Anita Malfatti: obras e biografia


Rebeca Fuks
Rebeca Fuks
Doutora em Estudos da Cultura

Anita Malfatti (1889-1964) foi um dos maiores nomes das artes plásticas brasileira. Precursora, vanguardista e uma das principais responsáveis pela renovação da pintura no nosso país, Anita é uma figura que merece ser conhecida de perto.

Relembre agora as suas maiores obras e conheça uma breve biografia.

Obras de Anita Malfatti

A boba (1915-1916)

A boba

A boba é uma das obras mais importantes da pintora brasileira e apresenta elementos cubistas e futuristas para além de muitas cores.

O retrato traz uma única protagonista - jovem, expressiva -, que se destaca em primeiro plano. Já aqui Anita deforma as formas básicas da sua personagem. O fundo, abstrato, é feito a partir de pinceladas largas.

A tela, que tem 61cm por 50.60 cm, foi pintada durante o período em que Anita viveu nos Estados Unidos e atualmente pertence à Coleção Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (SP).

O homem amarelo (1915-1916)

O homem amarelo

A primeira versão da tela O homem amarelo foi pintada em 1915, a imagem que vemos acima - e que ficou consagrada - é a segunda versão do trabalho.

Na tela Anita cria um retrato inanimado e realça (através da deformação) as feições do seu protagonista.

Sobre o rapaz, a pintora afirmou publicamente:

O modelo do O homem amarelo foi um pobre imigrante italiano. Era um que entrou para posar. Tinha uma expressão tão desesperada.

No trabalho não há propriamente simetria ou enquadramento, assim como em boa parte dos quadros da pintora.

A tela, que foi exposta durante a Semana de Arte Moderna, têm 61 cm por 51 cm e atualmente pertence à Coleção Mário de Andrade do Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo (SP).

O homem de sete cores (1915-1916)

O homem de sete cores

Em O homem de sete cores há uma ênfase especial dada aos músculos, aos contornos exagerados do corpo despido, distorcido. Não há propriamente um enquadramento esperado e não se vê o rosto do homem.

Do lado direito da tela vemos folhas de bananeira fazendo referência à cultura nacional assim como o uso das cores da bandeira do Brasil (o verde, o amarelo e o azul).

O quadro, que tem 60.70 cm por 45 cm, foi pintado quando a artista vivia nos Estados Unidos e atualmente faz parte do acervo permanente do Museu de Arte Brasileira - FAAP (São Paulo, SP).

A estudante russa (1915)

a estudante russa

A tela acima é considerada um dos trabalhos mais "comportados" de Anita, com contornos mais suaves e menos polêmicos.

O retrato da moça anônima é identificado apenas por um título vago que identifica a sua ocupação e nacionalidade: uma estudante vinda da Rússia. Muitos, no entanto, diziam que a imagem se tratava de um autorretrato.

O fundo embaçado com apenas uma cadeira vermelha estilo escolar destaca ainda mais o protagonismo da moça.

Mário de Andrade chegou a comprar a tela em 1935. O escritor dizia que essa era a sua obra favorita de Anita, segundo ele:

A nobre artista coube fazer não um retrato indiferente de uma mulher desconhecida, mas uma comovida expressão de raça, a violência cantiga dessa pátria - tumulto, orgulho e dor, erro e crença, beleza e crime que é a Rússia; é sem dúvida uma grande criadora.

A tela, que tem 76 cm por 61 cm, foi pintada no período em que frequentou a Arts Students League of New York e pertence à Coleção de Artes Visuais do Instituto de Estudos Brasileiros - USP (São Paulo).

O japonês (1915)

O japonês

Há fortes indícios que o protagonista da obra seja o pintor Yasuo Kuniyoshi (1893-1953), um colega de Anita em Nova Iorque tanto na Arts Students League como na Independent School of Art.

Com tons vermelhos e amarelos, a feição do personagem sobressai na tela.

O trabalho foi comprado por Mário de Andrade em 1920 e esteve exposto tanto na Semana de Arte Moderna como na VI Bienal Internacional de São Paulo.

O farol de Monhegan (1915)

O farol

A tela, com 46.50 cm por 61 cm, nos apresenta uma paisagem bucólica ilustrada com cores vibrantes inspirada nos trabalhos de Van Gogh.

Pintada quando Anita vivia nos Estados Unidos, a imagem faz referência à paisagem de Monhegan, na costa leste americana. O trabalho teve forte influência do professor de Anita na época, Homer Boss.

Afirmou a pintora sobre esse período:

Pintávamos na ventania, ao sol, na chuvarada e na neblina. Eram telas e telas. Era a tormenta, era o farol, eram as casinhas dos pescadores escorregando pelos morros, eram as paisagens circulares, o sol e a lua e o mar...

O farol de Monhegan atualmente faz parte da Coleção Gilberto Chateaubriand do MAM do Rio de Janeiro.

Retrato de Fernanda de Castro (1922)

Fernanda de Castro

A tela acima foi um trabalho feito por Anita eternizando o retrato da escritora lisboeta Fernanda de Castro aos vinte anos de idade.

A autora portuguesa esteve em São Paulo na Semana de Arte Moderna ajudando a realizar o evento e acabou posando, ao mesmo tempo, tanto para Anita quanto para Tarsila do Amaral, as duas maiores pintoras brasileiras da época.

O retrato feito por Malfatti tem 73.50 cm por 54.50 cm e faz parte de uma coleção particular.

Biografia de Anita Malfatti

Origem

Anita Catarina Malfatti nasceu em São Paulo no dia 2 de dezembro de 1889. Sua mãe, Eleonora Elizabeth Krug (1866-1952), uma norte-americana professora de pintura, foi a responsável por iniciar a menina no universo das artes plásticas. O pai, Samuel Malfatti, era um engenheiro italiano que faleceu quando Anita tinha dezessete anos.

Como a jovem tinha o braço/mão direita atrofiados graças à um problema de saúde congênito, precisou aprender a criar e a escrever com a mão esquerda.

A moça se formou professora antes de completar a maioridade. Com muito treino e estudo, Anita se tornou desenhista, gravurista, pintora, ilustradora e também professora, um dos maiores nomes das artes plásticas brasileira.

Anita Malfatti

Amante das artes, a jovem foi viver em Berlim entre 1910 e 1914 com o patrocínio do tio George Krug. Na Europa desenvolveu ainda mais a sua arte por ter frequentado durante um ano a Academia Imperial de Belas Artes. Durante a sua estadia na capital alemã conheceu a arte de vanguarda (o cubismo e o expressionismo).

Entre 1915 e 1916 viveu também em Nova Iorque - financiada pelo tio - onde estudou na Arts Students League of New York e na Independent School of Art. Anita esteve igualmente estudando uma série de cursos livres em Paris entre 1923 e 1928 através de uma bolsa de estudos.

Estreia no Brasil e críticas

Em 1914 a pintora fez a sua primeira mostra em São Paulo no Mappin Stores.

Três anos mais tarde, em 1917, incentivada por Di Cavalcanti, realizou uma icônica exposição individual tida como um marco do modernismo no Brasil. Na mostra apresentou suas 53 principais obras.

Sua performance causou tanto rebuliço que chegou a motivar críticas célebres como a de Monteiro Lobato, que escreveu o artigo A propósito da exposição Malfatti destruindo as criações da pintora.

Oswald de Andrade, por outro lado, defendeu o trabalho de Anita em um artigo publicado no Jornal do Comércio em 1918.

Participação na Semana de Arte Moderna

No evento mais importante das artes plásticas brasileiras, Anita Malfatti participou com vinte trabalhos expostos sendo o mais importante deles O homem amarelo.

Semana de arte moderna

Anita também teve o privilégio de participar da Primeira Bienal Internacional de São Paulo.

Morte

A pintora faleceu em uma chácara em Diadema, São Paulo, no dia 6 de novembro de 1964 aos 74 anos.

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Rebeca Fuks
Rebeca Fuks
Formada em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2010), mestre em Literatura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2013) e doutora em Estudos de Cultura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e pela Universidade Católica Portuguesa de Lisboa (2018).