Margaret Atwood: 8 livros para conhecer a autora


Carolina Marcello
Carolina Marcello
Mestre em Estudos Literários, Culturais e Interartes

Margaret Atwood é considerada a maior escritora canadense viva, com uma vasta produção literária de ficção, poesia e ensaio, entre outros gêneros.

As narrativas de Atwood têm arrebatado o público, não só através dos seus livros, mas também graças a adaptações televisivas como The Handmaid's Tale e Alias Grace.

Atenção: este artigo contem spoilers dos livros em análise.

1. O Conto da Aia (1985)

Capa do livro O Conto da Aia.
Capa do livro O Conto da Aia.

O Conto da Aia é, sem dúvida, a obra mais conhecida da autora. O romance distópico é passado num futuro não muito distante, no qual os Estados Unidos se tornam República de Gilea, após um golpe de estado.

Assim, o governo passa a estar nas mãos de fundamentalistas cristãos que afirmam seguir a "lei divina". O sistema totalitário se traduz em uma sociedade extremamente desigual, na qual as pessoas se dividem por castas e as mulheres perdem todos os seus direitos.

A narrativa segue a história de Offred, a protagonista, que é forçada a servir como aia. Numa época em que as mulheres eram subjugadas e tratadas como objetos, a poluição no ar estava deixando a maioria infértil. Por isso, aquelas que ainda conseguiam engravidar eram estupradas pelos homens ricos e obrigadas a ter a criança.

O ato selvático era encarado como uma espécie de ritual religioso, do qual as próprias esposas participavam, em nome da descendência. Neste cenário extremamente opressor e autoritário, a obra reflete sobre questões ainda muito pertinentes, como a opressão das mulheres e o fanatismo religioso como justificação para a violência.

O livro foi adaptado para a televisão e ganhou uma nova geração de leitores com o lançamento da série The Handmaid's Tale, em 2017. Confira o trailer:

Leia também a nossa análise aprofundada do livro O Conto da Aia.

2. A Odisseia de Penélope (2005)

Capa do livro Odisseia de Penélope.
Capa do livro A Odisseia de Penélope.

A Odisseia de Penélope é um livro brilhante que reinventa uma das narrativas mais antigas da literatura ocidental, o poema épico escrito por Homero, do século VII a.C.

A obra do poeta grego conta a aventura de Ulisses, um herói da Guerra de Tróia que vagueia por dez anos tentando regressar a casa. Na Odisseia, Ulisses é amaldiçoado por Poseidon, deus dos mares, e está sempre sendo desviado do seu caminho.

Embora ame a mulher, acaba sendo seduzido pela feiticeira Circe e chega a viver alguns anos ao lado da ninfa Calipso. Enquanto isso, em Ítaca, todos pensavam que a rainha tinha ficado viúva. Logo o palácio se enche de pretendentes que disputam o seu amor, mas Penélope engana a todos para se manter fiel ao marido.

Deste modo, Penélope entrou no nosso imaginário como uma personagem sensata, exemplo de inteligência, ponderação e lealdade. Atwood, no entanto, resolveu contar a história de outra maneira: partindo da perspectiva feminina. O foco não está no homem que se movimenta e aventura, mas na mulher em permanência, que espera por ele.

Depois de morta, ela escreve a sua versão dos acontecimentos, e não se importa em manter as aparências nem a imagem de perfeição que criaram à sua volta. Conta, então, que Ulisses era um mentiroso e inventou os seus relatos fantásticos, sublinhando ainda a dualidade de padrões de comportamento entre homens e mulheres.

3. Lesão Corporal (1981)

Capa do livro Lesão Corporal.
Capa do livro Lesão Corporal.

Lesão Corporal conta a história de Rennie Wilford, uma jovem repórter de viagens que acabou de sobreviver a um câncer. A sua vida amorosa também não estava bem, se revelando uma sucessão de desgostos, depois de ter sido abandonada pelo companheiro e se apaixonado pelo terapeuta.

De forma impulsiva, marca uma viagem, procurando uma mudança na sua vida e material para o seu trabalho. Assim, Rennie acaba viajando para a ilha Santo Antônio, um destino ficcional nas Caraíbas, sem pesquisar muito sobre o local.

Chegando lá, descobre que as condições são bastante precárias e que uma revolução violenta está em curso. Mesmo querendo se manter afastada das agitações políticas, começa um romance com Paul, um traficante de drogas da região.

Aí, a forasteira se vê envolvida no tráfico de armas, vivendo constantemente num clima de medo e desconfiança. Tendo o poder como tema principal, a obra reflete sobre a vida afetiva da protagonista, ilustrando as relações tóxicas e abusivas que acabam por arruiná-la.

4. O Assassino Cego (2000)

Capa do livro O Assassino Cego.
Capa do livro O Assassino Cego.

O Assassino Cego é uma obra narrada por Iris, uma mulher idosa que escreve este relato para si mesma, sem pretensões de torná-lo público. Através de flashbacks e memórias, a narrativa varia entre o passado e o presente, contando duas histórias em paralelo.

Por um lado, temos Iris contando a sua saga familiar e tudo que a conduziu até aquele ponto. Por outro, temos a história de Assassino Cego, o livro que sua irmã publicou antes de morrer. Tendo crescido no período entre a Primeira Guerra Mundial e a Segunda, a protagonista pinta um retrato da sociedade do século XX.

Sua família, que em tempos tinha sido rica, caiu em ruína por causa de uma doença, e também de fatores históricos como a guerra e a crise econômica. Para salvar a situação financeira dos familiares, Iris foi convencida a casar com um homem de posses.

Tudo isso a levou a uma vida solitária e submissa, arrastando um casamento sem amor. Já sua irmã, Laura, morreu em circunstâncias misteriosas. Antes disso, porém, publicou o seu livro, onde narra um amor proibido entre uma mulher da alta sociedade e um homem subversivo do povo.

5. Oryx e Crake (2003)

Capa do livro Oryx e Crake.
Capa do livro Oryx e Crake.

Oryx e Crake é uma obra apontada como "ficção especulativa", ou seja, fala de coisas que seriam possíveis cientificamente, mas extrapola a realidade. Aqui, estamos em um cenário pós-apocalíptico e seguimos os passos de Snowman (Homem de Neve), um indivíduo que sobreviveu e vive rodeado de humanoides.

Através das suas memórias, descobrimos que o seu verdadeiro nome é Jimmy, um garoto que cresceu num mundo dominado pelas grandes corporações, com enormes contrastes sociais. Durante os tempos da escola, conhece Glenn "Crake", um estudante de bioengenharia que inventa os Crakers, humanoides pacíficos.

Entre suas experiências genéticas, Crake inventa um suposto remédio que irá, na verdade, esterilizar a raça humana, para combater o aumento da população. Jimmy vai trabalhar com o amigo e se apaixonada por Oryx, professora dos Crakers, formando um triângulo amoroso.

Quando os efeitos do produto criado por Glen são sentidos, o caos e a pandemia se instalam. Deles, apenas Snowman sobrevive, liderando os Crakers. Este é o primeiro livro da trilogia distópica MaddAddam que está sendo adaptada para a televisão pela Paramount Television, ainda sem data de lançamento.

6. O Ano do Dilúvio (2009)

Capa do livro O Ano do Dilúvio.
Capa do livro O Ano do Dilúvio.

O Ano do Dilúvio é o segundo romance distópico da trilogia MaddAddam. Desta vez, a narrativa se foca em uma antiga seita religiosa, os Jardineiros de Deus, que combinavam elementos bíblicos com conhecimentos científicos.

Na história, os membros da seita são vegetarianos e defendem a preservação dos animais, acreditando que a extinção da humanidade está para chegar.

Respondendo a algumas perguntas que surgiram no primeiro livro, a segunda obra presta atenção às classes sociais mais baixas e às suas vivências do apocalipse. Toby e Ren são duas mulheres jovens cujos destinos se cruzam nos Jardineiros de Deus.

A primeira é uma órfã solitária, cujos os pais morreram, vítimas das grandes corporações. Trabalhando em um restaurante isolado, a moça era assediada pelo chefe e é resgatada por Adam One. Com o tempo, Toby vai se tornando um membro importante do grupo religioso.

Já Ren cresce entre os Jardineiros e acaba se tornando stripper. O livro segue os passos de ambas, acompanhando os modos como resistem ao apocalipse. A obra também explora a dualidade do líder, Adam One: para os Jardineiros, era um homem bom e sábio, mas quem estava de fora o encarava como uma figura perigosa.

7. Vulgo Grace (1997)

Capa do livro Vulgo Grace.
Capa do livro Vulgo Grace.

Vulgo Grace é um romance histórico baseado num duplo assassinato que aconteceu no Canadá, no ano de 1843. Tomas Kinnear e Nancy Montgomery, sua empregada, foram mortos e dois funcionários da casa, Grace Marks e James McDermott, foram apontados como culpados.

Ele foi enforcado e ela condenada a prisão perpétua, tendo inspirado várias histórias. A obra de Atwood se foca nessa figura que sobreviveu, criando uma narrativa ficcional sobre os acontecimentos. Inventa, então, Simon Jordan, um médico que se interessa pelo caso de Grace e procura compreendê-lo.

Graças às conversas entre as duas personagens, ficamos sabendo mais sobre o seu passado e uma infância com um pai alcoólatra e abusivo. A mulher fala também sobre o período em que se tornou empregada e os conselhos que recebeu de Mary, uma funcionária mais velha, sobre as investidas sexuais e o abuso de poder dos patrões.

Assumindo que tinha um caso com James, Grace também revela que as duas vítimas estavam tendo um relacionamento ilícito. De forma trágica, conta ainda que Mary engravidou do filho do patrão e acabou morrendo durante o aborto. O médico explora as possibilidades da moça ter algum distúrbio psicológico ou mesmo estar possuída pelo espírito de Mary.

O livro foi adaptado para a televisão por Mary Harron, diretora da série Alias Grace, lançada em 2017. Conheça o trailer:

8. Os Testamentos (2019)

Capa do livro Os Testamentos.
Capa do livro Os Testamentos.

Os Testamentos é um romance distópico de 2019 que foi bastante aguardado pelo público. Trata-se da sequela de O Conto da Aia e a ação acontece quinze anos depois do primeiro livro. A trama acompanha três personagens femininas: Tia Lydia, Daisy e Agnes.

Lydia é uma das "tias", mulheres mais velhas que devem manipular as aias e prepará-las para exercer as suas "funções". Já conhecida do leitor, ela é uma das antagonistas do primeiro livro. Aqui, no entanto, ficamos conhecendo melhor o seu passado e aquilo que a levou a aceitar o cargo.

Pelo meio, Tia Lydia faz duras críticas aos fundamentalistas religiosos, denunciando o sistema pelas suas crenças, injustiças e violências. O manuscrito que ela redige é intitulado de Os Testamentos. A mais nova obra de Atwood segue ainda as vidas de Daisy e Agnes, as duas filhas de Offred.

Sem se conhecerem, elas têm destinos opostos. Daisy foi resgatada da República de Gilead, tendo sido depois adotada por uma família no Canadá. Já a sua irmã é uma orfã acolhida por uma família do sistema autoritário, que se torna noiva de um comandante.

Sobre Margaret Atwood

Retrato de Margaret Atwood.
Retrato de Margaret Atwood.

Margaret Atwood (18 de novembro de 1939) é uma escritora canadense, referenciada como o maior nome da literatura do seu país.

Amada pela crítica, vem sido indicada como um possível nome para o Nobel de Literatura e já venceu o Booker Prize duas vezes, nos anos de 2000 e 2019.

A autora já publicou mais de quarenta livros, entre ficção, poesia e ensaio, que estão traduzidos para trinta e cinco idiomas. Suas obras (entre as quais se destaca O Conto da Aia) são atravessadas por uma perspectiva feminista, denunciando a opressão da mulher na sociedade.

Atwood ganhou uma nova geração de leitores e seguidores graças ao sucesso da série The Handmaid's Tale. Os personagens do seu romance distópico mais famoso se tornaram também símbolos da opressão feminina, marcando presença em marchas e manifestações pelos direitos das mulheres.

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Carolina Marcello
Carolina Marcello
Mestre em Estudos Literários, Culturais e Interartes e licenciada em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Apaixonada por leitura e escrita, produz conteúdos on-line desde 2017, sobre literatura, cultura e outros campos do saber.