14 poemas curtos sobre a vida (com comentários)


Laura Aidar
Laura Aidar
Arte-educadora, fotógrafa e artista visual

A poesia normalmente tem o poder de comover as pessoas, trazendo reflexões sobre a vida e os mistérios da existência.

Assim, selecionamos 14 poemas curtos inspiradores com comentários para te fazer refletir.

1. Da felicidade - Mario Quintana

Quantas vezes a gente, em busca da ventura,
Procede tal e qual o avozinho infeliz:
Em vão, por toda parte, os óculos procura
Tendo-os na ponta do nariz!

Mario Quintana nos lembra nesse curto poema a importância de estarmos atentos à felicidade. Muitas vezes já somos felizes, mas as distrações da vida não nos fazem enxergar e valorizar as coisas boas.

2. Segue o teu destino - Fernando Pessoa (Ricardo Reis)

Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias.

imagem de rosa cor-de-rosa com gotas de água

Esse é um trecho de um poema de Fernando Pessoa sob o heterônimo de Ricardo Reis. Aqui, ele nos propõe viver a nossa própria vida sem preocupação com os julgamentos que outras pessoas possam fazer sobre nós.

Seguir nosso "destino", alimentar nossos projetos pessoais e nos amar acima dos outros, esse é o conselho do poeta.

3. Florbela Espanca

Se penetrássemos o sentido da vida seríamos menos miseráveis.

Florbela Espanca foi uma poetisa portuguesa da primeira metade do século XX que deixou um legado emocionante e passional.

Nessa citação, ela afirma que a nossa miséria interior, ou seja, nossa angústia e solidão, poderia ser superada se estivéssemos dispostos a mergulhar nos acontecimentos, experimentando a vida mais intensamente e buscando encontrar um propósito.

4. Estou atrás - Ana Cristina César

Estou atrás do despojamento mais inteiro
da simplicidade mais erma
da palavra mais recém-nascida
do inteiro mais despojado
do ermo mais simples
do nascimento a mais da palavra.

Nesse pequeno poema, Ana Cristina César exibe seu desejo de encarar a vida com maior simplicidade, tentando encontrar um sentido primordial, a essência da vida. Nessa busca, ela quer descobrir também uma maneira mais singela de fazer poesia.

5. Das utopias - Mario Quintana

Se as coisas são inatingíveis... ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos, se não fora
A presença distante das estrelas!

A palavra utopia está relacionada ao sonho, à fantasia, à imaginação. Normalmente é usada para descrever o desejo de se viver em uma sociedade melhor, mais humana e solidária, sem misérias e exploração.

Mario Quintana exibe de forma poética a importância de se manter viva a vontade de transformação, comparando a utopia com o brilho das estrelas, que nos guiam e nos alentam.

6. Correr da vida - Guimarães Rosa

O correr da vida embrulha tudo.
A vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem…

Esse não é bem um poema, mas um trecho do incrível livro O grande sertão: Veredas, de Guimarães Rosa. Aqui o escritor aborda com lirismo as nuances e contradições da vida.

Ele nos traz com palavras simples as inquietações da existência e afirma que é mesmo preciso determinação, força e bravura para encarar os desafios que se apresentam.

7. Felicidade - Clarice Lispector

A felicidade aparece para aqueles que choram.
Para aqueles que se machucam.
Para aqueles que buscam e tentam sempre.

Nesse pequeno texto poético, Clarice Lispector apresenta a felicidade como uma busca, como uma possibilidade real, mas apenas para quem se arrisca e se propõe a vivenciar as dores e prazeres intensamente.

8. Reflexo - Pablo Neruda

Se sou amado
Quanto mais amado
Mais correspondo ao amor.
Se sou esquecido
Devo esquecer também
Pois o amor é feito espelho: Tem que ter reflexo.

O amor muitas vezes pode trazer angústias e sentimentos de impotência quando não correspondido. Assim, Neruda o compara a um espelho, afirmando a necessidade da reciprocidade.

O poeta nos alerta sobre a importância de percebermos quando é preciso deixar de amar e seguir em frente, com auto-amor e confiança em si mesmo.

9. Incenso fosse música- Paulo Leminski

isso de querer ser
exatamente aquilo
que a gente é
ainda vai
nos levar além

O ser humano vive em busca de satisfazer seus desejos, se aperfeiçoar. É essa característica que nos impulsiona a sempre buscar algo que nos "complete".

Mesmo sabendo que a completude é inalcançável, continuamos nessa procura e assim nos tornamos pessoas mais íntegras, interessantes e curiosas.

10. Aproveite a vida - Rupi Kaur

Estamos morrendo
desde que chegamos
e esquecemos de olhar a vista
- viva intensamente.

A jovem indiana Rupi Kaur escreve essa linda mensagem sobre a vida nos apontando a brevidade da existência. Ela nos faz pensar sobre o fato de que desde o nascimento estamos "morrendo", mesmo que cheguemos à idade avançada.

Não devemos nos distrair demais, nos acostumando com as coisas simples e deixando de aproveitar a jornada.

11. Paulo Leminski

Inverno
É tudo o que sinto
Viver
É sucinto.

Viver é sucinto assim como o poema de Leminski. Nele, o escritor utiliza a rima como recurso e apresenta a vida como algo simples e breve.

Ele ainda compara o frio do inverno com seus sentimentos, passando uma ideia de solidão e introspecção.

12. Rápido e rasteiro - Chacal

Vai ter uma festa
que eu vou dançar
até o sapato pedir pra parar

aí eu paro
tiro o sapato
e danço o resto da vida.

A festa que o poeta se refere é a própria vida. Chacal traça um paralelo entre a nossa jornada nesse mundo e uma celebração, nos lembrando da importância de se viver os dias com prazer.

Quando se cansar, ou seja, quando o corpo pedir para parar, o poeta continuará dançando mesmo depois da morte.

13. Poema no meio do caminho - Drummond

No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.

Esse célebre poema de Drummond foi publicado em 1928 na Revista Antropofagia. Na época, causou estranheza em parte dos leitores, devido à repetição. Entretanto, também foi muito elogiado e se tornou um ícone na produção do escritor.

As pedras referidas são símbolos dos obstáculos que encontramos na vida. A própria estrutura do poema exibe essa dificuldade de avançar, trazendo sempre os desafios como rochas a serem escaladas e superadas.

14. Não discuto - Paulo Leminski

não discuto
com o destino
o que pintar
eu assino

Leminski se tornou conhecido por seus poemas sucintos. Esse é um desses pequenos textos famosos.

Nele, o escritor apresenta sua disposição em aceitar o que a vida tiver para oferecer. Dessa forma, se coloca com entusiasmo diante da vida e de seus imprevistos.

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Laura Aidar
Laura Aidar
Arte-educadora, artista visual e fotógrafa. Licenciada em Educação Artística pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e formada em Fotografia pela Escola Panamericana de Arte e Design.