Poema A Bailarina, de Cecília Meireles


Carolina Marcello
Carolina Marcello
Mestre em Estudos Literários, Culturais e Interartes

Cecília Meireles, uma das autoras brasileiras de maior sucesso entre o público infantil, escreveu incontáveis versos para crianças que misturam a diversão e o amor pela leitura.

Entre essas composições, "A Bailarina" tem se destacado como uma das mais célebres e intemporais. Conheça o poema e a sua análise detalhada, abaixo:

A BAILARINA

Esta menina
tão pequenina
quer ser bailarina.
Não conhece nem dó nem ré
mas sabe ficar na ponta do pé.

Não conhece nem mi nem fá
Mas inclina o corpo para cá e para lá

Não conhece nem lá nem si,
mas fecha os olhos e sorri.

Roda, roda, roda, com os bracinhos no ar
e não fica tonta nem sai do lugar.

Põe no cabelo uma estrela e um véu
e diz que caiu do céu.

Esta menina
tão pequenina
quer ser bailarina.

Mas depois esquece todas as danças,
e também quer dormir como as outras crianças.

Análise e explicação do poema

Parte da produção lírica infantil da autora, este poema se foca na imagem de uma criança pequena que está dançando, enquanto é observada pelo sujeito.

Mesmo sem conhecer as notas musicais, sem saber a teoria, a menina já consegue imitar certos gestos, de forma quase instintiva. Ao longo das estrofes, percebemos que ela vai reproduzindo alguns movimentos: fica na ponta dos pés, se inclina, roda sem parar.

Durante a dança, também é notório que a criança transborda alegria e pode dar asas à sua imaginação, fingindo ser uma estrela.

Mais do que uma brincadeira, este parece ser um sonho da criança: ela deseja ser bailarina quando crescer, ideia que se repete na primeira e na sexta estrofe.

Assim, como uma futura bailarina, a garotinha dança por muito tempo, se preparando para aquilo que há de vir. No entanto, toda a agitação acaba deixando a pequena cansada e com sono. Deste modo, chega a hora de parar e descansar, como fazem todas as outras crianças.

Publicada na obra Ou isto ou aquilo (1964), esta é uma das composições de Cecília Meireles que parecem se inspirar na tradição popular e no folclore nacional.

Essa influência está presente, por exemplo, na atenção que é prestada às sonoridades e no uso de rimas e repetições. Ou seja, a intenção por trás do poema não é transmitir uma moralidade ou um ensinamento à criança.

O objetivo é, então, estimular a sua memória e apresentar a poesia enquanto exercício lúdico que combina sons, palavras e imagens.

Escute o poema declamado pelo ator Paulo Autran:

Cecília Meireles e a sua poesia

Cecília Meireles (1901 – 1964) foi uma mulher extremamente talentosa e multifacetada, assumindo os papéis de escritora, poeta, jornalista, professora e artista visual.

Tendo iniciado a sua carreira literária em 1919, a autora começou a escrever para o público infantil pouco tempo depois, com Criança, Meu Amor (1925).

Esta faceta da sua poesia acabou se tornando uma das mais marcantes do seu percurso.

Retrato de Cecilia Meireles

E não se trata de um mero acaso: enquanto professora, autora e mãe de três filhos, Cecília possuía um conhecimento primoroso acerca da literatura e da educação.

Com humor, jogos de palavras e situações do cotidiano, a autora não se cansava de inventar formas de fazer os leitores mirins se apaixonarem, uma e outra vez, pela poesia.

Além de Ou isto ou aquilo (1964), obra que inclui o poema aqui em análise, a carioca publicou grandes clássicos infantis como Giroflê, Giroflá (1956).

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Carolina Marcello
Carolina Marcello
Mestre em Estudos Literários, Culturais e Interartes e licenciada em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Apaixonada por leitura e escrita, produz conteúdos on-line desde 2017, sobre literatura, cultura e outros campos do saber.