Conheça a história de João e Maria (com resumo e análise)
João e Maria é uma fábula muito antiga que conta a história de dois irmãos abandonados em uma floresta.
A lenda, que foi transmitida através da oralidade por diversas gerações na época da Idade Média, foi coletada pelos irmãos Grimm no século XIX, e hoje integra um conjunto de contos muito presente no imaginário infantil.
O título original é Hänsel und Gretel, e a história trazia elementos sombrios e um tanto diferentes do que conhecemos atualmente.
Resumo
As crianças e sua família
Há muitos anos atrás, havia duas crianças, João e Maria, vivendo com seu pai e sua madrasta próximo a uma floresta. O pai era lenhador e os tempos eram de escassez. A família passava fome e não tinha recursos para alimentar a todos.
Diante dessa situação, a madrasta, que era uma mulher mesquinha e má, elabora um plano horrível de abandonar as crianças na floresta para que fossem devoradas pelas feras. O pai, a princípio, não concorda, mas acaba cedendo e aceita a sugestão de sua esposa.
João e Maria escutam a conversa dos adultos e ficam com muito medo. Entretanto, o menino tem a ideia de recolher pedrinhas brilhantes para marcar o caminho de volta para casa.
Assim, na manhã seguinte, todos saem em direção à floresta com a desculpa de que iriam cortar lenha.
João e Maria e as pedrinhas brilhantes
Quando chegam a uma clareira, o lenhador acende uma fogueira e diz para seus filhos ficarem lá até que eles voltem para buscá-los, o que obviamente não acontece.
As crianças ficam certo tempo nesse local, mas depois percebem que realmente não seriam resgatadas. Então eles decidem retornar seguindo as pedrinhas que João havia deixado pelo caminho.
O abandono novamente na floresta
Ao chegarem em casa, João e Maria são recebidos com satisfação pelo pai. A madrasta, entretanto, fica furiosa e decide levá-los para mais longe.
João novamente decide coletar pedrinhas para deixar pelo caminho, mas dessa vez a mulher havia trancado a porta da casa, o que impossibilitou o menino de recolher as pistas.
Então, poucos dias depois, o casal dá um pedaço de pão para cada criança e sai mais uma vez rumo à floresta. Dessa vez, como não havia pedras brilhantes para marcar o trajeto de volta, João e Maria deixam pelo caminho pequenos nacos do pão.
A tentativa frustrada de retorno
Dessa forma, eles são levados para um local ainda mais remoto e perigoso.
Quando os irmãos tentam voltar para casa, se dão conta de que as migalhas deixadas como marcas tinham desaparecido, provavelmente devoradas pelos pássaros e outros animais da floresta.
Eles não conseguem achar o caminho de volta e se veem perdidos e desamparados na escuridão da mata fechada.
João e Maria encontram a casa de doces
As crianças resolvem perambular em busca de ajuda e, de repente, avistam uma casa. Ao chegarem mais perto, notam que a construção era feita de bolos e outras guloseimas.
Surpresos com tal descoberta, João e Maria simplesmente não acreditam no que seus olhos veem! Era como um sonho, e eles correm em direção à casa e começam a comer tudo o que suas bocas conseguem engolir, depois de tanta privação de comida.
A bruxa má
Mas, como tudo o que é bom dura pouco, logo aparece a dona da casa. Era uma mulher bastante idosa e de aparência estranha. De qualquer forma, ela os recebe com simpatia, convidando-os para entrar.
Os irmãos pensam se tratar de uma senhora solidária, já que é oferecido ainda mais comida a eles. Mas, com o tempo percebem que na realidade a mulher era uma bruxa muito má.
Isso porque a idosa tinha uma gaiola, onde prendeu João com o intuito de alimentá-lo até que ele ficasse gordo o suficiente para ser abatido e assado em um enorme forno. Enquanto isso, Maria era obrigada a realizar todo tipo de trabalho doméstico.
A bruxa, que era meio cega, verificava se o menino estava engordando mandando que ele lhe mostrasse seu dedo para ela apalpar. João, muito esperto, conseguiu enganar a velha lhe mostrando um fino graveto. Por isso, os irmãos permaneceram muito tempo na cabana de doces.
Maria se livra da bruxa
Chega um dia em que a bruxa já está irritada e cansada de esperar que o menino fique "no ponto" para ser devorado. Ela resolve então assá-lo de qualquer maneira.
Maria continuava a trabalhar e a bruxa lhe manda acender o forno. Quando a velha chega perto para verificar a temperatura, a menina rapidamente a empurra para dentro do forno e fecha a tampa, trancando a malvada lá dentro.
A libertação das crianças e a volta para casa
Assim, Maria liberta o irmão e eles entram novamente na casa para ver o que a bruxa escondia. As crianças encontram muitas riquezas, pedras preciosas e dinheiro.
Levando o tesouro da feiticeira, voltam para a floresta a fim de procurar o caminho de casa. O retorno é tortuoso e eles se deparam com alguns desafios.
Entretanto, conseguem se situar e encontrar sua antiga casa. Lá dentro estava o pai, que quando os vê chora de felicidade. Ele havia sentido muito remorso e culpa pela covardia de abandonar as crianças indefesas.
A essa altura, a madrasta má já havia morrido e as crianças puderam crescer felizes ao lado do pai. Eles agora já não passavam fome e os tempos de miséria tinham ficado no passado.
Análise do conto
Nesse conto, muitos elementos psicológicos podem ser analisados. A fábula traça uma narrativa sobre o sentimento de desamparo, a busca por independência, a satisfação, frustração e, por fim, a coragem.
A simbologia do casal de irmãos e da floresta
Os irmãos simbolizam o lado masculino e feminino (yin e yang) de uma mesma pessoa, que quando se depara com uma situação de desamparo, tristeza e abandono, se vê perdida diante do "desconhecido". Essa confusão emocional pode ser representada pela imagem da floresta e seus perigos.
Interessante observar que as crianças, ao serem abandonadas, se preocupam em deixar pistas para achar o caminho de volta, mas mesmo assim, acabam sozinhas e tendo que se reorientar sem nenhum apoio, somente usando suas próprias capacidades.
Satisfação e frustração
Nessa busca de si, João e Maria acabam por encontrar um momento de satisfação extrema, quando se veem diante de uma casa feita de doces. Eles, que estavam famintos - e a aqui pode-se relacionar à uma "fome existencial" - se empanturram de guloseimas, que na realidade não alimentam de fato.
Assim, essa ilusão de que estavam "à salvo" logo é desfeita, com a figura da bruxa representando as frustrações e decorrências da avidez, gula e ansiedade.
A perda da inocência e a retomada da coragem
A velha senhora, que a princípio se mostrava boa, mais tarde os aprisiona. Assim, quando os irmãos percebem já era tarde demais, João estava preso em cativeiro e Maria era feita de escrava. Aqui, o conto nos fala sobre as consequências de ser demasiado inocente e a confiança cega.
Entretanto, as crianças conseguem se livrar das ameças e castigos ao acessarem sua força interior, coragem, espírito de equipe e criatividade. Eles ainda saem carregando as riquezas da velha, o que nos aponta para a sabedoria que adquirimos quando passamos por situações difíceis na vida.
Outras considerações
Na história, a bruxa morre e a madrasta também. Esses acontecimentos estão relacionados pois, de alguma maneira, essas personagens estão conectadas pelo mal que causam aos irmãos e pelo forte desejo pelo alimento.
Outro ponto interessante de analisar é sobre o contexto histórico em que o conto surgiu. Na época da Idade Média, a fome era algo que castigava enorme parte da população. Assim, em João e Maria esse é o problema central que ronda toda a narrativa.
Desconfia-se também que na história original, a madrasta não existia, e na realidade quem bolava o plano de abandono era a própria mãe das crianças. Como essa versão pareceu muito cruel, ela foi alterada posteriormente.
João e Maria adaptado para TV e cinema
Algumas versões da fábula foram adaptadas para o audiovisual. Selecionamos duas delas, bastante distintas.
Série de TV Teatro dos Contos de Fada
Apresentada por Shelley Duvval, a série de 26 episódios foi exibida nos anos 90 pela TV Cultura e fez parte do imaginário infantil de toda uma geração. Confira o episódio completo:
Filme João e Maria, caçadores de bruxas (2013)
Em 2013 foi feita uma versão diferente do conto para o cinema. Na história, os irmãos cresceram e se transformaram em caçadores de bruxas. Veja o trailler:
Conheça os irmãos Grimm
Os irmãos Jacob e Wilhelm Grimm nasceram na Alemanha em 1785 e 1786, respectivamente. Os dois foram estudiosos da linguagem, poetas e acadêmicos que dedicaram sua vida, sobretudo, à coleta e escrita de fábulas populares que faziam parte da tradição oral de povos germânicos.
Eles compilaram um grande número de histórias que eram contadas por familiares e pessoas humildes. Acredita-se que boa parte desses contos chegaram até os irmãos através de uma mulher chamada Dorotea Viehmman. Nessa época, as narrativas eram voltadas ao público adulto, não às crianças.
A iniciativa de reunirem as histórias de seu povo impulsionou também a coleta e registro de outros mitos nas demais partes do mundo por outros pesquisadores, a fim de garantir que tais fábulas não se perdessem.
Vale lembrar que as histórias sofreram algumas modificações ao longo dos anos. Geralmente, as versões originais são mais assustadoras e nem sempre possuem final feliz.
Alguns contos famosos escritos pelos irmãos são: Branca de Neve, Chapeuzinho Vermelho, Rapunzel, O Pequeno Polegar, Cinderela, entre outros.
Jacob veio a falecer no ano de 1863, sendo que Wilhelm havia morrido quatro anos antes, em 1859. Ambos foram de essencial importância para a conservação das tradições que permeavam o inconsciente coletivo e, até hoje, permanecem em nosso imaginário.
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