Madame Bovary: resumo e análise do livro

Rebeca Fuks
Rebeca Fuks
Doutora em Estudos da Cultura
Tempo de leitura: 8 min.

Madame Bovary, escrito em 1857 por Gustave Flaubert (1821-1880), é uma das maiores obras da literatura francesa.

O livro, considerado realista, critica a idealização do amor e traz temas polêmicos à tona como o adultério e o suicídio.

(Atenção, esse artigo contém spoilers)

Resumo do livro Madame Bovary

A apresentação de Charles Bovary

Apesar do livro carregar no título o nome da sua protagonista, a obra de Flaubert se inicia com uma descrição do médico Charles ainda jovem, antes de conhecer Emma.

Pressionado pela mãe, o rapaz se forma em Medicina e se casa com Héloise Dubuc, uma moça de boa e endinheirada família, de quem não gostava muito.

O encontro com Emma

Foi atendendo um paciente - o sr. Rouault, no campo, em Bertaux - que Charles conheceu Emma, que era órfã de mãe e a única filha do senhor. Com a morte da mãe Emma ficou responsável por tratar da casa.

Rouault devia ser um lavrador dos mais abastados. Havia partido a perna na véspera, à noite, quando regressava de uma festa de Reis em casa de um vizinho. A mulher falecera havia dois anos. Vivia só com a sua menina, que o ajudava no governo da casa.

Encantado com a menina, Charles foi fazendo cada vez mais visitas ao doente e acabou por se aproximar de Emma, que era jovem, bem educada, bela e solteira.

A aproximação com Emma

Héloise, a esposa do médico, começou a perceber as frequentes visitas do marido e, ao se informar sobre o doente, percebeu que na casa havia uma jovem que podia interessa-lo. Desconfiada, Héloise reparou que Charles voltou a propriedade algumas vezes, mais do que era necessário:

Em vez de voltar aos Bertaux três dias depois, como prometera, fê-lo logo no dia seguinte e depois duas vezes por semana, regularmente, sem contar as visitas inesperadas que fazia de vez em quando, como que por engano.

Enciumada, Héloise pediu para que Charles não voltasse a visitar o doente e o marido, obediente, acatou o pedido.

Pouco tempo depois, o pai de Héloise faleceu, o advogado levou os bens da família e o casal começou a entrar em crise, especialmente pela interferência da família Bovary na relação. Depois de uma série de brigas com a sogra, Héloise desmaiou e morreu.

Já viúvo, após cinco meses sem visitar os Bertaux, Charles voltou a frequentar a casa de Emma e do pai e conseguiu se aproximar da família. Algum tempo mais tarde, os dois decidiram se casar e Charles fez o pedido ao sogro, que prontamente aceitou os planos do jovem casal.

Emma corou quando o viu entrar, ao mesmo tempo que disfarçava, procurando mostrar-se risonha. O Tio Rouault beijou o futuro genro. Adiaram qualquer conversa sobre as questões de interesse, tinham, aliás, muito tempo para isso, visto que o casamento não convinha que se realizasse antes de terminar o luto de Charles, isto é, da Primavera do ano seguinte. O Inverno passou-se nessa expectativa.

Após o período do luto, Charles e Emma se casaram.

A crise na relação entre Charles e Emma

Emma desde a adolescência devorava livros românticos e idealizava uma relação como a das obras que lia: avassaladora.

Depois de se casar com Charles, Emma se percebe entediada com a rotina da vida doméstica e anseia por aventura e frio na barriga.

O cotidiano pacato e a dúvida se havia casado com o homem certo - seu par perfeito, aquele sujeito que realmente era capaz de a fazer feliz - fez com que Emma caísse em profunda melancolia.

Antes de casar, Emma julgara sentir amor; mas a felicidade que deveria resultar desse amor não aparecera, pelo que se deveria ter enganado, pensava ela. Procurava agora saber o que se entendia, ao certo, nesta vida, pelas palavras felicidade, paixão e êxtase, que, nos livros, lhe haviam parecido tão belas.

Charles Bovary, seu marido, testemunhando a depressão da esposa, decidiu sair de Tostes e se mudar para o interior. Quando estavam de mudança para a pequena Yonville-l’Abbaye, Emma descobriu que estava grávida e, alguns meses mais tarde, deu a luz a uma menina chamada Berta.

A entediante vida no campo

Na nova vida no interior, Emma será seduzida por dois rapazes.

Rodolphe Boulanger era um mulherengo convicto - uma espécie de Don Juan - que seduziu a mulher casada com os seus encantos e estabeleceu com a moça uma relação fugaz.

O segundo homem que a atraiu foi um jovem (e esperto) estudante de direito chamado Léon, que partilhava com Emma o desejo de deixar a vida pacata no vilarejo.

Os casos extra-conjugais

A moça desenvolveu tanto com Rodolphe como com Léon relações doentias, tóxicas, repletas de ciúme, desejo de posse e inconstância.

A senhora Bovary terminou por ser abandonada pelos dois homens por quem se apaixonou clandestinamente. Por Léon, Emma, embalada pela paixão, acabou se endividando contraindo uma série de dívidas.

O trágico final

Vendo-se sem saída, Emma, por fim, decidiu se suicidar tomando arsênico.

- Calma - disse o boticário. - Trata-se somente de lhe aplicar um antídoto poderoso qualquer. Qual é o veneno?

Charles mostrou a carta. Era arsénico.

Charles só descobriu a vida dupla de Emma muito depois que a mulher se suicidou.

Viúvo, o médico herdou uma série de dívidas que desconhecia e precisou abrir mão de todo o seu patrimônio. Charles, de desgosto, terminou por falecer de modo prematuro, deixando a filha Berta, pequena, a cargo da avó.

Com o passar do tempo a avó também morreu e a menina ficou sob responsabilidade de uma tia muito pobre, que a enviou para trabalhar numa fábrica de algodão.

Personagens principais

Charles Bovary

Influenciado especialmente pela mãe, Charles se formou em medicina. Para agradar os padrões sociais se casou com Héloise Dubuc, uma moça de boa família.

Algum tempo depois, ficou inesperadamente viúvo e se apaixonou pela filha de um paciente. Charles então se casou com Emma, com quem teve uma filha chamada Berta.

Emma Bovary

Romântica incurável, Emma foi colocada durante a juventude em um convento. Era muito dotada - tinha uma educação esmerada e sabia dançar, tocar piano e fazer tapeçaria.

Se casou com um médico, Charles, mas nunca conseguiu corresponder a devoção que seu marido nutria por ela.

Mergulhada no tédio, a moça sonhadora que passava a maior parte do tempo lendo novelas românticas acabou por desenvolver uma depressão.

Teve dois amantes e uma vida dupla - o fato de não encontrar na vida a condição que lia nos livros, criou na protagonista uma insatisfação permanente.

Héloise Dubuc

Primeira mulher do médico Charles, Héloise falece prematuramente depois de se zangar com os sogros.

Theodore Rouault

Pai de Emma, o lavrador abastado Theodore era viúvo e vivia com a filha Emma numa fazenda no interior. Porque quebrou uma perna quando voltava de uma festa de Reis na casa do vizinho, resolveu chamar um médico. Quem apareceu foi Charles, que viria a se casar com a sua menina Emma.

Bovarismo

Conhecida como síndrome de Madame Bovay ou Bovarismo, o termo foi usado na psicologia para nomear um transtorno de comportamento que resulta da idealização do amor romântico gerando uma sensação de insatisfação crônica.

Essa condição originalmente atingia especialmente as mulheres, que criavam uma ideia do parceiro que afinal se revelava inatingível na vida real.

As pessoas diagnosticadas com Bovarismo geralmente não conseguem estar sozinhas e julgam que o amor irá resolver todos os seus problemas. Elas investem em relações insustentáveis no longo prazo e, como solução, se envolvem com um novo par romântico ou se tornam obcecadas com o parceiro.

O filósofo Jules de Gaultier, em 1892, foi o primeiro a relatar a patologia que faz com que quem sofra da condição se sinta permanentemente melancólico e insatisfeito nas relações que estabelece.

Contexto histórico do livro

Corajoso, Gustave Flaubert escolheu retratar em seu romance temas tabus para a sua sociedade contemporânea como o adultério e o suicídio. Perseverante, o autor teria demorado cerca de cinco anos para compor a sua grande obra.

Flaubert chegou a ser processado sob a acusação de imoralidade e ofensa religiosa, mas foi absolvido. Polêmico, durante o processo, quando questionado de onde teria tirado inspiração para compor a sua obra, o autor proferiu a célebre frase para defender o seu direito de expressão:

“Madame Bovary sou eu” (Emma Bovary c’est moi)

Algumas fontes, no entanto, apontam que a inspiração do escritor teria vindo de um caso real acontecido na Normandia, onde uma mulher se suicidou após o adultério.

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Rebeca Fuks
Rebeca Fuks
Formada em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2010), mestre em Literatura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2013) e doutora em Estudos de Cultura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e pela Universidade Católica Portuguesa de Lisboa (2018).