Arte Naïf

Laura Aidar
Laura Aidar
Arte-educadora, fotógrafa e artista visual
Tempo de leitura: 6 min.

Arte Naïf é uma expressão artística realizada por pessoas autodidatas, na qual exprimem sua visão de mundo, geralmente regionalista, simples e poética.

Assim, trabalham principalmente com a espontaneidade e temas do universo popular.

O vocábulo naïf tem origem francesa, significando "ingênuo". Portanto, essa manifestação pode ser vista também como uma "arte inocente".

É ainda chamada de "arte primitiva moderna", pois tem como característica a expressão informal do ponto de vista técnico e tradicional.

Características da Arte Naïf

Existem alguns elementos que podem ser encontrados em muitas das produções de arte naïf. Geralmente esses artistas, que tem na pintura sua expressão favorita, exibem imagens com excessos cromáticos, se valendo de cores intensas.

Há ainda a preferência por temas alegres, entretanto essa não é uma regra. Os temas populares, retratando festividades e eventos coletivos também aparecem com frequência.

A ausência de profundidade e perspectiva é notada, ressaltando a bidimensionalidade das cenas, além dos traços figurativos e exuberância em detalhes. Além disso, a natureza geralmente é retratada de forma idealizada.

Podemos citar ainda a espontaneidade, ingenuidade, ausência de sofisticação e de formação acadêmica.

Artistas da Arte Naïf

Muitos homens e mulheres dedicaram parte de suas vidas à arte naïf. Nos EUA, por exemplo, temos Anna Mary Robertson (1860-1961), que levou o apelido de Vovó Moses e teve reconhecimento apenas na velhice.

Outros norte-americanos dessa vertente são John Kane (1860-1934) e H. Poppin (1888-1947). Já na Inglaterra, há o artista Alfred Wallis (1855-1942).

Henri Rousseau

Henri Rousseau (1844-1910) foi um funcionário da alfândega que, nas horas vagas, gostava de pintar. Sua arte refletia a vida simples, com a criação de imagens nítidas, com cores simples e puras, bem diferente da arte sofisticada do círculo acadêmico artístico.

henri rousseau arte naif
Um dia de Carnaval, de Henri Rousseau, foi exposta no Salão dos Independentes em 1886

Por isso mesmo, os artistas modernistas enxergaram nele a possibilidade de criação sem formalismos, que levava a uma espontaneidade e poesia que eram bastante almejadas.

Séraphine Louis

Séraphine Louis(1864-1946) também é conhecida como Séraphine de Senlis. Foi uma mulher humilde, com poucos recursos financeiros, que trabalhava limpando a casa de outras pessoas.

Séraphine Louis
Árvore do Paraíso (1930), tela de Séraphine Louis

Seu passatempo nas horas vagas era a pintura. Ela gostava de criar telas com temas florais bem coloridos e cheios de detalhes, sempre com referências à natureza.

Foi o pesquisador de arte Wilhelm Uhde que a descobriu em 1902 e, a partir de então, suas telas integraram mostras de arte. Atualmente o trabalho da artista é reconhecido em todo o mundo, tanto que foi feito um filme em 2008 contando sua história, intitulado Séraphine.

Louis Vivin

Louis Vivin (1861-1936) foi um francês que trabalhou no correio e no tempo livre dedicava-se à pintura. Também foi o alemão Wilhelm Uhde o primeiro a perceber seu talento e colocar suas obras em exposições.

Veneza: vista para o canal com a igreja, de Louis Vivin
Veneza: vista para o canal com a igreja, de Louis Vivin

Suas telas trazem temas do cotidiano e da cidade, com o uso de uma perspectiva imprecisa, o que dá à cena um caráter inocente. Com o passar dos anos e o reconhecimento, Vivin conseguiu deixar o trabalho formal e viver da arte.

Arte Naïf no Brasil

Chico da Silva

Francisco Domingos da Silva (1910-1985) nasceu no Acre e faleceu no Ceará. Semi-analfabeto, trabalhou em vários ofícios, enquanto exercia sua arte pintando casas de pescadores em Fortaleza.

Chico da Silva
O grande pássaro (1966), de Chico da Silva

Nos anos 40 recebe incentivo de Jean Pierre Chabloz, pintor suíço, e passa a aprofundar-se nas pinturas e expor trabalhos. Os temas de suas telas variavam de dragões, sereias, figuras míticas e outras cenas que permeavam sua imaginação.

Foi internado em um hospital psiquiátrico por três anos e nesse período não produziu, voltando a pintar no final da vida, em 1981.

Djanira

A artista Djanira da Motta e Silva (1914-1979) nasceu no interior de São Paulo. Em 1937 começa a desenhar e pintar, quando estava internada por tuberculose em um sanatório em São José dos Campos.

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Candomblé (1957), de Djanira

Nos anos 40 passa a conviver com artistas modernos e intensifica sua produção. A artista apresenta um trabalho que mescla regionalismo e religiosidade, além de suas memórias, fruto de seu passado como trabalhadora no campo.

O escritor Jorge Amado certa vez definiu a obra de Djanira da seguinte forma:

Djanira traz o Brasil em suas mãos, sua ciência é a do povo, seu saber é esse do coração aberto à paisagem, à cor, ao perfume, às alegrias, dores e esperanças dos brasileiros.

Sendo uma das grandes pintoras de nossa terra, ela é mais do que isso, é a própria terra, o chão onde crescem as plantações, o terreiro da macumba, as máquinas de fiação, o homem resistindo à miséria. Cada uma de suas telas é um pouco do Brasil.

Mestre Vitalino

Vitalino Pereira dos Santos (1909 -1963) foi um pernambucano que dedicou-se à arte popular, sobretudo à cerâmica, mas também à música.

Seus pais eram lavradores e Vitalino, quando criança, pegava as sobras de barro que sua mãe utilizava para produzir itens utilitários e com elas modelava pequenos animais e outras figuras.

mestre vitalino
Escultura em barro, de Mestre Vitalino

Assim, segue trabalhando o barro, mas apenas em 1947 sua obra torna-se conhecida, a partir de uma exposição. Seu trabalho exprime o universo do sertanejo da região nordestina, com figuras de cangaceiros, animais e famílias.

É um dos artistas populares brasileiros de maior reconhecimento, com obras que exibidas no MASP (Museu de Arte de São Paulo), Museu do Louvre, em Paris, dentre outras instituições.

Origem da Arte Naïf

Apesar de sempre ter havido artistas amadores, o princípio do estilo naïf da forma como foi conceituado está relacionado ao artista francês Henri Rousseau (1844-1910).

a encantadora de serpentes rosseau arte naif
A Encantadora de Serpentes (1907), de Henri Rousseau

Esse pintor exibiu algumas telas no Salão dos Independentes em 1886, na França, e obteve o reconhecimento de alguns dos mais renomados artistas, como Paul Gauguin (1848-1903), Pablo Picasso (1881-1973), Léger (1881-1955) e Joan Miró (1893-1983).

Os modernistas ficaram impressionados com a maneira que Rousseau solucionava questões estéticas sem educação formal. Suas telas tinham um vigor simples e poético, com autenticidade "infantil", exibindo temas do contexto popular.

As pessoas que exerciam sua arte como hobby costumavam ser denominadas como "pintores de domingo", e, assim como Rousseau, não tinham um compromisso com as tradições, realizando pinturas mais livres e de acordo com a realidade do "homem comum".

Por conta disso, essa forma de pintar acaba influenciando outros artistas, que renunciam de certa forma a preceitos técnicos e teóricos, buscando a compreensão de todos os públicos, sobretudo das pessoas simples.

Um nome importante para o reconhecimento da arte naïf foi Wilhelm Uhde (1874 - 1947), crítico de arte alemão que, em 1928, promove a primeira exposição do estilo em Paris.

Integraram a mostra: Rousseau, Luis Vivin (1861-1936), Séraphine de Senlis (1864-1942), André Bauchant (1837-1938) e Camille Bombois (1883-1910).

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Laura Aidar
Laura Aidar
Arte-educadora, artista visual e fotógrafa. Licenciada em Educação Artística pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e formada em Fotografia pela Escola Panamericana de Arte e Design.