Psicopata Americano é filme norte-americano de terror psicológico que foi lançado no ano 2000. Com direção de Mary Harron, que também participou da adaptação do roteiro, a narrativa é baseada no livro homônimo de Bret Easton Ellis, publicado em 1992.
O longa-metragem se tornou uma obra bastante aclamada pelos amantes do gênero, com cenas marcantes que acabaram virando referência na nossa cultura e foram recriadas em vários filmes e séries.
Atualmente, Psicopata Americano é considerado um filme cult e ainda rende muitas discussões acerca do seu enredo e final surpreendente.
Cartaz e sinopse de Psicopata Americano
Patrick Bateman (Christian Bale) é um homem jovem, bonito e extremamente bem-sucedido que trabalha numa grande empresa de Wall Street.
Apesar de levar uma vida aparentemente invejável, frequentando os melhores restaurantes da cidade, Patrick esconde um segredo aterrorizante: a sua vontade de matar, que vai aumentando dia após dia.
Atenção: a partir deste ponto, você vai encontrar spoilers!
Análise do filme Psicopata Americano
Focada na figura de Patrick Bateman, um homem detestável que se considera um psicopata, a narrativa também é um retrato crítico da sociedade que criou e alimenta as suas fantasias de poder e violência.
Nos últimos segundos do filme, o protagonista afirma que a história não transmite nenhuma lição ou ensinamento para quem a escutar. No entanto, o longa-metragem explora várias temáticas ligadas ao mundo contemporâneo e as suas incontáveis formas de brutalidade.
Dinheiro, ganância e competição em Wall Street
Sabemos, desde o começo do filme, que Patrick é um homem de sucesso que exerce um alto cargo numa empresa de Wall Street. Ele e os seus amigos são todos extremamente parecidos: todos brancos, da mesma idade, vestem roupas formais caras e frequentam os locais da elite.
Extremamente privilegiados, todos eles nasceram em famílias endinheiradas e estudaram nas melhores universidades, algo que fazem questão de deixar evidente o tempo todo.
Condescendentes e convencidos de que merecem ser os melhores em tudo, as suas conversas são marcadas pelos comentários classistas, racistas e antissemitas, ao mesmo tempo que mantêm um discurso hipócrita sobre os problemas sociais e contra o materialismo.
Dentro e fora dos locais de trabalho, estes homens vivem num clima de grande rivalidade e competição, sentindo a necessidade de se superarem em tudo, constantemente. Na verdade, eles competem até nas mínimas coisas, como quem consegue reservar uma mesa no restaurante mais exclusivo ou quem tem o melhor cartão de visita.
Assim, as suas amizades parecem ser apenas ligações de conveniência. Na verdade, Patrick desconfia que a sua noiva o trai com um dos amigos do grupo, mas não se importa, já que ele próprio tem um caso com a namorada de outro.
Bastante semelhante aos seus companheiros, o protagonista vai revelando um lado mais invejoso, violento e cruel que os demais. Quando estão no bar, ele sorri para a mulher que está servindo, mas quando ela se afasta, fala que quer matá-la com uma faca.
O seu comportamento escala quando encontra um morador de rua e começa a humilhá-lo, falando que ele é o único culpado pela sua pobreza. Em seguida, Patrick declara: "eu não tenho nada em comum com você". Depois de afirmar a sua suposta superioridade, ele mata pela primeira vez, esfaqueando o homem no meio da rua.
Obsessão com as aparências e falta de empatia
Psicopata Americano nos concede acesso aos recantos mais obscuros da mente de Bateman através dos seus monólogos interiores constantes. Deste modo, descobrimos que o protagonista se considera alguém que não se sente em contato com as suas emoções, que "não está ali".
Aos 27 anos, Bateman faz a sua rotina matinal de beleza, demonstrando preocupação em cuidar da imagem e combater as marcas do tempo. No seu apartamento luxuoso e imaculado, vai ficando claro que a vida dele é toda uma fachada, uma forma de se "encaixar" e, por isso, de se esconder.
Eu tenho todas as características de um ser humano - sangue, carne, pele, cabelos - mas nem uma única emoção clara e identificável, exceto a ganância e a aversão.
Antigo aluno de Harvard e filho de um dos donos da empresa, Patrick precisa manter uma imagem de normalidade para disfarçar os seus crimes. Mesmo assim, ele confessa que está se sentindo "letal" e cada vez mais descontrolado: "Acho que a minha máscara de sanidade está prestes a escorregar".
Desprezo e violência contra as mulheres
Se a postura de Patrick Bateman com os outros é, por norma, agressiva e desagradável, ela se torna ainda pior com as mulheres. A sua secretária, por exemplo, é um dos alvos mais recorrentes: o protagonista está constantemente criticando o modo como ela se veste e se comporta, fazendo questão de diminui-la.
A sua conduta é de superioridade e dominação perante o sexo feminino, tornando as mulheres os seus principais alvos. A noiva, por exemplo, parece se tratar de um mero objeto ou acessório para manter as aparências.
Mesmo nos momentos em que Bateman se envolve intimamente, a sua atenção está apenas focada no próprio reflexo no espelho ou na possibilidade de infligir dor nas outras pessoas.
A sua visão, extremamente machista, é compartilhada pelos seus amigos, que não se inibem em fazer piadas sobre a suposta inferioridade e superficialidade das mulheres:
Não existem mulheres com boas personalidades...
Nesse diálogo, o protagonista chega mesmo a citar um famoso serial killer acerca do seu desejo de vitimar mulheres, algo que é encarado com naturalidade pelos outros.
Patrick Bateman: um serial killer à solta
O protagonista assume, num certo momento, que ser parecido com os seus colegas (e facilmente confundido com eles) é uma vantagem. No entanto, quando Paul Allen, um funcionário da mesma empresa, o trata pelo nome de outra pessoa, Patrick fica zangado.
Assim, ele aproveita o erro de identidade e o convida para jantar, planejando cuidadosamente a sua morte. Quando o leva para conhecer a sua casa, os móveis brancos estão tapados com lençóis e o chão com jornais; Patrick chega mesmo a vestir uma capa impermeável, para não sujar a roupa durante o ato.
Além da confusão dos nomes, Allen despertou a sua fúria porque conseguiu reserva num grande restaurante que tinha se recusado a recebê-lo, portanto teria mais status do que ele.
Depois de roubar as suas chaves, resolve ir ao apartamento da vítima, para simular uma fuga para outro país, e a inveja aumenta ao perceber que o seu apartamento é maior. A partir daí, o local se torna o seu novo esconderijo e para lá que Bateman passa a levar as vítimas. Ele chega mesmo a confessar, para duas delas:
É impossível, neste mundo em que vivemos, ter empatia pelas outras pessoas...
Rapidamente, a casa de Paul passa a ter sangue por todo o lado e cadáveres escondidos nos armários. É nesta passagem que surge a mítica cena do assassino com uma serra elétrica, que se tornou muito conhecida.
Com o passar dos dias, Patrick Bateman se entrega totalmente aos instintos violentos e se torna, gradualmente, um ser humano menos funcional e capaz de gerir as obrigações sociais.
Confissão de um Psicopata Americano
É depois de uma cena de total descontrole, com disparos aleatórios, que Patrick Bateman chega ao seu limite. Na sequência dos tiros, ele começa a ser perseguido e consegue se esconder no escritório. Aí, o protagonista se desespera e resolve ligar para o seu advogado e contar tudo.
Entre os seus prantos e berros, ele deixa uma mensagem na secretária eletrônica, confessando todos os seus crimes com detalhes arrepiantes: “Sou um homem muito doente!”.
É interessante reparar na total solidão deste homem, na ausência de relações significativas na sua vida que o leva a recorrer apenas aos seus funcionários.
Final e explicação do filme Psicopata Americano
Na manhã seguinte, Bateman regressa ao apartamento de Paul Allen para esconder as provas do crime, mas encontra algo surpreendente: o local foi pintado, reformado e está disponível para venda. Visivelmente perturbado, ele acaba sendo expulso pela mulher que está mostrando o imóvel aos visitantes.
Já fora de si, Patrick liga para a sua secretária chorando e avisando que não vai trabalhar. Ela fica desconfiada e resolve mexer nas coisas dele, encontrando uma agenda com desenhos repletos de brutalidade. Enquanto isso, Bateman encontra o seu advogado num restaurante e vai confrontá-lo sobre a mensagem que tinha deixado para ele.
O homem também o confunde com outra pessoa e cai na gargalhada, falando que a brincadeira teria sido mais credível se envolvesse outra pessoa. Ele passa a descrever Bateman como alguém entediante e covarde, incapaz de cometer qualquer crime.
Patrick rebate e revela a sua identidade, reforçando que matou Paul Allen. O advogado responde, com a maior indiferença, que Paul está vivo e morando em Londres, contando que eles jantaram juntos semanas antes.
É desta forma que percebemos que, provavelmente, os crimes não foram reais. A narrativa foi, então, imaginada pelo protagonista: assistimos às suas fantasias de violência que não chegaram a acontecer na vida real.
Nos mesmos círculos que antes, Bateman termina o filme confessando que a sua dor "é constante e aguda” e por isso quer machucar os outros. O protagonista acrescenta ainda que “esta confissão não significou nada”, nem vai provocar uma catarse.
Qual será, então, a mensagem que podemos tirar disso tudo? Patrick Bateman é um homem enlouquecido pelo "sonho americano", alguém que se afundou numa vida de aparências e futilidades. Apesar de todo o dinheiro e sucesso, ele não consegue desenvolver ligações profundas com ninguém e transforma a sua frustração em raiva.
Ficha técnica de Psicopata Americano
Título |
Psicopata Americano |
Ano da produção | 2000 |
Dirigido por |
Mary Harron |
Duração | 102 minutos |
Classificação | Maiores de 18 anos |
Gênero | Terror, Suspense |
País de Origem | Estados Unidos da América |