Gêneros literários: entenda o que são e veja exemplos


A literatura é uma expressão muito rica e diversa. Ela abrange diversos gêneros literários, que são tipos de literatura que se assemelham em termos estruturais e temáticos. Esse gêneros são classificados em três categorias: lírico, narrativo e dramático.

Textos líricos: que têm como característica a subjetividade e a metáfora, temos o soneto, a poesia, o haikai e a sátira.

Textos narrativos: que envolvem a construção de histórias, temos o romance, a fábula, a crônica e o conto.

Textos dramáticos: que estão relacionados ao teatro, há a tragédia, a comédia, a tragicomédia, a farsa e o auto.

Gênero Literário Subgêneros Características
Lírico Poesia Construção literária formada por versos e estrofes.
Lírico Soneto Poema específico com 14 versos, sendo dois tercetos e dois quartetos.
Lírico Haikai Poeminhas curtos de origem japonesa com reflexões profundas em poucas palavras.
Lírico Sátira Forma literária irônica e debochada, feita em versos ou prosa.
Narrativo Romance Texto longo com personagens e trama.
Narrativo Conto História sucinta e objetiva.
Narrativo Crônica Semelhante ao conto, com eventos cotidianos e caráter jornalístico.
Narrativo Fábula Narrativa com fantasia e simbologias, geralmente passadas através de gerações.
Dramático Tragédia Eventos narrados trágicos com finais tristes.
Dramático Comédia Exploração do humor com finais esperançosos.
Dramático Tragicomédia Fusão de aspectos cômicos e catastróficos.
Dramático Farsa Texto curto e bem-humorado.
Dramático Auto Texto com tom religioso e moralista.

O gênero lírico

Os textos do gênero lírico são poéticos e trazem como marca a subjetividade, destacando as emoções e pontos de vista do autor ou autora, muitas vezes de maneira simbólica e cheia de metáforas.

Poemas, sonetos, haikais e sátiras são textos líricos. O poema é toda construção literária formada por versos e estrofes, já o soneto é um tipo específico de poema, caracterizado por 14 versos, sendo dois tercetos e dois quartetos.

Os haikais são poeminhas curtos de origem japonesa que trazem grandes reflexões em poucas palavras. Por fim, a sátira é uma forma literária cheia de ironia e deboche que pode ser feita em versos ou em prosa.

Soneto de Separação é um exemplo. Nele, o poeta Vinícius de Moraes expõe toda a tristeza e inadequação que existe em uma separação amorosa.

No momento em que um casal se desfaz há um grande luto, uma perda irreparável, onde é preciso fazer as pazes com a solidão e aceitar a impermanência da vida. Assim, o autor consegue traduzir em palavras um evento comum e angustiante que todas as pessoas estão propensas a vivenciar um dia.

Soneto de separação (Vinícius de Moraes)

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama

De repente não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente

Fez-se do amigo próximo, distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente

Veja também esse haikai de Fanny Luíza Dupré, onde ela aborda a desigualdade, a miséria e o sofrimento na infância.

Tremendo de frio
no asfalto negro da rua
a criança chora.

(Fanny Luíza Dupré)

O gênero narrativo

O gênero narrativo é um tipo de literatura que envolve uma história com personagens e uma narrativa. Aqui estão os romances, os contos, crônicas e fábulas.

Romances são textos que contam uma história, geralmente longa, em que há personagens e uma trama. Contos também são histórias, mas são sucintas e trazem objetividade.

A crônica também faz parte do gênero narrativo. Se assemelhando ao conto, normalmente traz eventos do cotidiano, com um caráter muitas vezes jornalístico.

Já as fábulas são narrativas carregadas de fantasia e simbologias, que muitas vezes atravessam gerações.

Um romance de destaque na cena contemporânea é, por exemplo, Torto Arado, livro lançado em 2019 pelo baiano Itamar Vieira Junior.

A história conta sobre duas irmãs que vivem no sertão nordestino e têm suas vidas entrelaçadas a partir um evento traumático.

Esse é um romance potente que traz força, resistência e sensibilidade ao tratar de questões sociais. Confira um trecho abaixo.

Quando retirei a faca da mala de roupas, embrulhada em um pedaço de tecido antigo e encardido, com nódoas escuras e um nó no meio, tinha pouco mais de sete anos.

Minha irmã, Belonísia, que estava comigo, era mais nova um ano. Pouco antes daquele evento estávamos no terreiro da casa antiga, brincando com bonecas feitas de espigas de milho colhidas na semana anterior. Aproveitávamos as palhas que já amarelavam para vestir feito roupas nos sabugos. Falávamos que as bonecas eram nossas filhas, filhas de Bibiana e Belonísia.

Ao percebermos nossa avó se afastar da casa pela lateral do terreiro, nos olhamos em sinal de que o terreno estava livre, para em seguida dizer que era a hora de descobrir o que Donana escondia na mala de couro, em meio às roupas surradas com cheiro de gordura rançosa.

(Torto Arado, de Itamar Vieira Junior)

Como exemplo de conto, trazemos E tinha a cabeça cheia deles, de Marina Colasanti. O pequeno texto integra o livro Contos de Amor Rasgado, de 1986.

Nele a autora exibe o amor e cuidado de uma mãe ao percorrer os cabelos da filha em busca de piolhos. Aqui, uma situação comum (e vista como desagradável, pois ter piolhos não é algo positivo) vem carregada de afeto.

Todos os dias, ao primeiro sol da manhã, mãe e filha sentavam-se na soleira da porta. E deitada a cabeça da filha no colo da mãe, começava esta a catar-lhe piolhos.

Os dedos ágeis conheciam sua tarefa. Como se vissem, patrulhavam a cabeleira separando mechas, esquadrinhando entre os fios, expondo o claro azulado do couro. E na alternância ritmada de suas pontas macias, procuravam os minúsculos inimigos, levemente arranhando com as unhas, em carícia de cafuné.

Com o rosto metido no escuro pano da saia da mãe, vertidos os cabelos sobre a testa, a filha deixava-se ficar enlanguescida, enquanto a massagem tamborilada daqueles dedos parecia penetrar-lhe a cabeça, e o calor crescente da manhã lhe entrefechava os olhos.

Foi talvez devido à modorra que a invadia, entrega prazerosa de quem se submete a outros dedos, que nada percebeu naquela manhã – a não ser, talvez, uma leve pontada – quando a mãe, devassando gulosa o secreto reduto da nuca, segurou seu achado entre polegar e indicador e, puxando-o ao longo do fio negro e lustroso em gesto de vitória, extraiu-lhe o primeiro pensamento.

(E tinha a cabeça cheia deles, de Marina Colasanti)

Carlos Drummond de Andrade é um grande nome da literatura brasileira e explorou diversos tipos de escrita.

Em sua crônica Furto de Flor, o escritor mineiro narra uma "contravenção" em que rouba uma flor de um jardim e acompanha seu ressecamento até ela murchar por completo.

Ao querer dar um destino digno para a flor, recebe uma resposta rude e em dissonância com sua percepção da natureza.

Furtei uma flor daquele jardim. O porteiro do edifício cochilava e eu furtei a flor. Trouxe-a para casa e coloquei-a no copo com água. Logo senti que ela não estava feliz. O copo destina-se a beber, e flor não é para ser bebida.
Passei-a para o vaso, e notei que ela me agradecia, revelando melhor sua delicada composição. Quantas novidades há numa flor, se a contemplarmos bem. Sendo autor do furto, eu assumira a obrigação de conservá-la. Renovei a água do vaso, mas a flor empalidecia. Temi por sua vida. Não adiantava restituí-la ao jardim. Nem apelar para o médico das flores. Eu a furtara, eu a via morrer.
Já murcha, e com a cor particular da morte, peguei-a docemente e fui depositá-la no jardim onde desabrochara. O porteiro estava atento e repreendeu-me:
– Que ideia a sua, vir jogar lixo de sua casa neste jardim!

(Furto de Flor, de Carlos Drummond de Andrade)

O gênero dramático

O gênero dramático é aquele que traz uma história para ser encenada, como no teatro. Nesse tipo de literatura há as vertentes: tragédia, comédia, tragicomédia, farsa, e auto.

Esses subgêneros têm características distintas. Na tragédia os eventos narrados são, como o nome diz, trágicos. O final dessas histórias tende a ser triste.

Na comédia, o que se explora é o humor (geralmente tem final esperançoso) e na tragicomédia há aspectos cômicos e catastróficos, fazendo uma fusão entre as duas vertentes.

A farsa e o auto já foram estilos literários mais valorizados e com maior destaque, sendo que o primeiro é curto e bem-humorado e o segundo possui um tom religioso e moralista.

Uma tragédia famosa na cultura ocidental é Édipo Rei, escrita em 427 a.C. por Sófocles, um dos mais importantes dramaturgos gregos da antiguidade.

A peça apresenta o mito de Édipo, que, amaldiçoado pelos deuses, tem como destino matar seu pai e casar-se com sua mãe. A história tem final desastroso, o que a enquadra na vertente da tragédia.

ÉDIPO — Foi ela que te entregou a criança?
SERVO — Sim, meu rei.
ÉDIPO — E para quê?
SERVO — Para que eu a matasse.
ÉDIPO — Uma mãe fez tal coisa! Amaldiçoada seja!
SERVO — Assim fez, temendo a terrível profecia...
ÉDIPO — Que profecia?
SERVO — Aquele menino deveria matar seu pai, assim diziam...
ÉDIPO — E por que então entregá-lo a esse velho?
SERVO — Senti pena dele, senhor! Pedi a esse homem que o levasse para a sua terra, para um país distante... Vejo agora que o salvou da morte para uma sina pior! Pois, se és tu aquela criança, sabe que és o mais infeliz dos homens!
ÉDIPO — Horror! Horror! Ai de mim! Tudo era verdade! Ó luz, que eu te veja pela derradeira vez! Filho amaldiçoado que sou, marido maldito de minha própria mãe... e... assassino maldito de meu próprio pai!

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