Frankenstein, de Mary Shelley: resumo e considerações sobre o livro


Laura Aidar
Laura Aidar
Arte-educadora, fotógrafa e artista visual

Um dos maiores clássicos das histórias de terror e precursor da ficção científica é o romance literário Frankenstein ou o Prometeu Moderno.

Escrito pela inglesa Mary Shelley entre 1816 e 1817, foi publicado pela primeira vez em 1818, nessa ocasião sem os créditos para sua autora.

Quando idealizou a história, Mary era uma jovem de 18 anos e em 1831, um pouco mais velha, revisou e publicou novamente o romance, dessa vez com seu crédito. Essa foi a versão que entrou para a história e foi adaptada em inúmeras produções audiovisuais e teatrais.

Mesclando o horror, o sobrenatural, o fantástico e a busca por inovações científicas, Frankenstein se tornou um sucesso, contribuindo e influenciando para a criação do gênero de terror e sci-fi.

Resumo de Frankenstein ou o Prometeu Moderno

A narrativa começa mostrando o explorador Robert Walton e o seu navio encalhado no hostil Polo Norte. Um dos homens da tripulação avista um sujeito puxando um trenó em meio ao gelo e eles decidem acolhê-lo.

O homem em questão é Victor Frankenstein, um ambicioso cientista que faz amizade com Walton e decide contar para ele sua história.

Victor havia dedicado muitos anos estudando como dar vida a uma criatura formada por partes cadáveres humanos. Após descobrir na teoria, resolve colocar o plano em prática e passa a visitar cemitérios em busca das "melhores" partes de corpos para criar um novo ser.

Ele então consegue dar vida a uma criatura enorme, animada por meio de impulsos elétricos. Ao ver que seu experimento deu certo, o cientista fica muito satisfeito, mas logo em seguida se dá conta da enrascada em que havia se metido.

Com medo da gigante e horrenda criatura, ele se afasta e a abandona. O monstro foge do laboratório levando os diários do doutor e vai para uma floresta, onde também encontra uma bagagem com roupas e livros.

Ele passa a morar em uma cabana próxima de uma família de franceses. Essas pessoas o inspiram e, por meio da observação, ele aprende a ler e falar.

Após algum tempo, toma coragem e entra em contato com a família, esperando que eles o acolham, pois a tristeza e solidão eram grandes.

Entretanto, a família fica apavorada e o expulsa. A partir desse momento, a criatura desenvolve um ódio intenso pela humanidade e busca a todo custo se vingar de seu criador.

O monstro, sabendo que a família de Victor vivia em Genebra, vai até lá e, por vingança, mata o irmão mais novo de Victor. A culpa recai sobre Justine, a empregada da família, que é condenada à morte.

Victor intui que o responsável pelo crime era o monstro e passa a procurá-lo. Os dois se encontram e o monstro fala sobre o motivo de sua revolta. Ele pede que o cientista crie uma companheira para ele, uma criatura que possa acompanhá-lo e que não tenha medo ou repulsa.

Victor se nega, mas a criatura ameaça matar as pessoas por quem o cientista tem apreço. O doutor então concorda e monta uma figura feminina para o monstro, mas antes de lhe dar vida, destrói o novo invento, com medo de dar origem a uma raça de criaturas horripilantes e perigosas.

Então a criatura se vinga mais uma vez, matando o melhor amigo e a noiva do cientista e fugindo para o Ártico. Victor, arrasado e com raiva, passa a perseguí-lo e vai até o Ártico também.

É nesse momento que o cientista encontra o navio de Robert Walton e começa a relatar o que se passou. Victor já está bem debilitado e acaba morrendo.

A criatura consegue entrar no navio e se depara com seu criador sem vida. Mesmo com espírito sanguinário, o monstro tinha emoções, o que faz com que sinta profundamente a perda de seu "pai".

O ser diz ao capitão Walton que já não vale mais a pena viver e que fará uma grande fogueira, se atirando nela e acabando com sua existência para sempre.

Ilustração antiga de Frankeinstein
Desenho de Theodor von Holst para a edição de 1931

Considerações e comentários

Surgimento de Frankeinstein

Essa famosa história nasceu na Suíça, quando Mary e seu então namorado Percy Shelley passavam o verão em companhia de outros escritores e personalidades importantes.

O dono da casa onde estavam hospedados era o ícone do romantismo Lord Byron. Outro escritor que também estava presente era John Polidori, o primeiro a escrever uma história de vampiros, que influenciaria depois a criação de Drácula.

O clima naqueles meses estava péssimo e o grupo foi obrigado a permanecer na residência por vários dias. Assim, criaram uma competição de "histórias de fantasmas", que seriam apresentadas depois.

É nesse contexto que nasce Frankeinstein, a princípio como conto, e posteriormente transformado em romance.

Por que seu título alternativo é Prometeu Moderno?

Na mitologia grega, Prometeu foi um titã que desafiou os deuses e entregou para a humanidade o fogo sagrado. Assim, foi castigado terrivelmente por Zeus, permanecendo acorrentado por gerações no alto de um monte e tendo seu fígado devorado por uma águia todos os dias.

Mary Shelley relaciona então a figura de Prometeu à do cientista Victor Frankeinstein, que assim como o titã, ousou desafiar o divino ao descobrir como gerar a vida por meios artificiais.

Quem é o verdadeiro monstro de Frankenstein?

Apesar de todos conhecerem a criatura da história por Frankenstein, na verdade ela não tem nome. Frankenstein é o nome do doutor que a criou e que, depois de ter sucesso com sua invenção, percebe que, na verdade, havia sido inconsequente e não tinha o menor controle sobre a criatura.

Assim, apavorado, abandona o ser à própria sorte, eximindo-se de toda e qualquer responsabilidade, o que deixa a criatura desamparada e solitária, contribuindo para sua revolta e sede de vingança.

Portanto, aqui há um paradoxo, em que podemos considerar Victor Frankeinstein também como um "monstro", devido ao seu egoísmo e crueldade.

Algumas interpretações apontam também que o romance coloca o criador e a criatura como duas faces da mesma moeda. Seria como se a invenção de Victor fosse, na realidade, uma parte sombria de sua própria personalidade, uma projeção de sua mente atordoada, como vemos, por exemplo, em O médico e o monstro, outro clássico do século XIX.

Por que o cientista criou o monstro?

Um dos grandes problemas na invenção da criatura é a sua falta de objetivo, que culmina em um ser desprovido de perspectiva de vida e sem propósito.

Após "nascer", o monstro é rejeitado por seu "pai", que havia estudado por anos como dar vida ao ser apenas para provar seu poder e entrar para a história como um grande cientista. Ele queria ser reconhecido como alguém que possuía o conhecimento sobre os mistérios da criação da vida.

Sua única meta era provar que podia criar algo grandioso, revelando um sentimento de puro egoísmo e vaidade.

Adaptações no cinema

Foram feitas muitas adaptações do romance, tanto para peças teatrais, quanto para cinema e programas de televisão.

A primeira versão adaptada foi produzida em 1910 por Thomas Edison. Mas a que consagrou a história no cinema foi o filme Frankeinstein de 1931, dirigido por James Whale e que apresentou Boris Karloff no papel da criatura, em uma interpretação memorável.

Frankeinstein no cinema. Retrato do personagem no filme de 1931
O ator Boris Karloff eternizou a criatura de Frankeinstein no cinema em 1931

Outras produções foram realizadas e muitas histórias mais recentes surgiram inspiradas nesse personagem, como nos filmes Edward mãos de tesoura (1990), A.I: inteligência artificial (2001), entre outros.

Quem foi Mary Shelley?

Mary Shelley

Mary Wollstonecraft Godwin é o nome de batismo dessa importante escritora inglesa do século XIX. Nascida em 30 de agosto de 1797 em Londres, era filha de William Godwin e de Mary Wollstonecraft, precursora do feminismo ocidental.

Mary não chegou a conhecer a mãe, pois esta faleceu pouco depois de dar à luz, mas teve contato com seus escritos e foi criada pelo pai, também importante filósofo. Assim, teve uma criação muito estimulante o ponto de vista da criatividade e intelectualidade, convivendo com homens de forma mais igualitária.

Se casou com o também escritor Percy Shelley e assumiu seu sobrenome. Ele a incentivou a publicar Frankeinstein.

Além do romance que a consagrou, Mary escreveu outros livros:

  • Matilda (1819),
  • Valperga (1823)
  • The Fortunes of Perkin Warbeck (1830)
  • The Last Man (1826)
  • Lodore (1835),
  • Falkner (1837)
  • The Mortal Immortal (1833)

Faleceu aos 58 anos em Londres no dia 1 de fevereiro de 1851 por conta de um câncer no cérebro.

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Laura Aidar
Laura Aidar
Arte-educadora, artista visual e fotógrafa. Licenciada em Educação Artística pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e formada em Fotografia pela Escola Panamericana de Arte e Design.