As 10 obras mais famosas de Machado de Assis


Carolina Marcello
Carolina Marcello
Mestre em Estudos Literários, Culturais e Interartes

Machado de Assis (1839 – 1908), um dos escritores brasileiros mais notórios de todos os tempos, é apontado como o maior ficcionista da nossa literatura.

Entre seus livros de vários gêneros se destacam alguns títulos que viraram autênticos marcos no panorama literário nacional. Conheça, abaixo, as obras mais célebres e influentes do autor:

1. Dom Casmurro (1899)

Dom Casmurro (1899)

A obra-prima de Machado de Assis é narrada pelo protagonista, Santiago, um homem de meia-idade que é conhecido como "Dom Casmurro", devido à sua teimosia.

No romance, ele relembra o seu percurso desde a infância, quando era chamado de Bentinho e se apaixonou por Capitu, a amiguinha que morava na casa do lado.

Enquanto assistimos à história de amor que vão desenvolvendo ao longo dos anos, somos levados a refletir sobre temáticas atemporais como as relações humanas, o ciúme e a traição.

Tudo é contado a partir da perspectiva de Dom Casmurro e, por vezes, chegamos a duvidar da sua palavra. Assim, a obra deixa uma grande questão no ar e tem sido objeto de inúmeras interpretações por leitores e estudiosos de várias épocas.

Confira também a análise detalhada da obra Dom Casmurro.

2. Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881)

Memórias Póstumas de Brás Cubas

Publicado inicialmente num folhetim, durante o ano de 1880, o romance machadiano veio representar um ponto de viragem na sua carreira literária. O narrador da obra é o protagonista, Brás Cubas, um homem que já está morto e resolve contar a sua história.

Como ele não se encontra mais entre os vivos, assume uma posição privilegiada para falar a verdade, sem nenhum constrangimento, e tecer críticas à sociedade contemporânea.

O "defunto autor" imprimiu um caráter inovador ao livro, que se tornou muito popular e foi considerado a obra inaugural do Realismo no Brasil.

A narrativa segue a biografia de um homem que queria inventar um remédio universal para curar todas as doenças do mundo, mas acabou falecendo durante o processo.

Através dela é possível conhecermos um pouco sobre seu contexto histórico: um tempo caracterizado pelos avanços tecnológicos e científicos, assim como grandes mudanças sociopolíticas e questões filosóficas.

Confira também a análise completa e explicação da obra.

3. Quincas Borba (1891)

Quincas Borba (1891)

Ao lado de Dom Casmurro e Memórias Póstumas, esta é uma das obras que integram a trilogia realista do autor, entendida como o ponto mais alto da sua carreira. O romance conta a história de Rubião, um jovem que começou a trabalhar para um filósofo e acabou herdando a sua fortuna.

Atento às lições do antigo mestre, Joaquim Borba dos Santos, o jovem reflete sobre seu conceito de "Humanitismo", teoria que considerava a guerra uma forma de seleção natural. Devido à sua ingenuidade, ele acaba se tornando vítima da ambição de terceiros e caindo em desgraça.

Fruto do seu tempo, o enredo reflete e satiriza um contexto histórico dominado pelo discurso científico e o pensamento positivista.

Confira também a análise completa da obra Quincas Borba.

4. Helena (1876)

Helena (1876)

Helena faz parte da primeira fase literária de Machado de Assis, na qual ainda eram evidentes as influências do Romantismo. Trata-se um romance urbano, passado no Rio de Janeiro do século XIX, que traça um retrato daquela sociedade.

Quando o Conselheiro Vale morre, seu testamento anuncia à família que ele tinha uma filha ilegítima: Helena, uma jovem que nasceu fora do seu casamento.

Como último desejo, ele pede que a irmã e o filho, Estácio, recebam a herdeira em seu seio familiar. No entanto, apesar da sua doçura, a moça esconde um grande segredo e se envolve num amor proibido.

Confira também a análise do livro Helena.

5. O Alienista (1882)

O Alienista (1882)

Inicialmente publicada em folhetim e depois incluída na coletânea Papéis Avulsos, a obra divide opiniões em relação ao seu gênero: alguns consideram que é um conto, outros uma novela.

Atravessada pela sátira e humor macabro, a narrativa é protagonizada por Dr. Simão Bacamarte, um médico alienista, que atualmente designamos como "psiquiatra". Embora seja extremamente dedicado à profissão, ele se casa com Evarista pensando em gerar descendentes.

Com o tempo, começa a acreditar que a infertilidade da mulher resulta de problemas psicológicos e decide abrir a Casa Verde, um hospital psiquiátrico que passa a abrigar todos os pacientes da região.

Confira também a análise completa de O Alienista.

6. Esaú e Jacó (1904)

Esaú e Jacó (1904)

O romance, um dos últimos livros que Machado de Assis publicou, segue os destinos de Paulo e Pedro, dois gêmeos que nascem de uma mulher chamada Natividade. O enredo constrói um paralelismo evidente com a história bíblica de Esaú e Jacó que é narrada de livro de Gênesis.

Os irmãos vivem num grande conflito que começou quando ainda estavam na barriga da mãe. Suas divergências são sobretudo ideológicas, já que um é republicano e o outro defende o Império.

Na obra ficam claras as tensões sociopolíticas que dividiam um Brasil em plena derrocada do sistema monárquico, configurando um testemunho importante sobre a época.

7. Missa do Galo (1893)

Missa do Falo (1893)

Passado na noite de Natal, este é um dos contos machadianos mais famosos e foi incluído na coletânea Páginas Recolhidas (1899). Nogueira, o jovem narrador, está hospedado na casa de um conhecido e espera que o vizinho o chame para a Missa do Galo.

Enquanto todos dormem, surge a dona da casa, Conceição, e os dois ficam conversando, em segredo, pela noite adentro. Embora nutra o maior respeito pela mulher mais velha e seu esposo, o adolescente fica impactado pelo encontro que nunca mais consegue esquecer.

Aqui, o desejo que não se concretiza parece servir de crítica para a sociedade burguesa, seus falsos moralismos e condutas hipócritas.

Confira também a análise e explicação do conto Missa do Galo.

8. A Cartomante (1884)

A Cartomante (1884)

Primeiro publicado na "Gazeta de Notícias" e depois na coletânea Várias Histórias (1896), o conto narra um inesquecível triângulo amoroso.

Rita é casada com Vilela, mas mantém uma relação extraconjugal com Camilo e teme as consequências de suas ações. Preocupada com o futuro, a protagonista resolve procurar os conselhos de uma cartomante.

A narrativa é uma crônica de costumes da sociedade burguesa e os modos como ela encarava o casamento enquanto instituição apenas movida por interesses financeiros.

Confira também a análise completa do conto A Cartomante.

9. A Mão e a Luva (1874)

A Mão e a Luva (1874)

Integrando a fase romântica do autor, esta foi a primeira obra que Machado de Assis publicou em formato de folhetim, no jornal "O Globo". A protagonista da história, Guiomar, é uma jovem que vive indecisa entre três pretendentes: Estêvão, Jorge e Luís.

Embora se debruce sobre sentimentos e relações amorosas, o romance traça um retrato psicológico e crítico do seu tempo. As dúvidas da moça ilustram o modo como o matrimônio era encarado enquanto "veículo para subir na vida" e ascender socialmente.

10. Memorial de Aires (1908)

Memorial de Aires (1908)

Memorial de Aires (1908) foi lançado no ano da morte do autor, sendo o seu último romance publicado. A obra assume a forma de um diário que reúne vários episódios vividos por Aires, um personagem que apareceu noutros livros de Machado, como Esaú e Jacó.

Repleto de ironia e sarcasmo, o enredo é passado no núcleo da elite carioca. Algumas interpretações apontam um possível cunho autobiográfico, já que parecem existir paralelismos entre os nomes dos personagens.

Deste modo, "Aires" poderia ser uma representação de Assis e sua amada, "Carmo", seria a esposa Carolina.

Se você quer descobrir mais sobre o autor, conheça tudo sobre a vida e obra de Machado de Assis e seus contos mais famosos.

Carolina Marcello
Carolina Marcello
Mestre em Estudos Literários, Culturais e Interartes e licenciada em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Apaixonada por leitura e escrita, produz conteúdos on-line desde 2017, sobre literatura, cultura e outros campos do saber.