulos curtos, a história é contada por um narrador onisciente.

Chama a atenção o fato do narrador muitas vezes se comunicar diretamente com o leitor, vejamos como exemplo um trecho extraído do final do capítulo III:

Deixemos Rubião na sala de Botafogo, batendo com as borlas do chambre nos joelhos, e cuidando na bela Sofia. Vem comigo, leitor; vamos vê-lo, meses antes, à cabeceira do Quincas Borba.

Convém lembrar que Quincas Borba não é uma produção única e isolada, o romance faz parte de uma trilogia proposta por Machado de Assis. Ao longo do capítulo IV, por exemplo, sublinhamos o fato do narrador também conversar com o leitor a respeito do primeiro livro da trilogia:

Este Quincas Borba, se acaso me fizeste o favor de ler as Memórias Póstumas de Brás Cubas, é aquele mesmo náufrago da existência, que ali aparece, mendigo, herdeiro inopinado, e inventor de uma filosofia.

O que você sabe sobre Machado de Assis?

Joaquim Maria Machado de Assis, ou somente Machado de Assis, é considerado o maior nome da ficção brasileira. Teve origem humilde, nasceu no Rio de Janeiro, em 21 de junho de 1839, filho de um pintor e dourador e de uma açoiriana que morreu jovem.

Machado de Assis cresceu no Morro do Livramento e não pode ter pleno acesso aos estudos formais.

Começou a trabalhar na Imprensa Nacional como aprendiz de tipógrafo e lá foi crescendo profissionalmente. Em 1858, tornou-se revisor e colaborador do Correio Mercantil. Dois anos mais tarde, migrou para a redação do Diário do Rio de Janeiro.

Machado de Assis
Machado de Assis aos 25 anos.

Escreveu romances, contos, críticas teatrais e poesias. Foi fundador da cadeira número 23 da Academia Brasileira de Letras e escolheu como seu patrono José de Alencar, grande amigo de Machado que já havia falecido vinte anos antes da criação da ABL.

Morreu no Rio de Janeiro, aos 69 anos, em 29 de setembro de 1908.

Leia o livro na íntegra

O romance Quincas Borba se encontra disponível para download em formato PDF.

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Rebeca Fuks
Rebeca Fuks
Formada em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2010), mestre em Literatura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2013) e doutora em Estudos de Cultura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e pela Universidade Católica Portuguesa de Lisboa (2018).