Histórias para crianças de 8 a 10 anos: contos infantis com valores

Catalina Arancibia Durán
Catalina Arancibia Durán
Mestre em Literatura Espanhola e Hispano-Americana
Tempo de leitura: 14 min.

A literatura tem um valor didático e educativo na infância. Os seguintes contos foram pensados para crianças entre 8 e 10 anos. São histórias que permitem que elas deixem a imaginação voar e aprendam lições valiosas.

El bosque de las palabras perdidas

O bosque das palavras perdidas

El lápiz mágico de Sofía

O lápis mágico de Sofia

El reloj de los momentos

O relógio dos momentos

Los zapatos viajeros de Ana

Ana e os sapatos viajantes

El puente invisible de Pedro

A ponte invisível de Pedro

La receta secreta de Lola

A receita secreta de Lola

El espejo que hablaba

O espelho que falava

1. O bosque das palavras perdidas

niña

Valor: Respeito

Em uma pequena vila, vivia uma menina chamada Olívia, conhecida por falar sem pensar. Se alguém aparecia com uma roupa nova, ela dizia:
— Isso não ficou bom em você.

Se alguém cometia um erro, ela zombava:
— Você é muito desastrado!

Aos poucos, as palavras de Olívia começaram a machucar as pessoas. Mas ela nem percebia.

Um dia, enquanto passeava pelo bosque, ouviu um sussurro estranho:
— Olívia, venha até aqui!

Curiosa, ela seguiu o som até chegar a uma clareira. Lá, um velho carvalho parecia se mover. Suas grossas ramas formaram uma boca, e ele falou:
— Você é responsável por muitas palavras perdidas, Olívia.

— Palavras perdidas?, perguntou a menina, confusa.

O carvalho balançou os galhos, e de repente várias palavras começaram a flutuar no ar: “amizade”, “alegria”, “confiança”...

— Cada vez que você diz algo que machuca, essas palavras se vão das pessoas para quem você fala. E é aqui, neste bosque, que elas vêm se esconder, explicou o velho carvalho.

Olívia olhou em volta e viu que algumas palavras giravam em círculos, como se estivessem procurando alguém.
— Eu posso devolvê-las?, perguntou, esperançosa.

O carvalho assentiu devagar:
— Pode, sim. Mas antes, precisa aprender a cuidar das suas palavras. Só as que vierem do seu coração poderão voltar para quem as perdeu.

A partir daquele dia, Olívia começou a pensar antes de falar. Quando via algo, em vez de criticar, tentava fazer um elogio sincero. Quando alguém errava, ela buscava encorajar.

Com o tempo, as palavras começaram a voltar aos seus donos, e o bosque foi se enchendo de silêncio e luz. As palavras já não precisavam mais se esconder.

Um dia, Olívia voltou à clareira para agradecer ao carvalho, mas ele havia desaparecido. No lugar onde antes estava, havia apenas um pequeno broto, com uma plaquinha que dizia:

“As palavras podem curar ou ferir. Você decide como usá-las.”

Desde então, Olívia nunca mais esqueceu aquela lição. E a vila onde morava passou a ter muito mais risadas, amizade e alegria do que nunca.

2. O lápis mágico de Sofia

niña lápiz

Valor: Criatividade

Sofia era uma menina curiosa e criativa, que adorava desenhar. Um dia, enquanto explorava o sótão da casa da avó, encontrou uma caixa de madeira antiga.

Ao abri-la, descobriu um lápis dourado com pequenas inscrições brilhantes.

— Este lápis é especial, disse a avó, com um sorriso misterioso. — Desenhe com ele e você vai ver.

Empolgada, Sofia pegou o lápis e desenhou um pequeno passarinho no seu caderno. Para sua surpresa, o passarinho ganhou vida! Bateu as asas e voou pela sala.

Encantada, ela desenhou uma árvore cheia de folhas verdes e frutas suculentas, que logo brotou diante dela, com um perfume delicioso.

Sofia desenhou também uma nuvem fofinha, que subiu ao céu e começou a regar as flores do jardim com gotinhas brilhantes de chuva.

Feliz com sua descoberta, a menina desenhou borboletas coloridas, flores e até um balanço, onde podia se divertir por horas. Mas um dia, sem pensar muito, decidiu desenhar algo mais emocionante: um dragão majestoso.

Assim que terminou o desenho, o dragão ganhou vida, abriu suas enormes asas e soltou um rugido poderoso. Os animais se esconderam e os vizinhos do vilarejo ficaram assustados.

O coração de Sofia bateu forte. O que ela poderia fazer? Percebeu, então, que o poder de dar vida aos seus desenhos também podia causar problemas se não fosse usado com cuidado.

Rápida, pegou o lápis e desenhou um castelo lindo, no alto de uma montanha, cercado por jardins e rios cristalinos.
— Lá ele poderá viver em paz, pensou.

Quando terminou o desenho, o dragão voou até o castelo e se instalou ali, feliz e tranquilo.

Desde aquele dia, Sofia aprendeu que a imaginação é um dom poderoso, mas deve ser usada com responsabilidade. Com seu lápis mágico, ela continuou criando coisas maravilhosas para alegrar as pessoas — sempre lembrando que cada desenho trazia consequências.

E assim, com criatividade e sabedoria, Sofia encheu o mundo de magia e beleza.

3. O relógio dos momentos

niño reloj

Valor: Gratidão

Diego era um menino curioso e cheio de energia, que vivia querendo que o tempo passasse rápido quando precisava fazer coisas chatas, como fazer a lição de casa ou esperar o jantar ficar pronto.

Um dia, enquanto explorava o sótão da sua casa, encontrou um relógio de bolso antigo, com detalhes dourados e ponteiros que brilhavam de um jeito diferente.

Ao segurá-lo, sentiu um leve formigamento nos dedos e, sem entender muito bem como, descobriu que podia girar os ponteiros para adiantar o tempo.

Empolgado com a descoberta, Diego começou a usar o relógio sempre que algo o entediava. Adiantava as horas para pular as aulas mais difíceis, evitar as filas na cantina e até escapar de arrumar o quarto.

No começo, achou maravilhoso! Tudo o que era chato desaparecia num piscar de olhos — e só sobravam os momentos divertidos. Mas, com o passar dos dias, algo estranho começou a acontecer: o tempo parecia ficar mais curto e embaçado, como se escorresse por entre os dedos, sem deixar lembranças.

Certo dia, ele percebeu que tinha esquecido o aniversário do seu melhor amigo. Em outro, notou que não lembrava a última vez que havia brincado com a irmã no parque.

Cada vez que usava o relógio, o tempo passava mais rápido. E os momentos preciosos desapareciam para sempre.

Assustado, Diego entendeu que estava perdendo o mais importante: as experiências que tornam a vida especial. Guardou o relógio no fundo de uma gaveta e decidiu nunca mais usá-lo.

A partir de então, passou a aproveitar cada instante, até mesmo os menos empolgantes. Aprendeu que o tempo é um presente e que, às vezes, os momentos simples são os que trazem as maiores alegrias.

Desde aquele dia, Diego nunca mais desejou que o tempo passasse depressa. Em vez disso, escolheu viver cada segundo com intensidade, porque descobriu que todo instante - grande ou pequeno - tem seu próprio valor e significado.

4. Ana e os sapatos viajantes

zapatos

Valor: Empatia

Ana era uma menina curiosa e sonhadora, que sempre imaginava como seria viver outras vidas. No dia do seu aniversário, ela ganhou um presente muito especial: um par de sapatos brilhantes, com uma pequena mensagem bordada por dentro que dizia: “Calce-os e viaje”.

Sem entender muito bem o que aquilo queria dizer, Ana colocou os sapatos nos pés. De repente, sentiu um leve formigamento e, antes que percebesse, o mundo ao seu redor começou a desaparecer. Quando abriu os olhos, estava em um lugar completamente diferente.

Encontrou-se no campo, sob um céu azul imenso, cercada por montanhas e plantações. Olhou para as mãos e percebeu que era outra menina, com a pele dourada pelo sol e um sorriso cheio de energia. Passou o dia ajudando na fazenda: colhendo frutas, cuidando dos animais e correndo pelos prados. Sentiu, pela primeira vez, a alegria do trabalho e o amor pela natureza.

Ao cair da noite, Ana calçou novamente os sapatos. Outro formigamento percorreu seus pés e, num piscar de olhos, o cenário mudou. Agora, ela estava em um barco, navegando pelo mar aberto. Era um menino de cabelos bagunçados pelo vento, ajudando o pai a içar as velas e cuidar da embarcação. Aprendeu a ler o céu, ouvir o mar e sentiu a liberdade das ondas e da brisa salgada.

Quando essa viagem terminou, Ana colocou os sapatos outra vez. Dessa vez, apareceu em uma sala acolhedora, iluminada pelo brilho suave de uma lareira. Diante de um espelho, viu uma senhora de cabelos prateados e rosto cheio de rugas sábias. Ao redor, várias crianças a ouviam com atenção enquanto ela contava histórias do passado. Ana sentiu a alegria de ensinar e a doçura de compartilhar lembranças.

Por fim, os sapatos a levaram de volta ao seu quarto. Ela acordou como se tivesse sonhado, mas sabia que algo dentro dela havia mudado. Depois de viver tantas vidas diferentes, Ana aprendeu a se colocar no lugar dos outros, a ouvir com carinho e a valorizar cada história.

E embora os sapatos mágicos nunca mais tenham brilhado, o coração de Ana continuou viajando, sempre curioso, empático e cheio de imaginação.

5. A ponte invisível de Pedro

Puente

Valor: Amizade

Pedro morava em um pequeno vilarejo cercado por montanhas e cortado por um rio caudaloso. O rio dividia o povoado em duas partes e, embora as pessoas de um lado pudessem ver as do outro, nunca conseguiam se encontrar, porque não havia uma ponte que as unisse.

Pedro sempre se perguntava como seria conhecer as crianças que viviam do outro lado e brincar com elas.

Um dia, enquanto explorava a margem do rio, encontrou uma corda brilhante e macia, como se fosse feita de luz. Ao tocá-la, sentiu um calor agradável nas mãos e, sem pensar muito, lançou-a para o outro lado.
Para sua surpresa, a corda começou a se alongar e, no instante em que alguém a segurou do outro lado, ela se transformou em uma ponte invisível, mas firme e segura.

Do outro lado, estava Mateus, um menino da mesma idade de Pedro, que havia encontrado a outra ponta da corda. Com cuidado, Pedro atravessou o rio e, pela primeira vez, pisou na terra da outra margem. Mateus o recebeu com um sorriso e, juntos, descobriram que, enquanto os dois segurassem a corda, a ponte permaneceria forte.

Desde aquele dia, Pedro e Mateus se encontravam todos os dias. Brincavam, contavam histórias e exploravam o campo juntos.

Com o tempo, convidaram outras pessoas para atravessar o ponte de luz, e logo crianças e adultos dos dois lados começaram a segurar a corda e cruzar o rio. Assim, conheceram novas tradições, aprenderam uns com os outros e perceberam que não eram tão diferentes quanto imaginavam.

Um dia, Pedro e Mateus decidiram que o vilarejo precisava de uma ponte verdadeira. Com a ajuda das famílias e dos vizinhos, construíram uma linda ponte de madeira e pedra, forte e acolhedora.

A partir de então, a corda mágica já não era necessária. O povoado estava finalmente unido.

Pedro aprendeu que a amizade e a cooperação podem construir pontes mais fortes que qualquer estrutura, capazes de unir o que antes parecia separado. Desde então, nunca deixou de estender a mão para quem estava do outro lado, porque sabia que um simples gesto de confiança pode mudar tudo.

6. A receita secreta de Lola

niños cocinando

Valor: Generosidade

Lola era uma menina alegre e criativa, que adorava passar as tardes na cozinha de sua avó. Um dia, enquanto ajudava a amassar a massa de alguns biscoitos, encontrou um velho caderno de receitas com uma inscrição dourada na capa: “A receita secreta da felicidade.”

Curiosa, Lola abriu o caderno e descobriu uma receita especial de biscoitos mágicos que realizavam desejos.

Empolgada, reuniu todos os ingredientes e seguiu cada passo com muito cuidado. Quando os biscoitos ficaram prontos, pegou um deles, fechou os olhos e fez um pedido.

Ao dar a primeira mordida, sentiu um calor suave e reconfortante no coração. E, no dia seguinte, seu desejo se tornou realidade. Lola percebeu que cada biscoito podia realizar um desejo verdadeiro e bondoso.

No começo, pensou em guardar a receita só para ela, mas, ao ver como aquilo a fazia feliz, decidiu compartilhar o segredo. Chamou seus amigos e vizinhos para a cozinha e ensinou a todos a preparar os biscoitos mágicos.

Cada pessoa que experimentava um sentia o coração mais leve, as preocupações desapareciam e os sonhos pareciam começar a ganhar forma.

Com o tempo, todo o vilarejo se encheu de alegria e esperança. As pessoas deixaram de guardar seus talentos para si mesmas e começaram a compartilhar o que sabiam fazer de melhor.

O padeiro ensinou a fazer pães fofinhos. A costureira ajudou todos a criar roupas lindas. E o jardineiro mostrou como plantar flores e verduras com carinho.

Um dia, um viajante idoso apareceu na porta de Lola. Ele tinha ouvido falar de seus biscoitos mágicos e quis conhecê-la. Mas, em vez de pedir um desejo para si mesmo, apenas sorriu e disse:
— O seu maior desejo já se realizou, Lola: você descobriu que a generosidade é o ingrediente que multiplica a felicidade.

Desde então, Lola continuou assando biscoitos. Não porque fossem mágicos, mas porque aprendeu que compartilhar o que temos de melhor é o verdadeiro segredo para tornar o mundo mais feliz.

7. O espelho que falava

niña espejo

Valor: Autoestima

Marta era uma menina curiosa que adorava observar o próprio reflexo nas poças d’água ou nas vitrines das lojas. Um dia, enquanto ajudava sua avó a limpar o sótão, encontrou um espelho antigo, com uma moldura dourada coberta de poeira. Ao limpá-lo com a manga do suéter, ouviu uma voz suave e gentil dizer:

— Olá, Marta. Hoje você foi muito generosa ao ajudar sua avó.

Marta deu um salto para trás, assustada. Olhou para o espelho e perguntou:

— Foi você quem falou?

— Sim, respondeu o espelho. — Eu não reflito a sua aparência, e, sim, a beleza que existe no seu coração.

Marta ficou sem saber o que pensar. Olhou novamente para o espelho e, embora não visse o próprio reflexo, ouviu a voz dizer:

— Você é criativa, tem uma imaginação incrível e sempre encontra soluções inteligentes para os problemas.

Nos dias seguintes, Marta voltava ao sótão para conversar com o espelho. No começo, achava estranho não ver a própria imagem, mas, com o tempo, passou a ouvir com atenção o que o espelho dizia.

Descobriu que era gentil, corajosa e que seu sorriso alegrava quem estava por perto. Pouco a pouco, as inseguranças sobre sua aparência começaram a desaparecer.

Um dia, Marta levou o espelho para o quarto e o mostrou à sua melhor amiga, Lúcia, que às vezes se sentia triste por achar que não era bonita o suficiente. Quando Lúcia olhou para o espelho, ele disse:

— Você tem um coração bondoso e sempre ajuda os outros sem esperar nada em troca.

Lúcia sorriu surpresa. E foi então que Marta entendeu algo muito importante: o que realmente nos define não é o que vemos no espelho, mas a maneira como tratamos os outros (e a nós mesmos).

Desde aquele dia, Marta aprendeu a se amar do jeitinho que era. E, embora o espelho ainda falasse com ela, já não precisava dele para saber que o seu verdadeiro valor estava em seu coração.

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Catalina Arancibia Durán
Catalina Arancibia Durán
Mestre em Literatura Espanhola e Hispano-Americana. Formada em Teoria e Crítica de Cinema. Professora de oficinas literárias e revisora de texto.