Éramos Seis: resumo do livro e comentários


Laura Aidar
Laura Aidar
Arte-educadora, fotógrafa e artista visual

Éramos Seis é um romance da escritora Maria José Dupré e foi lançado em 1943.

Importante obra da literatura brasileira, nela acompanhamos a vida de uma família de classe média baixa vivendo na cidade de São Paulo entre a década de 10 e de 40.

Quem narra a história é a matriarca, Dona Lola, uma mulher dedicada e mãe de quatro filhos. Ela relembra o passado, detalhando suas conquistas e suas dores de maneira simples e sensível, formando assim um retrato de boa parte das famílias, e sobretudo das mulheres, brasileiras da primeira metade do século XX.

A autora consegue mesclar de forma brilhante dramas pessoais ao contexto de sua época, produzindo dessa forma uma obra que pode ser vista como um romance dramático e também histórico.

A trama ganhou diversas adaptações na teledramaturgia, se tornando muito conhecida e povoando o imaginário do público brasileiro.

(Alerta: o conteúdo contém spoilers!)

Resumo da história

A narrativa inicia com a visita de Dona Lola, já idosa, a sua antiga casa, um imóvel na Avenida Angélica, no centro de São Paulo.

Ao olhar para o local, a senhora rememora os longos anos que lá viveu com sua família: o marido Júlio e os filhos Carlos, Alfredo, Julinho e Isabel.

Lola se lembra de seus filhos crianças correndo pela casa e das dificuldades que teve junto ao marido para manter em dia as prestações daquele imóvel, financiado por eles - uma família humilde - em uma área nobre da cidade.

Julio Abílio de Lemos, o esposo, é descrito como um homem enérgico e provedor. Ele trabalha em uma fábrica de tecidos e se esforça para manter a casa. Entretanto, assim como grande parte dos homens de sua época, é machista e muitas vezes agressivo, o que é visto com naturalidade por Lola, devido à mentalidade da época.

Após a morte do marido, vítima de úlcera no estômago, Dona Lola precisa se desdobrar para conseguir o dinheiro das prestações da casa. Assim, ela passa a fazer doces para vender, mas esse não é seu primeiro trabalho, antes, além de dona de casa, ela costurava para fora.

A vida de Dona Lola é marcada por perdas e abandonos. Alfredo, o segundo filho, tem personalidade forte e rebelde. Ele se liga ao movimento comunista e, após se envolver em uma confusão, precisa fugir, deixando a família para trás.

Carlos, o primogênito, opta por largar seu sonho de ser médico para dar suporte financeiro à mãe, permanecendo com ela em casa.

O outro filho, Julinho, consegue ascender socialmente, vai morar no Rio de Janeiro e se casa com uma moça da alta classe. Dessa forma, acaba também se afastando de Dona Lola e dos irmãos.

Já a caçula Isabel, que era a preferida do pai, também tem uma postura contestadora, reprimida pelo fato de ser mulher em um contexto opressor dos anos 20 e 30. De qualquer forma, ela enfrenta a sociedade, e principalmente sua mãe, e decide se unir a Felício, um homem desquitado. Os dois fogem e essa atitude faz com que mãe e filha rompam os laços, se distanciando para sempre.

Dona Lola passa a viver somente com Carlos, com quem tem uma ótima relação. Ela resolve vender a casa na Av. Angélica e eles vão morar na Barra Funda.

Tragicamente, Carlos desenvolve um problema de saúde parecido com o de seu pai e falece precocemente, deixando Lola sozinha.

Por fim, a protagonista vai para um quarto alugado em uma pensão católica, morando com freiras.

Outros personagens aparecem na trama, como as irmãs de Lola, Clotilde e Olga, além de outras pessoas mais distantes do núcleo familiar. O interior de São Paulo, mais precisamente a cidade de Itapetininga, também surge pontualmente em algumas passagens.

Comentários sobre a obra Éramos Seis

Com uma escrita didática e objetiva, mas cheia de lirismo, a autora Maria José Dupré exibe a história de uma família simples e suas adversidades no início do século XX na sociedade paulistana.

Não são revelados grandes acontecimentos, mas ainda assim somos transportados para aquele tempo e para os dramas cotidianos de Dona Lola e de seus familiares.

A memória é evocada aqui de maneira intensa, dando um caráter melancólico e nostálgico para a história. Isso porque ela é contada em primeira pessoa por uma mulher batalhadora e resiliente que se sacrifica pela família, mas que termina seus dias sozinha em um quarto de pensão.

Assim, são tratados temas como a renúncia e o altruísmo, a revolta e o desapego, o luto e a solidão. Ao ler o romance também somos levados a questionar os comportamentos e valores daquela sociedade e refletir sobre como eles nos afetam até os dias de hoje.

Contexto histórico

É interessante observar como a narrativa costura os acontecimentos corriqueiros e as fatalidades que ocorrem com esse grupo de pessoas aos fatos históricos.

Acompanhando a trajetória da família Lemos vemos como os personagens são atravessados por episódios como a pandemia de gripe espanhola de 1918, a Revolta Paulista, de 1924 e a Revolução Constitucionalista de 1932. Além disso, a Primeira e a Segunda Guerra Mundiais também são citadas no texto.

Personagens de Éramos Seis

  • Dona Lola: é a protagonista e narradora. Mãe e esposa exemplar, se sacrifica pela família e sofre com o destino de seus filhos.
  • Julio Abílio Lemos: marido de Dona Lola. É um homem trabalhador e provedor, mas agressivo, moralista e machista.
  • Carlos: primogênito. É bondoso e dedicado à mãe, negligenciando seus sonhos para dar suporte a ela.
  • Alfredo: com personalidade forte e rebelde, se envolve em uma confusão e precisa ficar foragido.
  • Julinho: bom filho, mas enriquece e deixa a mãe e a família para viver no Rio de Janeiro.
  • Isabel: com espírito livre, se apaixona por um homem desquitado e foge com ele, para desgosto de Lola.

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Laura Aidar
Laura Aidar
Arte-educadora, artista visual e fotógrafa. Licenciada em Educação Artística pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e formada em Fotografia pela Escola Panamericana de Arte e Design.