Viva - A Vida É uma Festa: resumo e análise do filme


Rebeca Fuks
Rebeca Fuks
Doutora em Estudos da Cultura

O filme Viva - A Vida É uma Festa (nome no original Coco) é um longa metragem de animação sobre a memória, sobre os sonhos e sobre as várias gerações de uma mesma família.

Tecendo um retrato sensível da cultura mexicana (especialmente celebrando o Día de Los Muertos), a produção, que é uma parceria da Pixar com a Disney, se apresenta como um dos melhores filmes de animação que você já viu algum dia.

Não por acaso Viva - A Vida É uma Festa levou para casa um Óscar, um BAFTA e um Globo de Ouro (todos em 2018 na categoria Melhor Filme de Animação). Aproveite para saber mais sobre esse filme imperdível!

Resumo

A aventura contada no filme é passada numa pequena aldeia rural do interior do México.

Tudo começa com a triste história da trisavó do protagonista Miguel, que é abandonada pelo então marido. O trisavô de Miguel queria ser artista e largou tudo - a casa, a família - para viver o seu grande sonho pessoal: ser cantor.

Desde esse fatídico evento, a música vinha sendo banida por gerações na grande família Rivera, que passou a viver da fabricação de sapatos. A proibição era tão séria que envolvia tanto tocar quanto ouvir música.

Tudo muda, no entanto, com o amadurecimento do menino Miguel, que desde cedo demonstra ser apaixonado pelo universo das canções.

O sonho de Miguel é virar um grande músico e o jovem menino resolve correr atrás do seu maior ideal.

Apesar das proibições, Miguel continua sendo um apaixonado por música
Apesar das proibições familiares, Miguel continua sendo um apaixonado por música.

(atenção, a partir daqui esse artigo conterá spoilers)

Miguel toma coragem e participa, a revelia da família, do concurso de talento do Día de Los Muertos.

Vale sublinhar como esse dia é fundamental para a cultura mexicana, que acredita que os homenageados pelos vivos voltam para visitar, naquele dia, os seus entes queridos na Terra. Para que os mortos recebam esse "passe", é preciso que algum vivo se lembre do falecido.

Para participar do concurso de talento do Día de Los Muertos, o garoto precisa de um instrumento e, por isso, se vê obrigado a roubar um violão no túmulo de Ernesto de la Cruz, o seu maior ídolo musical. O furto faz com que Miguel, junto com o seu fiel cão Dante, acidentalmente seja transportado para a Terra dos Mortos.

Já do outro lado da vida, Miguel participará de um universo paralelo repleto de aventuras. Primeiro encontrará a caveira Hector, que promete ajuda-lo, mas que logo se apresentará como um vigarista de mão cheia.

O maior problema de Hector é que ele não consegue visitar o mundo dos vivos porque já ninguém se lembra dele. Esperto, o defunto vê em Miguel uma oportunidade para resolver o seu problema.

Hector e Miguel
A caveira Hector e o menino Miguel.

Para conseguir voltar ao mundo dos vivos, Miguel precisa encontrar uma saída antes do amanhecer. Caso contrário, ficará pra sempre na Terra dos Mortos.

Com essa missão quase impossível nas mãos, o garoto pede ajuda ao seu grande ídolo, Ernesto de la Cruz, que segue sendo um fenômeno da música no mundo dos mortos.

Numa reviravolta do enredo, Ernesto de la Cruz acaba por ser desmascarado como o maior vilão do filme, mostrando-se vaidoso, mentiroso e interesseiro.

Por fim, com a ajuda das pessoas que ama, finalmente Miguel consegue regressar ao mundo dos vivos e seguir a carreira musical que tanto sonhava.

Análise de Viva - A Vida É uma Festa

A valorização da cultura mexicana

O filme, lançado numa parceria entre Disney e Pixar, promove uma exaltação do folclore mexicano fazendo uma verdadeira homenagem à cultura do país latino.

Extremamente colorido, o longa metragem é alegre e cheio de vida. São flores, fitas, velas, tochas, luzes, holofotes, cores florescentes e uma música animada de fundo - uma felicidade que até poderia soar como uma contradição tendo em conta o fato de ser o Día de Los Muertos.

O filme é repleto de cores vivas e de elementos que fazem referência à cultura mexicana.
O filme é repleto de cores vivas e de elementos que fazem referência à cultura mexicana.

Essa postura elogiosa em relação à estética latina pode ser comprovada pelos figurinos detalhados, pela farta culinária, pelo ambiente rico e pela trilha sonora presente. Nota-se que esse excesso de referências foi resultado de uma pesquisa profunda.

Por falar em trilha sonora, a de Viva - A Vida É uma Festa, criada por Michael Giacchino, é inteiramente focada na música mexicana e se baseia nos estilos huapango, jarocho e ranchera.

Uma abordagem delicada de temas densos

O longa metragem fala de sentimentos universais: a doença de Alzheimer, a morte, o medo de partir, a lembrança em quem fica. O filme nos ajuda a desmistificar a morte e a pensar com leveza sobre o que pode (ou não) acontecer depois do nosso incontornável final terreno.

Outros temas muito importantes abordados pelo filme são a solidariedade e o perdão. Lupita, a bisavó de Miguel, também representa com verdade e doçura o processo de envelhecimento e a perda da memória.

Lupita, a bisavó de Miguel, é a representação viva da velhice e da perda da memória.
Lupita, a bisavó de Miguel, é a representação viva da velhice e da perda da memória.

Com um olhar que parte do realismo mágico, o filme nos estimula a observar a memória da nossa própria família e a cultuar os nossos ancestrais.

A relação com o México

Viva - A Vida É uma Festa se passa exclusivamente no México e levanta questões sobre a relação com o país vizinho.

Muita gente se perguntou se a produção, que exalta a cultura espanhola, seria uma crítica indireta à Trump, que se elegeu com a promessa da construção de um muro para separar os Estados Unidos e o México. A verdade é que o filme começou a ser produzido muito antes da eleição de Trump, por isso se tratou de uma mera coincidência.

Sobre o preconceito de alguns norte-americanos em relação aos vizinhos mexicanos, o diretor do filme comentou em entrevista concedida:

"A melhor forma de unir as pessoas e fazer com que elas tenham empatia umas pelas outras é por meio de histórias. Se nós podemos contar uma boa história com personagens com os quais as pessoas se importem, eu gostaria de pensar que o preconceito cai, e o público pode ter uma experiência com o enredo e os personagens pelos seres humanos que eles são."

O longa metragem contou com um elenco bilingue - as vozes da versão americana pertencem aos mesmos atores que fazem a versão em espanhol -, a equipe técnica também era latina, assim como o codiretor.

O longa metragem estreou primeiro no México e só depois correu o resto do mundo.

Respeitar o outro, das maiores lições do filme

Uma das lições mais importantes transmitidas pelo filme é o fato das crianças ensinarem os adultos. É o personagem Miguel, que com a sua coragem e rebeldia, consegue "libertar" a família da maldição de não poder ouvir ou tocar música.

Viva - A Vida É uma Festa ensina o público a respeitar a individualidade de quem é diferente e a aceitar a personalidade e os desejos dos mais jovens, ainda que eles não sejam compreendidos pelos adultos.

Ser sapateiro era o plano que a família Rivera havia designado para Miguel, mas ele acabou conseguindo se desvencilhar do projeto e ganhou o direito de trilhar a sua própria estrada. De brinde, Miguel ainda pode reintroduzir a música numa família traumatizada pelo abandono.

Alteração do título

No Brasil, a Disney resolveu alterar o título do filme que chamava-se originalmente Coco.

Cartaz original do filme
Cartaz original do filme.

Para se desviar da semelhança linguística com a palavra brasileira cocô, os produtores resolveram fazer a alteração no título do filme.

Outra curiosidade: a personagem da bisavó de Miguel, que no original é chamada de Mamãe Coco (diminutivo de Socorro), foi alterada na versão brasileira para Lupita.

Personagens principais

Miguel Rivera

miguel

O menino de doze anos é o protagonista da história. Aventureiro, corajoso e apaixonado por música, o rebelde enfrenta a família para seguir o seu sonho. Miguel representa a perseverança e a persistência, ele é aquele que não desiste mesmo em situações muito adversas.

Hector

Hector

Hector se apresenta a princípio como amigo de Miguel, mas aos poucos vai se mostrando interesseiro e deixa transparecer as suas reais intenções. A caveira parecia não querer ajudar genuinamente o menino, mas sim se aproveitar da situação dele para conseguir aquilo que queria.

Ernesto de la Cruz

Ernesto

O grande ídolo musical de Miguel Rivera acaba se revelando uma total decepção. Vaidoso, egoísta e arrogante, Ernesto não tem princípios e põe o seu bem estar e os seus desejos a frente de tudo e de todos.

Dante

Dante

O cachorro Dante é um cão Xoloitzcuintli, a raça nacional do México. Ele não tem pelos e não tem praticamente dentes, por isso quase não consegue manter a língua dentro da boca. Fiel ao menino, é o eterno companheiro de Miguel em todas as suas aventuras.

Lupita

Lupita

Bisavó de Miguel, Lupita é uma senhora bastante idosa que gradativamente perde a memória. A família assiste ao avançar da doença e, apesar das limitações físicas e psicológicas da avó, é com ela que Miguel partilha tudo aquilo que sente.

Trailer

Ficha técnica

Título original Coco
Lançamento 20 de outubro de 2017
Diretor Lee Unkrich, Adrian Molina
Roteirista Lee Unkrich, Adrian Molina, Jason Katz, Matthew Aldrich
Gênero Animação
Duração 1h45m
Elenco principal (vozes) Anthony Gonzalez, Gael García Bernal, Benjamin Bratt, Alanna Ubach, Renee Victor, Jaime Camil, Alfonso Arau
Prêmios

Oscar de Melhor Filme de Animação e Melhor Canção Original (2018)

BAFTA de Melhor Animação (2018)

Globo de Ouro de Melhor Filme de Animação (2018)

Cartaz do filme
Cartaz do filme.

Trilha sonora

Se você gostou do filme Viva - A Vida É uma Festa, experimente ouvir a trilha sonora no canal do Cultura Genial no Spotify:

Conheça também: Filmes espíritas que você precisa assistir

Rebeca Fuks
Rebeca Fuks
Formada em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2010), mestre em Literatura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2013) e doutora em Estudos de Cultura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e pela Universidade Católica Portuguesa de Lisboa (2018).