A Última Ceia de Leonardo da Vinci: análise da obra


Laura Aidar
Revisão por Laura Aidar
Arte-educadora, fotógrafa e artista visual

A Última Ceia é uma pintura sobre parede realizada por Leonardo da Vinci entre 1494 e 1497.

Está localizada no refeitório do Convento de Santa Maria Delle Grazie, em Milão, Itália.

A composição pictórica mede 4,60 por 8,80 metros e é uma das obras mais famosas do mundo e das mais conhecidas do artista, assim como uma das mais estudadas e copiadas da história da arte.

A Última Ceia
A Última Ceia, pintada por Da Vinci entre 1494 e 1497

Análise da Pintura

Interpretação

A Última Ceia, também conhecida como Santa Ceia, representa o momento bíblico em que Cristo compartilha sua última refeição com os discípulos. O instante mostrado na pintura é aquele em que Jesus acaba de afirmar que "um de vós me há-de trair", e os discípulos estarão perguntando "Sou eu, Senhor?".

Essa teoria fundamenta-se na agitação que parece ter tomado os apóstolos que, por gestos dramáticos e expressões, demonstram apreensão e inquietação.

Em contraste com os discípulos, Cristo apresenta uma atitude passiva, afirmando com a sua postura: "Tomai, comei; isto é o meu corpo." e "Bebei dele todos; porque este é o meu sangue".

Percebemos isso pois uma das mãos aponta para o pão e a outra faz referência ao cálice de vinho. Na verdade, o cálice (ou Santo Graal) está ausente na cena, o que é visto por alguns estudiosos como uma provocação à Igreja e ao papa, na época Alexandre VI, que não era benquisto por Da Vinci.

Esta pintura é uma composição equilibrada, onde o gesto tem uma relevância grande, pois é através dele que as emoções são transmitidas.

Esta importância do gesto na construção da narrativa pictórica para Leonardo ficou registrada em um dos seus livros de apontamentos. Nesse texto ele afirma que o objetivo principal da pintura, e também o mais difícil de conseguir, é retratar “a intenção da alma humana” através dos gestos e movimentos dos membros.

A arquitetura serve apenas de apoio às personagens, que são o foco principal da composição. Assim, em vez de os elementos arquitetônicos pintados se sobreporem às figuras, eles ajudam a destacá-las, atribuindo profundidade.

O ponto de fuga central em termos de perspectiva é Cristo, que ao centro do quadro se encontra emoldurado pela abertura principal onde é possível observar a paisagem. Acima dessa abertura encontra-se um enfeite arquitetônico que funciona simbolicamente como auréola sobre sua cabeça.

Detalhe de Cristo
Detalhe de Cristo em A última ceia

Técnica

Para a realização desta pintura, Leonardo não optou pela tradicional técnica de afresco (de têmpera de ovo sobre reboco úmido), mas decidiu experimentá-la com um ligante à base de óleo sobre gesso seco.

Esta inovação talvez tenha ocorrido pois ele queria dar um aspecto específico à pintura, com diferentes tonalidades, jogar com o claro/escuro, como era sua característica.

Mas também pode ter sido uma escolha influenciada por ele não dominar completamente a técnica de afresco, assim como o fato de o óleo permitir pintar em camadas e assim repensar a obra enquanto se realizava.

De qualquer maneira, a verdade é que essa escolha se revelou catastrófica para a conservação da pintura, pois pouco tempo após terminada ela começou a se deteriorar.

Desde então a obra sofreu incontáveis intervenções e repinturas, além de danos, alguns deles ocorridos no século XIX, quando os soldados de Napoleão usaram o refeitório como estábulo.

Outra danificações ocorreram com os bombardeamentos de 1943, que acabaram deixando a obra exposta às agressões dos elementos naturais.

Assim, se aliarmos a característica frágil da obra aos acontecimentos, considera-se um quase milagre que ainda hoje seja possível contemplá-la.

Aproveite para ler também o artigo Leonardo da Vinci: obras fundamentais.

Curiosidades sobre A última Ceia

As constantes restaurações que a obra sofreu ao longo dos séculos levaram também a algumas descobertas sobre a pintura.

Uma delas é o detalhe mostrando que entre a comida disposta na mesa estão representadas enguias (e não apenas vinho e pão como era comum), algo que se deve à popularidade desse prato na época.

Existem também alguns registros que apontam alguns modelos usados para a representação das figuras. Supõe-se que um sujeito chamado Alessandro Carissimo de Parma serviu de modelo para as mãos de Cristo.

Há ainda indicações que um homem de nome Giovanni Conte tenha sido o modelo para o rosto de Cristo. E sendo que o único Giovanni Conte de que há registro foi um militar, é curioso pensar que a figura calma e passiva de Jesus tenha sido pintada à imagem de um militar.

Uma das teorias mais famosas sobre uma das figuras da pintura, e que gerou um livro (Dan Brown) e um filme, é a de que a pessoa sentada à direita de Cristo seria Maria Madalena.

Na verdade, considera-se que seria São João Evangelista, o discípulo mais jovem e que Jesus amava. O homem estava sempre ao seu lado e aqui está representado de forma andrógina (figura de gênero indefinido), uma característica da pintura de Leonardo.

esboço da obra A última ceia
Estudos e esboços dos discípulos representados na pintura, realizados entre 1495 e 1497

Apesar de várias especulações e teorias da conspiração, não se sabe ao certo quais as mensagens subliminares na composição. Porém, existem detalhes curiosos e interessantes, como o fato das tapeçarias que adornam as paredes da arquitetura falsa da pintura serem idênticas à do castelo em Milão.

Também é interessante ter em consideração que os apóstolos são inspirados em muitos dos amigos e contemporâneos de Leonardo que também frequentavam a corte de Milão.

Esta é também a obra que concede fama e glória a Leonardo, nesse momento com mais de 40 anos de idade.

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Laura Aidar
Revisão por Laura Aidar
Arte-educadora, artista visual e fotógrafa. Licenciada em Educação Artística pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e formada em Fotografia pela Escola Panamericana de Arte e Design.
Sónia Cunha
Edição por Sónia Cunha
Licenciada em História da Arte pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto (2003), e em Conservação e Restauro pelo Instituto Politécnico de Tomar (2006).