Marina Abramović: as 12 obras mais importantes


Carolina Marcello
Carolina Marcello
Mestre em Estudos Literários, Culturais e Interartes

Marina Abramović (1946) é um dos maiores nomes da Performance Art (ou arte performática) mundial, tendo iniciado a sua carreira na década de 70 e atingido um grande sucesso.

O seu trabalho, de cunho pioneiro e tantas vezes controverso, a tornou uma das performers mais importantes e midiáticas até à data, despertando o interesse do grande público para uma forma artística que ainda não era muito familiar.

O seu contributo para o universo da performance e a sua linguagem é incalculável, sendo que algumas das suas obras se tornaram verdadeiras referências.

1. Rhythm 10 (1973)

Esta performance foi a primeira da série Rhythms, a fase inicial e uma das mais célebres da sua carreira. Em Edimburgo, a artista colocou diversas facas na sua frente e encenou uma espécie de jogo com elas.

Marina pegava numa faca de cada vez e passava com a lâmina no espaço entre os dedos, rapidamente. Cada vez que falhava e cortava a sua mão, trocava de faca e recomeçava, tentando recriar os mesmos erros.

Referenciando temas como o ritual e a repetição, a performer colocou o seu corpo numa situação de potencial risco diante da plateia, algo que voltaria a fazer de diversas formas.

2. Rhythm 5 (1974)

Testando novamente os seus limites físicos e mentais, nesta obra a performer continua se servindo do seu corpo para criar arte. No Centro do Estudante de Belgrado, ela colocou no chão uma grande estrutura de madeira em forma de estrela em chamas, com um espaço no centro.

Depois de cortar os cabelos e as unhas e jogá-los no fogo, metáforas para a purificação e libertação do passado, Marina se posicionou no centro da estrela.

A inalação dos fumos fez com que perdesse a consciência e tivesse que ser retirada do espetáculo, tendo a sua apresentação interrompida.

3. Rhythm 0 (1974)

Rhythm 0 é, sem dúvida, uma performance muito marcante e também uma das mais conhecidas da artista. Na Galleria Studio Morra, em Nápoles, ela posicionou 72 objetos em cima de uma mesa e se colocou ao dispôr do público durante um período de 6 horas.

Com instrumentos variados como uma flor, canetas, facas, tintas, correntes e até uma arma de fogo carregada, deixou instruções avisando que a plateia poderia fazer o que quisesse com ela durante esse tempo.

Marina foi despida, pintada, machucada e teve mesmo uma pistola apontada à sua cabeça. Levando o seu corpo ao limite novamente, problematizou a psicologia humana e as relações de poder, transmitindo uma reflexão arrepiante sobre os modos como nos conectamos.

4. ART MUST BE BEAUTIFUL, ARTIST MUST BE BEAUTIFUL (1975)

A performance em vídeo teve lugar em Copenhague, na Dinamarca, e exibia a artista escovando os seus cabelos com violência durante quase uma hora. Nesse período, e exibindo uma expressão e entonação crescente de dor, Marina repetia o nome da obra: "a Arte deve ser linda, o artista deve ser lindo".

O trabalho é transgressor e podemos identificar o seu cariz feminista, tendo em conta que partiu de uma mulher na década de 70, ainda marcada por uma forte objetificação do corpo feminino.

Pensando a dor e também o conceito de belo, Abramović reflete acerca dos padrões de beleza existentes na nossa cultura.

5. In Relation in Time (1977)

O trabalho foi realizado no começo da parceria com o performer alemão Ulay, com quem viveu um relacionamento amoroso e criou arte durante 12 anos.

Exibida no Studio G7 em Bolonha, na Itália, a obra exibe os dois artistas sentados, de costas voltadas, durante 17 horas, presos um ao outro pelos cabelos.

Trata-se de um teste de resistência física e mental que procurava o equilíbrio e a harmonia, pensando questões como o tempo, a dor e o cansaço.

6. Breathing In/Breathing Out (1977)

Apresentada inicialmente em Belgrado, na obra o par surge novamente junto, de joelhos no chão. Com os narizes tapados por filtros de cigarros e as bocas coladas uma à outra, Marina e Ulay respiravam o mesmo ar, que ia passando de um para o outro.

Depois de um período de 19 minutos, o casal esgotou o oxigênio e ficou à beira do desmaio. Além da sensação de angústia e sufoco, a performance parece refletir sobre temas como os relacionamentos amorosos e a interdependência.

7. AAA-AAA (1978)

Também posicionados de joelhos, nesta obra Ulay e Marina se olhavam nos olhos e iam lançando gritos cada vez mais altos, como se tentassem superar um ao outro.

A performance durou aproximadamente 15 minutos e terminou com os dois praticamente gritando dentro da boca um do outro. Esta parece ser uma metáfora acerca dos desafios e as dificuldades de um relacionamento conturbado.

8. Rest Energy (1980)

Novamente juntos, os companheiros criaram este trabalho que teve a duração de apenas 4 minutos e foi apresentado em Amsterdã, na Alemanha. Com o peso de seus corpos, Marina e Ulay equilibravam uma flecha que estava apontada para o coração da performer.

Ambos usavam microfones no peito que replicavam os seus batimentos cardíacos, cada vez mais acelerados com a ansiedade do momento. Trata-se de uma obra baseada na confiança mútua que Abramović confessou ter sido uma das mais difíceis da sua carreira.

9. The Lovers (1988)

Altamente simbólica e tocante, The Lovers marca o final da parceria artística e da relação amorosa entre os amantes. Quando decidiram se separar definitivamente, depois de 12 anos de vida em comum, criaram esta última obra.

Cada um partiu de um dos lados da Grande Muralha da China e secruzaram no centro. Aí, se despediram e seguiram os seus respectivos caminhos, assinalando o final daquela etapa de suas vidas.

10. Spirit Cooking (1996)

Uma obra de dimensões menores, apresentada em uma galeria italiana, Spirit Cooking continua gerando polêmicas até aos dias de hoje. Combinando performance com poesia e livros de culinária, Marina escreveu com sangue de porco algumas "receitas" pelas paredes.

Mais tarde, o trabalho foi editado em formato de livro. Em 2016, durante as eleições para a presidência dos Estados Unidos da América, a obra voltou a andar "nas bocas do mundo". Uma suposta troca de e-mails entre Marina e alguém que trabalhava na campanha de Hillary Cliton gerou o boato de que ambas seriam satanistas e fariam rituais, seguindo as indicações do livro.

11. Seven Easy Pieces (2005)

Apresentada no Guggenheim Museum, em Nova Iorque, Seven Easy Pieces foi uma série de performances que marcaram ou influenciaram o seu percurso e Marina escolheu recriar, muitos anos depois.

Além de incluir duas obras suas, Abramović também reproduziu e reinventou trabalhos de outros artistas como Bruce Nauman, Vito Acconci, Valie Export, Gina Pane e Joseph Beuys.

12. The Artist Is Present (2010)

The Artist is Present ou A Artista está Presente foi uma performance de longa duração que teve lugar no MoMA, o Museu de Arte Moderna de Nova Iorque.

Durante os três meses da exposição, que fazia uma retrospectiva do seu trabalho e ocupava o museu inteiro, Marina marcou presença, somando 700 horas de trabalho performático. Sentada em uma cadeira, ficava frente a frente com os espectadores que quisessem, um de cada vez, partilhar um momento de silêncio com ela.

Um momento inesquecível (retratado na imagem acima) foi o aparecimento de Ulay, o antigo companheiro, que a surpreendeu totalmente. Os dois se emocionam, deram as mãos e choraram juntos, tantos anos depois da separação.

É impressionante o modo como parecem comunicar através das suas expressões faciais e dos seus gestos, mesmo sem trocarem palavras. O episódio arrepiante também foi registrado em vídeo e se tornou muito popular na internet. Confira abaixo:

Quem é Marina Abramović? Biografia resumida

A autointitulada "avó da performance" nasceu no dia 30 de novembro de 1946, em Belgrado, antiga Iugoslávia e atual capital da Sérvia. Os seus pais eram comunistas e foram heróis na Segunda Guerra Mundial, ocupando depois cargos no governo.

Marina foi criada pela avó, extremamente religiosa, até aos 6 anos e já na infância demonstrava um grande interesse pelas artes. Dos pais recebeu uma educação bastante rígida, do estilo militar, que parece ter influenciado a artista a buscar várias formas de libertação ao longo da vida.

Abramović estudou na Academia de Belas Artes de Belgrado entre os anos de 1965 to 1970, fazendo a pós-graduação na Croácia. Em 1971, casou com Neša Paripović, um artista conceitual, com o qual permaneceu durante 5 anos.

Depois de apresentar os primeiros trabalhos na sua cidade-natal e de se divorciar, a artista acabou se mudando para a Holanda. Foi ai que conheceu Ulay, um criador alemão cujo verdadeiro nome era Uwe Laysiepen. Ele foi o seu grande companheiro, tanto no amor como na arte, durante mais de uma década.

Além da carreira como performer, Abramović também deu aulas em universidades de vários países: na Sérvia, na Holanda, na Alemanha e na França. O seu percurso também a levou a desenvolver trabalhos enquanto filantropa e diretora de cinema.

Criadora de body art, que utiliza o corpo como veículo ou suporte, Marina estudou e desafiou os seus limites. Em várias ocasiões, ela também convidou o espectador a participar nas performances, trabalhando questões como a relação entre a artista e o público.

O trabalho da artista a tornou cada vez mais famosa internacionalmente, se tornando a "cara da performance" para grande parte do público. A sua popularidade voltou a crescer com a exposição retrospectiva no MoMA, de 2010, que acabou se transformando num filme documental dirigido por Matthew Akers.

Confira o trailer abaixo:

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Carolina Marcello
Carolina Marcello
Mestre em Estudos Literários, Culturais e Interartes e licenciada em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Apaixonada por leitura e escrita, produz conteúdos on-line desde 2017, sobre literatura, cultura e outros campos do saber.