5 histórias infantis que ensinam lições de vida


Laura Aidar
Laura Aidar
Arte-educadora, fotógrafa e artista visual

Uma ótima maneira de levar reflexões e ensinamentos às crianças é através de pequenas histórias.

Os contos muitas vezes estão repletos de aprendizados, transmitidos por meio de exemplos, advertências e vivências dos personagens.

Assim, pode ser proveitoso contar histórias educativas para os pequenos com o intuito de gerar reflexões sobre a vida e contribuir para que desenvolvam maior senso crítico e olhar observador.

1. Os sons do silêncio

Um rei mandou seu filho estudar no templo de um grande mestre com o objetivo de prepará-lo para ser uma grande pessoa.

Quando o príncipe chegou ao templo, o mestre o mandou sozinho para uma floresta.

Ele deveria voltar um ano depois, com a tarefa de descrever todos os sons da floresta.

Quando o príncipe retornou ao templo, após um ano, o mestre lhe pediu para descrever todos os sons que conseguira ouvir.

Então disse o príncipe:

“Mestre, pude ouvir o canto dos pássaros, o barulho das folhas, o alvoroço dos beija-flores, a brisa batendo na grama, o zumbido das abelhas, o barulho do vento cortando os céus…”

E ao terminar o seu relato, o mestre pediu que o príncipe retornasse a floresta, para ouvir tudo o mais que fosse possível.

Apesar de intrigado, o príncipe obedeceu à ordem do mestre, pensando:

“Não entendo, eu já distingui todos os sons da floresta…”

Por dias e noites ficou sozinho ouvindo, ouvindo, ouvindo… mas não conseguiu distinguir nada de novo além daquilo que havia dito ao mestre.

Porém, certa manhã, começou a distinguir sons vagos, diferentes de tudo o que ouvira antes.

E quanto mais prestava atenção, mais claros os sons se tornavam.

Uma sensação de encantamento tomou conta do rapaz.

Pensou: “Esses devem ser os sons que o mestre queria que eu ouvisse…”

E sem pressa, ficou ali ouvindo e ouvindo, pacientemente.

Queria ter certeza de que estava no caminho certo.

Quando retornou ao templo, o mestre lhe perguntou o que mais conseguira ouvir.

Paciente e respeitosamente o príncipe disse:

“Mestre, quando prestei atenção pude ouvir o inaudível som das flores se abrindo, o som do sol nascendo e aquecendo a terra e da grama bebendo o orvalho da noite… “

O mestre sorrindo, acenou com a cabeça em sinal de aprovação, e disse:

“Ouvir o inaudível é ter a calma necessária para se tornar uma grande pessoa. Apenas quando se aprende a ouvir o coração das pessoas, seus sentimentos mudos, seus medos não confessados e suas queixas silenciosas, uma pessoa pode inspirar confiança ao seu redor; entender o que está errado e atender as reais necessidades de cada um.

A morte do espírito começa quando as pessoas ouvem apenas as palavras pronunciadas pela boca, sem se atentarem no que vai no interior das pessoas para ouvir os seus sentimentos, desejos e opiniões reais.

É preciso, portanto, ouvir o lado inaudível das coisas, o lado não mensurado, mas que tem o seu valor, pois é o lado mais importante do ser humano…”

Esse belo conto está presente no livro Histórias da Tradição Sufi, da editora Dervish. Aqui temos uma metáfora que relaciona a natureza aos sentimentos e reflexões.

Muitas vezes os seres humanos se esquecem que também fazem parte da natureza e acabam se distanciando dela, não conseguindo apreciá-la de maneira profunda e integrada.

No conto, o mestre recomenda ao jovem que passe um tempo na floresta de modo a escutar o que não pode ser ouvido com os ouvidos, mas sim com o "coração".

Na realidade, o que o mestre propõe é um exercício meditativo em que o aprendiz consiga se conectar consigo através da observação da vida que pulsa na floresta.

2. De bem com a vida

Filó, a joaninha, acordou cedo.

— Que lindo dia! Vou aproveitar para visitar minha tia.
— Alô, tia Matilde. Posso ir aí hoje?
— Venha, Filó. Vou fazer um almoço bem gostoso.

Filó colocou seu vestido amarelo de bolinhas pretas, passou batom cor-de-rosa, calçou os sapatinhos de verniz, pegou o guarda-chuva preto e saiu pela floresta: plecht, plecht...

Andou, andou... e logo encontrou Loreta, a borboleta.

— Que lindo dia!
— E pra que esse guarda-chuva preto, Filó?
— É mesmo! — pensou a joaninha. E foi para casa deixar o guarda-chuva.

De volta à floresta:

— Sapatinhos de verniz? Que exagero! — Disse o sapo Tatá. Hoje nem tem festa na floresta.
— É mesmo! — pensou a joaninha. E foi para casa trocar os sapatinhos.

De volta à floresta:

— Batom cor-de-rosa? Que esquisito! — disse Téo, o grilo falante.
— É mesmo! - disse a joaninha. E foi para casa tirar o batom.
— Vestido amarelo com bolinhas pretas? Que feio! Por que não usa o vermelho? - disse a aranha Filomena.

— É mesmo! - pensou Filó. E foi para casa trocar de vestido.

Cansada da tanto ir e voltar, Filó resmungava pelo caminho. O sol estava tão quente que a joaninha resolveu desistir do passeio.

Chegando em casa, ligou para tia Matilde.

— Titia, vou deixar a visita para outro dia.
— O que aconteceu, Filó? — Ah! Tia Matilde! Acordei cedo, me arrumei bem bonita e saí andando pela floresta. Mas no caminho...

— Lembre-se, Filozinha... gosto de você do jeitinho que você é. Venha amanhã, estarei te esperando com um almoço bem gostoso.

No dia seguinte, Filó acordou de bem com a vida. Colocou seu vestido amarelo de bolinhas pretas, amarrou a fita na cabeça, passou batom cor-de-rosa, calçou seus sapatinhos de verniz, pegou o guarda-chuva preto, saiu andando apressadinha pela floresta, plecht, plecht, plecht... e só parou para descansar no colo gostoso da tia Matilde.

Essa é uma fábula da escritora e educadora mineira Nye Ribeiro. É uma história didática que ensina às crianças o valor da autoestima.

É importante que desde pequenas, elas compreendam que para levar uma vida satisfatória precisam se aceitar como são e não permitir que certas opiniões atrapalhem seus propósitos de vida.

Assim, de maneira lúdica, a autora cria uma situação em que a joaninha primeiramente se influencia pelos palpites dos colegas e percebe que deixou de fazer o que gostaria e de estar com uma pessoa especial para ela.

No segundo momento, a joaninha se dá conta de que deve seguir seus planos da forma como se sente mais confortável e assim pode usufruir de sua vida mais plenamente.

3. O menino e o lobo

Numa colina, acima de um povoado, estava um dia um pastorzinho. Entediado, o menino, para se divertir, começou a gritar para a aldeia lá embaixo:

O lobo! O lobo! O lobo vem vindo!

O truque funcionou. Fez isso três vezes ainda e, a cada vez, os moradores do vilarejo subiram correndo, colina acima, para ajudar o menino a salvar as ovelhas. Quando chegavam ao topo , o garoto caía na risada, e os homens ficaram furiosos, sentindo-se enganados.

Infelizmente para o garoto, num dia cinzento e enevoado o lobo realmente apareceu, e se atirou direto para cima das ovelhas. O menino, a sério desta vez, começou aberrar:

— O lobo está aqui! Acudam! O lobo está aqui!

Ninguém atendeu ao chamado, pois os aldeões pensaram que se tratasse apenas de mais uma das brincadeiras do garoto - e o lobo devorou todas as ovelhas.

O garoto aprendeu tarde demais a lição de que nos mentirosos não se costuma acreditar, mesmo quando eles estão dizendo a verdade.

A famosa história do menino pastor e o lobo é de Esopo, um escritor de fábulas que viveu na Grécia Antiga no século VI a.C. Está presente no livro Fábulas de Esopo, da editora Círculo do Livro.

Conta sobre um menino que, de tanto mentir, acaba em apuros, pois quando finalmente diz a verdade, é desacreditado pelas pessoas.

Exibe de forma educativa a necessidade da honestidade e lealdade. Alerta ainda que não se deve priorizar a "diversão pessoal" e desconsiderar o sofrimento coletivo.

É uma fábula curta que traz aprendizados importantes para toda a vida.

4. Distinguindo o bom do mau

Um padeiro queria conhecer um grande mestre e este foi à padaria disfarçado de mendigo. Pegou um pão, começou a comê-lo: o padeiro espancou-o e atirou-o na rua.

- Louco! - disse um discípulo que chegava - Não vê que expulsou o mestre que queria conhecer?

Arrependido, o padeiro foi até a rua e perguntou o que podia fazer para que o perdoasse. O mestre pediu que convidasse a ele e seus discípulos para comer.

O padeiro levou-os até um excelente restaurante e pediu os pratos mais caros.

- Assim distinguimos o homem bom do homem mau - disse o mestre para os discípulos, no meio do almoço. - Este padeiro é capaz de gastar dez moedas de ouro num banquete porque sou célebre, mas é incapaz de dar um pão para alimentar um mendigo com fome.

Esse pequeno conto oriental da filosofia sufi está publicado no site da Academia Brasileira de Letras e traz importantes questionamentos sobre solidariedade, soberba e bajulação, ou o ato de agradar os outros para benefício próprio.

Na história, vemos que o padeiro não se importou com seu semelhante que passava fome, tratando-o mal e o espancando. Entretanto, ao descobrir que o homem era um grande mestre, pede desculpas e lhe paga um jantar caro.

O mestre, justamente por ter sabedoria, considera o padeiro um homem mau, pois sua ação revelou que sua solidariedade tem "dois pesos e duas medidas", ou seja, para o pobre ele foi mesquinho e cruel, mas para o admirado mestre foi generoso.

5. A roupa nova do rei

Um sujeito, ao fugir de um reino por roubo, decide se instalar em um reino vizinho. Lá chegando, finge ser um alfaiate e consegue um encontro com o rei.

Ao conversar com o rei, o homem diz que inventou uma roupa especial que só pode ser vista por pessoas inteligentes.

O rei era muito fútil e vaidoso, por isso ficou animado e encomendou com o alfaiate um traje assim.

Então foi oferecido ao homem muitas riquezas, tecidos nobres e linhas douradas, que foram encaixotadas e guardadas.

Quando as pessoas passavam no ateliê, o sujeito fingia que costurava, fazendo mímicas e pendurando tecidos imaginados nos cabides.

Demorou meses para terminar sua peça e enquanto isso recebia o pagamento do rei.

Todos que viam o fingido alfaiate costurando nada diziam, pois temiam ser "descobertos" em sua burrice, já que, teoricamente, só os inteligentes conseguiriam ver.

Certo dia, o monarca, já irritado com tanta espera, exige ver o que já tinha sido feito. Ao se deparar com o cabide vazio, o rei também não quis se passar por estúpido e exclamou:

— Que roupas maravilhosas! O seu trabalho está impecável!

Os acompanhantes do rei também elogiaram as roupas e foi decido que seria feito um desfile em público para que o soberano mostrasse seus trajes especiais.

O dia do evento chegou e o rei desfilou para seus súditos com ar arrogante e altivo. Mas uma das crianças, inocente e verdadeira, solta um grito:

— O rei está nu! O rei está nu!

Todos se olharam e já ão puderam mais mentir uns para os outros. Tiveram que concordar com a criança e confessaram que também não enxergavam as vestes.

O rei percebeu a farsa e passou muita vergonha, tentando se cobrir com as mãos. Foi assim que o desfile para exibir a roupa nova do rei foi um fracasso.

Esse conto é do dinamarquês Hans Christian Andersen, e foi publicado pela primeira vez em 1837. Conta sobre um sujeito enganador e esperto que usa a vaidade do outro como sua maior arma.

Através dessa história é possível trabalhar com as crianças noções como a soberba, a ostentação e o sentimento de superioridade, além da vergonha e necessidade de parecer melhor do que os outros.

O rei, imaginando-se muito inteligente, contrata o alfaiate farsante para fazer um traje especial, mas que, na verdade, não existia. Ninguém teve coragem de assumir que não enxergava a roupa, com medo de ser considerado estúpido.

Esse tipo de situação, colocada como uma metáfora, pode ocorrer em variadas ocasiões no cotidiano e exibe a importância de se ter honestidade e sinceridade consigo e com os outros.

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Laura Aidar
Laura Aidar
Arte-educadora, artista visual e fotógrafa. Licenciada em Educação Artística pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e formada em Fotografia pela Escola Panamericana de Arte e Design.