Música Black, do Pearl Jam


Rebeca Fuks
Revisão por Rebeca Fuks
Doutora em Estudos da Cultura

Black é uma faixa do primeiro disco da banda norte-americana Pearl Jam, chamado Ten e lançado em 1991.

A composição de Eddie Vedder fala sobre o rompimento de um relacionamento amoroso. Relatos afirmam que o cantor mostrava fortes emoções quando cantava a música nos primeiros anos.

Letra original

Hey, oh
Sheets of empty canvas
Untouched sheets of clay
Were laid spread out before me
As her body once did
All five horizons
Revolved around her soul
As the earth to the sun
Now the air I tasted and breathed
Has taken a turn

Oh and all I taught her was everything
Oh I know she gave me all that she wore
And now my bitter hands
Chafe beneath the clouds
Of what was everything
Oh the pictures have
All been washed in black
Tattooed everything
I take a walk outside
I'm surrounded by
Some kids at play
I can feel their laughter
So why do I sear
Oh, and twisted thoughts that spin
Round my head
I'm spinning
Oh, I'm spinning
How quick the sun can, drop away

And now my bitter hands
Cradle broken glass
Of what was everything
All the pictures had
All been washed in black
Tattooed everything
All the love gone bad
Turned my world to black
Tattooed all I see
All that I am
All I'll be

Yeah
I know someday you'll have a beautiful life
I know you'll be a star
In somebody else's sky
But why
Why
Why can't it be
Why can't it be mine

Tradução

Hey, oh
Telas de pintura vazias
Peças intocadas de argila
Foram dispostas diante de mim
Como o corpo dela um dia esteve
Todos os cinco horizontes
Girando ao redor de sua alma
Como a terra ao redor do sol
Agora o ar que eu provei e respirei
Mudou de rumo

E tudo o que ensinei a ela foi tudo
Eu sei que ela me deu tudo que ela usava
E agora minhas mãos amargas
Se esfolam abaixo das nuvens
Do que um dia foi tudo
Oh as imagens foram
Todas lavadas de preto
Tatuando tudo
Eu saio para passear
Sou cercado
por algumas crianças brincando
Eu posso sentir suas risadas
Então porque eu murcho?
Oh, e pensamentos confusos que giram
Ao redor de minha cabeça
Estou girando,
Oh, estou girando
Tão rápido quanto o sol pode se pôr

E agora minhas mãos amargas
Embalam vidros quebrados
Do que um dia foi tudo
Oh as imagens foram
Todas lavadas de preto
Tatuando tudo
Todo o amor tornou-se mal
Transformou meu mundo em escuridão
Tatuando tudo que vejo,
Tudo que eu sou
Tudo o que eu serei

Yeah
Eu sei que algum dia você terá uma linda vida
Eu sei que você será uma estrela
No céu de um outro alguém
Mas por quê?
Por quê?
Por que não pode ser?
Por que não pode ser no meu?

Análise da canção

A letra da música possui uma forte carga emocional que é realçada pela guitarra e pelo vocal arrastado de Eddie Vedder. O conjunto dá um tom melancólico à canção, que tem como tema central o fim de um relacionamento amoroso.

A primeira estrofe é sobre o abandono que o cantor sente com a partida da pessoa amada. As telas e a argila, que antes eram usadas para a criação artística, ficam sem uso como objetos estáticos à vista do cantor. A figura da solidão é colocada como algo estéril e inanimado, como que tirando o sentido daquilo que o cerca.

Telas de pintura vazias
Peças intocadas de argila

A perda é um elemento importante: ter provado o ar que agora mudou de rumo é em grande parte o motivo para a tristeza e para o sentimento de abandono - principalmente quando a amada era objeto de devoção, ao redor do qual o cantor orbitava como centro do seu universo. Como voltar a ser o que se era antes é a grande questão colocada.

Como a terra ao redor do sol

A troca como elemento essencial no relacionamento amoroso aparece no segundo verso. O elemento de sucesso na relação surge como mais um motivo para o sofrimento após o rompimento, pois a vida do compositor se completava com a troca.

E tudo o que ensinei a ela foi tudo
Eu sei que ela me deu tudo que ela usava

O que se segue é uma das imagens mais profundas da canção: mãos que se esfolam. A figura nos remete a um comportamento repetitivo, obsessivo. As nuvens nos levam à algo superior, que está acima do cantor, como um lugar do passado, onde residem as imagens do que um dia foi tudo. Restando apenas o preto cobrindo as boas memórias, como se a dor tatuasse de preto o que um dia foi colorido e feliz.

Transformou meu mundo em escuridão
Tatuando tudo que vejo,

O músico tem consciência de sua tristeza, mas não a compreende. Ele é capaz de perceber o mundo ao seu redor e os "momentos bons", porém não consegue se contagiar pela alegria, como visto no trecho sobre as crianças brincando. O cantor se sente confuso com a tristeza que o cerca.

Sou cercado
por algumas crianças brincando
Eu posso sentir suas risadas
Então porque eu murcho?

O tema da escuridão que cerca a vida do cantor após a perda da pessoa amada é retomada na canção. As mãos recolhem vidro quebrados como uma metáfora dos cacos de um coração partido.

A última estrofe é uma espécie de crescente, os versos são cantados em sequência com longos vocais intercalando as palavras. É o último lamento pela perda da pessoa amada: o cantor reconhece as qualidades dela, acreditando que todos os sonhos dela serão realizados, mas lastima que não será no seu céu.

Significado da letra

A letra da canção conta a história do sofrimento causado por um rompimento amoroso. O tom é melancólico e a imagem mais recorrente é a da escuridão que cerca a pessoa que perdeu o ser amado. O reconhecimento do valor da pessoa que se perdeu também é marcante e gera uma espécie de luto no compositor.

A perda e o luto são os elementos centrais da letra. O amor perdido é representado como se fosse a morte da pessoa amada. Os versos finais que contam sobre uma estrela no céu reforçam essa imagem, como alguém que morre e vai ao céu.

O movimento grunge

O grunge é um subgênero do rock surgido nos anos 1980 em Seattle. O estilo de música ficou mundialmente famoso no começo dos anos 1990, com o lançamento do disco Ten, do Pearl Jam, e do Nevermind, do Nirvana. Esteticamente, o movimento ficou conhecido pelas roupas simples e despojadas, calças jeans rasgadas e camisas de flanelas.

Inspirados pelo hardcore, pelo punk e pelas músicas folks de protesto, como as de Neil Young, o grunge se apresentou como um movimento de contracultura, criticando a sociedade consumista e vazia do final do século XX. Outra característica importante é a apatia e um certo niilismo nas canções.

No começo dos anos 90, havia uma espécie de sentimento de vazio provocado pela ascensão da sociedade de consumo. As novas gerações eram pressionadas para obter sucesso financeiro e continuarem a onda de otimismo que veio com a queda do muro de Berlim e da valorização das bolsas de valores. Boa parte da nova geração estava insatisfeita com esse, na verdade, falso otimismo e das pressões sociais. O grunge surgiu como forma de escape de crítica da situação atual, principalmente da cultura de massas e da indústria do entretenimento.

Musicalmente o movimento é bem amplo, abarcando uma grande variedade de composições. O uso da guitarra distorcida é uma característica comum, que veio da influência do punk, apesar do ritmo da música grunge ser bem mais lento.

Stone Gossard Demos '91

A letra da canção foi composta por Stone Gossard em 1990 e foi chamada primeiramente de E Ballad. Ela foi uma das cinco músicas gravadas numa fita demo chamada Stone Gossard Demos '91. O objetivo da gravação era encontrar um baterista e um vocalista para a banda.

Eddie Vedder, que na época era um frentista em San Diego, gravou a voz em três canções e foi chamado para ser o vocalista do Pearl Jam. Ele compôs a letra de E Ballad no caminho para Seattle. Ela depois passou a ser chamada de Black.

Conheça também

Rebeca Fuks
Revisão por Rebeca Fuks
Formada em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2010), mestre em Literatura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2013) e doutora em Estudos de Cultura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e pela Universidade Católica Portuguesa de Lisboa (2018).