Jorge Amado é considerado um dos grandes nomes da literatura nacional.
O escritor baiano tem um vasta produção de contos e romances nos quais valoriza as particularidades do povo brasileiro, sobretudo a população negra e nordestina.
Contribuiu assim para a construção da identidade cultural de nosso povo, sempre colocando em suas narrativas as questões sociais de seu interesse.
Algumas de suas histórias foram adaptadas para a televisão e cinema, favorecendo que sua produção ficasse ainda mais conhecida.
O escritor é reconhecido também no exterior, sendo um dos autores brasileiros mais vendidos em todo o mundo.
Obras de Jorge Amado
A carreira de Jorge Amado foi bastante longa. Por ter iniciado na escrita ainda jovem, foram 70 anos dedicados, entre outros interesses, à literatura.
Jorge foi responsável pela criação de muitas narrativas, tendo 32 livros publicados. Desses, muitos foram traduzidos em 49 idiomas e vendidos em 55 países.
Assim, tornou-se o segundo escritor brasileiro de maior sucesso em outros países, ficando atrás apenas de Paulo Coelho.
Ano de publicação | Obra | Comentário |
1931 | O país do carnaval | Um retrato da juventude dos anos 30 na Bahia. |
1933 | Cacau | Obra fortemente comprometida com a causa social. |
1934 | Suor | Um tanto naturalista, aborda as desigualdade e lutas por um mundo melhor. |
1934 | Jubiabá | Representa um salto de amadurecimento em sua produção, sendo reconhecida no exterior. |
1936 | Mar Morto | Escrito em 15 dias, conta sobre marinheiros, pescadores e o povo que vive perto do mar. |
1937 | Capitães de areia | Foi recolhida pelo governo e queimada em praça pública. Depois torna-se um sucesso. |
1941 | ABC de Castro Alves | Uma biografia de Castro Alves em tom lírico. |
1942 | O cavaleiro da esperança | Um livro sobre Luís Carlos Prestes e a Coluna Prestes. |
1943 | Terras do sem fim | Discorre sobre as lutas e terras dominadas pela produção de cacau. |
1944 | São Jorge dos Ilhéus | Obra complementar de Terras do sem fim. |
1944 | Bahia de Todos os Santos | Um retrato de Salvador na década de 40. |
1944 | O amor do soldado | Aborda a vida de Castro Alves e sua atuação abolicionista. |
1946 | Seara Vermelha | A história de uma família de retirantes nordestinos indo para São Paulo.. |
1951 | O mundo da paz | Narra com paixão as viagens em terras da União Soviética e a implantação do socialismo. |
1953 | Gabriela, cravo e canela | Obra de maior sucesso, se passa nos anos 20 na região de Ilhéus. |
1954 | Os subterrâneos da liberdade | Nessa obra o autor retoma a luta do povo contra a ditadura do Estado Novo. |
1961 | A morte de Quincas Berro D'Agua | Conta a história de Joaquim, um homem de 50 anos que revolta-se com sua vida tediosa e transforma-se no malandro Quincas. |
1961 | Os velhos marinheiros | Conta a história de um homem que herda uma herança e mesmo sem saber navegar, embarca em uma longa viagem. |
1964 | Os pastores da noite | Três histórias que contam sobre o povo nego e mestiço na Bahia. |
1966 | Dona Flor e seus maridos | Uma viúva que casa-se novamente mas continua tendo a presença de seu falecido marido. |
1969 | Tenda dos Milagres | Seguindo o próprio autor: “É uma reflexão sobre a formação da nacionalidade brasileira, que mostra a importância da mistura e da luta contra o racismo no Brasil”. |
1972 | Tereza Batista cansada de guerra | Conta a trajetória sofrida de Tereza e a resistência feminina em um ambiente extremamente hostil. |
1976 | O gato Malhado e a andorinha Sinhá | Em 1948 Jorge escreveu para seu filho esse livro infantil, que ficou perdido por muito tempo, sendo publicado quase 30 anos depois. |
1977 | Tieta do Agreste | Sobre as transformações que ocorriam na Bahia nos anos 70. Narra a história de uma mulher que, depois de sair do interior baiano, retorna totalmente mudada. |
1979 | Farda fardão camisola de dormir | O pano de fundo é a esfera intelectualizada e literária do Rio de Janeiro nos anos 40. |
1981 | O menino grapiúna | Romance autobiográfico sobre a infância do escritor. |
1984 | A bola e o goleiro | Livro infantil. |
1984 | Tocaia Grande | Conta sobre a formação de um vilarejo, com seus personagens e dilemas. |
1988 | O sumiço de santa: uma história de feitiçaria | Narrativa recheada de elementos culturais negros e africanos. |
1992 | Navegação de cabotagem | Aos 80 anos Jorge Amado relembra sua vida e cria essa autobiografia. |
1992 | A descoberta da América pelos turcos | Conta sobre os migrantes árabes em terras baianas e suas influências no ciclo do cacau. |
1997 | O milagre dos pássaros | Transforma a oralidade de um "causo" conhecido de traição no sertão nordestino em conto literário. |
Personagens marcantes
Alguns livros do escritor foram transformados em novelas, filmes e peças de teatro. Então, alcançaram ainda mais sucesso e alguns personagens se tornaram marcas de sua obra.
Gabriela
Gabriela, cravo e canela foi o primeiro romance de Jorge Amado adaptado para o audiovisual. Em 14 de abril de 1975 foi a estreia de Gabriela, novela da Rede Globo. Seu último capítulo foi exibido em 24 de outubro do mesmo ano.
A personagem principal foi interpretada por Sônia Braga e fez um enorme sucesso, permeando o imaginário das pessoas até os dias atuais.

Dona Flor e seus dois maridos
Já a obra Dona Flor e seus dois maridos foi transformada em um filme em 1976, tendo a direção assinada por Bruno Barreto.
A produção enfoca no caráter cômico da história, apresentando Dona Flor, vivida também por Sônia Braga, seu falecido marido Vadinho, interpretado por José Wilker, e o marido atual, o farmacêutico Dr. Teodoro Madureira, feito por Mauro Mendonça.
Houve também outras versões da história na televisão e teatro, tamanho o reconhecimento e identificação do público com os personagens.

Tieta do Agreste
A novela Tieta, baseada em Tieta do Agreste, ficou no ar entre 14 de agosto de 1989 a 31 de março de 1990. A história, baseada em Tieta do Agreste, conta sobre uma mulher no interior baiano que é escorraçada de casa por seu pai, que não aceitava seu comportamento livre.
Assim, Tieta vai para São Paulo e se transforma em uma cafetina influente e com dinheiro. Quando retorna à pequena cidade, ela se depara com a mesma hipocrisia e conservadorismo de 25 anos atrás.
Betty Faria eternizou a personagem com uma interpretação forte e decidida.

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Biografia de Jorge Amado
Os primeiros anos
No dia 10 de agosto de 1912 vinha ao mundo Jorge Leal Amado de Faria. Nascido em uma fazenda na cidade de Itabuna, sul da Bahia, Jorge Amado era filho de um produtor de cacau, o fazendeiro João Amado de Faria, sua mãe era Eulália Leal Amado.
Antes de completar dois anos de idade, passa a morar com a família em Ilhéus, fugindo de um surto de varíola. O menino então realiza seus estudos em Salvador.
Formação e envolvimento com a literatura
Por volta dos 14 anos envolve-se com a escrita e o universo da literatura, trabalhando na imprensa local. Ajuda a fundar o que ficou conhecido como "Academia dos Rebeldes", um coletivo de jovens escritores dispostos a trazer frescor e renovação para a literatura baiana e cujos textos eram publicados em revistas criadas por eles.
Em 1928, Jorge muda-se para o Rio de Janeiro, onde ingressa no curso de Direito da Universidade do Rio de Janeiro, formando-se advogado, profissão que nunca exerceu. É no ambiente universitário que Jorge tem grandes debates e reflexões sobre política e arte, aproximando-se da ideologia comunista.
Seu primeiro livro, O país do carnaval, é lançado em 1931. Dois anos depois, a obra Cacau é publicada com poucos exemplares, que esgotaram-se em pouco mais de um mês.
Nessa época Jorge casa-se com Matilde Garcia Rosa, com quem produz um livro para o público infantil chamado Descoberta do mundo. Da união com Matilde nasce sua primeira filha,que morre bem jovem, aos 14 anos.
Consolidação literária e participação na política
Publica em 1935 a obra Jubiatá, celebrada internacionalmente.
Por conta de seu envolvimento político com os ideias da esquerda e sua filiação ao PCB (Partido Comunista Brasileiro), o escritor sofre perseguição e é obrigado a auto-exilar-se, vivendo em vários países como Argentina, Uruguai, República Tcheca e França. Por conta disso, conhece diversos intelectuais, como Jean-Paul Sartre e Pablo Picasso.
Retorna ao Brasil em 1942, quando é preso pelo governo de Getúlio Vargas. Em 1945 casa-se com a também escritora Zélia Gattai e no ano seguinte é eleito deputado federal em São Paulo pelo Partido Comunista Brasileiro. Exerce o cargo por dois anos, quando é perseguido novamente e volta a exilar-se, voltando ao país em 1952.
Importante destacar que sua participação política foi importante para a criação de algumas medidas que favorecem a autonomia popular, como a liberdade de culto religioso, lei em vigor até hoje.
Anos 50 e 60: a criação de obras clássicas
O escritor distancia-se da militância comunista em 1955 e passa a dedicar-se exclusivamente à literatura. Nos anos 50 e 60 Jorge escreve seus romances mais emblemáticos, como Gabriela, Cravo e Canela, A morte de Quincas Berro D'Água e Dona Flor e seus dois maridos.
É nessa época que ele fortalece seu comprometimento com as religiões de matriz africana, sendo condecorado no candomblé como Obá de Xangô do Axé Opô Afonjá.
Em abril de 1961, passa a integrar a Academia Brasileira de Letras, ocupando a cadeira 23, que havia sido ocupada por Machado de Assis. Em 1966 é indicado ao Prêmio Nobel de Literatura.
Nas décadas seguintes, algumas histórias de Jorge Amado foram levadas à televisão e ao cinema. A mais famosa foi Gabriela, Cravo e Canela, com estreia em 1975 pela TV Globo.
Dos anos 80 aos anos 2000
Nos anos 80 e 90 o escritor ainda publicou outras obras, lançando em 1992 uma auto-biografia, Navegação da Cabotagem. Seu último livro foi feito em 1997, O milagre dos Pássaros.
Jorge Amado falece em 2001, quatro dias antes de completar 89 anos, por complicações cardiorrespiratórias. Seu corpo foi cremado e as cinzas enterradas em sua casa, em Salvador, junto às cinzas de Zélia Gattai, falecida em 2008.
Características da produção de Jorge Amado
Jorge Amado foi um escritor muito comprometido com a causa social e a luta contra a opressão. Por conta de seu envolvimento com valores humanitários e com a política de esquerda, sua produção sofreu enorme influência desses fatores.
Assim, Jorge considerava a escrita uma ferramenta de transformação social, produzindo muitas obras em que deixava clara sua ideia de um novo mundo. Ele também escolheu dar ênfase à vida do povo humilde, contando suas lutas, anseios e mazelas.
Outra característica marcante em seus livros é seu teor regionalista. Jorge discorre sobre a vida do povo baiano e do povo negro com propriedade. Além disso traça narrativas de maneira coloquial, usando palavras e termos simples.
O escritor ainda conseguia unir histórias ficcionais cheias de lirismo com acontecimentos históricos importantes.
Quanto à escola literária, podemos enquadrar o escritor como pertencente à segunda geração modernista da literatura brasileira, em que se destacavam elementos neo-realistas e regionais.