The Invitation (O Convite): explicação do filme


Carolina Marcello
Carolina Marcello
Mestre em Estudos Literários, Culturais e Interartes

The Invitation ou O Convite é um filme norte-americano de terror e suspense que foi dirigido por Karyn Kusama e lançado em 2015.

O enredo é protagonizado por Will, um homem que é convidado para um jantar com o antigo grupo de amigos. O encontro será em casa de Eden, a ex-mulher que não vê há anos, desde que o filho deles morreu.

A produção independente conquistou o público internacional e se encontra disponível na plataforma digital Netflix, onde ainda faz bastante sucesso.

Atenção: a partir deste ponto você vai encontrar spoilers!

Final explicado: o que significa a última cena?

Ao longo de toda a narrativa, assistimos ao desconforto do protagonista que sente, desde o começo, que há algo de estranho naquele convite. Enquanto observamos as suas reações bruscas e até paranoicas com os donos da casa, chegamos a questionar a sua sanidade.

No entanto, quando mexe no computador de David, o anfitrião, Will confirma as suas suspeitas. Num vídeo, vemos o líder do culto declarando que, naquela noite, eles iriam concretizar a sua fé. O homem regressa abalado à mesa do jantar, onde todos seguram copos de vinho e se preparam para fazer um brinde.

The Invitation, cena do brinde

Hesitando por um momento, ele interrompe e grita para ninguém beber, jogando os copos longe. No entanto, Gina é mais rápida e engole o líquido de uma vez, morrendo envenenada em segundos. É aí que a luta começa e David dispara sobre os seus convidados, que correm em todas as direções.

Will e a namorada, Kira, fogem juntos e percorrem os corredores da casa em silêncio, buscando uma forma de escapar, já que todas as portas estão trancadas e as janelas têm grades. Eles são atacados por Pruitt, um assassino que é membro do culto, mas se defendem com uma garrafa.

Logo depois encontram Eden, a antiga esposa de Will, que segura um revólver. Em vez de os atacar, a mulher dá um tiro em si mesma, confessando que não suporta as saudades do filho. Ao mesmo tempo, outro convidado que sobreviveu consegue matar David, usando uma faca. Nesta fase, pensamos que os personagens já estão em segurança, mas surge outra surpresa.

Final do filme

Ainda durante o jantar, antes de servir o vinho, David foi até ao jardim e acendeu uma lanterna vermelha, ato que Will observou sem entender. O significado só aparece na cena final do longa-metragem, roubando o fôlego dos protagonistas e até dos espectadores.

Will e Kira conseguem chegar até ao jardim, de mãos dadas, e por um segundo respiram profundamente de alívio. No entanto, logo descobrem que o mundo exterior também está caótico: eles escutam sirenes, gritos, helicópteros, choros. Quando olham o horizonte, enxergam milhares de luzes vermelhas e percebem que a cidade inteira foi atacada.

A imagem explicita que a ação daquele culto tem proporções gigantescas e que muitas pessoas receberam o mesmo convite. Aquilo que seria uma espécie de "final feliz" é totalmente subvertido: não sabemos o que aconteceu com eles, nem com o resto do mundo.

Memórias, símbolos e indícios de tragédia

Desde os primeiros segundos do filme, podemos perceber que Will está contrariado: mesmo aceitando o convite, ele tem o pressentimento de que algo vai dar errado. Kira, a namorada, lembra que eles não precisam ir, mas o protagonista se sente na obrigação de comparecer.

Através do diálogo do casal, podemos unir algumas peças e entender quem é a anfitriã. Eden era casada com Will e os dois tinham um filho que morreu em circunstâncias trágicas. Muito abalada pela perda, a mulher entrou para um grupo de apoio para pessoas que estão de luto, onde conheceu David, seu novo parceiro.

Assim, descobrimos que Will foi abandonado pela antiga esposa, que fugiu com David e desapareceu por mais de dois anos. No regresso, ela resolveu marcar um jantar para rever aqueles que faziam parte do seu passado.

Quando estão na estrada, a caminho do local, o homem atropela um coiote que fica gravemente ferido. Chocado com o sofrimento do animal, ele opta por matá-lo. Embora só vejamos sombras, a cena é tensa e violenta, como se nos preparasse para o que vem em seguida.

Will e copo quebrado

Chegando na mansão de Eden, onde ele morava com a família, Will começa a ser assombrado pelas lembranças do filho. Mais à frente, quando conta ao grupo que teve que matar o coiote, a reação de David também é bastante reveladora: sem nenhuma forma de susto, ele fala que foi "um ato de misericórdia".

Finalmente, o longa-metragem também inclui algumas referências bíblicas. Por exemplo, a mesa do jantar pode ser interpretada como uma alusão à Última Ceia, onde comem pão e bebem vinho.

Um culto sobre morte, luto e negação

Quando reúne os convidados na sala, Eden anuncia que aquela será uma noite especial e propõe um brinde aos novos começos. Pela reação dos presentes, é visível que o seu comportamento se alterou drasticamente durante o período que esteve longe.

Conversando com o antigo parceiro, ela revela que se livrou "da dor inútil", desejando que Will consiga fazer o mesmo. Eden também declara que o sofrimento é opcional, provocando o riso de um dos amigos e batendo no rosto dele em resposta. Momentos depois, no entanto, entrega um copo para ele e declara que "já passou".

Eden e David mostram vídeo do seu culto

Os anfitriões revelam que passaram aquela temporada no México, onde se juntaram a uma comunidade que trabalha com o luto. Foi lá que eles conheceram os estranhos convidados que se juntam à festa: Sadie e Pruitt. David e Eden contam que se trata de um grupo poderoso, que envolve "milhares de pessoas".

Aquele era, então, "o convite": os amigos estão sendo recrutados e precisam assistir a um vídeo sobre o culto. As imagens repetem as palavras “nós transcendemos” e mostram os últimos momentos da vida de uma mulher.

Todos ficam perturbados, mas David procura acalmá-los, afirmando que "não há escuridão, só reencontro”. Mais adiante, percebemos o verdadeiro propósito daquela noite: é um pacto de morte, através do qual os membros do culto pretendem reencontrar aqueles que já partiram.

Realismo e tensão no reencontro

Uma das características mais interessantes do longa-metragem é a atmosfera simultaneamente tensa e realista que ele cria. É notório, desde o início, que aquela se trata de uma situação delicada.

Depois da morte do filho, Will e Eden se separaram e ambos se distanciaram do seu grupo de amigos. Agora, estão acompanhados por novos parceiros e procuram restabelecer os laços, algo que nem sempre é fácil.

Os diálogos do protagonista com os companheiros contribui para essa sensação de verosimilhança. Eles conversam como pessoas que se conhecem bem e nem tudo é dito, deixando espaços em branco que nós precisamos completar.

Will suspeitando do convite

A postura dos convidados também denota algum desconforto e ansiedade, mas todos fazem o seu melhor, tentando ser pacientes e compreensivos. Talvez por isso, eles falhem em perceber os sinais de perigo: por exemplo, reagem com piadas quando percebem que aquela é uma tentativa de convertê-los.

No entanto, Claire, uma das amigas, fica assustada com as conversas e resolve ir embora. Will, que já estava desconfiado, fica observando pela janela, para ver se ela parte em segurança. Estes pequenos gestos racionais do protagonista, contrariando os clichês deo cinema de terror, vão contribuindo para o realismo do filme e alimentando seu mistério.

Paranoia e claustrofobia de Will

É exatamente na linha tênue entre racionalidade, memória e delírio que reside o suspense do filme. Ao longo da narrativa, acompanhamos as sensações do protagonista, sua ansiedade crescente, o modo como vai se desligando dos outros, caindo numa espiral de medo e paranoia.

De volta à casa onde sofreu tanto, Will se sente "preso" de alguma forma: ele pergunta porque colocaram grades nas janelas e discute com David, insistindo que mantenha a porta destrancada. Ainda que encontre indícios estranhos, como os comprimidos tarja preta que Eden toma, seus amigos desvalorizam e o espectador é levado a questionar se o homem está imaginando tudo.

Will nos espelhos

Na verdade, os efeitos do luto são bastante evidentes no protagonista que se mostra distante e perdido nas lembranças. Isso se agrava com a situação de Choi, o único amigo que ainda não tinha aparecido na festa. Quando pega no celular, Will descobre uma mensagem dele, enviada horas antes, onde avisa que chegou primeiro do que todo mundo.

Como se tivesse uma confirmação das suas suspeitas, Will confronta os anfitriões aos gritos, perguntando o que fizeram com Choi e os acusando de participar de um culto que prega a negação dos sentimentos. Todos olham para ele com medo, como se o protagonista fosse a verdadeira ameaça.

É então que a campainha toca e Choi surge na sala, contando que teve que regressar ao trabalho para resolver um problema de última hora. O protagonista desaba e chora, pedindo desculpas; ele conta que se sente responsável pela morte do filho e que ainda não conseguiu superá-la. Contudo, o desenlace traz a certeza: Will até podia estar paranoico, mas ele também estava certo.

Ficha técnica completa

Título The Invitation ou O Convite
Direção

Karyn Kusama

Ano 2015
Data de lançamento março de 2015
Classificação Maiores de 16 anos
Gêneros Mistério, Suspense, Terror
País de origem Estados Unidos da América

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Carolina Marcello
Carolina Marcello
Mestre em Estudos Literários, Culturais e Interartes e licenciada em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Apaixonada por leitura e escrita, produz conteúdos on-line desde 2017, sobre literatura, cultura e outros campos do saber.