7 poemas sobre o tempo que te farão refletir sobre a vida (comentados)
A poesia é uma das linguagens da arte que nos permite refletir de maneira profunda sobre questões essenciais e filosóficas da humanidade. O tempo é um desses temas.
Poetas como Mário Quintana, Carlos Drummond de Andrade, Vinícius de Moraes, Cora Coralina e Fernando Pessoa se dedicaram a escrever sobre a memória, a impermanência e a fluidez da passagem do tempo. Confira alguns desses poemas que selecionamos para você!
1. Poética I, de Vinícius de Moraes
De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.
A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte.
Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem
Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
– Meu tempo é quando.
O poema em questão foi escrito por Vinícius de Moraes (1913-1980) e descreve a passagem do tempo de forma cíclica. Aqui ele destaca a impermanência e a rejeita uma cronologia linear do tempo. O poeta propõe que se viva em consonância com o presente, mergulhando em uma experiência reflexiva, fluida e profundamente criativa enquanto se está vivo.
2. Seiscentos e Sessenta e Seis, de Mário Quintana
A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são 6 horas: há tempo…
Quando se vê, já é 6ª-feira…
Quando se vê, passaram 60 anos!
Agora, é tarde demais para ser reprovado…
E se me dessem – um dia – uma outra oportunidade,
eu nem olhava o relógio
seguia sempre em frente…E iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas.
Publicado em 1980 na obra Esconderijos do tempo, esse poema ficou também conhecido como O tempo. Aqui, Mário Quintana (1906-1994) reflete sobre o cotidiano, a passagem das horas, dias, anos, a passagem de uma vida inteira. O escritor gaúcho nos presenteia com esses lindos versos que trazem a condição inexorável do tempo e a urgência que temos de aproveitar todos os minutos. Ao final, Mário nos deixa como conselho um lembrete para que desfrutemos realmente do tempo de vida que temos.
3. Ofertas de Aninha (Aos moços), de Cora Coralina
Eu sou aquela mulher
a quem o tempo
muito ensinou.
Ensinou a amar a vida.
Não desistir da luta.
Recomeçar na derrota.
Renunciar a palavras e pensamentos negativos.
Acreditar nos valores humanos.
Ser otimista.Creio numa força imanente
que vai ligando a família humana
numa corrente luminosa
de fraternidade universal.
Creio na solidariedade humana.
Creio na superação dos erros
e angústias do presente.Acredito nos moços.
Exalto sua confiança,
generosidade e idealismo.
Creio nos milagres da ciência
e na descoberta de uma profilaxia
futura dos erros e violências do presente.
.
Aprendi que mais vale lutar
Do que recolher dinheiro fácil.
Antes acreditar do que duvidar.
Cora Coralina (1989-1985) traz nesse poema ideias de superação, aprendizado e fé. A poeta goiana aborda a passagem do tempo de forma tranquila, valorizando as oportunidades que teve para se desenvolver e evoluir como ser humano. Como é próprio de sua escrita, Cora destaca a simplicidade e o otimismo como elementos importantes em sua maneira de enxergar o mundo a sua volta.
4. Tão cedo passa tudo quanto passa!, de Ricardo Reis (Fernando Pessoa)
Tão cedo passa tudo quanto passa!
Morre tão jovem ante os deuses quanto
Morre! Tudo é tão pouco!
Nada se sabe, tudo se imagina.
Circunda-te de rosas, ama, bebe
E cala. O mais é nada.
Sob o heterônimo de Ricardo Reis, Fernando Pessoa (19888-1935) convida o leitor a refletir sobre a brevidade da vida, a passagem do tempo e a necessidade de aproveitá-lo da melhor forma possível. Seguindo a filosofia epicurista, o escritor traz o equilíbrio e serenidade como pontos importantes para uma vida com sabedoria.
5. Canto de Um Povo de Um Lugar, de Caetano Veloso
Todo dia o Sol levanta
E a gente canta
Ao Sol de todo diaFim da tarde a Terra cora
E a gente chora
Porque finda a tardeQuando a noite a Lua amansa
E a gente dança
Venerando a noite
Caetano Veloso (1942-), reconhecido músico brasileiro, tem canções com letras belíssimas e poéticas. Esse é o caso de Canto de um povo de um lugar, que integra o álbum Jóia, lançado em 1975. Caetano consegue abordar o tempo com sensibilidade e sutileza, trazendo os ciclos da natureza para o centro da canção e destacando a união das pessoas como um grupo coletivo em sintonia com o sol, a lua e a terra.
6. No mistério do Sem-Fim, de Cecília Meireles
No mistério do Sem-Fim
equilibra-se um planeta.E, no planeta, um jardim,
e, no jardim, um canteiro;
no canteiro, uma violeta,
e, sobre ela, o dia inteiro,entre o planeta e o Sem-Fim,
a asa de uma borboleta.
Trazendo a grandiosidade da vida em contraste com a simplicidade, Cecília Meireles (1901-1964) cria um cenário lúdico e fantástico para abordar a passagem do tempo.
No poema acima, somos levados a uma profunda reflexão sobre a fragilidade, o infinito cósmico e o tempo que permeia tanto os momentos mais singelos quanto a amplidão do universo.
7. O Tempo Passa? Não Passa, de Carlos Drummond de Andrade
O tempo passa ? Não passa
no abismo do coração.
Lá dentro, perdura a graça
do amor, florindo em canção.O tempo nos aproxima
cada vez mais, nos reduz
a um só verso e uma rima
de mãos e olhos, na luz.Não há tempo consumido
nem tempo a economizar.
O tempo é todo vestido
de amor e tempo de amar.O meu tempo e o teu, amada,
transcendem qualquer medida.
Além do amor, não há nada,
amar é o sumo da vida.São mitos de calendário
tanto o ontem como o agora,
e o teu aniversário
é um nascer a toda hora.E nosso amor, que brotou
do tempo, não tem idade,
pois só quem ama escutou
o apelo da eternidade.
Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) é um dos maiores poetas da língua portuguesa. Em vários poemas o escritor aborda o tempo, em alguns de maneira melancólica e em outros mais otimista. Nesse caso, Drummond faz um paralelo entre o tempo e o amor de forma a se complementarem. O poeta faz uma celebração ao amor, apresentando-o como única forma de não sucumbir frente às adversidades do mundo. O que vemos é um convite à reflexão sobre a subjetividade do tempo e a importância de cultivar relações afetivas saudáveis.
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