Histórias infantis diferentes e pouco conhecidas (para ajudar a dormir)


Laura Aidar
Revisão por Laura Aidar
Arte-educadora, fotógrafa e artista visual

O universo das narrativas infantis vai muito além dos clássicos que todos conhecemos. Elas são criadas e transmitidas através de gerações, pelos quatro cantos do mundo, combinando imaginários muito diversos.

A hora da leitura ou da "contação de histórias" pode ser um momento para as crianças expandirem seus horizontes e também para relaxarem e se prepararem para dormir... Então, que tal escolher um enredo diferente desta vez?

1. A Rosa Orgulhosa

Esta é uma história popular inglesa que fala sobre a necessidade de ver além das aparências e não julgar nem humilhar os outros, porque nunca sabemos quando a ajuda deles pode ser essencial para a nossa sobrevivência.

Por outro lado, também mostra a importância de saber perdoar: mesmo quando nos atacam, por vezes temos a oportunidade de transformar um inimigo em um aliado.

Era uma vez uma rosa que tinha muito orgulho da sua beleza. Apesar disso, ela ficava revoltada por ter crescido ao lado de um cacto que achava tão feio. Todos os dias, a rosa criticava a aparência do cacto e ele ficava quieto. As outras plantas no jardim tentavam chamar a rosa à razão, mas ela estava tão encantada pela própria beleza que nem se importava.

Quando o verão chegou, o poço do jardim secou e não havia mais água para as plantas. Foi então que a rosa começou a murchar. Ela viu um pardal mergulhando o bico no cacto para pegar um pouco de água. Mesmo envergonhada, ela perguntou ao cacto se também poderia beber um pouco de água. O cacto concordou prontamente e os dois enfrentaram o verão difícil juntos, como amigos.

2. Rei Midas e o Toque de Ouro

Parte da mitologia grega, a história do Rei Midas é uma das lendas que surgiram no período da Grécia Antiga. O protagonista é um homem bom e dedicado, mas que valoriza a sua filha da mesma forma que as rosas ou o ouro.

Movido pela ambição, ele acaba percebendo suas prioridades e aprendendo que o dinheiro não é tudo: quando pensa que perdeu a filha, descobre que o amor é mais valioso que todo o ouro que existe no mundo.

Era uma vez, há muito tempo, um rei chamado Midas. O rei Midas amava três coisas mais do que tudo no mundo: sua filha, seu jardim de rosas e o ouro. Sua maior alegra era ver a filha colhendo rosas no jardim, que depois colocava em um vaso de ouro para decorar o castelo.

Uma noite, enquanto caminhava pelas rosas, o rei tropeçou em um sátiro, uma figura que era metade homem e metade cabra, que parecia faminto e doente. O rei Midas trouxe o sátiro para seu castelo e ordenou que cuidassem dele. Quando o sátiro acordou na manhã seguinte, contou que era protegido pelo deus Dioniso e, para agradecer, poderia realizar qualquer desejo seu.

O rei não desejava nada para sua filha porque havia lhe dado tudo que ela queria e muito mais. Também não desejava nada para o seu jardim de rosas porque todos sabiam que ele cultivava as melhores rosas do mundo. Sobrou o ouro. Então o rei Midas desejou que tudo o que ele tocasse se transformasse em ouro. Ele não tinha muita esperança de que seu desejo fosse sido atendido, mas ficou feliz por ter ajudado o sátiro.

No entanto, quando voltou ao seu castelo, ele puxou uma cadeira para se sentar à mesa. No minuto em que ele a tocou, a cadeira ficou dourada. Ele tocou a mesa. Ele tocou um vaso. Assim que ele os tocou, eles se transformaram em ouro. O rei Midas correu pelo seu castelo. Tudo que ele tocava virava ouro! Ele estava tão feliz que gritou para os seus servos prepararem um banquete!

Eles cozinharam e cozinharam e lhe serviram o banquete. Foi aí que o problema começou. Ele estendeu a mão e pegou um punhado de comida que se transformou em ouro. Tentou se inclinar e rasgar um pedaço de carne com os dentes, mas não adiantou. A carne se transformou em ouro em sua boca. Os olhos do rei se encheram de medo. Ele sabia que se não pudesse comer, morreria de fome.

Rei Midas vagou tristemente para seu jardim de rosas. Sua filhinha estava colhendo flores e correu para os braços dele, se transformando em ouro também. O rei Midas baixou a cabeça e chorou. Quando suas lágrimas caíram sobre as rosas preciosas, elas se transformaram em ouro, mas o rei não se importou.

Ele não se importava mais com as rosas, o ouro ou consigo mesmo. Foi aí que implorou: "Dioniso, ouça minha oração! Retire meu desejo! Por favor, retire meu desejo e salve minha filha!". Pela última vez, o desejo do rei Midas foi atendido e tudo voltou ao normal.

3. O Elefante que Perdeu a Paciência

Esta é uma história popular que teve origem no oeste da Índia e é destinada à educação infantil. Ela lembra sobre a importância de manter o respeito por todas as pessoas e criaturas.

Até o elefante, na sua paciência quase infinita, pode ser levado ao limite com provocações e ofensas constantes. Por isso, quando insistimos em ser desagradáveis e antipáticos, sempre nos damos mal.

Era uma vez uma formiga e um elefante que viviam na selva. O elefante era um animal paciente e gentil, mas a formiga não era igual ao seu amigo. Ela estava sempre zombando do elefante, dizendo que ele era muito grande ou que seu nariz era muito longo.

- Para que você precisa de um nariz tão comprido? Você não sabe que parece bobo com um nariz tão comprido? E por que suas orelhas são tão grandes e moles? Você não sabe que nenhum animal precisa de orelhas tão grandes assim?

A formiguinha não provocava só o elefante; ela ofendeu o tigre falando sobre suas listras e a girafa sobre seu pescoço comprido. Depois brincou com o macaco por causa de sua cauda e até com um lindo pássaro por causa de suas penas.

O tigre, a girafa, o macaco e o pássaro não eram tão pacientes quanto o gentil elefante. Logo eles ficaram tão zangados com a formiga e suas provocações que se recusaram a deixar a criatura chegar perto deles. Todos a ameaçaram, por isso a formiga se afastou deles. Todos, claro, menos o elefante pleno de paciência.

Ela não percebia o quão gentil o elefante realmente era e, em vez de ficar grata, continuava provocante gigante. Quando subiu na sua orelha e começou a sussurar novas ofensas, ele balançou a cabeça, mas a formiga segurou com força e continuou:

- Você é tão velho, tão pesado e tão lento!

A essa altura, o elefante estava cansado das provocações da formiga. Foi então que ele finalmente perdeu a paciência:

- Posso ser lento, posso ser velho, ter orelhas grandes e caídas, mas sei nadar.

Depois disso, ele começou uma marcha lenta e constante em direção ao rio, entrando na água sem dizer mais uma palavra. A formiguinha implorou para ele não ir em frente com o plano, mas foi em vão. Na mesma hora, ela caiu e foi arrastada pela corrente do rio.

Daquele dia em diante, a história da formiga passou a ser contada aos filhotes da selva antes de dormir, para que eles aprendessem a nunca provocar amigos, familiares ou estranhos.

4. Momotaro, o Menino do Pêssego

Momotaro, o menino que nasceu de um pêssego, é uma antiga e importante figura do folclore japonês. Nascido de uma forma mágica, a partir do desejo de seus pais, o garoto se tornou um bravo guerreiro.

Com gestos de partilha e união, ele foi fazendo amigos pelo caminho. Quando chegou à Ilha dos Ogros, percebeu que só poderia vencê-los com o auxílio dos companheiros que reuniu e, graças a eles, conseguiu retribuir os cuidados da família.

Momotaro, o Menino do Pêssego
Foto: Biblioteca Nacional da Dieta (Japão). Imagem de domínio público

Era uma vez um casal de velhinhos que eram muito solitários porque não tinham filhos. Um dia, ele foi às montanhas cortar lenha, enquanto a esposa foi lavar roupa no rio. Assim que iniciou a tarefa, a mulher percebeu que um grande pêssego estava flutuando nas águas. Era, sem dúvida, o maior fruto que ela já tinha visto! Então, ela se apressou a tirar o pêssego do rio e o levou para casa.

No final da tarde, o marido chegou em casa e ela lhe mostrou o fruto gigantesco que comeriam no jantar. No entanto, quando pegaram uma faca para cortar o pêssego, um lindo menino pulou do seu interior. Muito felizes, eles resolveram criá-lo como filho e lhe deram o nome de Momotaro, que significa "Menino do Pêssego".

Ele cresceu forte e corajoso e, aos quinze anos, decidiu partir para a Ilha dos Ogros, pronto para derrotar os vilões e trazer tesouros para a família. Preocupados, os pais do garoto separaram alguns presentes para ajudar o filho durante a jornada. O pai entrega a ele uma espada e uma armadura; a mãe preparou uns bolinhos gostosos para o seu almoço.

Pelo caminho, ele encontrou um cachorro que rosnou na sua direção. Momotaro deu-lhe um dos bolinhos e falou que ia lutar contra os ogros. Então o cachorro resolveu acompanhá-lo. Mais adiante eles encontraram um macaco que iniciou uma luta, mas o garoto o contou o seu plano e lhe entregou um bolinho de massa; o macaco decidiu partir com eles. De repente, encontraram um faisão e tudo se repetiu.

Quando avistaram a ilha, eles perceberam que existiam muitos ogros por lá. Primeiro, o faisão voou e começou a bicar as cabeças deles. Enquanto todos tentavam acertar o faisão, o macaco correu e abriu o caminho para o resto do grupo. Foi uma grande batalha! Unidos, Momotaro, o cachorro, o macaco e o faisão acabaram derrotando os ogros malvados.

Foi aí que os amigos recolheram o seu enorme tesouro e ajudaram o Menino Pêssego a regressar para casa. Foi assim que Momotaro deu uma vida de luxos aos pais e todos viveram felizes para sempre.

5. A Árvore de Agulha

O conto tradicional inglês fala sobre a natureza, os poderes mágicos e as relações familiares. Na narrativa, o irmão mais velho maltrata o menor e é cruel com as árvores, cortando seus galhos sem necessidade.

Sortudo, porém ingrato, ele exige que a árvore lhe entregue todas as suas maçãs de ouro e acaba sendo ferido por centenas de agulhas. No entanto, quando o irmão começa a ajudá-lo, ele se arrepende de seus atos, sendo recompensado por isso.

Era uma vez dois irmãos... O mais velho sempre foi maldoso com o mais jovem: comia sua comida, roubava sua sobremesa e batia nele. Num dia frio de inverno, o irmão mais velho foi à floresta buscar lenha para a casa. Quando ele juntou o suficiente, ele decidiu ir e vender no mercado.

Depois de vender a lenha, ele voltou pela floresta e continuou cortando alguns galhos, apenas para se divertir. Foi aí que ele encontrou uma árvore toda dourada. Quando estava prestes a cortá-la, a árvore falou:

- Por favor, não corte meus galhos! Se você não cortar meus galhos, eu lhe darei maçãs de ouro.

Ele concordou e a árvore lhe deu algumas maçãs de ouro, mas o garoto ficou desapontado e exigiu mais. Quando levantou o machado, ameaçando cortá-la, a árvore fez cair centenas de agulhas em cima do menino. Caído no chão, sem conseguir se mover, ele fica chorando.

O irmão mais novo, preocupado com a sua demora, resolveu partir para procurá-lo. Quando o encontrou, sentou do seu lado e, com todo o amor e paciência, tirou cada agulha do seu corpo. Comovido com o carinho, o mais velho pediu desculpa para o irmão e prometeu que nunca mais ia maltratá-lo.

A árvore mágica, que percebeu que ele realmente tinha mudado e reconhecido seus erros, presenteou os garotos com uma grande quantidade de maçãs de ouro.

6. Baba Yaga

A célebre lenda do folclore eslavo está presente em vários países e é bastante representada na cultura popular. Baba Yaga é uma velhinha com dons sobrenaturais que mora na floresta e pode ajudar ou prejudicar os seres humanos.

Poderosa e muito exigente, a figura é usada para ensinar as crianças a se esforçarem e cumprirem seus deveres, mesmo quando são difíceis.

Baba Yaga
Imagem: Viktor Vasnetsov. Domínio público

Era uma vez um casal de camponeses que tinha dois filhos gêmeos, um menino e uma menina. Quando a esposa morreu, o pai das crianças entrou numa grande tristeza que durou anos, até que resolveu se casar de novo. No entanto, a madrasta não gostava dos enteados: ela os maltratava, não queria alimentá-los e vivia pensando numa forma de se livrar deles.

Foi assim que a maldade começou a tomar conta do coração dela e a mulher inventou um plano maldoso. Um dia, ela decidiu mandá-los para casa de uma bruxa que morava na floresta:

- Minha avó mora na floresta, numa cabana com pés de galinha. Lá, ela guarda muitos doces e vocês serão felizes!

A avó dos garotos, que percebeu tudo, avisou que estavam sendo enviados para as mãos de uma bruxa. Então recomendou que fossem educados e obedientes, cumprissem todas as ordens e ajudassem no que fosse necessário. Chegando lá, eles reconheceram a curiosa cabana que ficava sobre uns minúsculos pés de galinha.

Dentro da cabana, avistaram a velha bruxa e se ofereceram para servi-la. A bruxa, Baba Yaga, aceitou recebê-los, mas avisou que iria devorá-los se não realizassem todos os seus desejos. Primeiro, mandou a garota tecer um fio e ela começou a chorar de desespero, até que surgiram dois ratinhos que a ajudaram na tarefa.

Enquanto isso, Baba Yaga ordenou que o menino enchesse uma banheira usando apenas uma peneira. Ele, aflito, não consegue realizar a tarefa. Foi aí que surgiram os passarinhos, que ofereceram uma solução a troco de algumas migalhas: com argila, fecharam os buracos da peneira e, assim, a banheira se encheu de água.

Aí surgiu o gato preto que pertencia à bruxa e, a troco de alguma comida, aceitou ajudá-los. O bicho ordenou que os dois fugissem, mas primeiro lhes entregou dois objetos muito importantes e disse:

- Quando escutarem a bruxa correndo através de vocês, joguem a toalha no chão e um grande rio aparecerá no seu lugar. Se escutarem de novo, joguem o pente no chão e ele se transformará num pedaço de madeira que irá protegê-los.

Assim que regressou, a terrível velhinha ficou satisfeita ao perceber que todas as tarefas tinham sido cumpridas. Decidiu, então, que no dia seguinte as suas ordens seriam mais difíceis de realizar, e assim poderia devorar os dois irmãos. Os garotos foram dormir em cima de um monte de palha, com medo, e esperaram que a manhã chegasse.

No momento em que a bruxa saiu de casa, pela manhã, os irmãs pegaram os objetos e saíram correndo o mais rápido que conseguiam. Baba Yaga montou em uma vassoura e começou a segui-los. As crianças, ouvindo o barulho, jogaram a toalha no chão atrás delas.

Foi aí que surgiu um enorme rio azul e a bruxa não conseguiu passar por cima dele e precisou ficar procurando um local mais raso para cruzá-lo. Quando ela estava se aproximando, os meninos lançaram o pente no solo e dele brotou uma enorme floresta. Como os galhos das árvores se entrelaçavam, Baba Yaga percebeu que não conseguiria passar de vassoura e acabou voltando para trás, furiosa.

Se libertando, os meninos conseguiram regressar para os braços do pai e narraram sua enorme aventura. Emocionado com o relato, ele se separou da madrasta malvada e construiu uma vida feliz ao lado dos filhos.

7. O Jabuti e o Leopardo

A lenda tradicional africana é uma narrativa bem-humorada sobre a necessidade de manter a calma até nas piores situações. Mesmo sendo distraído, o Jabuti usa a esperteza e se aproveita da fúria do Leopardo para se libertar.

Preso em uma armadilha e sem forças para sair dali, o bicho prova que todos os problemas podem ser resolvidos através da inteligência.

O jabuti, distraído como sempre, estava voltando apressado para casa. A noite começava a cobrir a floresta com seu manto escuro e o melhor era apertar o passo.

De repente… caiu numa armadilha !

Um buraco profundo coberto por folhas de palmeiras que havia sido cavado na trilha, no meio da floresta, pelos caçadores da aldeia para aprisionar os animais.

O jabuti, graças a seu grosso casco, não se machucou na queda, mas… como escapulir dali? Tinha que encontrar uma solução antes do amanhecer se não quisesse virar sopa para os aldeões…

Estava ainda perdido em seus pensamentos quando um leopardo caiu também na mesma armadilha!!! O jabuti deu um pulo, fingindo ter sido incomodado em seu refúgio, e berrou para o leopardo:

- Que é isto? O que está fazendo aqui? Isto são modos de entrar em minha casa? Não sabe pedir licença?!

E quanto mais gritava. E continuou…

- Não vê por onde anda? Não sabe que não gosto de receber visitas a estas horas da noite? Saia já daqui! Seu pintado mal-educado!

O leopardo bufando de raiva com tal atrevimento, agarrou o jabuti e com toda a força jogou-o para fora do buraco!

O jabuti, feliz da vida, foi andando para sua casa tranquilamente!

Ah! Espantado ficou o leopardo…

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Laura Aidar
Revisão por Laura Aidar
Arte-educadora, artista visual e fotógrafa. Licenciada em Educação Artística pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e formada em Fotografia pela Escola Panamericana de Arte e Design.
Carolina Marcello
Edição por Carolina Marcello
Mestre em Estudos Literários, Culturais e Interartes e licenciada em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Apaixonada por leitura e escrita, produz conteúdos on-line desde 2017, sobre literatura, cultura e outros campos do saber.