Livro Senhora de José de Alencar (resumo e análise completa)


Rebeca Fuks
Rebeca Fuks
Doutora em Estudos da Cultura

Publicado pela primeira vez em 1875, o romance Senhora, de José de Alencar, pertence ao Romantismo. O livro é dividido em quatro partes - o preço, quitação, posse e resgate - e tem como tema central o casamento por interesse.

Resumo da obra

A protagonista Aurélia Camargo é filha de uma costureira pobre e deseja se casar com o namorado, Fernando Seixas. O rapaz, porém, troca Aurélia por Adelaide Amaral, uma menina rica que proporcionaria um futuro mais promissor.

O tempo passa e Aurélia torna-se órfã e recebe uma herança enorme do avô. Com a fortuna que adquire, a moça ascende socialmente e começa a ser vista com outros olhos, principiando a ser cobiçada por pretendentes interesseiros.

Ao saber que o antigo namorado ainda estava solteiro e em maus lençóis financeiros, Aurélia resolve se vingar do abandono sofrido e se propõe a comprá-lo. Os dois, por fim, casam-se.

Fernando atura as chacotas da mulher até que consegue trabalhar e reunir dinheiro suficiente para cobrir o que a moça empregara no casamento, comprando assim a sua "liberdade". Aurélia percebe a mudança de atitude de Fernando e o casal faz as pazes, consumando, por fim, o casamento.

O que torna o enredo tão interessante?

A grande reviravolta da obra se dá porque a personagem Aurélia é apresentada como uma moça meiga, apaixonada, dedicada e, após o abandono do namorado, torna-se fria e calculista.

Fernando, por sua vez, percorre o caminho ao avesso: começa a história como um interesseiro em busca de um bom casamento arranjado e termina o relato como um homem trabalhador que consegue a redenção.

José de Alencar demonstra em seu romance uma preocupação com a demasiada importância que a sociedade burguesa dá ao dinheiro. O autor sublinha de que forma o fator financeiro condena o destino das pessoas.

Em relação à narração, Senhora é narrado em terceira pessoa por um narrador observador. O romance é rico em detalhes cenográficos e descrições psicológicas dos personagens.

Contexto histórico

Vale lembrar o contexto histórico brasileiro em que foi publicado o romance: no século XIX o público letrado ainda se encontrava em processo de consolidação.

Era relativamente frequente também, na altura da publicação de Senhora, o casamento por interesse, no entanto, a protagonista Aurélia condena essa prática, sendo movida única e exclusivamente por amor, deixando claro que deseja se unir em matrimônio perpétuo com alguém por quem nutrice, de fato, afeto. O romance denuncia igualmente a sociedade de aparências.

Vejamos um trecho da discussão entre Aurélia e Fernando:

Mas a senhora deve saber que o casamento começou por ser a compra da mulher pelo homem; e ainda neste século se usava em Inglaterra, como símbolo do divórcio, levar a repudiada ao mercado e vendê-la ao martelo.

Corrente literária

Senhora é um romance que pertencente ao Romantismo Brasileiro.

Os livros produzidos durante este período possuem forte tendência ao nacionalismo. José de Alencar se inspirou em Ossian e Chateaubriand e adaptou os recursos aprendidos incluindo pinceladas de influência local. Alencar investiu igualmente em uma linguagem repleta de musicalidade. Tais recursos já haviam sido experimentados antes, O Guarani, romance publicado antes de Senhora, que teve grande sucesso de público.

Personagens

Aurélia

Aurélia Camargo é uma adolescente de dezoito anos, de origem humilde, filha de uma camareira. Independente e emancipada, a vida de Aurélia muda após o recebimento de uma inesperada herança do avô.

Fernando

Fernando Seixas é o namorado de Aurélia Camargo durante a juventude. Como a moça não possuía meios e bens, o rapaz, que era um alpinista social, decide trocá-la por Adelaide Amaral, uma jovem capaz de oferecer um futuro abastado.

Adelaide

Adelaide Amaral é uma moça milionária que acaba por noivar com Fernando Seixas. O rapaz abandona Aurélia para estar com Adelaide por motivos financeiros, no entanto rejeita Adelaide e volta para Aurélia quando a moça enriquece.

D. Firmina

D. Firmina Mascarenhas é uma parente idosa que ficou responsável por acompanhar Aurélia Camargo em suas aparições na sociedade.

Filme Senhora

O livro foi adaptado para o cinema em 1976 por Geraldo Vietri e tem no elenco Elaine Cristina (interpretando a protagonista Aurélia) e Paulo Figueiredo (interpretando Fernando Seixas).

Novela Senhora

A Rede Globo exibiu no horário das 18 horas o clássico de José de Alencar adaptado para a televisão. Quem fez a adaptação do romance foi Gilberto Braga e os capítulos foram ao ar entre 30 de junho de 1975 e 17 de outubro de 1975.

No total foram oitenta episódios dirigidos por Herval Rossano que tiveram como protagonistas Norma Blum (no papel de Aurélia Camargo) e Cláudio Marzo (no papel de Fernando Seixas).

Sobre o autor José de Alencar

José Martiniano de Alencar nasceu no dia 1 de maio de 1829 em um pequeno município chamado Messejana (atualmente o município pertence a Fortaleza). Mudou-se com a família para o Rio de Janeiro aos onze anos porque o pai desejava seguir carreira política.

O escritor, que se formou em Direito, vinha de um lar bastante abastado (o pai era senador liberal e o irmão diplomata). Além de se dedicar à ficção, José de Alencar atuou como político, orador, jornalista, crítico teatral e advogado.

Escreveu para vários jornais, entre eles o Correio Mercantil e o Jornal do Comércio. Em 1855, foi redator chefe do Diário do Rio de Janeiro.

Ocupou a cadeira número 23 da Academia Brasileira de Letras por escolha de Machado de Assis.

Na carreira política pertenceu ao Partido Conservador e foi eleito deputado geral pelo Ceará, além de ter sido Ministro da Justiça entre os anos de 1869 e 1870.

Publicou Senhora aos quarenta e seis anos, em 1875.

Faleceu no Rio de Janeiro relativamente jovem, com tuberculose, aos quarenta e oito anos, no dia 12 de dezembro de 1877.

Um pouco mais sobre a história de José de Alencar

O pai do escritor, o senador José Martiniano de Alencar, chegou a ser padre. Após abandonar o sacerdócio casou-se com a prima, Ana Josefina de Alencar, com quem teve filhos.

Os avós paternos de José de Alencar eram José Gonçalves dos Santos, um comerciante português, e Bárbara de Alencar, que foi consagrada heroína da revolução de 1817. Bárbara de Alencar e o filho foram presos na Bahia acusados de envolvimento na revolução, ficaram, no total, quatro anos em reclusão.

A carreira literária de José de Alencar

O escritor lançou seu primeiro trabalho literário em 1856. Depois a produção foi ganhando corpo e maturidade, é extensa a lista de trabalhos publicados por José de Alencar:

  • Cartas sobre a Confederação dos Tamoios (1856)
  • O Guarani (1857)
  • Cinco minutos (1857)
  • Verso e reverso (1857)
  • A noite de São João (1857)
  • O demônio familiar (1858)
  • A viuvinha (1860)
  • As asas de um anjo (1860)
  • Mãe (1862)
  • Lucíola (1862)
  • Os filhos de Tupã (1863)
  • Escabiosa (sensitiva) (1863)
  • Diva (1864)
  • Iracema (1865)
  • Cartas de Erasmo (1865)
  • As minas de prata (1865)
  • A expiação (1867)
  • O gaúcho (1870)
  • A pata da gazela (1870)
  • O tronco do ipê (1871)
  • Sonhos d’ouro (1872)
  • Til (1872)
  • O Garatuja (1873)
  • A alma de Lázaro (1873)
  • Alfarrábios (1873)
  • A Guerra dos Mascates (1873)
  • Voto de graças (1873)
  • O ermitão da Glória (1873)
  • Como e por que sou romancista (1873)
  • Ao correr da pena (1874)
  • O nosso cancioneiro (1874)
  • Ubirajara (1874)
  • Senhora (1875)
  • Encarnação (1893)
  • Obra completa, Rio de Janeiro: Ed. Aguilar (1959)

Leia Senhora na íntegra

Ficou curioso para conhecer um dos maiores clássicos da literatura brasileira? A obra Senhora está disponível para leitura na íntegra.

Saiba mais

Quem quiser conhecer mais sobre as convicções políticas e estéticas do José de Alencar pode ler Como e porque sou romancista, ensaio publicado pelo autor que se encontra em domínio público.

Conheça também

Rebeca Fuks
Rebeca Fuks
Formada em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2010), mestre em Literatura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2013) e doutora em Estudos de Cultura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e pela Universidade Católica Portuguesa de Lisboa (2018).