O menino do pijama listrado (resumo do livro e do filme)


Rebeca Fuks
Rebeca Fuks
Doutora em Estudos da Cultura

O livro The boy in the striped pyjamas foi traduzido para o português do Brasil como O menino do pijama listrado e para o português de Portugal como O rapaz do pijama às riscas.

Considerado um romance para jovens, mas vendido inicialmente como infanto-juvenil, a obra escrita por John Boyne, publicada em mais de vinte países, é um sucesso de público e crítica.

The boy in the striped pyjamas permaneceu durante semanas em primeiro lugar na lista de mais vendidos do New York Times e conta com mais de 9 milhões de exemplares vendidos ao redor do mundo.

O livro acabou por ser adaptado para o cinema pela Miramax em 2008.

Resumo

A história, dividida em vinte capítulos, é protagonizada por duas crianças: um menino judeu, Shmuel, preso em um campo de concentração, e o menino Bruno, filho de pai nazista. Ambos possuem a mesma idade - nove anos - e coincidentemente nasceram no mesmo dia.

A narrativa começa quando o pai de Bruno, um oficial nazista, é transferido e a família deixa para trás a casa enorme onde vivia em Berlim e rumo ao campo.

A família do garoto era composta por quatro integrantes: Ralf (o pai), Elsa (a mãe), Gretel (a filha mais velha) e Bruno (o filho caçula).

A casa nova, menor, com três andares, ficava isolada num lugar vazio e desabitado, teoricamente situada em Auschwitz, embora o nome Auschwitz jamais seja citado ao longo do texto.

Bruno, sempre com um olhar ingênuo e puro sobre o que se passa, fica desapontado com a mudança e questiona a mãe acerca da escolha tomada pelo pai:

“Não temos o luxo de achar coisa alguma”, disse a mãe, abrindo a caixa que continha o jogo de sessenta e quatro taças com o qual o vovô e a vovó a haviam presenteado por ocasião do casamento com o pai. “Há pessoas que tomam todas as decisões em nosso nome.” Bruno não sabia o que ela queria dizer com isso e fingiu que a mãe nada dissera. “Acho que isso foi uma má ideia”, ele repetiu. “Acho que o melhor a fazer seria esquecer tudo isto e simplesmente voltar para casa. Podemos considerar que valeu como experiência”, acrescentou ele, frase que aprendera recentemente e que estava determinado a empregar com a maior frequência possível."

A vista do novo quarto de Bruno dava para uma cerca, onde o garoto podia ver uma série de pessoas vestidas em uniformes listrados, que ele julgava serem pijamas.

Embora a família não soubesse, a mudança de Ralf, o pai, aconteceu porque o oficial deveria assumir o comando do campo de concentração.

Durante um dos passeios que deu nos arredores da casa, Bruno conhece Shmuel, um menino com quem trava forte amizade mesmo apesar de ter uma cerca os separando.

A relação se fortalece cada vez mais, Bruno encontra no menino judeu seu único amigo na região e Shmuel encontra em Bruno uma possibilidade de escapar da sua realidade terrível.

Aos poucos, Bruno descobre a profissão do pai e percebe o que acontece ao redor da sua casa.

Shmuel um dia se desespera por não ter notícias do pai e, para ajudar o garoto, Bruno veste um pijama listrado e consegue entrar no campo de concentração.

O resultado da história é trágico: Bruno é assassinado ao lado de Shmuel assim como todos os outros judeus que se encontravam no campo.

A família de Bruno fica sem notícias do garoto e entra em desespero, especialmente o pai, que sabe internamente ser culpado pela morte do filho:

O pai ficou em Haja-Vista por mais um ano depois daquilo e acabou sendo hostilizado pelos outros soldados, nos quais mandava e desmandava sem escrúpulos. Todas as noites ele dormia pensando em Bruno e quando acordava estava pensando nele também. Um dia ele formulou uma teoria sobre o que poderia ter ocorrido e foi novamente até o ponto na cerca onde as roupas haviam sido encontradas um ano antes.

Não havia nada de especial naquele lugar, nada de diferente, mas então ele explorou um pouco e descobriu que naquele ponto a parte de baixo da cerca não estava tão bem fixada ao chão quanto nas demais, e que, quando erguida, a cerca deixava um vão grande o bastante para uma pessoa pequena (como um menino) conseguir passar por baixo rastejando. Ele olhou para a distância e seguiu alguns passos lógicos e, ao fazê-lo, percebeu que as pernas não estavam funcionando direito – como se não pudessem mais manter seu corpo ereto – e acabou sentado no chão, quase na mesma posição em que Bruno passara as suas tardes durante um ano, embora sem cruzar as pernas sob si.

É poético como ao voltar para o lugar onde o filho passou tanto tempo, Ralf se coloca na mesma posição que o garoto e sente na pele aquilo que o menino sentia, enxergando a mesma paisagem sob o mesmo ângulo.

Ao se dar conta do ocorrido, da cerca danificada capaz de deixar passar um menino, o oficial percebe que o veneno que destilava diariamente contra as vítimas do campo de extermínio alcançou a sua própria família.

Ciente de que nenhuma atitude poderia trazer a vida de Bruno de volta, Ralf se entrega à tristeza:

Alguns meses mais tarde alguns soldados vieram a Haja-Vista, e o pai recebeu ordens de acompanhá-los, e foi sem reclamar, contente de ir com eles, pois não se importava com o que lhe fizessem agora.

Análise

Apesar de abordar um tema super pesado, o autor John Boyne tem o mérito de transmitir a história a partir do olhar puro e ingênuo de crianças, o que ameniza a aridez do assunto.

Criado inicialmente para ser um livro infanto-juvenil, O menino do pijama listrado acabou por se tornar um clássico que seduz as mais diferentes gerações pois permite diversas camadas de leitura e interpretação.

Apesar de já existirem inúmeros relatos sobre o cotidiano da guerra, essa narrativa se diferencia especialmente das outras justamente porque descreve as atrocidades do homem a partir dos olhos pueris de uma criança.

O menino do pijama listrado simultaneamente nos faz ter fé e descrença nos homens.

Testemunhamos as barbaridades autorizadas pelo pai oficial nazista, a frieza da gestão do campo de extermínio. Mas também nos encantamos com a ingenuidade de Bruno, que enxerga nas vítimas do campo apenas pessoas vestindo pijamas as listras.

Bruno percebe Shmuel como um igual, apesar da cerca que os separa e das condições de vida completamente distintas.

Embora o seu cotidiano seja marcado por uma família presente e uma situação financeira confortável, - condição absolutamente impensável para Shmuel - eles tratam-se com igualdade, respeito e compreensão.

A amizade dos dois meninos supera barreiras religiosas, sociais e políticas.

O final do livro mescla dois sentimentos distintos.

Por um lado, o leitor se sente sem chão por testemunhar a crueldade e o fim de duas crianças que nada tinham a ver com o conflito entre nações, vidas ceifadas e massacradas a troco de nada.

Por outro lado, o autor tenta apaziguar a sensação de desespero provocada pela leitura sublinhando que a história narrada se passou há muito tempo e garantindo que ela jamais se repetirá novamente:

E assim termina a história de Bruno e sua família. Claro que tudo isso aconteceu há muito tempo e nada parecido poderia acontecer de novo.

Não na nossa época.

Apesar de não possuir qualquer ascendência judaica, nota-se que Boyne nutre a preocupação de recontar a história para que ela esteja presente e as desumanidades não se refaçam.

Ao lado do autor estão muitos outros escritores, cineastas e dramaturgos que têm como preocupação ética e política relembrar o passado para aqueles que não o testemunharam pessoalmente.

Vale lembrar obras da literatura clássicas como É Isto Um Homem? (de Primo Levi), a recente A Menina que Roubava Livros (de Markus Zusak), ou mesmo no universo do cinema filmes como A Vida É Bela (de Benigni) ou A Lista de Schindler (de Spielberg).

O menino do pijama listrado é mais um comovente relato que se une ao hall de grandes obras-primas na tentativa de manter a chama da recordação acesa e presente.

Sobre a criação do livro

A obra The boy in the striped pyjamas foi um sucesso de vendas mundial tendo sido traduzida para mais de vinte países. Em termos comerciais, Boyne alcançou o assombroso número de 5 milhões de obras vendidas.

Em termos de crítica especializada, The boy in the striped pyjamas foi ovacionado pelos principais veículos de comunicação.

"Um livro maravilhoso."
The Guardian

"Intenso e perturbador [...] pode-se tornar uma introdução tão memorável ao tema como O diário de Anne Frank foi em sua época."
USA Today

"Um livro tão simples e tão bem escrito que beira a perfeição."
The Irish Independent

Além de ter agradado a crítica, o livro venceu dois Irish Book Awards.

No Brasil, a obra foi traduzida por Augusto Pacheco Calil e lançada em outubro de 2007 pela editora Companhia das Letras sob o selo Seguinte.

Capa da edição brasileira de O menino do pijama listrado.
Capa da edição brasileira de The boy in the striped pyjamas.

Em Portugal, a tradução foi feita por Cecília Faria e Olívia Santos e o livro foi publicado pelas Edições Asa em janeiro de 2008.

Capa da edição portuguesa de
Capa da edição portuguesa de The boy in the striped pyjamas.

Em entrevista concedida, o autor, que não é judeu nem possui qualquer relação com o judaísmo, confessa que só veio a conhecer Auschwitz depois do livro ter sido publicado.

Boyne conta também que jamais imaginou que escreveria um livro sobre o holocausto:

“Eu comecei a me interessar pelo assunto aos 15 anos de idade, e li muitos livros por toda a minha vida, mas nunca soube que escreveria um romance (...)

Foi ótimo encontrar leitores para a minha obra. Eu nunca achei que ele [o livro The boy in the striped pyjamas] fosse melhor que os outros, mas sempre achei que ele encontraria uma audiência maior, e ele me deu muita liberdade como escritor”

Descubra o autor John Boyne

John Boyne nasceu na Irlanda, no dia 30 de abril de 1971. O escritor estudou literatura inglesa no Trinity College, em Dublin, e escrita criativa na Universidade de East Anglia, em Norwich (Inglaterra).

Boyne sempre quis escrever profissionalmente e começou a criar histórias aos 19 anos, embora só tenha conseguido publicar o seu primeiro livro dez anos mais tarde. O autor trabalhou durante muitos anos como livreiro, dos 25 aos 32 anos.

Quando publicou The boy in the striped pyjamas, John tinha 35 anos e três romances já lançados.

Atualmente, o irlandês tem publicado onze romances para adultos e três livros infantis. São eles:

Romances

  • The thief of time
  • The congress of rough riders
  • Crippen John Boyne
  • Next of Kin
  • Mutiny on the bounly
  • The house of special purpose
  • The absolutist
  • This house is haunted
  • A history of loneliness
  • The heart's invisible furies
  • A ladder to the sky

Livros infantis

  • The boy in the striped pyjamas
  • Noah Barleywater runs away
  • The terrible thing that happened to Barnaby Brocket
  • Stay where you are and then leave
  • The boy at the top of the mountain

Além de escrever ficção adulta e infantil, o autor também trabalha como crítico literário para o The Irish Times e faz parte do juri do Henerry Literary Awards. Suas obras já foram traduzidas para mais de cinquenta países.

No momento, John sefue escrevendo e vive em Dublin.

John Boyne.
John Boyne.

Filme

Realizado pela Miramax, o filme The boy in the striped pyjamas foi lançado no dia 12 de dezembro de 2008. As filmagens aconteceram entre 29 de abril e julho de 2007.

Dirigido e adaptado por Mark Herman, o longa metragem que custou mais de doze milhões e meio de dólares é um drama adaptado do best-seller escrito por John Boyne no ano anterior.

Uma curiosidade: apesar de no livro os pais do menino possuírem nomes (Ralf e Elsa), no filme eles são mencionados apenas como pai e mãe.

Sobre a produção do filme, a autor do livro afirma que foi gratificante ter participado de perto do processo de criação do longa e contou em entrevista:

"Eu trabalhei bem próximo do diretor Mark Herman e dos produtores. Não é comum para muitos autores, mas eu tive uma relação positiva com a equipe que fez o filme."

Elenco principal

  • Asa Butterfield interpreta Bruno;
  • Vera Farmiga interpreta a mãe;
  • David Thewlis interpreta o pai;
  • Jack Scanlon interpreta Shmuell;
  • Richard Johnson interpreta o avô.

Trailer

Conheça também

Rebeca Fuks
Rebeca Fuks
Formada em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2010), mestre em Literatura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2013) e doutora em Estudos de Cultura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e pela Universidade Católica Portuguesa de Lisboa (2018).