O Pensador de Rodin: análise e significado da escultura


Rebeca Fuks
Rebeca Fuks
Doutora em Estudos da Cultura

A escultura O Pensador (Le Penseur), do artista francês Auguste Rodin, faz parte de uma composição maior chamada A Porta do Inferno, que foi inspirada no poema Divina Comédia, de Dante Alighieri. A obra foi iniciada em 1880, mas só foi totalmente finalizada em 1917.

Antes mesmo da Porta ser terminada, Rodin já havia feito outras versões de O Pensador, incluindo a famosa escultura de 1904.

O Pensador
Escultura O Pensador (Le Penseur) no Museu Rodin, em Paris

Os vários significados da escultura O Pensador

A escultura do Pensador feita por Rodin retrata um homem nu, sentado e apoiando a cabeça em uma das mãos, enquanto a outra descansa sobre o joelho. A pose da figura do Pensador leva à ideia de uma meditação profunda ao mesmo tempo que o corpo forte do homem retratado passa a noção que ele pode vir a tomar uma grande ação.

Há quem diga que O Pensador não procurava representar propriamente Dante Alighieri. Existem diversas teorias em torno da criação: a peça poderia representar o próprio Rodin refletindo sobre o seu trabalho ou até mesmo Adão duvidoso em relação às decisões que tomaria no paraíso.

O fato do Pensador estar posicionado na parte superior do portal faz com que se suscite a dúvida se seria ele uma espécie de juiz espiando o que se passava no inferno ou se seria também um condenado, assim como os outros, as trevas.

Chama a atenção a riqueza de detalhes da obra. Convém reparar, por exemplo, no formato das sobrancelhas e na contração dos pés. O próprio Rodin alertou na ocasião da criação para os detalhes da escultura:

O que faz meu Pensador pensar é que ele pensa não só com o cérebro, mas também com suas sobrancelhas tensas, suas narinas distendidas e seus lábios comprimidos. Ele pensa com cada músculo de seus braços e pernas, com seus punhos fechados e com seus artelhos curvados

É interessante observar também o fato do Pensador estar nu. Uma das explicações possíveis para a nudez da escultura é o fato do artista admirar profundamente o estilo de Michelângelo e dos renascentistas que compunham nus heroicos.

Porque Rodin criou O Pensador?

Auguste Rodin, fascinado com a história contada no livro A divina comédia, já havia criado um Pensador representando Dante Alighieri, autor do livro, no ano de 1880. A escultura, naquela ocasião chamada de O Poeta, estava inserida num portal e ilustrava um homem muito menor do que o tamanho natural, com apenas cerca de 70 cm de altura.

O artista havia recebido a encomenda para esculpir o portal onde O Pensador está inserido no dia 16 de agosto de 1880. Ele ficaria exposto no Cour de Comptes, no Museu de Arte Decorativa (Paris), que havia sofrido um incêndio.

Quem sugeriu como tema do portal o romance de Dante foi o próprio Rodin. A ideia original era que a peça, enorme, tivesse os personagens centrais do livro e o escritor.

A porta do inferno (no original La Porte de l’Enfer) foi concluída após longos anos de trabalho (1880-1917) com o Pensador localizado na parte de cima da criação observando os círculos do Inferno, meditando sobre a sua própria obra.

A cobertura de bronze que o portal atualmente possui não chegou a ser vista pelo próprio Rodin.

porta do inferno
A porta do inferno criada entre 1880 e 1917

O Pensador (originalmente intitulado de O Poeta), fora, portanto, a princípio, apenas parte de uma obra maior.

O Poeta foi rebatizado de O Pensador após os trabalhadores da fundição perceberem que a escultura possuía traços de esculturas de Michelângelo.

A influência da arte italiana renascentista na criação de O Pensador

Em 1875, Rodin fez uma viagem para a Itália onde entrou em contato com as obras dos mestres renascentistas, como Donatello e Michelângelo (1475-1564). Essa viagem foi essencial para a carreira de Rodin e influenciou diversas das suas obras.

Michelângelo, autor de Lorenzo de Medici (1526-1531) e Crouching Boy (1530-1534), foi, de fato, a maior das inspirações de Rodin, que procurava imprimir no Pensador o mesmo carácter heroico das obras do mestre italiano.

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Lorenzo de Medici, feito por Michelângelo entre 1526 e 1531
Crouching boy
Crouching Boy, feito por Michelângelo entre 1530 e 1534

O Pensador faz parte da Porta do Inferno

A Porta do Inferno é uma obra em bronze encomendada pelo Museu de Arte Decorativa (Paris). A porta retrata os principais personagens da Divina Comédia, e o tema foi escolhido pelo próprio Rodin. A obra é composta por mais de cento e cinquenta figuras, que variam de 15 cm até um metro.

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O Pensador na Porta do Inferno

Algumas dessas figuras se tornaram esculturas independentes, incluindo O Pensador.

A Porta do Inferno se encontra na França no Musée Rodin. Somente em 1888, a peça O Pensador foi exibida como obra autônoma, independente do conjunto do portal.

Quando a escultura do Pensador ganhou grandes dimensões e se tornou autônoma

A primeira estátua em grande escala de O Pensador foi terminada em 1902, mas só foi apresentada ao público em 1904.

A escultura foi feita em bronze e tem 1.86 metros de altura. Ela se tornou propriedade da cidade de Paris graças a ação de um grupo de admiradores de Rodin.

O Pensador foi colocado em frente ao Panteão Nacional em Paris no ano de 1906, onde permaneceu até 1922, quando foi transferido para o Musée Rodin, antigo Hotel Biron.

Atualmente há mais de 20 cópias oficiais da escultura espalhadas por diversos museus ao longo do mundo. No Brasil, o Instituto Ricardo Brennand no Recife possui uma réplica da escultura.

O Pensador pertence a qual movimento artístico?

O Pensador é uma obra de arte Moderna. Rodin é considerado pioneiro, um dos pais da escultura moderna.

As suas peças fundaram a modernidade apesar de nunca terem se rebelado contra os grandes mestres clássicos. Nesse sentido, Rodin contraria a definição de Magit Rowell:

Falar da escultura moderna significa portanto evocar uma escultura que rompeu com as tradições anteriores para se ligar resolutamente a um 'presente' que escolhemos situar entre 1900 e 1970.

Rodin assumiu ter bebido em fontes do passado para construir as suas obras.

Já em relação ao método de trabalho, o artista demonstrou ter uma atitude profundamente moderna ao deixar transparecer o processo de como realizou as suas peças, permitindo que o público tivesse acesso, por exemplo, aos vestígios do processo de moldagem.

A sua arte testemunhou o mundo moderno e procurou o reproduzir, dando notícia do que foi viver num período tão importante da história francesa.

Críticos e historiadores da arte também afirmam que o escultor teve uma postura um tanto naturalista para a sua época, no sentido em que a natureza foi a sua maior fonte de inspiração e as suas obras procuravam reproduzi-la com o maior grau de rigor possível.

Rodin era fascinado pelo movimento do corpo humano e, por isso, pedia que os seus modelos agissem com vitalidade e se movimentassem. Ele procurava transpor esses gestos para dentro das esculturas e achava que as emoções podiam ser lidas pela expressão dos corpos.

Onde é possível conhecer pessoalmente O Pensador?

Rodin fez diversas versões de O Pensador. Uma delas se encontra no Museu Rodin, em Paris. Também em Paris existe uma réplica enorme disposta em frente ao Pantheon. Há igualmente uma versão em Meudon, no jardim da casa de Rodin, e uma sobre o túmulo do escultor.

No Brasil temos uma versão disposta no Institulo Ricardo Brennand, em Pernambuco. A peça foi feita utilizando o molde original e atualmente está posicionada na galeria, com acesso restrito.

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O Pensador no Instituto Ricardo Brennand, em Recife

Existe também uma versão nos jardins do curso de Filosofia da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos.

A versão americana foi adquirida em 1930 pelo presidente Nicholas Murray Butler diretamente do Museu Rodin.

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The Thinker na Universidade de Columbia

As técnicas utilizadas por Rodin

Uma das principais inovações do artista francês reside nas técnicas usadas para a escultura. Ao contrário do tradicional, ele pedia a seus modelos para andarem pelo atelier, dessa forma ele conseguia captar movimentos, mesmo a sua obra sendo estática.

Num primeiro momento Rodin fazia um esboço em argila, quando o esboço estava pronto ele passava a escultura para gesso ou bronze, mudando as suas medidas conforme o plano para a obra final.

Rodin continuava a trabalhar nas suas obras mesmo quando o molde de gesso estava pronto, uma prática incomum para a época. O molde de gesso era geralmente transformado numa escultura de bronze ou mármore.

Quem foi Auguste Rodin

Nascido em 12 de novembro 1840, em Paris, Auguste Rodin foi dos mais importantes escultores franceses. Aos 13 anos, demonstrando já um interesse profundo pelas artes, entrou na escola de desenho.

O escultou tinha interesse em cursar o ensino formal e, por isso, se candidatou a Escola de Belas Artes, em Paris. Foi recusado por três vezes e acabou desistindo da empreitada acadêmica. Tornou-se um autodidata trabalhando por conta própria e ganhou a vida nos primeiros anos fazendo peças decorativas.

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Rodin flagrado no momento de uma criação.

Rodin começou a carreira profissional ao lado do escultor Albert Carrier-Belleuse. A sua primeira tentativa de participar de uma exposição oficial aconteceu em 1864, quando teve rejeitada a sua peça intitulada O homem com o nariz partido.

Sete anos mais tarde, ao lado de Albert, Rodin começou a trabalhar na decoração de monumentos públicos em Bruxelas.

Rodin viveu durante um período de forte ebulição artística, o artista teve como contemporâneos Monet e Edgar Degas.

Em termos de materiais, o escultor foi um entusiasta da diversidade: trabalhou com bronze, argila, mármore e gesso.

Morreu em 17 de novembro de 1917, em Meudon, aos setenta e sete anos.

Retrato de Rodin.
Retrato de Rodin

Saiba mais sobre o Museu Rodin

Localizado em Paris, o Musée Rodin foi inaugurado em 1919 no Hôtel Biron. Rodin usou o local como oficina a partir de 1908.

Posteriormente o artista doou a suas obras além da sua coleção particular de outros artistas para a prefeitura de Paris, com a condição que elas fossem expostas no Hôtel Biron.

As suas principais esculturas como O Pensador e a Porta do Inferno se encontram atualmente no Musée Rodin, boa parte das esculturas estão expostas no jardim.

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Rebeca Fuks
Rebeca Fuks
Formada em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2010), mestre em Literatura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2013) e doutora em Estudos de Cultura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e pela Universidade Católica Portuguesa de Lisboa (2018).