As 10 obras imperdíveis de Roy Lichtenstein


Rebeca Fuks
Rebeca Fuks
Doutora em Estudos da Cultura

Roy Lichtenstein (1923-1997) foi um dos grandes nomes da pop art. Fazia parte do projeto estético de Lichtenstein a elevação do lugar-comum, o gesto de lançar luz sobre o inicialmente não-considerado.

O artista plástico norte-americano empregou em muitas das suas telas a técnica pontilhista, o desejo era que as obras parecessem mecanicamente reproduzidas. Os pontos Ben Day, como eram chamados, foram frequentemente utilizados em processos de impressão em massa. Outra característica particular do pintor foi imitar detalhadamente a aparência das imagens reproduzidas comercialmente.

A produção artística de Roy Lichtenstein é conhecida por fazer referência a personagens da cultura de massa e por ter um estilo similar ao encontrado nas histórias em quadrinhos.

Conheça agora as dez obras mais consagradas de um dos maiores expoentes da pop art!

1. Whaam!

Criado em 1963, a obra Whaam! é uma tela feita com tinta acrílica e óleo baseada em uma imagem publicada no ano anterior na revista em quadrinhos All American Men of War, da DC Comics. Lichtenstein foi celebrado por utilizar imagens bastante comerciais como as presentes nos quadrinhos e nos anúncios e que, via de regra, alcançavam o grande público.

Essa peça particular - Whaam! - ficou conhecida como um dos ícones da pop art.

Descubra abaixo a imagem que serviu de influência para a obra do pintor norte-americano:

Imagem presente na revista All American Men of War (da DC) que serviu de inspiração para a composição de Whaam!
Imagem presente na revista All American Men of War (da DC Comics) que serviu de inspiração para a composição de Whaam!

Lichtenstein se interessava por conteúdos que fossem relacionados ao amor ou à guerra sobretudo se fossem retratados de uma maneira mais fria e impessoal. Esse é o caso de Whaam!, que trata de uma ação militar.

Na parte esquerda do trabalho vemos um avião militar disparando um foguete e, na parte direita, vemos o alvo a ser atingido explodindo em chamas. O nome do trabalho é em homenagem à onomatopeia que figura na tela.

Uma curiosidade: Whaam! está, de certa forma, relacionada à vida do artista. Lichtenstein serviu no exército americano na Segunda Guerra Mundial tendo feito exercícios antiaéreos. O tema da guerra - e especialmente da aviação militar - era, por esse motivo, caro ao artista. Whaam! pertence a uma série de trabalhos que Lichtenstein dedicou à guerra, as obras foram produzidas entre 1962 e 1964.

Whaam! foi exibido pela primeira vez no ano de 1963, na Galeria Leo Castello (Nova Iorque). Desde 1966 a obra pertence ao acervo da Tate Modern (Londres).

2. Drowning Girl

Drowning Girl
Milão, Itália - 02 de fevereiro de 2021: Arte de Roy Lichtenstein em selo postal. Shutterstock.com/spatuletail

O óleo sobre tela Drowning Girl foi pintado em 1963 e faz uso das convenções clássicas do universo dos quadrinhos (como, por exemplo, o uso da bolha de pensamento que traduz o que se passa no imaginário da protagonista).

Drowning Girl foi inspirado em Run for Love, uma história publicada em quadrinhos pela DC Comics no ano de 1962 na revista Secret Love edição 83.

Na história real, o namorado da jovem aparece se afogando ao fundo, a imagem, no entanto, foi editada por Lichtenstein de modo a apagar o afogamento e o namorado, dando assim protagonismo à mulher em sofrimento. Confira abaixo a capa da revista que serviu de inspiração ao trabalho:

Conhecida pelo seu grau de melodrama embutido, Drowning Girl é das telas pioneiras de Lichtenstein. Posteriormente o pintor viria a investir em novos trabalhos representando mulheres em situações trágicas.

A tela acima é das mais representativas do movimento pop art e foi feita com técnica pontilhista. Drowning Girl pertence desde 1971 ao acervo permanente do Museu de Arte Moderna.

3. Oh, Jeff...I Love You, Too...But...

O trabalho acima, pintado em 1964, foi inspirado nas histórias em quadrinhos. O nome escolhido para batizar a tela é o texto que aparece na bolha de diálogo presente na imagem.

A protagonista da obra é retratada em close e segura o telefone com as duas mãos, deixando transparecer um misto de ansiedade e drama.

Lichtenstein faz uma espécie de paródia de muitos quadrinhos românticos que eram populares na época por trazerem a tona conflitos sentimentais que o grande público já sabia que seriam resolvidos ao final da revista.

Oh, Jeff...I Love You, Too...But... ficou muito conhecido por ser dos trabalhos que reúne as características centrais de Lichtenstein. Repare, por exemplo, no uso da técnica pontilhista. A imagem é cortada muito perto do rosto da mulher, mesmo eliminando parte da cabeça, e a bolha da fala se encontra comprimida e cortada na lateral direita. Essa concentração aumenta o sentimento de tensão e denuncia o melodrama presente na situação.

4. Look Mickey

Look Mickey foi criado em 1961 e tem como referência o livro infantil Pato Donald: Achados e Perdidos (1960). Na imagem figuram apenas dois personagens - Pato Donald e Mickey Mouse - pescando, em um píer.

A ilustração, que foi retirada de um dos livros do seu filho recém-nascido, carrega traços de humor porque Pato Donald comunica ao amigo que pescou um grande peixe quando, na verdade, o anzol ficou enganchado na própria roupa. Mickey, ao se dar conta da situação, ri tapando a boca para não fazer barulho, zombando do amigo.

A escolha de Lichtenstein de reproduzir uma cena de um livro infantil ao invés de criar uma imagem original foi por muitos considerada como um afronto a arte. A crítica acusava o pintor de "falsificar" imagens comerciais, muito embora as tais imagens originais tenham sido sempre alteradas, muitas vezes recebendo uma injeção de humor e de ironia.

Look Mickey pertence ao acervo permanente da Galeria Nacional de Arte (Washington).

5. Masterpiece

Masterpiece foi concebida em 1962 e traz dois personagens - um homem e uma mulher. Ela olha para a tela (que o espectador não tem acesso) e constata o sucesso do trabalho.

Da frase dita pela bela loira é retirada a palavra que dará nome ao título do quadro (Masterpiece). Brad, por sua vez, é um personagem que aparece em outras telas de Lichtenstein. A respeito da escolha do nome do personagem, o pintor afirmou certa vez em entrevista que Brad soava clichê e heroico, por isso seria um protagonista perfeito para a pop art que pretendia estabelecer um vínculo com a cultura de massa.

Masterpiece guarda traços típicos de Lichtenstein: o uso de pontos de Ben Day, o emprego de cores vibrantes e a presença da linguagem visual emprestada do universo dos quadrinhos.

A tela acima é até hoje a mais bem vendida do acervo do pintor norte-americano. Masterpiece foi vendida em janeiro de 2017 por 165 milhões de dólares.

6. Popeye

Popeye foi um óleo sobre tela pintado no verão de 1961 (como se pode observar na lateral esquerda inferior da tela) e tem a sua importância por ter sido das primeiras pinturas pop criadas por Lichtenstein. É dessa época, por exemplo, a reprodução de personagens icônicos como Mickey Mouse.

O personagem Popeye foi "roubado" da chamada "baixa cultura" para ganhar estatuto de obra de arte pelas mãos do pintor norte-americano. Embora mais tarde Lichtenstein viesse a se dedicar a pintar o homem comum, num primeiro momento o artista se voltou para personagens ficcionais facilmente reconhecíveis por todos.

Na tela acima, Popeye luta com seu arqui-inimigo Brutus, que flertava com a sua amada Olívia Palito. Alguns críticos leram na tela o desejo pessoal do pintor de se revoltar contra os pintores expressionistas abstratos. Segundo essa interpretação, Brutus representava os abstracionistas e Popeye era o sinônimo do novo, dos artistas pop.

7. Two nudes

Produzida em 1994, o trabalho acima pertence a um conjunto de pinturas e gravuras de nus femininos que Lichtenstein criou durante os anos 1990. É interessante observar que apenas na maturidade da carreira o pintor norte-americano resolveu investir nesse tema tão caro para a história da arte.

Boa parte das imagens foram feitas com inspiração na história Girls Romance. Nos quadrinhos as personagens aparecem vestidas, Lichtenstein despiu as protagonistas que o interessavam, converteu as imagens em traços mais simples e usou a sua característica técnica pontilhista.

8. Sandwich and Soda

Sandwich and Soda foi uma gravura criada em 1964 reproduzida numa edição de 500 exemplares.

Impressa em plástico, é uma das primeiras estampas pop de Lichtenstein, e a primeira a ser feita em uma superfície diferente de papel. A gravura acima se distingue pelo uso de inovações técnicas e materiais experimentais pelo artista.

O modo de fazer utilizado pelo pintor no trabalho acima estava mais ligado à prática comercial do que às artes plásticas. Screenprinting foi um processo originalmente criado no início do século XX para fabricar etiquetas impressas em bens de consumo. A superfície em si na qual o artista imprimiu a sua imagem não é um papel de impressão tradicional, trata-se de uma folha de acetato sem qualquer ligação com aquilo que era considerado material artístico.

A imagem escolhida para ser representada está diretamente relacionada ao cotidiano da cultura ocidental. O artista trabalha com um estilo realista e simplifica os detalhes dos objetos, reduzindo as suas cores para azul e branco. De leitura fácil, o público vê reproduzido um sanduíche e um refrigerante, que dão nome ao título do trabalho (Sandwich and Soda).

Desde 1996, um dos exemplares da gravura Sandwich and Soda encontra-se na coleção permanente do Tate (Londres).

9. Brushstrokes

Lichtenstein passou a investir na produção de gravuras de forma mais significativa durante a década de 1960. Brushstrokes foi uma gravura criada entre 1965-1966. Durante este período, o artista plástico investiu em uma série de trabalhos que representavam pinceladas ampliadas. O motivo foi retirado da história em quadrinhos intitulada The Painting, publicada em Strange Suspense Stories (outubro de 1964):

Brushstrokes foi feito a partir da técnica pontilhista e procurava provocar os adeptos do expressionismo abstrato. Esses artistas costumavam dizer que a pincelada carregada era um veículo para comunicar diretamente os sentimentos, Lichtenstein, por sua vez, acreditava que

"As pinceladas reais são tão pré-determinadas quanto as pinceladas dos desenhos animados"

O título da tela (Brushstrokes) quer dizer, literalmente, pinceladas. O pintor norte-americano desprezava essa aspiração abstracionista e ridicularizava o fato do grupo se dizer avesso a comercialização.

10. Girl with ball

Girl with ball foi pintada em 1961 e trata-se de um óleo sobre tela inspirado no anúncio feito para um hotel em Pocono Mountains, na Pensilvânia. A pintura de Lichtenstein atualmente faz parte do acervo permanente do MOMA (Nova Iorque).

A imagem original, que serviu de inspiração para o pintor norte-americano, era uma fotografia que acabou por ser pintada, adaptada para a linguagem dos quadrinhos feita com linhas simples e ilustrada com cores fortes:

Anúncio de onde derivou a tela Girl with ball.
Anúncio de onde derivou a tela Girl with ball.

Saiba tudo sobre o movimento Pop Art.

Descubra Roy Lichtenstein

Roy Fox Lichtenstein nasceu no dia 27 de outubro de 1923, em Nova York, filho de um bem sucedido corretor de imóveis e de uma dona de casa entusiasta do universo da cultura. Beatrice Werner Lichtenstein, a mãe de Roy, além de frequentar exposições e concertos (ela mesma tocava piano), fez questão de influenciar os filhos levando-os para o seu universo.

Desde cedo Roy Lichtenstein dava sinais do seu interesse pelo meio artístico: pintava, desenhava, fazia esculturas, tocava piano, era frequentador assíduo de shows de jazz. Em 1940 o jovem ingressou na Escola de Belas Artes da Ohio State University.

Lichtenstein serviu no exército americano durante três anos na Segunda Guerra Mundial.

Durante a década de 1960, nos Estados Unidos, juntou-se a Andy Warhol, Jasper Johns e James Rosenquist e figurou como um dos líderes do movimento pop art. Ele descreveu a pop art como "pintura não 'americana', mas na verdade industrial".

Durante 13 anos Lichtenstein foi professor de arte na Ohio State, na Universidade Estadual de Nova York e na Universidade Rutgers.

Em 1963, abandonou a carreira acadêmica para pintar em tempo integral. Suas peças foram muito inspiradas nas histórias em quadrinhos e tinham a paródia e a ironia como características centrais.

Seu trabalho mais bem sucedido em termos comerciais foi Masterpiece, que acabou por ser vendido por 165 milhões de dólares em janeiro de 2017.

O pintor faleceu no dia 29 de setembro de 1997 aos setenta e três anos.

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Rebeca Fuks
Rebeca Fuks
Formada em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2010), mestre em Literatura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2013) e doutora em Estudos de Cultura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e pela Universidade Católica Portuguesa de Lisboa (2018).