7 principais artistas do renascimento e suas obras de destaque


Laura Aidar
Laura Aidar
Arte-educadora, fotógrafa e artista visual

O renascimento, que vai do século XIV ao XVII, foi um período de grande efervescência cultural na Europa e cenário de grandes mestres da arte, como Leonardo da Vinci, Michelangelo, Rafael e Ticiano.

O papel desses artistas renascentistas foi essencial para que os valores e ideias da época (como a valorização do homem e da ciência) fossem transmitidos para o público de maneira impactante e harmoniosa.

Para tanto, eles se valeram de recursos como a simetria, equilíbrio, perspectiva e a inspiração no ideal de beleza clássico da cultura greco-romana.

1. Leonardo da Vinci (1452-1519)

Leonardo da Vinci pode ser considerado o mais célebre artista do renascimento italiano. Foi o que se chama de polímato, uma pessoa com diversas habilidades e conhecimentos em campos variados da arte e da ciência.

Sua busca pelo conhecimento científico e a criação de obras de arte de extrema beleza e perfeição o elevam ao status de gênio, sendo até mesmo difícil compreender como tamanha excepcionalidade era possível.

retrato de Leonardo da Vinci exibe homem de perfil com barba longa e boina
Retrato de Leonardo da Vinci atribuído a Cosomo Colombini

Foi aprendiz de um artista conhecido chamado Andrea del Verrochio, onde aprendeu técnicas de pintura e escultura, perspectiva e composição cromática.

Da Vinci tinha sede de conhecimento e buscava as respostas para suas indagações de maneira prática, investigando através de experimentos, não apenas por meios acadêmicos.

Assim, buscando maior compreensão sobre o corpo humano, dissecou mais de trinta corpos (inclusive realizando estudos sobre o crescimento de fetos no útero), o que lhe permitiu retratar com perfeição a figura humana

Realizou muitas pesquisas em áreas como engenharia, arquitetura, urbanismo, hidráulica, matemática, geologia e química. Entretanto, foi nas artes que teve maior destaque.

Seus estudos ambicionavam adquirir mais informações e domínio da natureza para que realizasse sua arte de maneira mais consistente.

Dessa forma, o artista ganhou enorme projeção e reconhecimento na renascença, pois nessa época a valorização da razão, da ciência e do ser humano estava em evidência, o que era mostrado em seu trabalho.

Da Vinci morreu em 1519, na França, com 67 anos. Pode-se dizer que foi um gênio incompreendido, apesar do imenso reconhecimento.

Mona Lisa (La Gioconda, originalmente), data de 1503 e é a obra mais famosa de Leonardo da Vinci, integrando o acervo do Museu do Louvre, na França. A tela, de dimensões reduzidas (77 x 56 cm), exibe a imagem de uma moça da região de Florença.

Mona Lisa, de Leonardo da Vinci, retrata jovem com as mãos no colo e sorriso enigmático
Mona Lisa (1503), de Leonardo da Vinci

O trabalho impressiona por conta de seu realismo, harmonia e atmosfera misteriosa. A jovem possui uma feição bastante intrigante que já foi objeto de estudo de muitos pesquisadores, preocupados em investigar quais seriam as emoções exibidas na tela.

A mulher é retratada com extrema harmonia e equilíbrio, simbolizando ao mesmo tempo o enigma da existência humana. Por isso, essa é considerada a maior obra de arte renascentista, visto que no período essas características eram muito valorizadas.

A técnica utilizada pelo artista foi o sfumato (desenvolvida por ele), na qual os degradês de luz são feitos suavemente, conferindo maior fidelidade ao efeito de profundidade. Mais tarde, tal método será utilizado também por outros artistas.

2. Michelangelo Buonarroti (1475-1564)

O italiano Michelangelo Buonarroti é também um dos maiores nomes do renascimento no Cinquecentto, última fase da Renascença, ocorrida a partir de 1500.

retato de Michelangelo, de 1522, exibe homem de perfil e turbante branco na cabeça
Retrato de Michelangelo pintado por Giuliano Bugiardusi em 1522

Foi um artista importante para o período, pois pode traduzir em sua arte toda a sensibilidade e destreza na representação do ser humano.

O fato fica evidente nas palavras de Giorgio Vasari, outro artista dessa época:

A ideia deste homem extraordinário era compor em função do corpo humano e de suas proporções perfeitas, na diversidade prodigiosa de suas atitudes e na totalidade de paixões e exaltações da alma.

Sua carreira artística começou cedo. Aos treze anos era aprendiz do mestre Domenico Ghirlandaio, que lhe passou noções técnicas da pintura de afrescos e de desenho. Entretanto, o curioso artista buscou inspiração ainda em outros nomes, como Giotto, Massaccio e Donatello.

Michelangelo, assim como da Vinci, se dedicou também a pesquisar a anatomia humana, chegando a analisar cadáveres e desenhar a partir de suas observações. Tornou-se profundo conhecedor do corpo, reproduzindo desenhos e esculturas de pessoas em ângulos inusitados com perfeição.

Produziu trabalhos em diversas linguagens artísticas, como a pintura, a escultura e a arquitetura, sendo considerado tão talentoso que foi apelidado de O Divino.

Michelangelo teve uma vida longa e faleceu em 1564, aos 88 anos. Sua sepultura encontra-se na Igreja da Santa Cruz de Florença, na Itália.

Uma das obras de maior destaque e que evidencia a destreza de Michelangelo na representação das figuras humanas é Pietà.

A escultura foi feita em 1499 em mármore e tem dimensões de 174 x 195 cm, podendo ser vista na Basílica de São Pedro, no Vaticano.

escultura Pietà, de Michelangelo, retrata Maria com Jesus Cristo morto em seus braços
Pietà (1499), de Michelangelo

Aqui, a cena exibida é a do momento em que Maria segura seu filho Jesus, já sem vida, nos braços. Os corpos são mostrados com exatidão.

O artista conseguiu transformar o rígido mármore em representações de músculos, veias e expressões faciais de maneira impressionante e harmônica.

Outra característica notável no trabalho é a composição em formato de pirâmide, comum em obras na renascença.

Por isso, a obra é uma das mais conhecidas dele, e ao lado de Davi e dos afrescos da Capela Sistina, tornou-se um ícone da cultura renascentista feita pelas mãos do mestre.

3. Rafael Sanzio (1483-1520)

Rafael Sanzio foi um artista que demonstrou seu talento quando ainda estudava na oficina do famoso mestre Pietro Perugino, na região italiana de Úmbria.

Foi um artista que desenvolveu com grande sucesso algumas características da pintura renascentista, como o equilíbrio das formas, cores e composição, vendo na simetria um ponto importante a ser trabalhado.

Rafael Sanzio
Rafael Sanzio em autorretrato de cerca de 1506

Por volta de 1504, chega a Florença, onde Michelangelo e Da Vinci haviam causado grandes transformações artísticas. Rafael, porém, não se intimidou, e aprofundou seus conhecimentos em pintura.

O artista ficou conhecido por pintar muitas imagens da Virgem Maria (as Madonas). Essas telas possuem doçura e espontaneidade, assim como era a personalidade do pintor.

Em dado momento, Rafael foi convidado a ir para Roma e lá realizou muitos trabalhos para o Vaticano, a pedido do papa Júlio II, e posteriormente de Leão X.

Rafael Sanzio faleceu em 1520, aos 37 anos, no dia de seu aniversário, em 6 de abril.

Uma das obras que mais se destacam em sua produção é A Escola de Atenas (1509-1511). O painel de 770 x 550 cm, foi uma encomenda e encontra-se no Palácio do Vaticano.

A escola de Atenas, trabalho do renascentista Rafael Sanzio
A escola de Atenas (1509-1511), de Rafael

A cena mostra um local onde estão presentes diversas personalidades da intelectualidade e filosofia grega, como Platão e Aristóteles, o que evidencia a valorização da cultura clássica presente no renascimento.

Outro ponto importante nessa obra é a maneira como o ambiente foi exibido, retratando grande domínio nas noções de perspectiva e profundidade.

Para saber mais sobre o artista, leia: Rafael Sanzio: principais obras e biografia.

4. Donatello (1386?-1466)

Donatello, cujo nome de batismo era Donato di Niccoló di Betto Bardi, foi um artista da região de Florença, considerado um dos mais célebres escultores de sua época.

Foi também responsável por importantes transformações artísticas no período Quatrocentto (século XV), pois afastava-se das características da arte gótica, comum no medievo.

escultura retratando o artista Donatello
Escultura representando Donatello, localizada na Galleria degli Uffizi, Itália

Através de seus trabalhos é possível observar o enorme senso imaginativo de Donatello, assim como sua capacidade de transmitir a ideia de movimento na escultura, ao passo que se esta se mantém firme e vigorosa.

Realizou muitas estátuas de santos e figuras bíblicas, inserindo nelas uma atmosfera humana, como era próprio do renascimento.

Trabalhou com materiais como mármore e bronze, produzindo obras que primam pela excelência na representação do corpo humano e dos gestos.

Conquistou reconhecimento durante a vida e morreu em 1466 em Florença, onde está sepultado.

Uma de suas obras mais notáveis é David, feita em bronze entre 1444 e 1446. A peça representa a passagem bíblica em que David executa o gigante Golias.

Escultura feita em bronze do artista Donatello retratando o herói David
David (1446), de Donatello

Esse foi o primeiro trabalho exibindo a nudez depois de um período de mil anos, inspirado pela arte clássica greco-romana. Na obra, David é retratado como um jovem nu que carrega uma espada e uma pedra em cada uma das mãos e tem a cabeça de seu inimigo aos seus pés.

Donatello utiliza na estátua um recurso chamado de contrapposto, que consiste em colocar a figura apoiada em um dos pés, enquanto o peso é equilibrado no resto do corpo. Tal artifício garante maior harmonia e naturalidade à escultura.

5. Sandro Boticcelli (1446-1510)

O florentino Sandro Boticcelli foi um importante artista do século XV que conseguiu transmitir em suas telas uma aura harmônica e graciosa.

retrato de Sandro Boticcelli
Esse é provavelmente um autorretrato de Boticcelli feito na obra Adoração dos Magos (1485)

Por meio da representação de cenas bíblicas ou mitológicas, o pintor revelou seu ideal de beleza, inspirado na cultura clássica da antiguidade.

As figuras por ele retratadas possuem a beleza de divindades combinadas com certa melancolia.

O nascimento de Vênus (Nascita di Venere) é uma das telas onde podemos perceber essas características, sendo talvez a de maior destaque de Boticcelli.

Quadro O nascimento de Vênus, de Boticcelli, representa uma jovem nua em uma concha
O nascimento de Vênus (1484), de Boticcelli

A obra foi concebida em 1484, tem 172,5 x 278,5 cm e integra o acervo da Galleria degli Uffizi, na Itália. Nela está retratada a cena mitológica do surgimento da deusa do amor, Vênus, que emerge de uma concha enquanto cobre seu sexo com os cabelos.

O trabalho foi uma encomenda de um rico mecenas da família Médici e exibe a jovem em uma posição serena, sendo recebida com uma chuva de flores por entidades aladas e um moça que a oferece um manto cor-de-rosa.

Podemos observar no quadro graciosidade e leveza, que transparecem por meio de figuras jovens e belas. A beleza é tão presente que quase não se nota algumas falhas em termos de composição corporal, como o pescoço alongado e os ombros ligeiramente caídos da figura principal.

6. Ticiano (1485-1576)

Ticiano foi um dos consagrados pintores renascentistas venezianos. Sua cidade de origem é Cadore, mas ainda criança foi viver em Veneza e lá aprendeu os segredos de pintar.

Pintura retratando o artista renascentista Ticiano
Autorretrato de Ticiano, feito em 1567

Teve grande fama durante a vida, conhecendo a arte da mistura de cores com a mesma habilidade que o seu contemporâneo Michelangelo conhecia o desenho.

Usava as cores com sabedoria, conseguindo uma coerência e harmonia na composição através delas.

Aliás, a composição no trabalho de Ticiano é algo a ser percebido como uma ruptura na arte que vinha sendo produzida. O pintor passou a inserir os elementos nos quadros de forma surpreendente e inusitada.

Teve reconhecimento também devido aos seus retratos e sua capacidade de transmitir a sensação de vivacidade das pessoas, exibidas com olhares expressivos e poderosos.

Sua vida foi longa, falecendo em 1576 em Veneza, na Itália, vítima da peste que assolava a Europa naquele momento.

A assunção da Virgem é uma de suas obras de destaque, pois foi com ela que Ticiano inicia uma trajetória mais independente da influência de outros mestres, como Giorgione, sua grande referência.

A assunção da Virgem, de Ticiano, mostra Maria subindo aos céus com apóstolos embaixo.
A assunção da Virgem (1518), de Ticiano

O grande painel foi pintado na Basilica di Santa Maria Gloriosa dei Frai em 1518 e exibe a Virgem Maria subindo aos céus enquanto os apóstolos a observam.

A luz que banha a cena é de uma beleza celestial e toda a composição é feita de modo a direcionar o olhar do público de baixo para cima.

7. Tintoretto (1518-1594)

Jacopo Robusti ficou conhecido como Tintoretto e foi um pintor da segunda metade do século XV, de um movimento conhecido como Maneirismo.

Autorretrato de Tintoretto
Autorretrato de Tintoretto (1588)

O artista percebeu um desgaste na maneira como as formas e cores eram apresentadas até então, com simplicidade e beleza, mas ao seu ver, sem muita emoção.

Assim, trouxe uma carga mais dramática e expressiva às cenas que se propôs retratar, em sua maioria bíblicas e mitológicas.

Usava para tanto, recursos como o contraste marcante entre luz e sombra, gestos e movimentos excêntricos e cores menos suaves. Seu objetivo era criar tensão e emoção no espectador, não se preocupando em excesso com a técnica.

Em A última ceia podemos ver o estilo de Tintoretto de forma evidente. A obra mostra a cena bíblica em que Jesus realiza a última refeição na companhia de seus discípulos e data de 1594, seu último ano de vida.

A última ceia, de Tintoretto, é uma tela sombria que retrata Jesus comendo junto aos seus discípulos
A última ceia (1594), de Tintoretto

Essa composição tem grandes dimensões de 3,65 m x 5,69 m, localizando-se em Veneza, na Basílica de San Giorgio Maggiore.

As cores utilizadas pelo pintor são escuras e revelam uma atmosfera sombria, mística e dramática. Podemos dizer que o jogo cromático é um elemento essencial para a compreensão do quadro.

Além disso, as personagens apresentam uma aura luminosa em torno de seus corpos, sobretudo Jesus, o que proporciona grande contraste e impacto visual. A mesa da ceia é colocada na diagonal, trazendo um uso inusitado da perspectiva tradicional.

Os elementos que se mostram no quadro serão mais tarde aprofundados no movimento que vem a seguir, o barroco.

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Referências bibliográficas:

  • GOMBRICH, E. H. A história da arte. Rio de Janeiro: LTC - Livros Técnicos e Científicos.
  • PROENÇA, Graça. História da Arte. São Paulo: Editora Ática.
Laura Aidar
Laura Aidar
Arte-educadora, artista visual e fotógrafa. Licenciada em Educação Artística pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e formada em Fotografia pela Escola Panamericana de Arte e Design.