Poema Leilão de Jardim, de Cecília Meireles (com análise)


Laura Aidar
Revisão por Laura Aidar
Arte-educadora, fotógrafa e artista visual

Os versos do consagrado poema Leilão de Jardim foram escritos pela poeta brasileira Cecília Meireles (1901 – 1964).

Além de autora, Cecília foi também professora infantil e dedicou parte importante da produção especialmente para a literatura voltada às crianças.

Em Leilão de Jardim vemos os elementos essenciais da sua literatura infantil: a simplicidade, o desejo de cativar as crianças e de fazê-las experimentar o mundo de forma diferente.

Poema Leilão de Jardim

Quem me compra um jardim com flores?
Borboletas de muitas cores,
lavadeiras e passarinhos,
ovos verdes e azuis nos ninhos?

Quem me compra este caracol?
Quem me compra um raio de sol?
Um lagarto entre o muro e a hera,
uma estátua da Primavera?

Quem me compra este formigueiro?
E este sapo, que é jardineiro?
E a cigarra e a sua canção?
E o grilinho dentro do chão?

(Este é o meu leilão.)

Análise de Leilão de Jardim

O poema Leilão de Jardim é voltado essencialmente para crianças e tem o tom de uma brincadeira infantil, repleta de ingenuidade típica de quem não conhece (ainda) o mecanismo que move o sistema.

De modo sintético podemos resumir o poema dizendo que os versos sublinham o fato de que a natureza - e os seus elementos - não poderem ser negociados.

Através de rimas simples e muitas perguntas, o eu-lírico demonstra e ensina para as crianças que a lógica comercial, capitalista, não pode se aplicar a tudo aquilo que ela vê.

De uma certa forma, o poema nos alerta para o fato de que, o que verdadeiramente importa, não é fabricável pela mão do homem.

Um elogio à natureza

Com um tom de brincadeira, leve, o poema convida o leitor - seja adulto ou criança - a dispender um olhar atento e demorado sobre o que está a nossa volta. O meio em que estamos inseridos e que tantas vezes, no dia a dia, não percebemos.

No poema surgem seres que convivem conosco diariamente: a borboleta, os passarinhos, o caracol, as formigas lavadeiras, citadas apenas como "lavadeiras". Quantas vezes essas criaturas passam por nós e não damos por ela, outras tantas somos aquecidos pelos raios de sol e não damos valor a eles.

Leilão de Jardim chama a atenção para a beleza e para a harmonia na natureza que não estamos habituados a observar.

Sobre a linguagem

O eu-lírico aqui faz uso de uma linguagem cotidiana, empregando o recurso da repetição e da musicalidade (que facilita o processo de memorização).

Os versos do poema infantil são, acima de tudo, descritivos, e frisam também a presença das cores associando-as aos elementos da natureza.

Uma literatura didática

Com uma preocupação didática (convém lembrar que Cecília foi professora primária durante muito tempo), o poema ajuda a estimular a imaginação.

Também, de certa forma, o poema pode ser um aliado no aprendizado das cores e no nome dos animais.

Em muitas atividades escolares os versos são usados de apoio para as crianças trabalharem com outros materiais (papéis, canetas, lápis de cor, estimulando atividades motoras como o corte e cola).

Publicação de Leilão de Jardim

O poema Leilão de Jardim foi publicado no livro Ou isto ou aquilo, lançado pela primeira vez em 1964 por Cecília Meireles pela editora Melhoramentos.

A obra reúne 57 poemas voltados para a infância e procura cativar a criança através de uma linguagem simples, repleta de musicalidade e com exemplos do cotidiano.

Primeira edição de Ou isto ou aquilo
Primeira edição de Ou isto ou aquilo (1964)

A obra passeia por uma série de temas, desde assuntos mais ligeiros - como os abordados em Leilão de Jardim - quanto dramas mais pesados como a morte, a solidão e o medo.

Bastante diverso, o livro reúne também vários tipos de criação do universo infantil: cantigas de roda, de ninar, trava-línguas e parlengas.

Poema Leilão de Jardim musicado

Os versos de Leilão de Jardim foram musicados, confira o resultado:

Quem foi Cecília Meireles

Cecília Meireles

Uma das maiores poetas da literatura brasileira é Cecília Meireles, que nasceu no Rio de Janeiro no dia 7 de novembro de 1901.

Cecília foi criada pela avó materna (chamada Jacinta Garcia Benevides), na Tijuca (zona norte do Rio de Janeiro), depois de ter perdido o pai antes de nascer e a mãe aos três anos.

Formada professora primária, Cecília publicou em 1919 o seu primeiro livro de poemas (uma reunião de sonetos chamada Espectros).

Em 1934 fundou a primeira biblioteca dedicada ao público infantil no Rio de Janeiro.

Reconhecimento profissional

Escritora, professora, pintora e tradutora, Cecília foi muitas e ganhou o mundo tendo sido publicada em uma série de idiomas.

Muito reconhecida pela crítica, a autora foi agraciada com uma série de prêmios nacionais como o Prêmio de Poesia Olavo Bilac, o Prêmio Jabuti e o Prêmio Machado de Assis.

Vida pessoal de Cecília Meireles

Cecília se casou em 1922 com o artista plástico Fernando Correia Dias. Com ele teve três filhas: Maria Elvira, Maria Mathilde e Maria Fernanda.

O casamento teve fim em 1935, quando Fernando cometeu suicídio após uma crise depressiva.

Cinco anos mais tarde Cecília se casou com o professor e engenheiro agrônomo Heitor Vinícius da Silveira Grilo, com quem permaneceu até o final dos dias.

A morte da escritora

A escritora Cecília Meireles faleceu no Rio de Janeiro no dia 9 de novembro de 1964, aos 63 anos, vítima de um câncer.

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Laura Aidar
Revisão por Laura Aidar
Arte-educadora, artista visual e fotógrafa. Licenciada em Educação Artística pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e formada em Fotografia pela Escola Panamericana de Arte e Design.
Rebeca Fuks
Edição por Rebeca Fuks
Formada em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2010), mestre em Literatura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2013) e doutora em Estudos de Cultura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e pela Universidade Católica Portuguesa de Lisboa (2018).