Filme Parasita (resumo e explicação)


Carolina Marcello
Carolina Marcello
Mestre em Estudos Literários, Culturais e Interartes

Parasita é um filme sul-coreano de thriller, drama e comédia, dirigido por Bong Joon-ho. Lançado em 2019, o longa-metragem tem feito um enorme sucesso internacional depois da sua exibição no Festival de Cinema de Cannes, onde venceu a Palma de Ouro.

No ano seguinte, Parasita foi o grande vencedor do Oscar 2020, premiado nas categorias de Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Roteiro Original e Melhor Filme Estrangeiro.

Foi a primeira vez que uma produção que não é falada na língua inglesa venceu a premiação de Melhor Filme, fazendo história e abrindo novas portas para o cinema dos vários cantos do mundo.

Trailer e sinopse de Parasita

O filme de Bong Jonn-ho retrata as ações de uma família pobre (os Kim), que manipula uma família abastada (os Park) para arrumar trabalho.

Através de uma série de mentiras e planos mirabolantes, os vigaristas conseguem se "infiltrar" na mansão luxuosa, como um parasita que habita um corpo sem que ele perceba.

A casa também está cheia de mistérios que os Kim vão desvendando ao longo da narrativa. Um filme marcado pelo terror psicológico, Parasita também tem os seus momentos sangrentos e rende boas gargalhadas.

Atenção: a partir deste ponto, o artigo contem spoilers!

Análise e explicação do filme Parasita

Contrastes sociais e relações familiares

Desde o primeiro frame, Parasita traça um retrato crítico da realidade sul-coreana, chamando atenção para as desigualdades econômicas que dividem aquele país.

Família trabalhando na sua casa, fazendo caixas de pizza.

Em dois polos opostos, as famílias Kim e Park simbolizam dois modos de vida totalmente distintos: uns vivem abaixo do limiar da pobreza e os outros são milionários. Isso se torna visível nas dinâmicas, nos problemas e nos universos mentais dos núcleos familiares.

Os Kim trabalham todos juntos e vão inventando vários jeitos de sobreviver em família. Os filhos precisam contribuir para o sustento de todos e são incluídos nos golpes, sendo essenciais no decorrer da narrativa.

O casal de donos da casa.

Por outro lado, os Park parecem menos unidos, com um pai que passa muito tempo fora e uma mãe que vive preocupada com tudo. Os filhos vivem numa espécie de redoma, muito protegidos e dedicados aos estudos.

Enquanto isso, Ki-woo e Ki-jeong precisam lutar pela sobrevivência em todos os momentos. Até para dar o golpe na família Park, os jovens Kim precisam ficar com o celular perto do teto, para roubar a internet da vizinha.

Irmãos planejando o golpe.

Mentiras, planos e esquemas

O destino da família Kim muda de repente, quando o amigo Min-hyuk chega com um presente: uma pedra que é um talismã feito para atrair riqueza. Ele traz também uma oportunidade de trabalho, propondo que Ki-woo se faça passar por professor e o substitua.

Como foi militar, o jovem sabe falar inglês e a sua irmã falsifica um diploma de uma Universidade conceituada. Assim que é contratado, ele descobre que existe uma vaga de professora de arte e passa o contato da sua irmã, que finge ser outra pessoa, Jennifer.

Os irmãos Kim chegando em casa.

Ki-jeong é uma garota muito esperta, que costumava trabalhar como atriz em velórios, e está acostumada a enganar os outros. Depois de uma pesquisa rápida no Google, ela encontra argumentos para convencer a dona da casa de que o filho precisa fazer sessões de arteterapia, várias vezes por semana.

Deste modo, os irmãos Kim conseguem entrar na mansão dos Park. Ki-woo aproveita o trabalho como tutor para começar um romance secreto com a adolescente. Enquanto isso, Ki-jeong bola um plano para que os Park demitam o motorista. Durante uma carona, a jovem deixa a sua lingerie no banco de trás, para o patrão encontrar.

Os donos da casa demitem funcionários antigos.

Dong-ik encontra a armadilha e conta para a esposa. Juntos, decidem ser discretos e arranjar uma desculpa para demitir o funcionário. É assim que Ki-taek acaba sendo contratado como motorista do patriarca, usando o nome Mr. Kevin.

Finalmente, eles só precisam arrumar um emprego para a mãe mas, para isso, têm que tirar a empregada do caminho. Aquela mansão tinha pertencido a um arquiteto, que a desenhou, e contratou Gook Moon-gwang. A funcionária permaneceu na mansão quando ela foi vendida para os Park e conhece todos os cantos.

Nos tempos livres, os Kim vão elaborando um esquema e chegam mesmo a treinar as mentiras, com um roteiro, para tudo sair perfeito. Sabendo que a empregada é terrivelmente alérgica a pêssegos, eles vão colocando a penugem da fruta nos seus pertences, fazendo a mulher ter crises cada vez piores.

Envenenam a governanta com pêssegos.

Simultaneamente, eles convencem a patroa que Gook Moon-gwang está com tuberculose. De repente, ela é demitida e obrigada a deixar a casa, com um sentimento notório de aflição.

O patrão comenta com o novo motorista que está precisando de uma empregada nova, porque a antiga "comia por dois". Essa é a deixa para a contratação de Chung-sook, que passa a cuidar da casa. Em pouco tempo, os quatro passam a conviver na mesma mansão, usufruindo de todo o conforto, e agindo como desconhecidos.

Infiltrados na casa

Se pensarmos sobre Parasita, percebemos que, no fundo, o filme retrata o modo como algumas pessoas desfavorecidas acabam se infiltrando nas casas dos ricos, como medida desesperada de sobrevivência.

Quando Ki-woo vai trabalhar para os Park, os Kim encontram uma porta de entrada para um local confortável e luxuoso, bem diferente da realidade que conhecem. Assim, quando os patrões vão acampar, eles ficam sozinhos e aproveitam a mansão: comem, bebem e riem.

Frame do filme Parasita: a antiga empregada e o marido.

É aí que antiga empregada surge, no meio da tempestade, e os Kim descobrem a existência de um bunker que abriga Geun-sae há anos. A mulher explica que o seu marido vive ali trancado porque tinha muitas dívidas e corria risco de vida.

Assim como os protagonistas, estes dois personagens estavam desesperados e encontraram refúgio na espaçosa mansão, sem que os donos percebessem. Quando descobrem o esquema da família, Gook Moon-gwang e o marido se envolvem numa luta com os Kim e acabam perdendo, ficando presos no bunker.

No fundo, os dois grupos estão batalhando pelo lugar de "parasita" da casa, porque sabem que não poderão coexistir sem que os patrões reparem. No entanto, quando os Park regressam, durante a noite, a residência está arrumada e os funcionários estão escondidos em vários locais.

Escondidos na casa

Sem que Dong-ik e Yeon-gyo reparem, o motorista e seus filhos acabam fugindo da mansão, no meio da chuva. Quando chegam no seu apartamento, tudo está alagado e destruído.

Enquanto isso, a casa dos Park está em total harmonia e o filho mais novo até dorme numa tenda no jardim que não inunda, o que parece metaforizar o privilégio.

Sem rumo, sem trabalho, sem dinheiro, com casas depredadas, aquilo que motiva estes personagens se torna mais compreensível: eles estão lutando por um teto.

Dois lados da mesma moeda

Como temos mencionado nesta análise, Parasita é um filme que fala sobre dinheiro: a sua abundância e também a sua ausência, lado a lado. Tudo isso vai ficando mais evidente através da narrativa, que vai esclarecendo e confundindo o espectador, a cada cena.

Apesar de contar a mesma história, o longa-metragem pode transmitir mensagens muito diferentes para aqueles que assistem, dependendo da sua própria interpretação e mundividência.

O que parece estar em jogo é a nossa capacidade de sentir empatia, ou não, por estes indivíduos e os atos criminosos que cometem. À primeira vista, os Kim são claramente os vilões da história: uma família manipuladora, que invade a vida de uma família abastada e ameaça a sua segurança.

Assim, no final, quando eles recebem o "castigo merecido", podemos considerar que tudo acabou bem. Por outro lado, é possível encarar a trama com outra visão, mais atenta à sociedade sul-coreana e as suas desigualdades gritantes. Através dessa perspectiva, podemos considerar que estes sujeitos mentem e dão golpes por necessidade, por sobrevivência.

O mesmo teria acontecido com o marido da antiga empregada que, sem outra solução possível, se escondeu no bunker para não ser assassinado. O que estes personagens têm em comum é a falta de opções, a vida miserável que não oferece muitas saídas: por isso, qualquer oportunidade tem que ser agarrada com unhas e dentes.

Muita gente vive em subterrâneos...

A postura de Geun-sae demonstra isso mesmo. Depois de ser descoberto pelos Kim, ele implora para permanecer no bunker. Apesar de tudo, o prisioneiro se sente seguro e confortável, alegando que a vida no exterior é bem mais difícil e cruel.

Surto psiquiátrico ou ódio de classes?

Ao longo do filme, vai se gerando um mal-estar, cada vez mais intenso, entre os patrões e os empregados, principalmente o motorista.

Numa sociedade capitalista que se caracteriza por uma divisão extrema da população, os funcionários observam o cotidiano dos Park e percebem como a vida deles é mais fácil, mais agradável, mais feliz.

O dinheiro é como um ferro de passar.

Conversando sobre os seus patrões, os Kim falam sobre o modo como são ingênuos, despreocupados. Alegam que eles podem ser assim porque não têm que se preocupar com necessidades básicas e a sua vida sempre é facilitada pela riqueza.

Frame do filme Parasite

Por outro lado, a família procura justificar os seus atos egoístas e criminosos, alegando que estão cuidando de si mesmos, porque precisam viver mais um dia.

Quando os Park chegam em casa durante a noite, o motorista e os filhos precisam se esconder debaixo da mesa, para não serem vistos. Aí, escutam Dong-ik e Yeon-gyo trocando confissões sobre os empregados. Num tom de superioridade, o patrão menciona que as roupas do motorista têm sempre um cheiro ruim e não esconde o seu nojo.

Ki-taek fica ofendido com o comentário e a sua revolta parece aumentar quando encontra o seu apartamento completamente inundado pelas chuvas.

Enquanto passam a noite em um edifício público, com outras famílias desalojadas, o pai fala para o filho que deixou de ter um plano:

Sem plano nada importa. Você pode matar alguém ou trair o seu país.

A expressão facial do homem se transforma a partir daquele momento, ficando visível a sua raiva e o seu desespero. No dia seguinte, ele tem que trabalhar e ajudar os Park com todos os preparativos para a festa de aniversário do caçula.

No carro, o patrão cobre o nariz com a mão, manifestando desagrado pelo cheiro do motorista. Ele repara e se enfurece de novo.

Frame do filme Parasita.

Durante a festa, Ki-woo vai até o bunker e acaba libertando o prisioneiro, sem querer. É interessante repararmos na relação de Geun-sae com o patriarca dos Park. Durante os anos que passa trancado naquele local, ele começa a idolatrar o dono da casa, rezando para uma foto sua todas as noites.

No entanto, quando se liberta, o homem tem sede de matar e não poupa Dong-ik. Depois de esfaquear Ki-jeong, que segurava o bolo de aniversário, o assassino parte para cima do dono da casa.

O motorista, que parece estar em surto, escuta as ordens que o patrão está gritando, e vê a sua expressão de nojo perante o cheiro e a imagem de Geun-sae. É aí que ele pega a faca e, em vez de atacar o assassino da filha, acaba matando o patrão e se escondendo na casa.

No seu momento final, Dong-ik não é apenas um homem, mas parece representar algo muito maior: o privilégio de classe, a injustiça de um sistema com tantos contrastes.

O final explicado por Bong Joon-ho

Depois de Ki-taek ter assassinado o patrão e se refugiado no bunker, sua mulher e filho são julgados, sendo que o jovem fica com sequelas psicológicas depois de ter sido atacado por Geun-sae.

Durante a noite, ele vai observar a mansão e repara nas luzes piscando. Com o tempo, acaba decifrando a carta em código morse que o pai lhe envia, todas as madrugadas. Nos últimos momentos do filme, escutamos o monólogo do filho, prometendo que vai estudar, enriquecer e comprar a casa.

As imagens finais, no entanto, mostram o rapaz no pequeno apartamento subterrâneo. Não existe mais esperança. Apesar de todos os planos e os crimes, a família Kim voltou ao ponto de partida e ainda perdeu dois membros. A esse respeito, o diretor explicou:

É muito cruel e triste, mas eu pensei que estava sendo real e honesto com o público. Você sabe e eu sei - todos sabemos que esse garoto não conseguirá comprar aquela casa. Eu apenas senti que a franqueza era a coisa certa para o filme, mesmo que seja triste.

O humor no filme Parasita

O thriller retrata acontecimentos trágicos, tem mortes sangrentas e passagens que provocam ansiedade. Mesmo assim, Parasita possuiu uma dimensão cômica inegável, com um humor macabro, capaz de nos fazer rir nos piores cenários.

Frame de Parasita:  Ki-jeong fumando no meio da inundação

Um momento inesquecível e digno de gargalhada é quando Ki-jeong entra na casa inundada e procura os cigarros que tinha escondido no banheiro. Quando os encontra, ela respira fundo de alívio e se senta, fumando tranquilamente, no meio do caos.

A cena parece mostrar como a garota está acostumada à tragédia. Na verdade, o humor surge no filme como um instrumento de crítica social e política que chama atenção para temas bastante controversos.

Uma questão que não podemos deixar de mencionar são as "alfinetadas" à Coreia do Norte, o país vizinho, e o seu regime.

Além de várias referências à ameaça norte-coreana, e o medo dos mísseis, há uma cena marcante em que Gook Moon-gwang imita Kim Jong-un, o "líder supremo", e o ridiculariza.

Resumo do filme Parasita

A família Kim

A vida da família Kim é tudo menos confortável. Ki-taek e Chung-sook vivem com o filho Ki-woo e a filha Ki-jeong, ambos jovens, em um apartamento bastante apertado. Além de ter condições precárias, o imóvel é subterrâneo e fica numa zona perigosa da cidade. Para sobreviver, os quatro dobram caixotes que vendem para uma pizzaria local.

Min-hyuk é um universitário que vai estudar em outro país e recomenda que Ki-woo, seu amigo, fique com o trabalho como tutor de uma adolescente rica. Mesmo não tendo os estudos necessários, o jovem forja a documentação e se apresenta para entrevista de emprego.

A família Park

Os Park, em contraste, vivem no meio do luxo. Dong-ik é CEO de uma empresa de informática e Yeon-gyo, a esposa, divide as atenções entre os filhos, Da-hye e Da-song. A adolescente, Da-hye, demonstra interesse imediato pelo novo tutor e o impostor é contratado.

A dona da casa menciona também que está procurando uma professora de arte para o filho caçula. O tutor responde que tem uma conhecida que acabou de voltar dos Estados Unidos, onde estudou Belas Artes. É assim que Ki-jeong, a irmã mais nova da família Kim, começa a trabalhar com os Park.

Criação de um plano

A familia Kim fazendo planos mirabolantes, frame do filme Parasita (2019).

Rapidamente, os dois encontram formas de fazer com que o motorista e a empregada doméstica sejam demitidos e os seus pais sejam contratados, para ocupar as funções. Sem que a família Park perceba, os Kim começam a ocupar o seu espaço, enquanto fingem que não se conhecem.

A noite da tempestade

Quando os donos da casa estão fora, a antiga empregada, Gook Moon-gwang, aparece de surpresa e insiste em pegar algo da cave. É assim que os Kim descobrem que a mansão possuiu um bunker onde a antiga funcionária escondeu o marido, quase quatro anos antes.

O casal e a família acabam lutando para assegurar o seu lugar na mansão. Enquanto isso, os Park estão de volta e os Kim precisam amarrar Gook Moon-gwang e Geun-sae, o marido, na cave. A antiga empregada bate com a cabeça e acaba morrendo na frente do esposo.

Nessa noite, acontece uma grande tempestade e quando os Kim regressam ao seu bairro, percebem que as ruas estão totalmente alagadas. Quando entram no apartamento, percebem que está cheio de água até o teto e ficou destruído por completo. Assim, eles têm que dormir num local público, com o resto dos desalojados, e vestir roupa da caridade.

Festa de aniversário

Na manhã seguinte, os Kim precisam esconder a tragédia que estão vivendo e ir trabalhar na mansão, onde vai acontecer a festa de aniversário do filho, Da-song. Para proteger a família, Ki-woo desce até ao bunker para tentar se livrar dos reféns mas é agredido por Geun-sae que consegue se libertar.

Depois de anos trancado, o homem surge com uma faca e interrompe a festa, aterrorizando todos. Primeiro esfaqueia Ki-jeong na frente dos seus pais. Depois parte para cima de Dong-ik, o dono da casa, que reage com nojo do seu cheiro.

Depois de ver a filha morrendo, Ki-taek consegue pegar a faca, mas o que faz surpreende todos. Em vez de atacar o assassino, ele entra em surto e acaba matando o patrão, na frente dos convidados da festa.

Últimas cenas

Como precisa de um lugar para se esconder, o homem acaba correndo para dentro do bunker. A família Kim é julgada e condenada, os Park vendem a mansão e o patriarca dos bandidos permanece clandestino na cave. Para combater a solidão, ele tenta se comunicar em código morse com o filho, piscando as luzes todas as noites.

Ficha técnica e poster do filme Parasita

Título 기생충 (Original), Parasite (tradução inglesa)
Ano de produção 2019
País de origem Coreia do Sul
Diretor Bong Joon-ho
Gênero Thriller, Drama. Comédia
Lançamento Maio de 2019 (Internacional), Novembro de 2019 (Brasil)
Duração 132 minutos
Classificação

Maiores de 16 anos

Premiações Oscar de Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Filme Internacional

Cartaz do filme Parasita (2019).

Trilha sonora do filme: Cultura Genial no Spotify

Escute a trilha sonora do filme Parasita na playlist que nós preparamos para você:

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Carolina Marcello
Carolina Marcello
Mestre em Estudos Literários, Culturais e Interartes e licenciada em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Apaixonada por leitura e escrita, produz conteúdos on-line desde 2017, sobre literatura, cultura e outros campos do saber.