As obras mais importantes de Rembrandt e a sua biografia


Rebeca Fuks
Rebeca Fuks
Doutora em Estudos da Cultura

Rembrandt Harmenszoon van Rijn (1606-1669) foi um criador de obras-primas consagradas como A ronda noturna e A Lição de Anatomia do Dr. Tulp.

Inovador e original, Rembrandt foi não só um expoente artista da Época Áurea holandesa como também um grande nome do Barroco europeu.

Obras de Rembrandt

A ronda noturna (1642)

A ronda noturna

A obra mais importante do criador holandês foi uma encomenda feita em 1639 pela Corporação de Arcabuzeiros de Amsterdã a fim de decorar a sede da companhia. A tela foi entregue em 1642.

A frente do qudro, com protagonismo, está o capitão Frans Banning Cocq e o seu tenente. Vemos no trabalho de Rembrandt um retrato em movimento, característica bastante incomum para a época em que foi pintado quando os retratos eram habitualmente estáticos.

O que chama a atenção nessa peça é o jogo de luz e sombra, a presença de forte ação (observe, por exemplo, as armas levantadas), a noção de profundidade e dinamismo (repare como há muitas ações acontecendo em simultâneo).

Não perca uma análise aprofundada do Quadro A Ronda Noturna, de Rembrandt.

O retorno do filho pródigo (1662)

O retorno do filho pródigo

Pintado em 1662 por Rembrandt, a imagem ilustra o instante em que o filho mais jovem da parábola de Jesus regressa para a casa, para ficar junto do pai.

A história bíblica, que está registrada em Lucas 15, narra o percurso de um jovem rebelde que decide ir embora do lar para viver no luxo as custas da fortuna do progenitor. Arrependido, ele acaba por retornar para casa em péssimo estado - de cabeça raspada, esfarrapado e praticamente descalço - onde o pai o aguarda de braços abertos.

Algumas figuras assistem a cena, entre eles os empregados e o irmão do rapaz que regressa. Na tela destacamos o fato de vermos a expressão de praticamente todos os representados, exceto do filho pródigo, que dá nome ao quadro.

Observamos no quadro o típico jogo de luz e sombra presente habitualmente nas telas do pintor holandês.

Uma curiosidade: em 1766 Catarina, a Grande, da Rússia, adquiriu a tela O retorno do filho pródigo, que atualmente está no Museu Hermitage em São Petersburgo.

A Lição de Anatomia do Dr. Tulp (1632)

A Lição de Anatomia do Dr. Tulp

Pintado em 1632, quando o artista tinha apenas 26 anos, a tela retrata uma sessão onde um cadáver é dissecado. A peça foi encomendada pela Associação de Cirurgiões (Surgeons Guild) de Amsterdã.

Assim como em A ronda noturna, vemos um retrato de grupo peculiar, onde cada expressão aparece de forma dramática e chama a atenção do espectador.

Teóricos da obra de Rembrandt supõem que, do grupo retratado, dois ou três personagens eram efetivamente médicos e os outros presentes seriam assistentes. Aqueles que observam o procedimento médico parecem hipnotizados, profundamente concentrados assistindo o mestre em ação deixando as entranhas do antebraço esquerdo à mostra.

Registros apontam que a dissecação teria acontecido no dia 16 de fevereiro de 1632 na sala de conferências da associação. O protagonista da tela (o único nomeado no título da obra inclusive) é o Dr. Nicolaes Tulp (1593-1674), o anatomista municipal que, na ocasião, tinha 39 anos e era um consagrado médico.

O cadáver em questão era Aris Kindt, um criminoso que havia sido condenado por assalto à mão armada. Deitado em uma mesa de madeira, seminu, a parte em que figura no quadro é profundamente clara em oposição à escuridão presente em todo o resto da obra.

A noiva judia (1666-1667)

A noiva judia

A noiva judia teria sido pintada entre 1666 e 1667 e, na imagem, vemos apenas duas personagens. Essa contenção de figuras permite que o pintor explore mais detalhadamente a densidade psicológica de cada uma das personagens através das feições. Ao longo da carreira (especialmente no início dela), Rembrandt se dedicou a criar retratos.

Bastante cuidadoso ao retratar detalhes como as joias da noiva e a relação entre o recém-casal, o pintor holandês consegue, através da linguagem corporal, demonstrar o afeto e a cumplicidade que permeiam o casal.

Um fato interessante: como o artista viveu com a mulher Saskia numa casa de luxo situada no bairro judeu de Amsterdã, acabou por retratar uma série de rabinos e fatos relacionadas ao universo judaico.

Betsabá e seu banho (1654)

Betsabá e seu banho

Pintada em 1654 a tinta óleo, Betsabá e seu banho não é uma exceção na produção de Rembrandt, que pintou uma série de temas bíblicos ao longo de toda a sua carreira.

O criador holandês era um conhecedor tanto do velho quanto do novo testamento e, entre 1616 e 1620, frequentou uma Escola Latina na sua cidade natal especializada em estudos bíblicos e clássicos.

A história que escolheu retratar aqui, de Betsabá, futura mãe do rei Salomão, encontra-se no antigo testamento. Na sua interpretação, Rembrandt apresenta uma nudez desenvergonhada exposta à luz. A bela pousa a mão esquerda sobre uma camisa branca e, com a mão direita, segura um misterioso papel enquanto a serva, com tons escuros em oposição à clareza dela, seca o seu pé.

Autorretrato (1660)

Autorretrato

Rembrandt fez uma série de autorretratos em vida, estima-se que o artista tenha criado cerca de 80 imagens dele próprio - ou em óleo ou em gravura - ao longo de 40 anos.

Nessas imagens o criador estuda a sua própria fisionomia e se presenta em variadas poses, fazendo uso de diferentes vestuários além de apresentar uma série de expressões distintas.

Não se sabe bem o motivo que moveu Rembrandt a criar tantas sucessivas imagens, mas supõe-se que esse movimento estivesse relacionado à procura de um autoconhecimento.

Ao retratar o seu próprio degradar com o passar dos anos, o pintor escolheu ilustrar não só o seu auge e vigor físico como também o seu declínio.

Biografia de Rembrandt Harmenszoon van Rijn

Rembrandt Harmenszoon van Rijn foi um pintor e gravurista barroco que nasceu no dia 15 de julho de 1606 em Leiden (Holanda).

O rapaz era filho de um moleiro chamado Harmen Gerritszoon van Rijn (1568-1630) com Neeltgen Willemsdochter van Zuytbrouck (1568-1640), oriunda de uma família de padeiros. O pai de Rembrandt possuía uma propriedade a margem do rio.

O casal teve dez filhos - seis sobreviveram, Rembrandt foi o quarto.

A pintura proporcionou uma boa vida à Rembrandt Harmenszoon van Rijn, que foi bastante celebrado ao longo da carreira e teve um profundo sucesso não só na Holanda como também ao longo de toda a Europa.

O estilo da pintura

O artista começou a fazer sucesso a partir da década de 1630. Nesses primeiros anos recebeu inúmeras encomendas e teve facilidade de encontrar trabalho em meio a uma Holanda próspera e abastada que vivia os seus anos de ouro.

Dono de um estilo singular, Rembrandt prestava especial atenção aos gestos e estava especialmente preocupado em transparecer as emoções dos personagens (percebidas pelas rugas ou pela posição das sobrancelhas, por exemplo).

Sua pintura ficou consagrada também porque nas telas fazia questão de usar efeitos de luz e sombra e incutia uma série de riqueza de detalhes.

Vida pessoal

O pintor se casou com Saskia van Uylenburgh no dia 22 de junho de 1634. A esposa escolhida por Rembrandt era sobrinha de um importante marchand local chamado Hendrick van Uylenburgh.

Do casamento foram gerados quatro filhos, mas apenas um tenha sobreviveu (Titus, nascido em 1641).

Depois de ficar viúvo (em 1642), o pintor teve uma relação de concubinato com Hendrickje Stoffels, a babá do seu filho Titus, com quem teve uma filha chamada Cornélia.

A decadência de Rembrandt

Em 1642 o artista perdeu a esposa Saskia van Uylenburgh, a partir desse momento começou a enfrentar uma série de problemas pessoais e profissionais.

Rembrandt sofreu cerca de vinte e cinco processos judiciais e foi à falência. Os seus bens foram leiloados em 1656 - convém lembrar que o artista era colecionador de arte e tinha em sua posse obras importantes como telas de Rafael, Jan van Eyck e uma escultura de Michelangelo.

A morte do pintor holandês

Rembrandt Harmenszoon van Rijn faleceu em Amsterdam no dia 4 de outubro de 1669, até hoje a causa da sua morte não é conhecida.

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Rebeca Fuks
Rebeca Fuks
Formada em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2010), mestre em Literatura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2013) e doutora em Estudos de Cultura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e pela Universidade Católica Portuguesa de Lisboa (2018).