Mitologia grega: 13 mitos importantes da Grécia Antiga (com comentários)


Laura Aidar
Laura Aidar
Arte-educadora, fotógrafa e artista visual

A mitologia grega é um conjunto de mitos e lendas criadas na Grécia Antiga com caráter simbólico e explicativo sobre acontecimentos terrenos.

São fábulas extraordinárias cheias de personagens de todos os tipos que povoam nossa cultura, contribuindo grandemente para a criação do pensamento ocidental.

1. O Mito de Prometeu

A mitologia grega conta que os seres vivos foram criados por dois titãs, Prometeu e seu irmão Epimeteu. Eles ficaram responsáveis por dar vidas a animais e seres humanos.

Epimeteu faz os animais e lhes concede vários poderes, como força, agilidade, capacidade de voar e etc. Mas quando cria os humanos já não tinha mais nenhum bom atributo para dar a eles.

Assim, conta a situação para Prometeu, que se solidariza com a humanidade e rouba o fogo sagrado dos deuses para entregá-lo às pessoas. Tal atitude enfurece Zeus, o mais poderoso dos deuses, que decide castigá-lo de maneira cruel.

Prometeu é então amarrado no alto do Monte Cáucaso. Todos os dias uma grande águia lhe visitava para devorar seu fígado. A noite o órgão se regenerava para que no dia seguinte a ave novamente pudesse comê-lo.

O titã permaneceu nessa situação por muitas gerações, até ser libertado pelo herói Heráclito.

Hefesto acorrentando Prometeu Por Dirck van Baburen, 1623
Hefesto acorrentando Prometeu Por Dirck van Baburen, 1623

Comentário sobre o mito: O fogo sagrado aparece aqui como uma representação da consciência humana, da sabedoria e do conhecimento.

Os deuses ficaram furiosos com a possibilidade dos seres humanos se "igualarem" a eles e por isso Prometeu foi castigado. O titã é visto na mitologia como um mártir, um salvador, alguém que se sacrificou pela humanidade.

2. Caixa de Pandora

A caixa de Pandora é uma história que surge como continuação do mito de Prometeu.

Antes de Prometeu ser castigado, ele havia alertado seu irmão, Epimeteu, a nunca aceitar um presente dos deuses, pois sabia que as divindades estariam buscando vingança.

Mas Epimeteu não acatou o conselho do irmão e aceitou a bela e jovem Pandora, uma mulher que havia sido criado pelos deuses com o intuito de castigar a humanidade por receber o fogo sagrado.

Quando foi entregue a Epimeteu, Pandora também levou uma caixa e a instrução de nunca abri-la. Mas os deuses ao criá-la, colocaram nela a curiosidade e desobediência.

Assim, passado um tempo de convívio entre os humanos, Pandora abriu a caixa. De dentro dela saíram todos os males da humanidade como a tristeza, o sofrimento, as doenças, a miséria, a inveja e outros sentimentos maléficos. Por fim, a única coisa que restou na caixa foi a esperança.

pintura do mito da caixa de Pandora
Pintura de John William Waterhouse representando o mito de Pandora

Comentário sobre o mito: Pandora é descrita pelos gregos como a primeira mulher a viver entre os homens na Terra, o que faz uma relação com Eva na religião cristã. Esse seria então um mito de criação e que explica também as origens das tragédias humanas.

Ambas foram responsabilizadas por darem origem aos males na humanidade, o que explica também um traço característico da sociedade patriarcal ocidental que costuma culpabilizar as mulheres com frequência.

3. Mito de Sísifo

Os gregos acreditavam que Sísifo tinha sido o rei de um território hoje conhecido como Corinto.

Ele teria testemunhado o momento em que uma águia, a mando de Zeus, teria raptado uma moça chamada Egina, que era filha de Asopo, o deus dos rios.

Pensando em se beneficiar da informação e vendo que Asopo estava desesperado procurando a filha, Sísifo conta o que viu e pede em troca que a divindade lhe conceda uma fonte de água em suas terras.

Assim é feito, mas Zeus descobre que havia sido denunciado e decide punir Sísifo, enviando Tânatos, o deus da morte, para buscá-lo.

Sísifo era um sujeito muito inteligente e presenteia Tânatos com um colar. O deus aceita o presente, mas, na verdade, fica preso pelo pescoço, afinal o colar era uma corrente.

O tempo passa e mais nenhum mortal é levado ao submundo, pois Tânatos estava preso. Assim, não há mortes na Terra e o deus Ares (deus da guerra) se enfurece. Ele então liberta Tânatos para finalmente mate Sísifo.

Mais uma vez Sísifo consegue enganar os deuses e escapa da morte, conseguindo viver até a velhice. Mas, como era mortal, um dia não consegue mais fugir do destino. Morre e acaba se encontrando novamente com os deuses.

Ele por fim recebe o pior castigo que alguém poderia receber. É condenado a carregar por toda a eternidade uma enorme pedra ladeira acima. Quando alcançava o topo, a pedra rolava e, mais uma vez, Sísifo deveria levá-la ao topo, em um trabalho cansativo e inútil.

tela retratando Sísifo
Pintura de Ticiano (1490–1576)

Comentário sobre o mito: Sísifo foi um mortal que desafiou os deuses e, por isso, condenado a realizar um trabalho repetitivo, extremamente cansativo e sem sentido algum.

O mito foi usado pelo filósofo francês Albert Camus para ilustrar uma realidade contemporânea que trata das relações de trabalho, das guerras e da inadequação do ser humano.

4. Rapto de Perséfone

Perséfone é filha de Zeus e de Deméter, a deusa da fertilidade e da colheita. A princípio se chamava Cora e vivia sempre ao lado da mãe.

Uma tarde, ao sair para colher flores, Cora é raptada por Hades, o deus do submundo. Ela então desce ao inferno e chegando lá come uma romã, o que significa que não poderia mais voltar para a Terra.

Deméter sai pelo mundo a procura da filha e nesse tempo a humanidade viveu uma grande estiagem, sem conseguir realizar boas colheitas.

Hélio, o deus sol, ao perceber a angústia de Deméter, lhe conta que ela fora levada por Hades. Deméter então pede que o Hades a devolva, mas a garota já havia selado o casamento através da ingestão da romã.

Entretanto, a terra não podia continuar infértil, então Zeus ordena que a moça passe metade do tempo no submundo com o marido e a outra metade do tempo com a mãe.

Pintura de Perséfone
O Retorno de Perséfone Por Frederic Leighton, 1891

Comentário sobre o mito: O rapto de Perséfone é uma lenda que serve para explicar a origem das estações.

Na época em que Perséfone permanecia na companhia da mãe, as duas estavam satisfeitas e por serem divindades relacionadas à colheita, era nesse momento que a terra se tornava fértil e abundante, fazendo referência à primareva e ao verão. No restante do tempo, quando a jovem estava no submundo, a terra secava e nada brotava, como no outono e inverno.

5. Origem da Medusa

No começo, Medusa era uma das mais belas sacerdotisas de Atena, a deusa da guerra justa. A moça tinha os cabelos sedosos e brilhantes e era muito vaidosa.

Atena e Poseidon tinham uma rivalidade histórica, o que faz com o deus do mares decida importunar Atena se aproximando de Medusa. Ele sabia que Atena era uma deusa virgem e que impunha às suas seguidoras que também fossem.

Então Podeidon assedia Medusa e os dois têm relações no templo da deusa Atena. Ao saber que haviam profanado seu templo sagrado, Atena se enfurece e lança um feitiço na sacerdotisa, transformando-a em uma criatura horripilante com cabelos de serpentes. Além disso, Medusa é condenada ao isolamento e não pode trocar olhares com ninguém, pois se assim for as pessoas seriam transformadas em estátuas.

Pintura da Medusa, de Caravaggio
Pintura de Caravaggio retratando Medusa (1597)

Comentário sobre o mito: Existem várias maneiras de interpretar os mitos, assim como existem várias versões dos mesmos. Atualmente a história da Medusa tem sido analisada por algumas mulheres de maneira crítica.

Isso porque expõe uma narrativa em que a moça assediada recebe uma punição, como se fosse sua culpa a violência que sofreu. O mito também naturaliza o fato do deus tomar para si o corpo de uma mulher, o que, na verdade, é um crime.

6. Doze trabalhos de Hércules

Os doze trabalhos de Hércules são um conjunto de tarefas que exigiam força e destreza extraordinárias para serem feitos.

Hércules era um dos vários filhos de Zeus com uma mortal. Hera, a esposa do deus, não tolerava as traições do marido e enviou serpentes para matar a criança. Ma o garoto ainda bebê demonstrou sua força ao estrangular os animais e sair ileso.

Assim, Hera ficou ainda mais furiosa e passou a perseguir o rapaz por toda a vida. Um dia, Hércules teve uma crise de loucura provocada pela deusa e assassinou sua esposa e seus filhos.

Arrependido, ele procura o oráculo de Delfos para saber o que fazer para se redimir. O oráculo então lhe ordena que ele se entregue às ordens de Euristeu, rei de Micenas. O soberano lhe ordena que cumpra doze tarefas dificílimas, enfrentando terríveis criaturas São elas:

  1. O Leão da Nemeia
  2. A Hidra de Lerna
  3. A Corça de Cerineia
  4. O Javali de Erimanto
  5. Os Pássaros do Lago Estínfalo
  6. As cavalariças do Rei Aúgias
  7. O Touro de Creta
  8. As Éguas de Diomedes
  9. O Cinto da Rainha Hipólita
  10. Os Bois de Gérion
  11. As Maçãs de Ouro das Hespérides
  12. O Cão Cérbero
Os doze trabalhos de Hércules, painel lateral de um sarcófago da Coleção Ludovisi
Painel de um sarcófago retratando os Doze trabalhos de Hércules

Comentário sobre o mito: O herói grego Hércules é conhecido na mitologia romana como Héracles. Os doze trabalhos foram narrados em um poema épico escrito em 600 a.C por Peisândro de Rodes.

O herói se tornou um símbolo de força, tanto que existem a expressão "trabalho hercúleo", para designar uma tarefa quase impossível de ser realizada.

7. Eros e Psiquê

Eros, também conhecido como cupido, era o filho de Afrodite, a deusa do amor. Um dia a deusa soube que existia uma mortal, Psiquê, tão bela quanto ela e que os humanos estavam prestando homenagens à moça.

Essa jovem, apesar de bela, não conseguia se casar, pois os homens tinham medo de sua beleza. Assim, a família da moça decide consultar o Oráculo de Delfos, que ordena que ela seja colocada no alto de uma montanha e abandonada lá para que uma criatura horrível a despose.

O triste destino da jovem havia sido tramado por Afrodite. Mas seu filho Eros, ao ver Psiquê, imediatamente se apaixona por ela e a salva.

Psiquê passa então a viver na companhia de Eros com a condição de que nunca veja seu rosto. Mas a curiosidade toma a jovem e um dia ela quebra a promessa, olhando o rosto do amado. Eros fica furioso e a abandona.

Psiquê, em depressão, vai até a própria deusa Afrodite pedir para reaver o amor de seus filho. A deusa do amor ordena que a moça vá até o inferno pedir um pouco da beleza de Perséfone. Ao retornar do submundo com a encomenda, Psiquê pode finalmente reencontrar seu amado.

Psiquê revivida pelo beijo do amor de Antonio Canova
Psiquê revivida pelo beijo do amor de Antonio Canova. Foto: Ricardo André Frantz

Comentário sobre o mito: Esse é um mito que aborda os aspectos de uma relação amorosa e todos os desafios que surgem nessa jornada. Eros é um símbolo do amor e Psiquê representa a alma.

8. O nascimento de Vênus

Vênus é o nome romano de Afrodite, a deusa do amor para os gregos. A mitologia conta que a deusa nasceu no interior de uma concha.

Cronos, o tempo, era filho de Urano (o céu) e Gaia (a terra). Ele castrou Urano e o membro amputado do pai caiu nas profundezas do oceano. Do contato das espumas do mar com o órgão reprodutivo de Urano, foi gerada Afrodite.

Assim, a deusa emergiu das águas no corpo de uma mulher adulta de beleza estonteante.

O Nascimento de Vênus, pintura de Sandro Botticelli de 1483
O Nascimento de Vênus, pintura de Sandro Botticelli de 1483

Comentário sobre o mito: Essa é uma das histórias mais conhecidas da mitologia greco-romana e também é uma lenda de origem, criada para explicar o surgimento do amor.

Segundo os gregos, o amor e o erotismo foi uma das primeiras coisas que surgiram no mundo, antes mesmo da existência de Zeus e outras divindades.

9. A Guerra de Troia

A mitologia conta que a Guerra de Troia foi um grande conflito que envolveu diversos deuses, heróis e mortais. Segundo a lenda, a origem da guerra se deu após o sequestro de Helena, esposa do rei de Esparta, Menelau.

Páris, príncipe de Troia, raptou a rainha e a levou para seu reino. Assim, Agamenon, irmão de Menelau, reuniu esforços para resgatá-la. Entre os heróis que partiram nessa missão estavam Aquiles, Ulisses, Nestor e Ajax.

A guerra durou dez anos e foi vencida pelos gregos após a entrada de um enorme cavalo de madeira em território inimigo que carregava em seu interior inúmeros soldados.

Cavalo de Troia, pintura de Giovanni Domenico Tiepolo, de 1760
Cavalo de Troia, pintura de Giovanni Domenico Tiepolo, de 1760

Comentário sobre o mito: Esse é um dos episódios mais famosos da mitologia grega. A expressão "presente de grego" é uma referência à história. Pois o cavalo de madeira foi oferecido pelos gregos aos troianos como um "presente". Após aceitarem a oferta, o presente se revelou, na verdade, uma armadilha.

10. O mito de Narciso

Quando Narciso nasceu, seus pais logo viram que se tratava de uma criança de inigualável beleza. Percebendo que essa característica poderia causar problemas para o garoto, eles decidem consultar um vidente, o profeta Tirésias.

O homem diz que Narciso viveria muitos anos, contanto que não visse sua própria imagem.

O menino cresce e desperta muitos amores, inclusive o de Eco.

Um dia, curioso por ver seu rosto, Narciso se inclinou em um lago e olhou para o reflexo de seu rosto. Apaixonado por si mesmo, o jovem ficou fissurado por sua imagem e morreu de inanição.

o mito de narciso por Caravaggio
O mito de Narciso por Caravaggio (1596)

Comentário sobre o mito: O mito de Narciso nos diz sobre a individualidade e a consciência de si mesmo.

O termo "narcisimo" foi incorporado pela psicanálise em referência ao mito, para referir a uma pessoa que é tão autocentrada que esquece de se relacionar com o os outros a sua volta.

11. O mito de Aracne

Aracne era uma jovem tecelã muito talentosa e se vangloriava disso. A deusa Atena também era uma exímia tecelã e bordadeira e ficou com ciúmes da habilidade da mortal.

A divindade então foi até a moça e a desafiou para uma competição de bordado. Aracne aceitou o desafio. Enquanto Atena retratava as lutas e conquistas dos deuses em seu bordado, Aracne desenhava com coloridos fios as cruéis punições e crimes dos deuses contra as mulheres.

Com os trabalhos finalizados, era evidente a superioridade de Aracne. Atena, furiosa, destruiu o trabalho da rival e a transformou em uma aranha, condenada a passar o resto dos dias pendurada fiando.

O mito de Aracne, por Gustave Doré
Gustave Doré pintou o mito de Aracne em 1861 para integrar a obra O Inferno de Dante

Comentário sobre o mito: É interessante observar nesse mito como as forças entre o divino e o terreno estão em embate. Aracne é descrita como uma mortal "vaidosa" e atrevida, pois se comparou a uma deusa.

Além disso, a tecelã ousou denunciar as injustiças dos deuses e por isso foi castigada. O mito parece ser uma advertência e afirmação sobre a importância e superioridade da religião para o povo grego.

12. A queda de Ícaro

Ícaro era filho de Dédalo, habilidoso artesão. Os dois viviam na ilha de Creta e serviam ao rei Minos. Um dia o rei se aborreceu com Dédalo após um projeto frustrado e encarcerou ele e seu filho.

Assim, Dédalo elabora um projeto de asas para eles com o objetivo de fugir da prisão. As asas eram feitas com penas e cera e por isso não poderiam chegar muito perto do sol, pois derreteriam. Então o pai alertou Ícaro para que não voasse nem muito baixo, próximo ao mar, nem muito alto, próximo ao sol.

Mas o garoto se empolgou com o par de asas e alcançou grande altitude. Sua asas se derreteram e ele caiu ao mar.

quadro retratando a queda de ìcaro
A queda de Ícaro, de Jacob Peter Gowi (1661)

Comentário sobre o mito: A história surge na mitologia como uma alegoria e uma advertência sobre a importância da ponderação e bom senso. O garoto foi ambicioso e não escutou os conselhos do pai, querendo subir mais alto do que o permitido. Assim, falhou e acabou precisando arcar com as consequências de seu ato desmedido.

13. O fio de Ariadne (Teseu e Minotauro)

Ariadne era a bela filha do rei Minos, soberano de Creta. Na ilha havia sido construído por Dédalo um grande labirinto para abrigar uma criatura terrível, o Minotauro, mistura de touro e monstro.

Muitos homens foram convocados para combater o Minotauro, mas morreram na empreitada. Um dia chegou na ilha o herói Teseu para também buscar a façanha.

Ao ver o jovem, Ariadne se apaixona por ele e teme por sua vida. Ela então lhe oferece um novelo de lã vermelha e recomenda que ele o desenrole ao longo do caminho, assim poderia saber o caminho de volta após enfrentar a criatura.

Em troca, pede que o herói se case com ela. Assim é feito e Teseu consegue sair vitorioso do embate. Entretanto, abandona a jovem, não se unindo à ela.

Teseu e Ariadne na entrada do labirinto
Teseu e Ariadne na entrada do Labirinto, Richard Westall, (1810)

Comentário sobre o mito: O fio de Ariadne é frequentemente usado na filosofia e psicologia como uma metáfora para abordar a importância do autoconhecimento. O fio pode simbolizar um guia que nos ajuda a voltar de grandes jornadas e desafios psíquicos.Você também pode ter interesse:

Referência bibliográfica: SOLNIK Alexandre, Mitologia - Vol. 1. Editora: Abril. Ano 1973

Laura Aidar
Laura Aidar
Arte-educadora, artista visual e fotógrafa. Licenciada em Educação Artística pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e formada em Fotografia pela Escola Panamericana de Arte e Design.