Olga Tokarczuk e Peter Handke: 6 livros dos vencedores do Nobel de Literatura 2019


Carolina Marcello
Carolina Marcello
Mestre em Estudos Literários, Culturais e Interartes

Em outubro de 2019, o Nobel de Literatura contou com uma premiação dupla. Depois do escândalo do ano anterior, que resultou no cancelamento da cerimônia, desta vez foram entregues dois prêmios: o referente a 2018 para Olga Tokarczuk e o de 2019 para Peter Handke.

Explore algumas obras essenciais dos autores e conheça um pouco dos seus universos literários.

Quem é Olga Tokarczuk?

Olga Tokarczuk nasceu em Sulechów, na Polônia, em 1962. O seu amor pela literatura surgiu ainda nos tempos da escola, onde aproveitava o acesso à biblioteca para ler obras de vários gêneros.

Embora tenha estudado psicologia e chegado a exercer, acabou enveredando pela carreira literária. Em 1993, publicou o seu primeiro livro, A Jornada do Povo-Livro, uma obra que tem lugar na Espanha do século XVII.

Retrato de Olga Tokarczuk.
Retrato de Olga Tokarczuk.

Envolvida nas questões sociopolíticas do seu país, Tokarczuk também é conhecida por ser ativista, ecologista e defensora dos direitos das mulheres. Nas suas obras, reflete sobre acontecimentos históricos e culturais marcantes.

Além de romances, também escreve poesia, ensaios e roteiros, tendo as suas obras traduzidas para treze idiomas. Apontada como um dos maiores nomes literários da sua geração, a autora recebeu o Nobel de Literatura aos 57 anos.

A Academia Sueca premiou a obra de Tokarczuk pelas "narrativas cheias de imaginação que com paixão enciclopédica representam a travessia das fronteiras como uma forma de vida".

1. Os Vagantes (2007)

Os Vagantes é um romance fragmentário composto por 116 narrativas curtas que variam de extensão, podendo ocupar apenas uma linha ou várias páginas.

Algumas das histórias, narradas por uma mulher viajante, são puramente ficcionais e outras são baseadas em acontecimentos verídicos.

O título original, Bieguni, faz referência a um antigo setor da Igreja Ortodoxa, "os fugitivos", que acreditavam que tinham que estar sempre viajando e mudando de lugar para evitar o mal.

Com isto em mente, a obra é também uma reflexão filosófica sobre o estilo de vida moderno, em constante movimento. No Brasil, o livro foi publicado em 2014, pela editora Tinta Negra, com tradução de Tomasz Barcinski. Atualmente, o romance está esgotado nas livrarias nacionais.

2. Sobre os Ossos dos Mortos (2009)

A obra conta a história de Janina, uma mulher de meia idade que reside na Polônia rural. Solitária, vive com seus animais de estimação e se dedica à astrologia e à tradução de poemas. Quando os seus cachorros desaparecem, a protagonista desconfia do vizinho, de quem não gosta por ser caçador.

Depois deste aparecer morto, a mulher começa a ser encarada como suspeita do crime. Durante a investigação, mais quatro caçadores são assassinados na região, em circunstâncias bastante estranhas.

No meio de toda a confusão, Janina também encontra o amor, se envolvendo com um forasteiro que surge para investigar espécies ameaçadas. Deste modo, o livro combina elementos de mistério e romance policial com temáticas bastante atuais como o ambientalismo e os direitos dos animais.

Em 2017, a narrativa foi adaptada para o cinema, com o título Spoor e direção de Agnieszka Holland. Conheça o trailer:

Sobre os Ossos dos Mortos será editado no Brasil ainda em 2019, pela Todavia, com tradução de Olga Bagińska-Shinzato.

3. Escrituras de Jacó (2014)

Mais recente nesta lista, Escrituras de Jacó (ou Livros de Jacó) é uma das obras mais conhecidas da autora, mas ainda não está traduzida para a língua portuguesa. Graças a ela, Tokarczuk ganhou o segundo prêmio Nike, a maior honraria para escritores do seu país.

O livro é passado na Polônia do século XVIII e se foca em Jacob Frank, uma figura histórica desse período. Frank era líder de uma curiosa seita judaica, cujos membros teriam se convertido ao catolicismo e ao islamismo. A obra acompanha os movimentos de seus seguidores e também daqueles que se opunham ao grupo.

Na Polônia, os conflitos ideológicos também estão bastante presentes no panorama literário. Assim, embora o romance tenha recebido uma resposta positiva da crítica, chamou a atenção de movimentos nacionalistas e da extrema direita.

Por causa de seus escritos, a autora passou a ser alvo de ódio e perseguição destes grupos.

Quem é Peter Handke?

Peter Handke nasceu em Caríntia, na Áustria, no ano de 1942. Seu acervo literário é bastante vasto e conta com obras de romance, poesia, teatro e ensaios, entre outros gêneros. O escritor também trabalha no campo das artes visuais, como roteirista e diretor de cinema.

Handke começou a estudar Direito mas, durante a faculdade, entrou em contato com o mundo da literatura e descobriu a sua vocação. Na verdade, depois de publicar a sua primeira obra, As Vespas (1966), o autor acabou abandonando os estudos para se dedicar à escrita.

Retrato de Peter Handke.
Retrato de Peter Handke.

Sua história de vida ficou marcada por acontecimentos sociopolíticos e familiares de contornos trágicos, como a Segunda Guerra Mundial que vitimou parte dos seus parentes e o suicídio da mãe, durante a década de setenta.

Alguns destes eventos são narrados na sua obra literária, principalmente no romance semiautobiográfico Uma tristeza além dos sonhos (tradução livre), de 1972.

Premiado aos 76 anos, Peter Handke é encarado como um dos escritores mais influentes do seu tempo. Durante a cerimônia de entrega do prêmio, a Academia Sueca declarou que o autor estava sendo homenageado por "ter explorado a periferia e a especificidade da experiência humana".

4. A Mulher Canhota (1976)

Ainda sem tradução no Brasil, A Mulher Canhota é indicada como uma das obras mais notórias do autor. A narrativa segue Marianne, uma mulher de 30 anos que está se divorciando do marido. Mãe de uma criança, ela decide abandonar o companheiro e ir viver com o filho em outro lugar.

Um retrato triste de um relacionamento em ruínas, a história ilustra os sentimentos de desamparo e solidão da protagonista, começando uma vida nova. O final do amor e a separação de famílias são também temas explorados pelo autor.

Em 1977, apenas um ano depois da publicação, o livro foi adaptado para o cinema, num filme homônimo dirigido pelo próprio Hawke. Confira o trailer:

5. Don Juan (Narrado por Ele Mesmo) (2007)

Don Juan (Narrado por Ele Mesmo) é uma das obras de Peter Handke que já se encontram disponíveis no Brasil. O livro foi traduzido por Simone Homem de Mello e publicado pela editora Estação Liberdade.

Ao contrário daquilo que o título afirma, aqui o narrador da obra é um homem solitário, que trabalha como cozinheiro e se dedica profundamente à leitura. Quando, de repente, decide abandonar os livros, é confrontado com uma surpresa inesperada: Don Juan aparece, do nada, no seu jardim.

Passado na França, o romance reinventa o personagem lendário e o situa na realidade contemporânea.

6. Os Belos Dias de Aranjuez (2012)

Os Belos Dias de Aranjuez é uma peça de teatro que estreou no Festival de Viena, encenada por Luc Bondy. Embora o livro ainda não esteja em circulação no Brasil, já foi traduzido para a língua portuguesa por Maria Manuel Viana e publicado pela editora lusitana Documenta.

A peça que tem o subtítulo Um diálogo de Verão é isso mesmo: uma longa conversa entre um casal. Anônimos, a mulher e o homem demonstram grande cumplicidade e trocam confissões sobre amor, relacionamentos, envolvimentos sexuais e temas afins.

Aos poucos, o diálogo vai se ampliando para questões cada vez mais variadas e profundas: a natureza, a realidade, o significado da vida. Através das falas dos dois personagens, Handke nos passa uma visão muito ligada ao passado, mas também atenta aos pequenos detalhes do mundo.

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Carolina Marcello
Carolina Marcello
Mestre em Estudos Literários, Culturais e Interartes e licenciada em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto.