15 escritores do romantismo brasileiro e suas principais obras


Carolina Marcello
Carolina Marcello
Mestre em Estudos Literários, Culturais e Interartes

O Romantismo foi um movimento cultural, artístico, literário e filosófico que despontou na Europa, durante o final do século XVIII. A época, repleta de transformações políticas e sociais, trazia um espírito de oposição e contestação evidente.

Isso se refletiu em diversos quadrantes da vida comum, alterando as formas de criar e também de encarar o mundo. Contrariando o racionalismo que imperava até ali, o foco passou a estar no indivíduo e nas suas emoções, muitas vezes idealizadas ou exageradas.

No nosso país, a corrente chegou em meio à luta pela abolição da escravidão e ao processo de independência do Brasil, ecoando as mudanças que estavam em curso.

1. Gonçalves de Magalhães

Retrato de Gonçalves de Magalhães pintado pelo Visconde de Araguaya

Considerado o precursor do romantismo no Brasil, Gonçalves de Magalhães (1811 — 1882) foi um médico, diplomata e escritor carioca. O autor conheceu o movimento durante o período em que viveu na Europa, trazendo suas influências para o nosso território.

Em 1836, lançou o livro Suspiros poéticos e saudades que, embora não tenha sido apreciado pelos críticos, se tornou o marco inicial da literatura romântica brasileira.

Seus versos denotavam um sentimento de nacionalismo que vigorava na época e que se ampliou após a Independência, proclamada em 1822.

Como outros do seu tempo, Gonçalves de Magalhães escreveu sobre a figura do indígena. Embora se tratasse de um olhar ficcional, distante da realidade, refletia a busca de elementos identitários autônomos e tipicamente brasileiros.

2. Álvares de Azevedo

Álvares de Azevedo (1831 — 1852) foi um jovem escritor de São Paulo que encabeçou a segunda geração do modernismo brasileiro, também conhecida como "ultrarromântica".

Nesta fase posterior, o movimento se caracterizava pela extrema subjetividade. Além de um sentimentalismo profundo, os textos davam voz a emoções sombrias como a solidão, o sofrimento e o desejo de escapar da realidade.

Existia, ainda, um grande pessimismo e a obsessão com a temática da morte que, no caso do autor, acabou coincidindo com a sua biografia. Enfrentando diversos problemas de saúde, incluindo a tuberculose, ele faleceu com apenas 20 anos.

A sua obra mais conhecida, intitulada Lira dos Vinte Anos, foi publicada postumamente, em 1853, e se tornou uma grande influência na poesia do gênero.

Descansem o meu leito solitário
Na floresta dos homens esquecida,
À sombra de uma cruz, e escrevam nela:
Foi poeta - sonhou - e amou na vida.

(Trecho do poema Lembranças de morrer)

Confira também nossa análise dos melhores poemas de Álvares de Azevedo.

3. Casimiro de Abreu

Desenho de Casimiro de Abreu em preto e branco

Também integrante da segunda geração do movimento, Casimiro de Abreu (1839 — 1860) foi um poeta, romancista e dramaturgo carioca que morou em Portugal durante a juventude.

Por lá, entrou em contato com diversos autores contemporâneos e escreveu grande parte das suas obras. Seus versos são atravessados pela exaltação do seu país, as saudades da Pátria e dos familiares que deixou para trás.

Entre as suas obras se destaca a coletânea poética Primaveras, lançada já depois da sua morte, que foi um enorme sucesso entre a crítica. Com o tempo, ele se tornou uma referência entre o público brasileiro e português.

4. José de Alencar

Um escritor cearense que impactou a história da nossa literatura, José de Alencar (1829 — 1877) foi também um defensor da escravidão, tendo se posicionado contra a luta abolicionista.

Seu nome é apontado enquanto impulsionador do romance nacional, com narrativas que pretendiam se focar na realidade brasileira. Entre os seus livros se destacam O Guarani (1857) e Iracema (1865), também conhecidos como obras indigenistas.

Importa ressaltar que estes romances, que se focavam na população indígena brasileira, não o faziam de uma forma objetiva ou realista. Pelo contrário, havia uma idealização desses povos, não um conhecimento verdadeiro de suas vivências.

Rumor suspeito quebra a doce harmonia da sesta. Ergue a virgem os olhos, que o sol não deslumbra; sua vista perturba-se. Diante dela, e todo a contemplá-la, está um guerreiro estranho, se é guerreiro e não algum mau espírito da floresta.

(Trecho do romance Iracema)

Conheça nossas análises dos livros Iracema e Senhora do autor.

5. Gonçalves Dias

Retrato em preto e branco de Gonçalves Dias

Também parte da tradição indianista, ou seja, focada na figura do indígena, Gonçalves Dias (1823 — 1864) foi uma importante figura do movimento.

Jornalista e advogado, o maranhense concluiu os estudos na Europa, tendo iniciado a sua carreira literária durante esse período. As composições líricas refletem as saudades que ele sentia do Brasil, comparando a sua condição à de um exilado.

Seus versos mais famosos, que surgem no célebre Poema do Exílio, descrevem a beleza das paisagens nacionais, enumerando os elementos únicos e inesquecíveis da sua fauna e flora.

Confira nossas análises de Poema do Exílio e I-Juca Pirama.

6. Castro Alves

Retrato de Castro Alves por Alberto Henschel
Fotografia de Alberto Henschel.

Integrando a terceira geração romântica, Castro Alves (1847 — 1871) foi um poeta baiano que continua sendo lembrado pelas preocupações de caráter social que imprimiu na sua literatura.

Considerado um dos maiores escritores do seu tempo, escreveu inúmeros versos sobre as violências e injustiças que recaíam sobre as pessoas escravizadas.

Em 1870, publicou O Navio Negreiro, um poema dividido em seis partes que narra uma terrível viagem a caminho do Brasil e continua sendo apontado como um dos mais importantes da nossa lírica. Anos mais tarde, a composição foi incluída num livro de poesia intitulado Os Escravos.

Para descobrir mais sobre o autor, conheça nossa análise do poema Navio Negreiro.

7. Maria Firmina dos Reis

Nascida no Maranhão, Maria Firmina dos Reis (1822 — 1917) foi a primeira romancista afro-descendente do nosso país. Sua mãe, Leonor Felipa, foi uma mulher escravizada e seu pai era um comerciante da região.

Contemporânea do Romantismo, foi precursora da luta abolicionista, escrevendo sobre o tema ainda antes de Castro Alves.

Sua obra mais famosa, Úrsula (1859), traz uma importante inovação: pela primeira vez, na nossa literatura, temos uma mulher negra refletindo sobre a negritude no Brasil.

Ou seja, além de serem objeto dos discursos da época, Maria Firmina dos Reis coloca os cidadãos negros como sujeitos, produtores de discurso acerca de suas próprias experiências.

Meteram-me a mim e a mais trezentos com­panheiros de infortúnio e de cativeiro no estreito e infecto porão de um navio. Trinta dias de cruéis tormentos, e de falta absoluta de tudo quanto é mais necessário à vida passamos nessa sepultura até que abordamos as praias brasileiras.

(Trecho do romance Úrsula)

8. Junqueira Freire

Um autor baiano que pertenceu à segura geração do Romantismo, Junqueira Freire (1832 — 1855) se destacou no campo da poesia. Seus versos ecoavam temas religiosos, sociais e filosóficos, refletindo também sobre as complexidades do sentimento amoroso.

Aos 19 anos, por desejo da família, entrou para a Ordem dos Monges Beneditinos, mesmo sem ter vocação. Durante esse período, começou a escrever acerca das angústias que sentia.

Um dos maiores nomes do ultrarromantismo nacional, Junqueira Freire manifestava sua tristeza e revolta pelo destino a que fora condenado, rejeitando o celibato e o isolamento da vida monástica.

Sua obra mais marcante, Inspirações do claustro (1866), reúne composições criadas nessa época. Mais tarde, o poeta conseguiu autorização para deixar o mosteiro, mas acabou falecendo pouco depois, devido a uma doença cardíaca.

Amei-te sempre: — e pertencer-te quero
Para sempre também, amiga morte.
Quero o chão, quero a terra — esse elemento;
Que não se sente dos vaivéns da sorte.

(Trecho do poema Morte)

9. Fagundes Varela

Desenho de Fagundes Varela em preto e branco

Escritor e boêmio carioca, Fagundes Varela (1841 — 1875) também pertenceu à geração ultrarromântica. Suas composições se focam sobretudo em descrições da natureza, assumindo um tom bucólico.

Assim como muitos dos seus contemporâneos, o poeta escrevia acerca de suas emoções mais negativas: a melancolia, o pessimismo, o desejo de fugir da realidade, a obsessão com a morte. Contudo, sua lírica já exibia temáticas sociais e políticas, se aproximando também da geração seguinte.

Por isso, muitos estudiosos o consideram um poeta de transição, que assimilou traços das várias fases do Romantismo. Cantos e Fantasias (1865) é o seu livro mais conhecido, que incluiu um emocionante poema acerca do filho que faleceu, intitulado "Cântico do calvário".

10. Joaquim Manuel de Macedo

Escritor, médico e político carioca, Joaquim Manuel de Macedo (1820 — 1882) se destacou no panorama brasileiro como romancista, poeta e dramaturgo.

Sua escrita, muitas vezes apontada como sentimentalista, conquistou a atenção popular, se tornando um dos maiores sucessos literários da época. O maior exemplo é A Moreninha (1844), considerado um marco inicial do romance brasileiro, retratando a sociedade contemporânea.

A obra se foca, sobretudo, nos costumes da burguesia, narrando o amor idealizado entre um estudante de medicina e uma garota que tinha apenas 14 anos.

Em uma das ruas do jardim duas rolinhas mariscavam: mas, ao sentirem passos, voaram e pousando não muito longe, em um arbusto, começaram a beijar-se com ternura: e esta cena se passava aos olhos de Augusto e Carolina!...
Igual pensamento, talvez, brilhou em ambas aquelas almas, porque os olhares da menina e do moço se encontraram ao mesmo tempo e os olhos da virgem modestamente se abaixaram e em suas faces se acendeu um fogo, que era pejo.

(Trecho do romance A Moreninha)

Confira também nossa análise do livro A Moreninha.

11. Machado de Assis

Retrato em preto e branco de Machado de Assis

Machado de Assis (1839 — 1908) foi um autor que veio revolucionar a nossa literatura, transportando o Realismo para o contexto nacional. Esse caráter inovador e os temas universais das suas obras tornaram o escritor num nome atemporal que continua conquistando leitores.

Contudo, antes da sua fase realista, a escrita machadiana teve uma grande influência romântica, manifestando diversas características associadas à terceira geração do movimento.

Isto é visível, por exemplo, nos seus primeiros romances, Ressurreição (1872) e A Mão e a Luva (1874), assim como na coletânea de contos Histórias da Meia-noite (1873).

12. Manuel Antônio de Almeida

Educador e médico carioca, Manuel Antônio de Almeida (1830 — 1861) foi um autor romântico da primeira geração que publicou apenas uma obra durante a vida. No entanto, ele também se dedicou ao jornalismo, assinando crônicas, artigos e críticas.

A novela Memórias de um Sargento de Milícias foi lançada originalmente em capítulos, entre 1852 e 1853, no jornal Correio Mercantil. Contrariando as tendências da época, a trama se debruça sobre as classes mais baixas da população, procurando retratar a malandragem carioca.

Usando um tom por vezes humorístico e funcionando como uma crônica de costumes, que retratava a sociedade urbana da época, o livro também exprime características do movimento realista que despontaria anos mais tarde.

Até então indiferente ao que se passava em torno de si, parecia agora participar da vida, de tudo que a cercava; gastava horas inteiras a contemplar o céu, como se só agora tivesse reparado que ele era azul e belo, que o sol o iluminava de dia, que se recamava de estrelas à noite.

(Trecho da novela Memórias de um Sargento de Milícias)

Conheça também a análise do livro Memórias de um Sargento de Milícias.

13. Narcisa Amália

Um nome muitas vezes esquecido quando falamos sobre autores deste período, Narcisa Amália (1852 — 1924) foi a primeira mulher a se profissionalizar como jornalista no nosso país. Além disso, foi tradutora e assinou inúmeros artigos de opinião que revelavam uma forte consciência social.

Entre outros temas, seus textos refletiam acerca dos direitos das mulheres e das pessoas escravizadas, assumindo também uma postura republicana.

Outro aspecto que atravessa a sua obra é a procura de uma identidade nacional, se afastando do imaginário europeu e buscando aquilo que era tipicamente brasileiro. Seu único livro publicado, Nebulosas (1872) reflete estas preocupações, versando ainda sobre a natureza e os sentimentos.

O horror da vida, deslumbrada, esqueço!
É que há dentro vales, céus, alturas,
Que o olhar do mundo não macula, a terna
Lua, flores, queridas criaturas,
E soa em cada moita, em cada gruta,
A sinfonia da paixão eterna!...
- E eis-me de novo forte para a luta.

(Trecho do poema Por que sou forte)

14. Bernardo Guimarães

Desenho de Bernardo Guimarães em preto e branco

Jornalista, magistrado e escritor mineiro, Bernardo Guimarães (1825 — 1884) foi um notório defensor do movimento abolicionista. Embora tenha escrito poesias, muitas consideradas obscenas para o seu tempo, o autor se distinguiu sobretudo enquanto romancista.

Algumas de suas obras manifestam uma tendência indianista em voga naquele tempo, como A Voz do Pajé (1860), O Ermitão do Muquém (1864) e O Índio Afonso (1872). Contudo, seu maior sucesso foi, indubitavelmente, o romance A Escrava Isaura (1875).

O enredo segue as desventuras de uma jovem escravizada, retratando as violências e os abusos a que era submetida. Um grande sucesso entre os leitores contemporâneos, o livro ajudou a sensibilizar a sociedade brasileira para a brutalidade daqueles atos, ganhando inúmeras adaptações posteriores.

Confira também o resumo completo do livro A Escrava Isaura.

15. Franklin Távora

Franklin Távora (1842 — 1888) foi um advogado, político e escritor cearense, apontado como precursor do regionalismo nordestino. Embora possa ser considerado um autor romântico, suas obras já demonstravam algumas características realistas.

O Cabeleira (1876), seu romance mais célebre, é protagonizado pela figura de um cangaceiro, influenciado pelos comportamentos violentos e subversivos do seu pai.

Na obra, podemos assistir a um retrato detalhado da vida no Nordeste, com inúmeras referências populares e o uso de uma linguagem simples e típica daquela região.

Cabeleira podia ter vinte e dois anos. A natureza o havia dotado com vigorosas formas. Sua fronte era estreita, os olhos pretos e lânguidos; o nariz pouco desenvolvido, os lábios delgados como os de um menino. É de notar que a fisionomia deste mancebo, velho na prática do crime, tinha uma expressão de insinuante e jovial candidez.

(Trecho do romance Cabeleira)

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Carolina Marcello
Carolina Marcello
Mestre em Estudos Literários, Culturais e Interartes e licenciada em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Apaixonada por leitura e escrita, produz conteúdos on-line desde 2017, sobre literatura, cultura e outros campos do saber.