Arte Africana: manifestações, história e resumo
É considerado arte africana o conjunto de manifestações culturais dos povos presentes nos diversos países do continente africano, com destaque para as regiões abaixo do deserto do Saara, a África Subsaariana.
Como é de se esperar, cada um desses povos possui culturas distintas, com idiomas, vestimentas, costumes e arte próprios. Dessa forma, não é possível traçar generalizações quando se fala em "arte africana".
Ainda assim, pode-se selecionar algumas características e linguagens que se assemelham, mesmo carregando simbolismos e objetivos diferentes, dependendo da sociedade em questão.
As diferentes manifestações artísticas dos povos da África
Máscaras africanas
As máscaras são artefatos produzidos por grande parte das sociedades tribais africanas. Assim como outras manifestações, elas, em geral, tem como objetivo criar um elo entre a materialidade e a espiritualidade coletiva.
Esses adereços são utilizados em diversos ritos e cerimônias, como em casamentos, funerais, celebrações e outros eventos. As máscaras são vistas pelos povos africanos como artefatos místicos, devendo ser usadas apenas por algumas pessoas que têm a permissão para tal.
Normalmente as máscaras são usadas em conjunto com vestimentas próprias, o que colabora ainda mais para a caracterização do indivíduo e a representação de seres espirituais, animais e outras entidades.
Para a confecção dos objetos, normalmente é usada a madeira, mas também podem ser produzidos com couro, metais, cerâmica e outros materiais.
Para saber mais sobre o assunto, leia: Máscaras africanas e seus significados
Pintura corporal africana
A pintura está presente também nas sociedades africanas, seja através de padrões aplicados em cerâmicas e outros objetos, ou na pintura corporal.
Assim como as populações indígenas brasileiras, os povos da África também manifestam-se artisticamente através da aplicação de tintas naturais em seus corpos.
Tais pinturas são feitas como maneiras de conexão com as forças superiores em rituais, ou ainda como uma forma de demonstrar posições hierárquicas nas tribos.
As populações presentes no Vale do Rio Omo, na Etiópia, ainda conservam essas tradições, produzindo pinturas corporais bastante ricas combinadas com ornamentos de cabeça feitos com elementos vegetais.
Escultura africana
A escultura é outra linguagem bastante utilizada no continente Africano. Podemos citar como exemplo as esculturas feitas em terracota do povo Nok (norte da Nigéria), que datam do primeiro milênio a.C. Nelas, os olhos e a boca são normalmente perfurados e a cabeça tem formato cilíndrico, esférico ou cônico.
Outra característica marcante dessa manifestação é seu posicionamento, normalmente frontal e simétrico, exibindo cabeças maiores do que o resto dos corpos.
Uma curiosidade é que nas estatuetas feitas pelo povo Fang (Gabão), as feições são de crianças, pois eles acreditam que elas possuem maior ligação com o mundo espiritual.
A maioria desses objetos são feitos como instrumentos espirituais e coletivos. Entretanto, há culturas que criavam arte com objetivos não definidos, como os Fons (República do Benin) com suas esculturas em bronze retratando pessoas trabalhando e animais.
Danças africanas
As danças fazem parte de uma importante parcela da expressão cultural das sociedades africanas. Da mesma forma que outras manifestações, elas estão presentes em eventos cerimoniais de seus povos.
O corpo, para os africanos, constitui geralmente, um elo entre o mundo terreno e divino, sendo sua movimentação uma maneira de homenagem aos espíritos, além de uma forma de descarregar tensões e energias.
Muitas vezes essas danças são realizadas em círculos nas comunidades ao som de tambores e outros instrumentos de percussão.
História da arte tradicional africana
A arte tradicional africana é muito rica em significados e simbologias, além do conteúdo estético imaginativo. Entretanto, infelizmente tais manifestações muitas vezes são de difícil compreensão, dado a falta de informações existentes.
Isso se dá porque muitos objetos artísticos africanos foram retirados do continente pelos povos colonizadores e levados para países europeus, a fim de integrar museus e galerias como artefatos curiosos e "exóticos".
Por conta disso, grande parte deles foi tirada de seus contextos originais. Muitos povos foram destruídos (populações inteiras dizimadas) e os significados de suas artes tornaram-se enigmáticos.
Atualmente, existe um movimento africano que reivindica a devolução desse enorme acervo cultural aos seus locais de origem.
As influências da arte africana nas vanguardas europeias
No Ocidente, a arte das culturas africanas reverberou no final do século XIX através do contato de artistas das vanguardas europeias com os artefatos africanos como as máscaras e esculturas.
Assim, muitos artistas (como Pablo Picasso, Matisse e Braque) se inspiraram esteticamente na arte dos africanos com o objetivo de recriar conceitos artísticos ocidentais.
Entretanto, o olhar curioso e eurocêntrico em torno de tais objetos fez com que eles fossem vistos como "primitivos" e "excêntricos", o que vem sendo repensando atualmente.
A arte africana na contemporaneidade
Quando se fala em arte africana, normalmente vem à mente aquela produzida por comunidades tribais em períodos pré-coloniais. Contudo, é importante lembrar que, assim como o restante do planeta, as nações do continente africano seguem produzindo arte.
São artistas que a utilizam como ferramenta de comunicação, questionamento e reflexões atuais, aprofundando-se com olhar crítico e criativo em torno de assuntos pertinentes aos seus locais de origem e suas relações com o mundo globalizado.
Assim, são várias as linguagens que esse artistas utilizam, como fotografia, pintura, video-arte, instalação e as outras vertentes existentes.
Como exemplo, podemos citar a fotógrafa Aida Mulunef, da Etiópia, assim como Zanele Muholi, da África do Sul, Romuald Hazoumè, do Benim, o fotógrafo Seydou Keïta, de Mali e muitos outros.
Arte afro-brasileira
O Brasil é um país que recebeu um enorme contingente de pessoas sequestradas da África na época colonial. Trazidas como mão de obra escrava, essas populações fazem parte da identidade brasileira, contribuindo para a formação de nossa cultura de maneira intrínseca.
Assim, a arte e cultura de diversas sociedades africanas misturou-se às demais culturas aqui presentes.
Portanto, a arte da África manifesta-se no território brasileiro intensamente. Podemos citar como exemplos a capoeira, diversos estilos musicas e de dança, como o samba, maracatu, ijexá, carimbó, maxixe, entre outros.
Segue abaixo um vídeo da professora de dança afro Luciane Ramos, que traz alguns ensinamentos e reflexões sobre a cultura africana em nosso país.
Sugestões de bibliografia para estudar mais sobre o assunto:
- Arte Africana, de Frank Willett, da editora Sesc São Paulo
- África em Arte, de Juliana Ribeiro da Silva Bevilacqua e Renato Araújo da Silva, do acervo Museu Afro Brasil
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