Filme A Onda (Die Welle): resumo e explicação

Carolina Marcello
Carolina Marcello
Mestre em Estudos Literários, Culturais e Interartes
Tempo de leitura: 16 min.

A Onda, Die Welle no original, é um filme de drama e thriller alemão de 2008, dirigido por Dennis Gansel. Trata-se de uma adaptação do livro homônimo do norte-americano Todd Strasser.

O enredo foi inspirado na história real do professor Ron Jones, que conduziu uma experiência social com os seus alunos do ensino médio.

Trailer e sinopse do filme

A Onda conta a história de um projeto conduzido por um professor do ensino médio que tem uma semana para explicar para os alunos a realidade e as implicações de um regime fascista.

Alterando radicalmente as regras e os modos de funcionamento da classe, Rainer Wenger instaura uma espécie de sistema ditatorial no qual detém o poder absoluto. O movimento começa a se espalhar e vai gerando consequências cada vez mais violentas.

Atenção: a partir deste ponto você vai encontrar spoilers sobre o filme!

Resumo do filme A Onda

Introdução

Rainer Wenger é um professor do ensino médio que é forçado a conduzir uma experiência social de uma semana, com os seus alunos, sobre o tema "autocracia". Ele começa debatendo o conceito com a classe, explicando a origem da palavra e conversando sobre os regimes autoritários.

Frame do filme A Onda.

Um dos seus alunos argumenta que seria impossível algo como o nazismo acontecer novamente na Alemanha. É assim que começa a jornada do grupo, que acaba elegendo o professor para ser o seu líder absoluto durante aqueles dias.

Para fazer melhor o seu trabalho, Rainer estuda História e as técnicas de manipulação de massas. A sua ação começa com pequenos gestos como exigir ser tratado por "Senhor Wenger", ou que todo mundo se levante para falar durante a aula.

Desenvolvimento

Depois de criar um nome, uma saudação, um logotipo e um uniforme, o grupo começa a ganhar força e vai recebendo novos participantes. Karo, a namorada de Marco, se recusa a vestir a camisa branca obrigatória na Onda e acaba sendo expulsa, o que vai gerando tensão entre o casal, já que ele está integrado no movimento.

Enquanto isso, a classe que está fazendo um projeto sobre a anarquia, liderada por um professor que os alunos não gostam, passa a ser encarada como "o inimigo". Rapidamente surgem conflitos entre os "anarquistas" e os membros da Onda, que se comportam como membros de gangues oponentes.

Frame do filme A onda

Tim, um adolescentes negligenciado pelos pais e que cometia crimes, é o aluno mais dedicado e passa a dedicar a sua vida à causa. Por isso, ele compra uma arma que usa para afastar os seus adversários. A Onda vai chamando cada vez mais gente e discriminando aqueles que não querem pertencer ou seguir as suas regras.

Por isso, Karo se junta a Mona, uma aluna que abandonou o projeto logo no começo, e criam panfletos de resistência para combater aquele sistema opressor. Durante um jogo do time de polo aquático (que era treinado por Rainer), elas lançam os papéis pelo ar e a briga fica instaurada, entre os jogadores e a plateia.

Anke, que é esposa de Rainer e professora da escola, fala que ele foi longe demais e precisa parar imediatamente. Os dois brigam e acabam se separando. Ao mesmo tempo, Marco também fica furioso com as ações contestatárias de Karo e bate na namorada.

Conclusão

Rainer convoca os seus alunos para uma última reunião no anfiteatro da escola. Lá, manda trancar as portas e começa a refletir sobre o futuro da Onda, falando que eles vão dominar a Alemanha. O seu discurso se torna gradualmente mais populista e incendiário até que Marco o interrompe, falando que eles estão sendo manipulados.

Reunião final da Onda

É aí que o professor pergunta se deve torturar ou matar o "traidor", já que é isso que os ditadores e os fascistas fazem. Com todo mundo em silêncio, ele confronta a classe com a violência dos seus atos e pensamentos durante aquela semana.

Assumindo que foi longe demais, ele pede perdão e declara que A Onda acabou. Revoltado, Tim aponta a sua arma para o grupo e acaba ferindo um dos colegas. Em seguida, percebendo que o movimento realmente acabou, ele comete o suicídio na frente de todos. O filme termina com o professor sendo preso e levado no carro da polícia.

Personagens principais e elenco

Rainer Wenger (Jürgen Vogel)

Frame do filme A Onda

Rainer Wenger é um professor que escuta música punk e desafia várias convenções sociais. Na hora de escolher o tema para um projeto a desenvolver com os alunos, ele queria "anarquia", mas foi obrigado a fazer sobre a "autocracia". Assim, embarcou numa jornada que mudou a sua vida para sempre.

Tim (Frederick Lau)

Tim

Tim é o jovem que mais se dedica à Onda, fazendo do movimento a sua principal motivação para viver. Ele, que antes vivia cometendo pequenos crimes, passa a se dedicar de corpo e alma aos conceitos de disciplina e responsabilidade.

Karo (Jennifer Ulrich)

Karo

Karo é uma jovem inteligente e decidida que se insurge contra a Onda. Como se recusa a obedecer às ordens, ela é ostracizada pelo grupo e acaba fundando um movimento de resistência, o "Parem a Onda".

Marco (Max Riemelt)

Marco

Marco é namorado de Karo e leva uma vida familiar problemática. Quando ele encontra conforto na Onda, mas a companheira rejeita aquele sistema, o comportamento do adolescente se altera e se torna agressivo.

Lisa (Cristina do Rego)

Lisa

Lisa é uma aluna extremamente tímida e insegura cuja conduta se altera radicalmente quando começa a integrar A Onda. Percebendo os problemas que existem entre Karo e Marco, ela demonstra que está interessada em separar o casal.

Anke Wenger (Christiane Paul)

Anke

Anke é esposa de Rainer que também trabalha como professora, na mesma escola. A princípio, ela não estranha os métodos do marido, mas aos poucos vai percebendo que os seus comportamentos são cada vez mais estranhos e megalômanos.

Análise do filme A Onda: temas principais

Rainer, um professor diferente

Desde os primeiros segundos do filme, podemos perceber que Rainer Wenger é um professor fora do comum. Vestindo uma camiseta dos Ramones, ele dirige até à escola, cantando punk a plenos pulmões e se divertindo no caminho.

Essa postura jovem e descontraída jamais deixaria adivinhar as ações que ele teria num futuro não muito distante.

A escola estava desenvolvendo vários projetos sobre formas de governo e Wenger queria fazer o projeto sobre anarquia, que estava bem mais próximo dos seus interesses pessoais. No entanto, um professor mais velho não permitiu e ficou com o tema, achando que seria melhor para evitar problemas.

Nos dias seguintes, o contágio com as ideias fascistas (e a fome de poder) iria transformar todo mundo que estava presente, começando pelo próprio professor.

Qual é o objetivo da Onda?

A escola criou a atividade para que os alunos pudessem conhecer outros regimes políticos e aprendessem a valorizar ainda mais a democracia. O professor começa apresentando o conceito de autocracia, um termo que veio do grego antigo e significava poder absoluto.

Logo na primeira aula, Rainer fala com os seus alunos sobre o passado sangrento da Alemanha nazista e a classe debate os perigos do nacionalismo extremista e dos discursos de ódio. Um dos adolescentes afirma, então, que é impossível que a Alemanha volte a ser dominada pelo fascismo.

O intuito da experiência social de Rainer Wenger é mostrar aos seus alunos o quão fácil é sermos manipulados pela força e o discurso das massas e nos comportarmos de forma autoritária sem sequer percebermos a ideologia que governa as nossas ações.

Como nasce um regime fascista?

Os primeiros passos empreendidos por Rainer e a sua classe são bastante importantes para compreendermos tudo o que acontecerá depois. Na primeira aula, os alunos aprendem que numa autocracia existe um indivíduo que dita as regras para a população, e essas regras podem mudar a qualquer momento, conferindo um poder ilimitado para quem está no topo.

Eles também vão criando uma lista de fatores políticos e sociais que contribuem para a instauração de um governo autoritário: desigualdades sociais, desemprego, injustiça, inflação, nacionalismo exacerbado e, sobretudo, uma ideologia fascista.

Depois de um dos estudantes afirmar que o nazismo nunca conseguiria regressar à Alemanha, o professor declara que está na hora do intervalo. Quando a classe regressa, as mesas foram mudadas de lugar.

Trata-se da primeira vez que Rainer altera as regras de forma súbita, funcionando como um momento de viragem. Continuando a sua lista, os alunos determinam ainda que uma ditadura precisa também de controle, vigilância e de uma figura central onde se concentrará o poder.

Com uma votação rápida e só aparentemente democrática, o professor é escolhido para ocupar a função. Desde o primeiro momento, é possível percebermos que a sua conduta se altera: fala que apenas quer ser tratado por "Senhor Wenger" e que, a partir daquele momento, exige respeito.

A sala, que antes era cheia de barulho e de vida, se torna silenciosa e ninguém pode falar sem permissão. Quando chamados por Rainer, os alunos têm que levantar e responder de forma disciplinada e quase militar. O professor afirma que "disciplina é poder" e expulsa três estudantes que se recusam a obedecer, deixando notória a sua autoridade perante o grupo.

A Onda começa a se espalhar

Logo depois da primeira aula, começa a se tornar notório que as reações dos alunos à experiência são bastante diferentes. Enquanto Karo comenta com a mãe que foi tudo muito estranho e repentino, Tim, por exemplo. está claramente fascinado com o exercício.

No dia seguinte, os lugares da sala são alterados, separando os grupos habituais e causando uma sensação maior de isolamento em cada indivíduo. No entanto, é a lição é sobre unidade.

Rainer manda os alunos marcharem por muito tempo, como se tratasse de um exército. Explica que a intenção é incomodar a classe que está no piso debaixo, fazendo um projeto sobre anarquia com o professor do qual eles não gostavam.

Cena da briga, filme A onda

É desde modo que os alunos encontram um inimigo comum: "os anarquistas". O incentivo ao ódio gratuito acaba gerando vários conflitos entre os jovens, cuja violência vai escalando durante o filme.

Rainer anuncia que colocou os melhores alunos ao lado dos piores, porque será benéfico para o coletivo: "União é poder". Mona é a primeira estudante que se mostra revoltada com a discriminação e resolve abandonar a experiência.

Ao mesmo tempo, alunos de outras turmas começam a se interessar e resolvem se juntar também, expandindo o tamanho do grupo até à sua capacidade máxima. Aí, decidem criar um nome e uma saudação, o que ajuda a espalhar a sua popularidade.

Eles resolvem também estabelecer um uniforme obrigatório, com o intuito de eliminar as diferenças entre os membros, e levando a sua individualidade também. Para declarar a lealdade absoluta à Onda, Tim resolve queimar todas as suas outras roupas.

Karo, filme A Onda

Já Karo, pelo contrário, não quer usar o uniforme e vai para a aula de blusa vermelha. Marco, o seu namorado, fala que ela é egoísta por isso. A atitude de rebeldia colocava em causa a autoridade da Onda e, por isso, ela começa a ser ostracizada pelos colegas.

Na sequência, a jovem é expulsa do grupo de teatro e começa a ser ignorada por todos, até pelo namorado. Nessa madrugada, os adolescentes espalham adesivos e pintam o símbolo da Onda por toda a parte, incluindo no edifício da Prefeitura, para estabelecer dominância:

Vamos passar pela cidade que nem uma onda!

Surge um movimento de resistência

O jogo do time de polo aquático, treinado pelo "Senhor Wenger", acaba virando um símbolo do poder da Onda e todos os apoiantes do movimento se juntam na torcida.

Karo e Mona, que tinham sido excluídas, resolveram começar a trabalhar juntas e criam o movimento "Parem a onda", recolhendo depoimentos sobre a violência e intimidação dos alunos.

Depois de serem barradas na porta, elas conseguem entrar pelos fundos do edifício e lançar centenas de panfletos pelo ar, reivindicando o final da experiência.

Panfletos no jogo de polo aquático, filme A onda.

Esta espécie de propaganda anti-sistema causa uma rebelião no local, provocando uma confusão generalizada e algumas lutas, nas arquibancadas e dentro de água.

O escândalo coincide com o dia em que uma matéria sobre A Onda sai na capa do jornal, causando uma polêmica cada vez maior.

Violência e transformação dos personagens

Um dos pontos mais evidentes e mais importantes da experiência é o modo como ela vem alterar a conduta e até o caráter dos personagens. Embora Karo mantenha a mesma postura quase desde o começo, o mesmo não se verifica com as restantes figuras de destaque do filme.

Lisa, por exemplo, que era extremamente envergonhada, se revela calculista e até cruel. Marco, perante uma situação familiar problemática, encontra refúgio na Onda e vai se tornando cada vez mais agressivo com o tempo.

A sua fúria culmina no momento em que ele agride a namorada, por causa dos panfletos que ela espalhou. Depois do sucedido, o jovem é confrontado com a natureza tóxica do seu comportamento e percebe:

Esse negócio da Onda me transformou.

No caso de Rainer, a mudança é súbita e notória para todos. A esposa, que trabalhava na escola, assiste de perto às ações e tenta chamar a atenção do marido várias vezes.

Depois da cena caótica do jogo, ela briga com ele e o acusa de estar manipulando os alunos para ser adorado por eles. Na sequência, Anke decide sair de casa e terminar o casamento: "você se transformou num idiota".

Quando convoca os estudantes pela última vez, o seu discuso demagogo começa incitando o ódio e usando palavras-chave como políticos, economia, pobreza e terrorismo. Em seguida, "Senhor Weigner" passa a confrontá-los como o lado oculto de tudo o que têm pensado e feito durante a última semana:

Você mataria ele? Torturaria? É isso que eles fazem na ditadura!

No entanto, aquilo que deveria ser uma chamada de atenção coletiva se transforma num cenário bem mais dramático, exatamente por causa da mudança que ocorreu com Tim. O garoto, que já apresentava uma personalidade solitária e um caso de negligência familiar, foi sem dúvida o mais afetado pela experiência.

Rainer Wenger.

Por causa da guerra entre A Onda e os anarquistas, o jovem fanático decide comprar uma arma pela internet, que usa para ameaçar os adversários.

Mais tarde, quando o professor declara que A Onda terminou, Tim sente que perdeu o seu propósito e acaba usando essa arma para tirar a própria vida. Momentos depois, podemos ver Rainer no banco de trás do carro da polícia e a sua expressão é de puro choque, como se só aí estivesse tomando consciência de tudo que aconteceu.

Explicação do filme A Onda

A experiência de Rainer Weigner vem provar o quão fácil pode ser manipular um grupo, mostrando que podemos estar sendo instrumentalizados e caminhar "do lado errado da História" sem sequer perceber.

O professor conseguiu comprovar para a classe que, reunindo um determinado conjunto de condições, nenhuma sociedade ou população está imune à ideologia fascista. Rainer queria transmitir o ensinamento de que a ditadura sempre é um risco e, por isso, precisamos ficar atentos.

No entanto, o protagonista esqueceu um detalhe essencial: o poder consegue corromper até quem menos esperamos. Acostumado a ser tratado como um professor esquisito ou até subversivo, ele começa a conquistar a admiração dos alunos, que o seguem acriticamente.

E por quê estes jovens embarcaram na Onda e se deixaram levar por ela? A resposta vai estando presente ao longo de todo o filme, através das suas palavras. Logo no começo, durante uma festa, dois estudantes conversam sobre a sua geração, afirmando que ela não tem um objetivo que una os indivíduos. Para eles, nada parece fazer sentido e vivem de forma hedonista e inconsequente.

Para se sentirem incluídos em alguma coisa, eles não se importaram de excluir os que não concordavam. Assim como os fascistas, estavam dispostos a infligir dor nas outras pessoas para se sentirem especiais ou superiores a elas.

"A Terceira Onda": o que aconteceu mesmo?

A história de A Onda foi baseada em fatos reais embora, na verdade, a narrativa tenha sido menos trágica. Em 1967, o professor norte-americano Ron Jones, que ensinava História em Palo Alto, na Califórnia, resolveu criar um experimento social para explicar aos seus alunos de que modos o nazismo poderia retornar à nossa sociedade.

Com o movimento "A Terceira Onda", Jones conseguiu convencer os estudantes que deveriam combater a democracia e a individualidade. Embora os eventos mais violentos que são representados no filme sejam ficcionais, na época, o caso provocou um escândalo nacional.

Em 1981, o autor Todd Strasser se inspirou na experiência para escrever A Onda e, no mesmo ano, surgiu uma adaptação televisiva.

Ficha técnica e poster do filme

Título

Die Welle (original)
A Onda (no Brasil)

Diretor Dennis Gansel
País de origem Alemanha
Gênero

Drama
Thriller

Classificação Não recomendado para menores de 16 anos
Duração 107 minutos
Lançamento março de 2008

Poster do filme A Onda (2008)

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Carolina Marcello
Carolina Marcello
Mestre em Estudos Literários, Culturais e Interartes e licenciada em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Apaixonada por leitura e escrita, produz conteúdos on-line desde 2017, sobre literatura, cultura e outros campos do saber.