Filme 2001: Uma Odisseia no Espaço


Carolina Marcello
Carolina Marcello
Mestre em Estudos Literários, Culturais e Interartes

2001: Uma Odisseia no Espaço é um filme de ficção científica de 1968, dirigido e produzido pelo norte-americano Stanley Kubrick.

Considerado a obra-prima do gênio cinematográfico, o longa-metragem foi aclamado pela crítica e pelo público. Bastante diferente das produções da época, o clássico acabou se tornando um filme cult e uma grande referência, continuando popular ao longo das décadas.

Confira, abaixo, o trailer legendado do filme:

Atenção: a partir deste ponto você vai encontrar spoilers!

Resumo de 2001: Uma Odisseia no Espaço

O filme começa com a escuridão, no meio do espaço, e uma trilha sonora que ficou muito famosa. Vemos os planetas, lentamente, em movimento e uma luz que sobe.

A aurora do Homem

A primeira parte do filme começa com um letreiro onde lemos "A aurora do Homem", seguido de paisagens da natureza. Vemos um grupo de macacos, convivendo em harmonia com outras espécies, na Terra, e afugentando um grupo de rivais.

Durante a noite, alguma coisa parece cair no solo e as criaturas se escondem em cavernas, com comportamentos bastante semelhantes aos humanos. Pela manhã, os antecessores da espécie humana rodeiam o estranho objeto, um retângulo negro (o monólito).

Frame: macaco

Depois de observar o monólito, um deles toca no objeto e o seu comportamento se altera. Logo, aprende a usar um osso como arma e começa a matar animais com violência. É desse jeito que todos começam a consumir carne.

AMT-1

Nesta segunda parte, a narrativa avança milhares de anos. Encontramos um homem solitário viajando em um avião espacial até uma estação próxima da Terra. Lá, descobrimos que se trata de Dr. Heywood R. Floyd, um cientista que está a caminho da Base Clavius, na Lua.

Em conversa com os colegas, eles referem boatos acerca de acontecimentos estranhos que estão ocorrendo por lá.

Frame: aeroporto

Quando chega à Lua, Floyd participa de uma reunião e comunica que veio para ajudar a gerir a situação e que é importante manter o secretismo.

Alguns astronautas discutem as declarações de Floyd e a existência de um objeto estranho que tinha sido encontrado na Lua. Em busca de uma explicação, eles decidem visitar o local da descoberta.

Depois de rodearem o monólito, um dos homens toca nele, e se juntam para tirar uma foto mas o objeto começa a emitir um som ensurdecedor.

Missão a Júpiter

Um ano e meio depois, a nave Discovery One parte em uma missão para Júpiter que é noticiada na televisão. Frank e Dave, os astronautas, vão acompanhados por três companheiros em estado de hibernação.

Frame: HAL

O sexto membro da equipe é HAL, um computador com inteligência artificial que controla todas as atividades da nave.

Apesar de ser "à prova de falhas", o sistema começa a se comportar de forma suspeita e dá um falso alarme acerca de uma suposta peça estragada.

A base confirma aos astronautas que se tratou de um erro de HAL e ambos se isolam para conversar sobre o caso.

Frame: conversa entre astronautas.

Embora a máquina não possa ouvi-los no lugar onde estão, consegue ler os seus lábios e descobre que estão planejando reiniciá-la, fazendo com que voltasse à sua configuração original.

Intermissão

A Discovery One fica sem comunicação com a base durante algum tempo, para que os astronautas possam recolocar a peça que haviam retirado a mando de HAL. Frank sai da nave com o devido equipamento mas, de repente, o seu corpo é projetado para o espaço, caindo no vazio.

Dave, que estava do lado de fora, ajudando o companheiro, pede que HAL abra as portas mas ele se recusa. Com muita dificuldade, ele consegue abrir uma porta e adentrar a nave, travando uma batalha com a máquina.

Frame: rosto do astronauta.

Quando chega ao painel de controle do sistema, Dave consegue reiniciá-lo, apesar das súplicas de HAL. É aí que surge um vídeo que tinha sido gravado para que a tripulação assistisse quando estivesse chegando a Júpiter.

É assim que o astronauta ouve falar do monólito que apareceu na Lua e é considerado a primeira prova de vida inteligente fora da Terra. A missão de Discovery One é, afinal, descobrir se Júpiter foi o local de origem do objeto.

Júpiter e além do infinito

Sozinho na nave, Dave se aproxima de Júpiter, entra em um portal e embarca em uma jornada surrealista de luzes, cores e paisagens alienígenas.

De repente, ele vai parar em um quarto desconhecido. Quando olha em frente, vê uma versão mais velha de si mesmo, jantando sozinho. Logo em seguida, uma versão ainda mais velha, no seu leito de morte.

Frame: quarto em Júpiter.

Nos últimos segundos de vida, ele vê o monólito aparecendo diante da sua cama. É aí que o corpo envelhecido de Dave se transforma em um embrião rodeado de luz e ascende, passando a flutuar no espaço.

Análise do filme 2001: Uma Odisseia no Espaço

Um filme fora do comum

Embora se trate se um filme de ficção científica, 2001: Uma Odisseia no Espaço se afasta dos lugares-comuns próprios do gênero cinematográfico. Kubrick não queria produzir uma longa-metragem que atraísse os espectadores através de figuras monstruosas ou um forte pendor erótico.

Com uma abordagem filosófica e existencialista, a narrativa se foca na imensidão do espaço e na experiência dos próprios astronautas em situações de isolamento.

Depois de várias versões provisórias, o diretor optou por incluir a palavra "odisseia" no título, em referência à obra de Homero. Convocando o poema épico, pretendia transmitir que o espaço era assustador e cheio de mistérios para aqueles homens, assim como o mar para os navegadores.

Frame: morte de Frank.

Aqui, as sensações de solidão, de vazio e até de pânico são, muitas vezes, transmitidas através de um silêncio devastador.

Um exemplo perfeito é a morte de Frank Poole: quando o seu corpo entra em órbita e se perde pelo espaço, apenas podemos escutar a sua respiração, que é interrompida subitamente.

Todos estes indivíduos parecem estar bastante solitários e o longa-metragem é marcado pela escassez de diálogos. Na verdade, a primeira fala de 2001: Uma Odisseia no Espaço apenas surge depois de 25 minutos de filme.

Efeitos visuais e trilha sonora

Não é pelos diálogos, nem necessariamente pela narrativa, que o filme prende a atenção dos espectadores: são principalmente os efeitos visuais e sonoros que nos surpreendem do começo ao fim.

Estabelecendo uma relação entre os movimentos dos satélites e os movimentos da valsa, o diretor incluiu temas clássicos como Danúbio Azul de Johann Strauss II na trilha sonora.

O ritmo lento do filme, combinado com a sua trilha sonora, muitas vezes intensa e dramática, provocam sensações de desconforto e ansiedade em que está assistindo.

O longa-metragem chega mesmo a se aproximar do surrealismo na reta final do filme, quando Dave adentra o portal, na chegada de Júpiter.

A cena é uma inesquecível sequência de luzes, cores, sons e paisagens alienígenas.

Tema principal do filme: humanidade versus tecnologia

2001: Uma Odisseia no Espaço reflete, entre outros temas, acerca dos avanços tecnológicos, imaginando possíveis efeitos e consequências para a humanidade.

Kubrick utiliza a personagem HAL 9000, o computador que imita o ser humano, para problematizar a inteligência artificial, seus limites e desafios.

No começo da sequência "Missão a Júpiter", quando a tripulação é apresentada, um dos astronautas menciona que ele parece realmente uma pessoa e demonstra emoções. Podemos assistir à amizade que se forma entre HAL e Dave: jogam xadrez, conversam e chegam a trocar desabafos.

Embora seja uma "máquina perfeita", HAL está sendo invadido por sentimentos profundamente humanos como a desconfiança e o medo.

Assim, quando falha pela primeira vez, HAL acaba se comportando de forma orgulhosa e violenta, abusando do poder que lhe foi concedido enquanto "cérebro" da nave. Depois de projetar o corpo de Frank para o infinito, ele tenta deixar Dave do lado de forma da nave.

No entanto, quando é derrotado pelo antigo amigo, HAL chora, reconhece os seus erros e pede perdão. Parece seguro afirmar que o diretor estava alertando sobre os perigos de criarmos algo tão parecido com a humanidade, nas suas qualidades e também nos seus defeitos.

Qual a relação entre o Monólito e a vida extraterrestre?

A forma como o diretor escolheu representar a possibilidade de vida inteligente alienígena também é bastante original. Aconselhado por Carl Sagan, cientista e astrônomo especialista nos mistérios do Universo, Kubrick optou por não representar os seres de outro planeta.

Por conceber que eles poderiam ter formas biológicas totalmente diferentes da nossa, ou do que conseguimos imaginar, ele optou por não colocar atores fantasiados, algo que era comum na época.

Em vez disso, e para que as nossas imaginações pudessem produzir as suas próprias imagens, o filme representa a presença de vida alienígena através de um objeto que teria sido enviado.

Frame: monólito cai na Terra.

O monólito, uma grande pedra retangular, seria uma máquina enviada por espécies extraterrestres para acompanhar a evolução da vida em redor. Primeiro na Terra e depois na lua, os objetos estranhos parecem provocar mudanças nos comportamentos daqueles que estão perto.

Também é explorada a necessidade dos governos em manter o segredo para não assustar a população terrestre, nem provocar "choque de culturas e desorientação social" (nas palavras de Dr. Floyd). Os próprios astronautas da missão a Júpiter não estão informados acerca do verdadeiro objetivo pelo qual arriscam a vida.

Explicação de 2001: Uma Odisseia no Espaço

2001: Uma Odisseia no Espaço é um filme de ficção científica que se foca na evolução humana e na possível influência alienígena. No começo, assistimos a um grupo de símios que se comportam enquanto tal; a chegada do monólito muda radicalmente o seu percurso, como se trouxesse o dom da racionalidade.

É quando um deles aprende a usar um osso enquanto instrumento que a sua organização social e seus hábitos se alteram. Os ensinamentos passam de uns para outros e, depressa, todos sabem usar ossos para combater rivais e caçar, se tornando carnívoros.

Esse momento parece ser o começo da raça humana. Com o tempo, a complexidade aumenta mas a lógica se mantem: a humanidade utiliza instrumentos para sobreviver e prosperar.

Explicação do filme 2001 Uma Odisseia no Espaço.

Uma pista sobre esta explicação é dada no próprio filme, quando vemos o osso rodando no ar e, logo depois, uma nave de formato parecido atravessando o espaço.

A famosa passagem é apontada como um exemplo de montagem intelectual, algo que ocorre quando duas imagens que à partida não se relacionam surgem unidas e ganham um sentido novo.

O final de 2001: Uma Odisseia no Espaço continua sendo, no entanto, a parte que causa mais estranheza entre o público. Sozinho na nave, quando Dave se aproxima de um monólito que está em órbita, embarca em uma aventura surrealista.

Do outro lado do turbilhão de luzes e cores, o astronauta vai parar a um quarto onde, em breves momentos, assistimos ao seu envelhecimento e posterior morte. No último fôlego, Dave vê o monólito diante da sua cama.

Logo em seguida, o homem morre e o seu espírito parece ascender, envolto em energia. No meio do espaço, olhando a Terra, ele se torna um embrião que erradia luz e aparenta ser uma forma mais evoluída da espécie humana.

Assim como um monólito despertou capacidades nos símios da Terra, conduzindo a espécie à evolução, o outro conseguiu levar a humanidade ainda mais longe, criando uma nova forma de vida.

Quando questionado sobre o sentido do filme, Kubrick declarou à revista Playboy:

Quando você pensa nos gigantescos avanços tecnológicos que o homem fez em alguns milênios - menos de um microssegundo na cronologia do universo - você pode imaginar o desenvolvimento evolutivo que as formas de vida mais antigas teriam? (...) Suas potencialidades seriam ilimitadas e sua inteligência inacessível aos humanos.

2001: Uma Odisseia no Espaço, o livro

O clássico de ficção científica foi parcialmente inspirado no conto A Sentinela (1951), de Arthur C. Clarke. No texto original, há uma espécie de pirâmide que é descoberta na Lua. O objeto teria sido enviado por alienígenas avançados que previam a existência de vida inteligente no planeta Terra.

Capa do livro 2001: Uma Odisseia no Espaço

Clarke colaborou com Kubrick na elaboração do roteiro; enquanto isso, ele também escreveu o romance homônimo que foi lançado logo depois do filme.

Após a primeira obra da saga, o autor também publicou os livros 2010: Odyssey Two (1982), 2061: Odyssey Three (1987) e 3001: The Final Odyssey (1997).

Poster e ficha técnica do filme

Poster do filme 2001: Uma Odisseia no Espaço.

Título

2001: A Space Odyssey (Original)
2001: Uma Odisseia no Espaço (Brasil)

Ano 1968
Direção Stanley Kubrick
Duração 148 minutos
Gênero

Ficção científica
Mistério

País de origem Estados Unidos da América

Cultura Genial no Spotify

A trilha sonora de 2001: Uma Odisseia no Espaço é um dos aspectos mais imponentes e arrepiantes do longa-metragem. Se você é fã de música clássica ou quer se sentir épico durante as tarefas do cotidiano, aperte o play:

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Carolina Marcello
Carolina Marcello
Mestre em Estudos Literários, Culturais e Interartes e licenciada em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Apaixonada por leitura e escrita, produz conteúdos on-line desde 2017, sobre literatura, cultura e outros campos do saber.