A escrava Isaura, de Bernardo Guimarães


Rebeca Fuks
Rebeca Fuks
Doutora em Estudos da Cultura

Publicado em 1875, A escrava Isaura foi uma obra literária escrita por Bernardo Guimarães e pertenceu a segunda geração do romantismo. Com temática abolicionista, o romance foi polêmico na altura em que foi lançado, vale lembrar que a abolição da escravatura só foi assinada, de fato, em 1888.

Resumo

A protagonista do romance de Bernardo Guimarães é Isaura, uma escrava de pele branca, filha do encontro de um português branco - o feitor Miguel - com uma escrava negra.

O dono da casa onde Isaura nasceu era o comendador Almeida, a menina fora criada pela mulher do comendador, uma senhora de bom coração que a educou e tinha como projeto libertá-la. Isaura aprendeu a ler, a escreveu, a tocar piano e a falar italiano e francês.

- Mas, senhora, apesar de tudo isso, que sou eu mais do que uma simples escrava? Essa educação, que me deram, e essa beleza, que tanto me gabam, de que me servem?... são trastes de luxo colocados na senzala do africano. A senzala nem por isso deixa de ser o que é: uma senzala.

- Queixas-te da tua sorte, Isaura?...

- Eu não, senhora; não tenho motivo... o que quero dizer com isto é que, apesar de todos esses dotes e vantagens, que me atribuem, sei conhecer o meu lugar.

O comendador, ao se aposentar, muda-se para a corte, deixando a fazenda a cargo do filho, Leôncio. Apesar de ser casado com Malvina, Leôncio é perdidamente apaixonado por Isaura.

A mulher do comendador morre subitamente, não deixando qualquer documento que libertasse Isaura. Com a morte da sua proprietária, a moça passa a pertencer a Leôncio.

Isaura chama a atenção de vários homens por sua beleza e doçura, entre eles o jardineiro da fazenda, Belchior, e Henrique, cunhado de Leôncio. A moça, porém, é categórica: só irá se entregar a um homem por amor.

O comendador falece e Malvina passa a pressionar cada vez mais Leôncio para libertar a moça. Se aproveitando de um momento turbulento, o feitor Miguel, pai de Isaura, decide fugir com a jovem para o Recife.

Lá, pai e filha conseguem conquistar uma vida nova liberta: trocam os nomes (Isaura torna-se Elvira e Miguel vira Anselmo), mudam para uma casa nova em Santo Antônio. É em Recife que Isaura conhece o seu grande amor, Álvaro, um rapaz rico, abolicionista, republicano. Álvaro também se encanta perdidamente por Isaura.

O jovem a convida para participar de um baile e Isaura, então Elvira, receosa, aceita o convite. No baile, no entanto, é desmascarada e revela que é uma escrava fugida. Leôncio fica sabendo o paradeiro de Isaura e parte atrás dela. O resultado é trágico: a moça é levada de volta para a fazenda onde permanece reclusa junto com o pai.

O final da história, contudo, é feliz: Isaura é salva pelo seu grande amor, Álvaro, que descobre que Leôncio estava falido e compra a sua dívida. Desse modo, todos os bens de Leôncio passam a pertencer a Álvaro, inclusive Isaura.

Personagens principais

Isaura

Filha de um pai português branco (o feitor Miguel) com uma escrava negra. Isaura, apesar de ter a pele branca, é escrava desde o nascimento.

Leôncio

Filho do comendador, herdeiro da fazenda e de Isaura. Leôncio foi criado ao lado da moça e apaixonou-se perdidamente por ela.

Malvina

Mulher de Leôncio, descrita como linda e encantadora, deseja a libertação de Isaura.

Henrique

Cunhado de Leôncio, também nutria amor por Isaura.

Álvaro

O generoso redentor se Isaura, por quem a moça se apaixona.

Belchior

Jardineiro da fazenda, descrito como um sujeito feio e deformado que faz uma oferta para ficar com Isaura.

Miguel

Pai de Isaura, faz de tudo para libertar a filha.

A escrava Isaura, uma obra romântica

A obra produzida por Bernardo Guimarães divide os personagens bons dos personagens maus. A protagonista, Isaura, por exemplo, é extremamente idealizada por sua beleza que encanta a todos. A moça também possui um caráter exemplar e se guarda até encontrar o homem que de fato ama, Álvaro. O vilão, Belchior, por sua vez, é extremamente mau caráter e esteticamente repulsivo.

Contexto histórico

O romance A escrava Isaura alavancou a carreira de Bernardo Guimarães, que passou a ser reconhecido como grande autor, especialmente por ter tido a coragem de tocar em um tema polêmico - o abolicionismo - até então pouquíssimo abordado na literatura. Quando foi lançado, A escrava Isaura foi um sucesso de vendas.

Vale sublinhar que o livro foi publicado treze anos antes da Lei Áurea ter sido assinada decretando a abolição definitiva da escravatura. No entanto, já em setembro de 1871, havia sido promulgada a lei do ventre livre, que emancipava, ainda que lentamente, os escravos.

Capa do jornal anunciando a abolição da escravatura.
Capa do jornal Gazeta de Notícias anunciando a abolição da escravatura no dia 13 de maio de 1888.

Sobre o autor Bernardo Guimarães

Bernardo Joaquim da Silva Guimarães nasceu em 15 de agosto de 1825, em Ouro Preto, interior de Minas Gerais. Era filho do poeta Joaquim da Silva Guimarães.

Foi seminarista antes de se mudar para São Paulo onde cursou o ensino superior e virou advogado. Tornou-se juiz municipal em Catalão (Goiás). Para além do direito, atuou também como jornalista no jornal Atualidades e foi professor no Liceu Mineiro de Ouro Preto.

Considerado o criador do romance sertanejo e regional, Bernardo Guimarães ficou conhecido apenas pelo primeiro e último nome a partir do seu primeiro trabalho inaugural, o livro de poesia Cantos da solidão.

Aos cinquenta anos publicou sua obra mais famosa: A escrava Isaura.

Na vida pessoal, foi amigo íntimo do poeta Álvares de Azevedo, casou-se com Teresa Maria Gomes e teve oito filhos.

Foi escolhido patrono da cadeira nº 5 da Academia Brasileira de Letras. Faleceu no dia 10 de março de 1884, em Ouro Preto.

Conheça a bibliografia completa do escritor:

Cantos da solidão, 1852.
Poesias, 1865.
O ermitão de Muquém, 1868.
Lendas e romances, 1871.
O garimpeiro, 1872.
Histórias da província de Minas Gerais, 1872.
O seminarista, 1872.
O índio Afonso, 1873.
A morte de Gonçalves Dias, 1873.
A escrava Isaura, 1875.
Novas poesias, 1876.
Maurício ou os paulistas em São João Del-Rei, 1877.
A ilha maldita, 1879.
O pão de ouro, 1879.
Rosaura, a enjeitada, 1883.
Folhas de outono, 1883.
O bandido do Rio das Mortes, 1904.

Adaptação do romance para a televisão, primeira versão (Globo)

Com autoria de Gilberto Braga, a novela da Rede Globo teve inspiração no romance abolicionista de Bernardo Guimarães. A novela foi ao ar entre outubro de 1976 e fevereiro de 1977 no horário das seis.

Foram cem capítulos dirigidos por Herval Rossano e Milton Gonçalves. Após quarenta anos, a novela ainda figura na lista das campeãs das telenovelas comercializadas no exterior.

Elenco principal da novela

Lucélia Santos (Isaura)

Gilberto Martinho (Comendador Almeida)

Léa Garcia (Rosa)

Roberto Pirillo (Tobias)

Átila Iório (Miguel)

Beatriz Lyra (Ester)

Rubens de Falco (Leôncio)

Zeny Pereira (Januária)

Norma Bloom (Malvina)

Adaptação do romance para a televisão, segunda versão (Record)

A versão de A escrava Isaura produzida pela TV Record foi mais extensa que a adaptação da Rede Globo, contando com 167 capítulos. Os episódios foram ao ar entre outubro de 2004 e abril de 2005. A autoria foi assinada por Tiago Santos. O diretor foi o mesmo da adaptação anterior, Herval Rossano.

Elenco principal da novela

Bianca Rinaldi (Isaura)

Valquíria Ribeiro (Juliana)

Jackson Antunes (Miguel)

Rubens de Falco (Comendador Almeida)

Norma Blum (Gertudes)

Leopoldo Pacheco (Leôncio)

Maria Ribeiro (Malvina)

Leia o romance em formato PDF

A escrava Isaura está disponível para download gratuito na íntegra através do domínio público.

Prefere ouvir a história?

A escrava Isaura também encontra-se disponível em audiolivro:

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Rebeca Fuks
Rebeca Fuks
Formada em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2010), mestre em Literatura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2013) e doutora em Estudos de Cultura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e pela Universidade Católica Portuguesa de Lisboa (2018).