Livro Casa-grande & senzala, de Gilberto Freyre


Rebeca Fuks
Rebeca Fuks
Doutora em Estudos da Cultura

O livro do intelectual Gilberto Freyre é considerado o maior clássico da sociologia brasileira. Longe de romantizar o colonizador português, o sociólogo exalta a importância da miscigenação e da mistura das três raças que formaram o nosso povo.

Casa-grande & senzala é considerado um dos livros fundamentais para se compreender a história e a composição do Brasil.

Resumo

A obra concebida pelo sociólogo Gilberto Freyre é um clássico que trata da formação do povo brasileiro, ressaltando seus defeitos e suas qualidades e as peculiaridades da sua origem.

O livro sublinha o quanto a sociedade brasileira era patriarcal, destaca aspectos do cotidiano na colônia (por exemplo, ficamos sabendo, a partir de Freyre, que quase não havia escolas, as crianças eram criadas no mato).

O autor também diferencia em sua obra o estilo de colonização portuguesa tendo em vista a colonização espanhola e a inglesa.

Casa-grande & senzala aborda especialmente aspectos relacionados a miscigenação, ocorrida com tanta intensidade potencialmente porque havia poucas mulheres brancas disponíveis na colônia. A igreja Católica, diante desse cenário de escassez, incentivou o casamento de portugueses com indígenas (jamais com negras).

Freyre investiga também a origem do mito da promiscuidade brasileira, da exacerbada sexualidade atribuída de modo equivocado aos indígenas e escravos. O intelectual disserta igualmente acerca da origem da opressão contra a mulher, como os homens cultivavam um sentimento de posse em relação as suas senhoras.

Em Casa-grande & senzala comenta-se a influência da igreja católica nas decisões da colônia, frisando o fato de ser proibido o acesso ao sacerdócio para negros ou mestiços.

Em síntese, as palavras do sociólogo se debruçam sobre a descrição dos hábitos da origem do Brasil e os papéis sociais desempenhados pelas diversas camadas da população.

Formou-se na América tropical uma sociedade agrária na estrutura, escravocrata na técnica de exploração econômica, híbrida de índio - e mais tarde de negro - na composição. Sociedade que se desenvolveria defendida menos pela consciência de raça. quase nenhuma no português cosmopolita e plástico, do que pelo exclusivismo religioso desdobrado em sistema de profilaxia social e política.

Sobre a publicação do livro

Lançado em 1933, o livro Casa-grande & senzala foi a mais importante publicação do autor Gilberto Freyre. A obra foi traduzida e publicada em inúmeros países: Argentina (em 1942); Estados Unidos (em 1946); França (em 1952); Portugal (em 1957); Alemanha e Itália (em 1965); Venezuela (em 1977); Hungria e Polônia (em 1985).

A respeito da reação da crítica, o intelectual Antônio Cândido, que considera Casa-grande & senzala uma das obras do século XX do Brasil, afirma:

Hoje é difícil a vocês avaliar o impacto dessa publicação. Foi um verdadeiro terremoto, com reações favoráveis por parte da maioria dos leitores, sobretudo os mais esclarecidos, inclusive os comunistas. Mas houve muita restrição por parte dos elementos conservadores e da direita. É preciso vocês esquecerem as críticas posteriores sobre o corte conservador de muitas posições de Gilberto Freyre, porque numa perspectiva de história das idéias o livro dele atuou como força radical, devido à sua grande carga de desmistificação.

(Entrevista concedida a Revista Brasileira de Ciências Sociais.)

Casa grande e senzala
Capa da primeira edição de Casa-Grande & Senzala.


Edição em quadrinhos

Em 1981, foi publicada pela Editora Brasil-América uma adaptação em quadrinhos feita a preto e branco para a obra de Gilberto Freyre. Os responsáveis pelo trabalho foram Estêvão Pinto (que assinou o texto) e Ivan Wasth (que assinou as ilustrações).

Casa Grande e Senzala
Primeira adaptação para quadrinhos.

A segunda adaptação do clássico para os quadrinhos, já realizada em cores, foi feita em 2001 pela editora ABEGraph.

Casa grande e senzala
Segunda adaptação para quadrinhos.

Quem foi Gilberto Freyre?

O pernambucano Gilberto Freyre nasceu no dia 15 de março de 1900. Era filho de um professor e juiz de direito (Alfredo Freyre) e de uma dona de casa (Francisca de Mello Freyre). Cursou a escola em Recife e partiu, em 1918, para um curso superior nos Estados Unidos.

Cursou a graduação em Artes Liberais na Universidade de Baylor e fez mestrado e doutorado em Ciências Políticas, Jurídicas e Sociais, na Universidade de Columbia. Voltou para o Brasil em 1923.

Depois de dez anos vivendo novamente em sua terra natal, publicou seu livro mais famoso - Casa-grande & senzala - essencial para a compreensão da formação social brasileira.

Em 1946, Freyre foi eleito deputado federal constituinte, o feito mais importante durante o seu mandato foi a criação da Fundação Joaquim Nabuco.

O sociólogo recebeu inúmeros prêmios literários e foi considerado Doutor Honoris Causa por diversas universidades brasileiras e estrangeiras. Recebeu também o título de Cavaleiro do Império Britânico da Rainha Elizabeth II.

Morreu em sua cidade natal no dia 18 de julho de 1987.

Gilberto Freyre
Retrato de Gilberto Freyre.

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Rebeca Fuks
Rebeca Fuks
Formada em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2010), mestre em Literatura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2013) e doutora em Estudos de Cultura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e pela Universidade Católica Portuguesa de Lisboa (2018).