Viagens na minha terra: resumo e análise do livro de Almeida Garrett


Rebeca Fuks
Rebeca Fuks
Doutora em Estudos da Cultura

Viagens na minha terra é uma obra-prima da literatura portuguesa romântica. Escrita em 1843 por Almeida Garrett, o texto foi inicialmente publicado na revista Universal Lisboense e permanece editado até os dias de hoje, sendo um dos marcos cruciais da literatura lusitana.

Resumo

Publicado inicialmente em 1843-1845 na Revista Universal Lisbonense, e reunido posteriormente em volume em 1846, Viagens na minha terra é uma obra chave da literatura romântica portuguesa. A narrativa é inspirada no clássico Viagem Sentimental (1787), de Sterne e em Viagem à roda do meu quarto (1795), de Xavier de Maistre.

O livro escrito por Garrett se divide em 49 capítulos e mistura uma série de gêneros literários, pode ser considerado desde um relato jornalístico até uma literatura de viagens.

O mote que move a escrita é uma viagem a Santarém, viagem por sinal efetivamente feita por Garrett, no ano de 1843, a convite do político Passos Manuel.

Já no princípio do primeiro capítulo o narrador anuncia:

De como o autor deste erudito livro se resolveu a viajar na sua terra, depois de ter viajado no seu quarto; e como resolveu imortalizar-se escrevendo estas suas viagens. Parte para Santarém. Chega ao terreiro do Paço, embarca no vapor de Vila Nova; e o que aí lhe sucede.

O protagonista é Carlos, filho de um frade que desgraçou a sua mãe. Mas esse não é o único drama da narrativa: Carlos é um combatente liberal e o pai é seu próprio opositor político. A meio do texto, a escrita vai sendo interrompida pelas mais diversas digressões.

Viagens na minha terra também é fundamental porque reflete sobre os problemas sociais do seu tempo ao mesmo tempo que trata dos dramas sentimentais individuais dos protagonistas. Um dos maiores críticos da literatura portuguesa, Saraiva, afirma:

“Há em todo este enredo um claro simbolismo político e social: o emigrado é filho do frade, como o Portugal revolucionário é filho do Portugal clerical; e só por acidente aquele não assassina o pai, como o novo Portugal liquidara pela base o Portugal antigo.”

O projeto ideológico de Almeida Garrett

O autor português acreditava que a literatura tinha também a função de educar as massas populares. Como escritor sentia que possuía um forte papel na consciencietização dos seus conterrâneos.

Garrett deixou explícito um desejo de regresso da literatura portuguesa às raízes nacionais e populares. Ele aspirava produzir obras de arte autenticamente nacionais, repleta de fatos históricos, folclóricos, lendas e tradições nativas.

Seu maior projeto de vida foi escrever sobre Portugal para os portugueses. Como estudioso e teórico, pode-se afirmar que o autor foi um dos precursores do nacionalismo do fim do século. Sua obra é, portanto, marcada por uma forte militância política, ideológica e moral.

A linguagem utilizada por Garrett

A produção de Garrett é essencial por ter sido responsável pela modernização e pela renovação da prosa literária em Portugal. O autor foi capaz de se libertar do modelo clássico, da prosa clerical e cortês, e se permitiu um estilo mais a vontade, fazendo uso de uma linguagem coloquial, leve, cotidiana, espontânea e acessível a todos.

Diz-se que Garrett escrevia como se falasse alto, isto é, investia em uma linguagem repleta de improvisos e momentos de humor. Também foi responsável pela inserção de estrangeirismos e por reavivar certos arcaísmos.

Garrett e o seu contexto histórico

A obra deixada pelo escritor é fundamental não só em termos estéticos como também por ser uma fonte inesgotável de informação sobre o seu tempo. Através do legado deixado pelo autor é possível ter sinais da vida social do tempo em que viveu.

Lisboa no século XIX.
Lisboa no século XIX.

Quem foi Almeida Garrett?

Em fevereiro de 1799 nascia, no Porto, João Batista da Silva Leitão de Almeida Garrett. No berço de uma família abastada de comerciantes com negócios no Brasil, cursou Direito em Coimbra e escreveu poemas, narrativas e peças de teatro.

Enquanto poeta, Garrett iniciou sua carreira a partir de um arcadismo praticamente puro embora tenha alcançado um romantismo invidualista, passional e confessional. Um dos seus trabalhos mais famosos, o livro As folhas caídas (1853), foi uma obra central para o lirismo romântico português.

Garrett também foi um importante escritor de teatro, autor das peças Catão (1822), Mérope (1841), Um auto de Gil Vicente (1838), D.Filipa de Vilhena (1840), O Alfageme de Santarém (1842) e Frei Luís de Sousa (1843), sendo esta última considerada a obra-prima do teatro romântico português.

Devido ao seu trabalho consistente no teatro, Garrett recebeu do governo, em 1836, a incumbência de organizar um teatro nacional.

Almeida Garret

Leia o livro na íntegra

Viagens na minha terra está disponível para download gratuito em formato PDF através do domínio público.

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O livro Viagens na minha terra também está disponível em audiobook:

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Rebeca Fuks
Rebeca Fuks
Formada em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2010), mestre em Literatura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2013) e doutora em Estudos de Cultura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e pela Universidade Católica Portuguesa de Lisboa (2018).