Livro A menina que roubava livros (resumo e análise)


Rebeca Fuks
Rebeca Fuks
Doutora em Estudos da Cultura

The book thief (em português do Brasil A menina que roubava livros e em português de Portugal A rapariga que roubava livros) foi lançado em 2005.

Trata-se de um best seller literário internacional escrito por Markus Zusak que foi adaptado para o cinema em 2013.

Resumo e análise da obra

A história contada por Zusak tem uma narradora um tanto quanto peculiar: a Morte. A sua única tarefa é recolher as almas daqueles que morrem e entrega-las à esteira rolante da eternidade.

O livro começa justamente com uma apresentação da Morte, que pede para que o leitor não tenha medo dela:

Eu poderia me apresentar apropriadamente, mas, na verdade, isso não é necessário. Você me conhecerá o suficiente e bem depressa, dependendo de uma gama diversificada de variáveis. Basta dizer que, em algum ponto do tempo, eu me erguerei sobre você, com toda a cordialidade possível. Sua alma estará em meus braços. Haverá uma cor pousada em meu ombro. E levarei você embora gentilmente. Nesse momento, você estará deitado(a). (Raras vezes encontro pessoas de pé.) Estará solidificado(a) em seu corpo.

A Morte observa o destino trágico dos homens e narra de um jeito meio cínico, porém bem humorado, como funciona o seu dia-a-dia, as suas tarefas cotidianas, as dificuldades do ofício de levar os seres humanos embora deste plano.

A escrita corre sem sobressaltos até que ela se lembra de uma menina por quem se afeiçoou por ter lhe escapado em três oportunidades diferentes. Liesel fica gravada para sempre na sua memória:

Vi três vezes a menina que roubava livros.

E é sobre ela que a atenção e o exercício da narrativa se debruça. A Morte passa a acompanhar de perto a trajetória da garota que andava sempre na companhia de um livro e escolhe acompanhar os seus passos entre 1939 e 1943.

A história se passa no ano de 1939, em plena Segunda Guerra Mundial. O cenário em questão é a Alemanha nazista, que recebia bombardeios rigorosos e cada vez mais frequentes em suas cidades.

É em Moiching, uma pequena cidade perto de Munique, que vive Liesel Meminger, uma leitora assídua, na companhia de seus pais adotivos.

O passado de Liesel é trágico: filha de uma mãe supostamente comunista, que foi perseguida pelo nazismo, a menina aos dez anos ia viver junto com o irmão caçula, na casa de uma família que aceitou os adotar em troca de dinheiro.

O irmão, Werner, no entanto, com apenas seis anos, morre no colo da mãe, durante o trajeto rumo à Munique. Era janeiro do ano de 1939:

Havia dois guardas.
Havia uma mãe com sua filha.
Um cadáver.
A mãe, a menina e o cadáver continuaram obstinados e calados.

O irmão caçula de Liesel, que morre no percurso para Munique, é levado pela Morte e a menina fica com os olhos cheios de lágrimas cristalizadas. Essa é a primeira vez que a Morte cruza com a garota.

Diante do falecimento do irmão, Liesel acaba por ficar sozinha com a família que a acolhe. O pai adotivo, Hans Hubermann, é um pintor de paredes que lhe ensina a ler, a contragosto da mãe adotiva (Rosa Hubermann).

É com ele que a menina é alfabetizada ganhando rapidamente o desejo pela leitura. Antes de conhecer a família Hubermann, Liesel raras vezes havia frequentado a escola.

Hans tinha o hábito de contar histórias para distrair as pessoas, uma rotina que será herdada pela menina.

Liesel também conquista um grande amigo na vida nova, o vizinho Rudy Steiner, que a fará companhia ao longo dessa difícil jornada.

A família adotiva da menina acolhe Max Vanderburg, um judeu perseguido que passa a viver na cave da casa e que fazia livros artesanais. Hans tenta ajudar um segundo judeu, mas é descoberto e levado para o exército.

A segunda vez que Liesel escapou do fim foi quando a Morte veio buscar um homem de vinte e quatro anos, que estava em um avião derrubado. Assim que a aeronave caiu, um garoto veio verificar se o piloto estava vivo - e estava. A segunda pessoa a aparecer na cena foi Liesel. Logo a seguir, o piloto faleceu.

Diante desse histórico de vida conturbado, a garota se refugia no mundo do livros, que furta de bibliotecas incendiadas ou da casa do prefeito da cidadezinha em que mora (com a ajuda da esposa do prefeito, que se torna amiga, a senhora Hermann).

Enquanto está servindo na guerra, Hans toca acordeon para se distrair e Liesel toma o lugar do pai adotivo na arte da contação de histórias.

Após o retorno do soldado Hans para casa, um acontecimento trágico muda os rumos da vizinhança. A rua Himmel, onde todos viviam, é bombardeada e completamente destruída, causando a morte dos seus pais adotivos e do grande amigo Rudy.

Essa é a terceira e última vez que a Morte cruza com Liesel:

Na última vez que a vi, estava vermelho. O céu parecia uma sopa, borbulhando e se mexendo. Queimado em alguns lugares. Havia migalhas pretas e pimenta riscando a vermelhidão. (...) Depois, bombas.
Dessa vez, foi tudo tarde demais.
As sirenes. Os gritos malucos no rádio. Tudo muito tarde.
Em minutos, montes de concreto e terra se superpuseram e empilharam. As ruas eram veias rompidas. O sangue escorreu até secar no chão e os cadáveres ficaram presos ali, feito madeira boiando depois da enxurrada.
Estavam colados no chão, até o último deles. Um pacote de almas.

Para a surpresa de todos, os bombeiros encontram a menina, então com quatorze anos, viva entre os escombros.

A Morte a encontra ajoelhada, em meio a uma montanha de papéis e escritos, palavras erigidas à sua volta. Liesel estava agarrada a um livro e só consegue escapar da tragédia porque estava no porão escrevendo.

O livro que Liesel vinha escrevendo - seu diário pessoal - foi recolhido, assim como os outros restos, e colocado em um caminhão de lixo.

Encantada pela trajetória incomum da menina, a Morte sobe na caçamba e recolhe o exemplar que irá ler diversas vezes ao longo dos anos. Tratava-se de um relato emocionante de como aquela criança havia sobrevivido a todos os acontecimentos tenebrosos.

Sucesso de crítica e vendas

Traduzido para mais de 40 línguas, A Rapariga que roubava livros permaneceu 375 semanas na lista de bestsellers do New York Times. A obra também ficou em primeiro lugar durante bastante tempo na lista de mais vendidos do Brasil.

A edição brasileira, feita pela Intrínseca, com 480 páginas, foi lançada no dia 15 de fevereiro de 2007, com a tradução de Vera Ribeiro.

A edição portuguesa, com 468 páginas, foi lançada pelo grupo editorial Presença e foi lançada em 19 de fevereiro de 2008, com a tradução de Manuela Madureira.

No Brasil, o livro foi eleito uma das melhores publicações de 2007 pelo jornal O Globo.

A crítica internacional também elogiou muitíssimo o trabalho de Markus Zusak:

"Uma obra de grande fôlego. Brilhante. (...) Há quem diga que um livro tão difícil e triste não seja adequado para adolescentes... Adultos provavelmente gostarão (este aqui gostou), mas é um grande romance jovem-adulto... É o tipo do livro que pode mudar a vida."

New York Times

"Um livro destinado a tornar-se um clássico."
USA Today

"Absorvente. Marcante."

Washington Post

"Uma escrita soberba. Uma leitura impossível de interromper."

The Guardian

Capa da edição brasileira de The Book Thief.
Capa da edição brasileira de The Book Thief.
Capa da edição portuguesa de The Book Thief.
Capa da edição portuguesa de The Book Thief.

Booktrailer

Sobre o autor Markus Zusak

O escritor Markus Zusak nasceu em no dia 23 de junho de 1975, em Sydney, e é o caçula de quatro filhos.

Apesar de ter nascido na Austrália, Zuzak tem estreita relação com a Europa. Filho de pai austríaco e mãe alemã, o escritor sempre foi fascinado com a experiência que os pais tiveram com o nazismo em seus países de origem.

O autor já confessou que algumas das histórias presentes em A menina que roubava livros são recordações de infância da mãe. Além de recolher histórias da família, para construir a sua obra-prima, Zusak mergulhou fundo em uma pesquisa sobre o nazismo, tendo ido inclusive visitado o campo de concentração de Dachau.

Em entrevista concedida para o The Sydney Morning Herald, o autor comentou sobre a escrita de A menina que roubava livros:

"Nós temos a imagem de marchas de garotos em filas, de 'Heil Hitlers' e a idéia de que todos na Alemanha estavam nisso juntos. Mas ainda havia crianças rebeldes e pessoas que não seguiam as regras, e pessoas que esconderam judeus e outras pessoas em suas casas. Então, eis outro lado da Alemanha Nazista."

Seu primeiro livro, The Underdog, lançado em 1999, foi rejeitado por inúmeras editoras. Antes de conseguir se tornar escritor profissional, Zusak trabalhou como pintor de paredes, zelador e professor de inglês do ensino médio.

Atualmente Zusak dedica-se integralmente à escrita e vive com a mulher, Mika Zusak, e com a filha.

Retrato de Markus Zusak.
Retrato de Markus Zusak.

Atualmente Markus Zusak possui cinco livros publicados:

  • The underdog (1999)
  • Fighting Ruben Wolfe (2000)
  • When Dogs Cry (2001)
  • The Messenger (2002)
  • The book thief (2005)

Adaptação para o cinema

Lançado no princípio de 2014, o filme homônimo do livro foi dirigido por Brian Percival (da premiada série Downton Abbey) e tem roteiro assinado por Michael Petroni.

O longa metragem traz a atriz Sophie Nélisse no papel de Liesel Meminger, o pai adotivo na pele de Geoffrey Rush, a mãe adotiva é interpretada por Emily Watson, o amigo é Rudy é representado por Nico Liersch e o judeu é vivido por Ben Schnetzer.

O filme custou 35 milhões de dólares aos cofres da produtora e, apesar da Fox ter comprado os direitos de adaptação do livro em 2006, só começou a dar seguimento ao projeto em 2013.

As gravações foram feitas em Berlim pela Twentieth Century Fox.

Se desejar conferir o filme na íntegra, segue o vídeo abaixo:

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Rebeca Fuks
Rebeca Fuks
Formada em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2010), mestre em Literatura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2013) e doutora em Estudos de Cultura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e pela Universidade Católica Portuguesa de Lisboa (2018).