Na Netflix: Este ator de comédia decidiu dirigir um filme e fez a obra mais perturbadora da última década


Carolina Marcello
Carolina Marcello
Mestre em Estudos Literários, Culturais e Interartes
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Lançado em 2018, Um Lugar Silencioso é um filme de terror e suspense norte-americano muito aclamado pelo público e a crítica.

O enredo acontece numa realidade pós-apocalíptica com predadores que caçam mediante os sons que escutam. Para evitar a desgraça iminente, a família Abbott precisa viver totalmente em silêncio.

O longa-metragem agradou os espectadores pela originalidade da sua premissa e sobretudo pela forma como usa o som para jogar com as nossas emoções, criando um clima de tensão e suspense do começo ao fim.

Após seu sucesso estrondoso, a sequela foi lançada em 2021, com o mesmo diretor e elenco.

Principais temas e simbologias

Brincando com aquilo que mais nos assusta, Um Lugar Silencioso fala sobre a resiliência e o instinto de sobrevivência que toma conta de nós nas situações mais extremas.

A obra também nos faz refletir sobre o medo do desconhecido e o modo como nos sentimos vulneráveis perante cenários que fogem do controle e da compreensão humana.

Família como salvação

O enredo acompanha uma família unida que está disposta a tudo para se proteger e prosperar, mesmo no meio do caos. Eles fazem sacrifícios, sempre pensando na segurança uns dos outros.

Família Abbott escapando junta.

A forte ligação entre Regan e Marcus, os irmãos, marca a narrativa. Uma vez que ela é surda, acaba tendo vantagem naquele mundo onde emitir sons pode ser um enorme perigo. A dinâmica que se estabelece entre eles representa a necessidade de colaboração e de trabalhar em equipe para superar desafios.

Os Abbott montam diversas armadilhas para afastar os estranhos predadores. Isto parece representar a criatividade quase infinita do ser humano para se adaptar nos momentos mais difíceis e encontrar soluções inovadoras para os problemas.

Evelyn, a mãe, está grávida. Sua condição pode ser interpretada de várias formas. Por um lado, isso a torna mais vulnerável e diminui a capacidade do clã na hora de fugir ou resistir. Por outro lado, o bebê que vai nascer também é um indício de esperança, sinalizando que a vida continua e que podem acontecer coisas boas até nas piores situações.

O peso do silêncio

No filme, o isolamento dos personagens é representado de diversos modos. Eles vivem numa fazenda afastada de tudo, no Meio-Oeste norte-americano. Suas ligações com o resto do mundo são escassas: só podem contar uns com os outros.

Pai tampando a boca do filho.

Como não é permitido conversar livremente, sua comunicação é limitada. Eles vivem quietos e sem fazer barulho, não porque estão em paz, mas porque permanecem com medo da perseguição e do ataque.

De certa forma, isso pode simbolizar a dificuldade dos seres humanos se conectarem uns com os outros e a opressão de nos sentirmos silenciados por fatores externos.

O filme é tão silencioso em algumas partes que se torna desconfortável para a audiência, causando ansiedade nos espectadores e nos aproximando daquilo que os personagens estão sentindo.

Diretor do filme e processo criativo

John Krasinski é um rosto já conhecido pelo público, principalmente devido à série The Office, onde interpretou Jim Halpert, entre 2005 e 2013. Contudo, descobrir que ele dirigiu uma obra de terror tão bem-sucedida pode ser uma surpresa para muitos.

Mais: foi um dos autores do roteiro, junto de Scott Beck e Bryan Woods. Inicialmente, a ideia foi plantada na mente de Woods: como seria viver num mundo onde é proibido fazer barulho? Foi a partir daí que os três começaram a desenvolver a trama.

Ligações familiares reais

Krasinski também tem um dos papéis principais, representando o pai da família, ao lado da esposa, Emily Blunt. Casados na vida real, os atores conseguiram transmitir uma grande intimidade na tela.

Krazinski e Blunt são casados na vida real.

A filha mais nova do casal tinha acabado de nascer, o que acabou influenciando o longa-metragem. O diretor queria falar de algumas coisas que estava sentindo naquele momento, como a necessidade de proteger a família acima de tudo.

Linguagem de sinais e uso do som

Na trama, os Abbott têm uma filha surda. A preparação do elenco incluiu um treinamento intensivo de linguagem de sinais, com uma instrutora que também é surda, para garantir a autenticidade das atuações.

Muitas cenas exigiam que os atores permanecessem em silêncio, o que representou um desafio, já que tinham de comunicar sobretudo por expressões faciais e linguagem corporal.

Filha comunicando com pai usando linguagem de sinais.

Com o silêncio no centro de tudo, a equipe de som teve que encontrar maneiras criativas de transmitir emoções e suspense sem muitos diálogos ou trilha sonora. Isso incluiu o uso mínimo de música e a amplificação de pequenos ruídos.

Influências e orçamento do filme

Entre as suas influências, estão clássicos do gênero como Tubarão e Alien - O Oitavo Passageiro. O objetivo era ir além dos sustos habituais neste tipo de narrativa, jogando com o terror psicológico e o medo do desconhecido.

A produção teve um orçamento relativamente baixo, que foi usado, sobretudo, para pagar os espaços onde filmaram, mas Um Lugar Silencioso consegui conquistar um grande sucesso comercial.

Um Lugar Silencioso: Dia Um

Depois do sucesso das partes 1 e 2, a franquia terá um novo lançamento em breve. Trata-se de uma prequela, dirigida por Michael Sarnoski, que também assina o roteiro.

No novo longa-metragem, acompanhamos a chegada das criaturas alienígenas ao nosso planeta e o modo como a sociedade começa a colapsar. O trailer foi lançado em fevereiro e o filme vai chegar aos cinemas brasileiros em junho.

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Carolina Marcello
Carolina Marcello
Mestre em Estudos Literários, Culturais e Interartes e licenciada em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Apaixonada por leitura e escrita, produz conteúdos on-line desde 2017, sobre literatura, cultura e outros campos do saber.