Significado da Raposa de O Pequeno Príncipe


Rebeca Fuks
Rebeca Fuks
Doutora em Estudos da Cultura

Uma das personagens mais importantes da história contada no livro O pequeno Príncipe (1943), do escritor francês Antoine de Saint-Exupéry (1900-1944), é a raposa.

A raposa transmite uma série de reflexões sobre como nos relacionamos com os outros. É através dela que o pequeno Príncipe aprende, por exemplo, o que significa cativar alguém.

E foi então que apareceu a raposa:
- Bom dia, disse a raposa.
- Bom dia, respondeu polidamente o principezinho, que se voltou, mas não viu nada.
- Eu estou aqui, disse a voz, debaixo da macieira...
- Quem és tu? perguntou o principezinho. Tu és bem bonita...
- Sou uma raposa, disse a raposa.
- Vem brincar comigo, propôs o principezinho. Estou tão triste...
- Eu não posso brincar contigo, disse a raposa. Não me cativaram ainda.

A raposa ensina o que é cativar

Logo que a raposa aparece na história ela introduz um conceito profundo que, até então, não havia sido levantado.

A raposa se recusa a brincar com o pequeno príncipe assim que o conhece argumentando que ainda não foi cativada. O menino, no entanto, não entende o que cativar significa e logo pergunta “Que quer dizer ‘cativar’?”.

Através da pergunta a raposa percebe que o pequeno príncipe não é dali e tenta ajudá-lo, perguntando o que ele procura. O que o menino diz que quer encontrar são homens, para fazer amigos. É a partir dessa interação que a raposa começa a filosofar.

Depois de muito insistir na pergunta sobre o que é cativar, a raposa responde que cativar significa “criar laços…” e destaca que esse conceito vem sendo muito esquecido nos últimos tempos.

De uma forma sutil, ela faz uma crítica à sociedade, dizendo que os homens estão cada vez mais distantes uns dos outros e, como têm sempre pressa, não têm tempo para conhecer a fundo o que está ao seu redor.

A raposa, para explicar o que é cativar, mostra como uma criatura se diferencia de todas as outras quando se torna importante para nós:

Tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo…

Aos sermos cativados, segundo a raposa, passamos a depender do outro e a vê-lo como essencial na nossa vida.

A raposa é uma personagem, portanto, que traz para a história elementos importantes, que nos relembra do que é essencial, que fala sobre as relações que criamos e sobre os laços que desenvolvemos com aqueles que amamos.

Através da raposa ficamos sabendo como funciona o mundo dos adultos

A raposa se diz entediada com a sua rotina sempre igual:

Eu caço as galinhas e os homens me caçam. Todas as galinhas se parecem e todos os homens se parecem também. E por isso eu me aborreço um pouco.

O que a raposa quer, acima de tudo, é ser cativada, isso é, desenvolver uma relação especial com alguém, para que essa criatura seja diferente de todas as outras e tenha um lugar especial no seu coração.

O exemplo que a raposa dá é que, se for cativada, saberá até o barulho dos passos daquele que a cativou, que será diferente dos passos de todos os outros.

Outro exemplo que dá é em relação a cor e a memória. Algumas coisas que existem no mundo e não tem importância para a raposa, como o trigo, farão com que ela se lembre daquele que a cativou, graças a cor do seu cabelo. E essa associação de uma cor da paisagem com uma memória de alguém irá preencher o seu coração de alegria.

A raposa explica para o pequeno príncipe que, quando for cativada, a sua monotonia irá acabar, dando lugar a felicidade e a plenitude. Mas ela sabe que ser cativada está cada vez mais difícil no mundo.

A raposa é um personagem importante porque nos mostra o mundo como ele é e as suas dificuldades.

Ela relembra, por exemplo, que, como os homens compram tudo pronto nas lojas, não estão habituados a criarem laços profundos, a fazerem amigos de verdade, que precisam de cuidado e atenção: “como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos.”

Como se cativa, segundo a raposa

É a raposa que ensina para o pequeno príncipe não só o que é cativar como também como se cativa, por esse motivo ela é um personagem fundamental para a história.

A lição parece ser bem simples: “É preciso ser paciente”. Ela explica para o pequeno príncipe que o processo de conhecer e cativar alguém demora tempo e é preciso respeitar esse processo de encontro.

Primeiro os dois devem se sentar juntos, mas distantes, sem falar nada, e cada vez devem se aproximar mais. No princípio, segundo a raposa, não é preciso falar nada, até porque a linguagem causa muitos problemas. O que é preciso é que esse encontro aconteça com frequência.

Os encontros devem ser todos os dias na mesma hora, e, com a rotina, que ela chama de ritual, começará a ser cativada e ficará feliz.

“só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos.”

Uma das frases mais conhecidas da obra de Antoine de Saint-Exupéry não é dita pelo protagonista, e sim pela raposa.

Quando o pequeno príncipe volta para se despedir da raposa, que ele havia cativado, ela promete que irá contar um segredo muito simples e fala as duas frases que ficaram famosas: “só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos.”

A raposa quer relembrar para o principezinho uma lição fundamental que os homens parecem ter esquecido há tempos. Para ela, devemos nos guiar pelos nossos sentimentos, por aquilo que trazemos no coração.

A raposa quer dizer que devemos dar menos valor a coisas superficiais para nos concentrarmos naquilo que realmente importa: o que levamos no nosso interior.

A mensagem reflexiva é escrita de uma forma simples e clara, e comunica tanto com as crianças como com os adultos.

Leia também o artigo sobre a frase “O essencial é invisível aos olhos”.

A raposa fala da responsabilidade de se cativar alguém

Quando ensina sobre a importância de ser cativada, a raposa também destaca para o pequeno príncipe o fato de que, quando se cativa alguém, também se é responsável por aquele que cativamos.

É da raposa a frase:

Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.

Por esse motivo o pequeno príncipe é, sim, responsável pela rosa que tanto ama.

Esse ensinamento transmitido pela raposa fala sobre como devemos ter cuidado com os afetos dos outros, como temos a missão de proteger e zelar por aqueles que fizemos com que gostassem de nós.

Conheça um artigo sobre a frase “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”.

“Foi o tempo que perdeste com tua rosa que fez tua rosa tão importante”

A raposa fala sobre a dedicação nas relações. A frase acima, dita pela raposa, diz respeito à relação que o pequeno príncipe desenvolveu com a rosa que tanto amava.

A relação entre os dois é o exemplo que a raposa escolhe dar para provar que é a dedicação que colocamos em alguém que faz com que a relação se torne importante para nós.

A reflexão da raposa nos diz sobre o investimento emocional e afetivo que devemos colocar nas relações para que esse encontro seja profundo.

A raposa relembra nesse trecho uma lição importante: devemos cuidar, zelar, colocar empenho e energia nas relações que são mais importantes para nós.

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Rebeca Fuks
Rebeca Fuks
Formada em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2010), mestre em Literatura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2013) e doutora em Estudos de Cultura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e pela Universidade Católica Portuguesa de Lisboa (2018).