Quer saber mais sobre a Escola de Frankfurt?


Rebeca Fuks
Rebeca Fuks
Doutora em Estudos da Cultura

Pensadores judeus, majoritariamente marxistas, começaram a se reunir em 1923 e fundaram o Instituto para Pesquisa Social (em alemão Institut für Sozialforschung).

A escola interdisciplinar (em alemão Frankfurter Schule), formada na Universidade de Frankfurt, pretendia refletir sobre a sociedade, sobre o homem e sobre a cultura. Os intelectuais se debruçaram em questões ligadas à literatura, à filosofia, à política e à economia, mas também em elementos da vida cotidiana

Os maiores nomes da escola foram: Theodor W. Adorno (1903-1969), Max Horkheimer (1895-1973) e Walter Benjamin (1892-1940).

Resumo

O surgimento da Escola

1923 foi o ano da Primeira Semana de Trabalho Marxista, um congresso organizado por Felix J.Weil (1898-1975), um doutor em ciências políticas que reuniu uma série de intelectuais, sobretudo judeus.

O pai de Felix Weil, Herman Weil, imigrou para a Argentina onde abriu um bem sucedido negócio de cereais. A família regressou para a Alemanha em 1908 e, anos mais tarde, resolveu financiar a criação do Instituto. O pai de Weil foi, portanto, o mecenas do grupo tendo desembolsado 120 mil marcos num ano para a criação da instituição. A inspiração para a criação da escola veio do Instituto Marx-Engels de Moscou, fundado em 1920.

No dia 3 de fevereiro de 1923, um decreto do Ministério da Educação de Frankfurt autorizou a abertura da escola.

Os primórdios da Escola

Com uma abordagem transdisciplinar e majoritariamente comunista, o intuito inicial era promover

pesquisas sobre a história do socialismo e do movimento operário, sobre a história econômica, sobre a história e a crítica da economia política (Wiggershaus)

Mas logo os pensadores expandiram os horizontes e começaram a refletir também sobre questões da sociologia, da filosofia, da linguagem, da ciência política e da psicanálise.

Em 22 de junho de 1924 conseguiram fundar o Instituto para Pesquisa Social (em alemão Institut für Sozialforschung). O instituto começou a ser dirigido por Carl Grünberg, que ficou a frente da instituição até 1930, quando então tomou posse Max Horkheimer.

Principais nomes da Escola de Frankfurt

A escola teve uma primeira geração - que contou com membros originais como Adorno e Marcuse - e costuma ser considerada até os anos 40.

Depois desse período até 1967 se reconhece uma segunda geração com nomes como o de Habermas e Alfred Schmidt. Há quem considere ainda a existência de uma terceira geração, essa já bastante questionada.

Os principais pensadores a frente da Escola foram:

  • Max Horkheimer (1895-1973)
  • Theodor W. Adorno (1903-1969)
  • Carl Grünberg (1861-1940)
  • Walter Benjamin (1892-1940)
  • Friedrich Pollock (1894-1970)
  • Jürgen Habermas (1929)
  • Siegfried Kracauer (1889-1966)
  • Herbert Marcuse (1898-1979)
  • Erich Fromm (1900-1980)

Principais influenciadores

Movidos por um ideal marxista, os intelectuais da época foram muito influenciados pelas leituras de Freud, Weber, Nietzsche, Kant e Hegel.

As questões centrais levantadas pela Escola

Os intelectuais começaram a Escola de Frankfurt trabalhando num estudo sobre a teoria marxista e acabaram por expandir os horizontes de pesquisa enfocando especialmente na questão da indústria cultural.

Eles fizeram uma crítica ao marxismo clássico ao observarem um vazio de conhecimento - o marxismo clássico não se dedicou propriamente a pensar a área da cultura. Procurando corrigir esse gap, os membros da Escola de Frankfurt voltaram os olhares especialmente para essa questão.

A teoria crítica

Os pesquisadores elaboraram uma Teoria Crítica sobre a sociedade que procurava deixar os homens cientes e mais bem informados - com uma consciência social - buscando desenvolver um espírito crítico.

Os intelectuais se perguntaram e tentaram fazer ecoar as seguintes questões: por que consumimos? E por que compramos o que não precisamos? Como a sociedade de consumo nos influencia a desejarmos aquilo que é supérfluo? De que forma os meios de comunicação nos alienam e nos incentivam a adquirir objetos desnecessários? Por que motivos somos expostos a essa avalanche de bens de consumo?

Durante as pesquisas levadas a cabo pela Escola de Frankfurt, percebeu-se que a superestrutura social na qual estamos inseridos nos mobiliza a realizarmos ações que são necessárias para que o sistema econômico e social continue a funcionar. Em outras palavras, a comunicação e a cultura estão intimamente atreladas ao domínio e ao consumo.

Ao contrário do que se costuma supor, o ser humano não é livre, informado e plenamente autônomo e sim faz parte de um sistema coletivo que o faz consumir de modo mais ou menos consciente.

A indústria cultural

Adorno e os seus companheiros de escola demonstraram uma preocupação com a proliferação dos meios de comunicação e o impacto que essa quantidade de informação significava na sociedade.

Com um olhar analítico, se debruçaram sobre os meios de comunicação e procuraram analisar a indústria cultural do seu tempo.

Os intelectuais criticavam o capitalismo e pensam nas consequências dessa cultura da produção e do consumo massivo. Eles refletiam sobretudo sobre como a produção em massa impactava a nossa percepção das obras de arte (a massificação dos produtos culturais).

Outras questões na ordem do dia

Na Escola de Frankfurt se pensou sobre a questão da dominação não só financeira como também (e sobretudo) cultural, psicológica e política. O autoritarismo e o totalitarismo também foram temas da ordem do dia para os pensadores que viveram tempos políticos complicados com a ascensão do nazismo.

Os intelectuais da Escola pensaram o contexto contemporâneo e foram intelectuais de vanguarda ao analisarem, por exemplo, o cinema, que ainda era pouco ou nada estudado pela academia. Walter Benjamin foi pioneiro ao pensar de que forma o advento das novas técnicas de reprodução alteraram a nossa sensibilidade com relação a fruição das obras de arte (a chamada perda da aura).

A revista da Escola

Os trabalhos que foram sendo escritos pelos membros da escola e colaboradores eram publicados na revista do Instituto denominada originalmente Zeitschrift für Sozialforschung.

O nome da revista mudou para o inglês se tornando posteriormente Studies in Philosophy and Social Science.

Sobre o nome da Escola

Na realidade o nome Escola de Frankfurt foi dada a posteriori, somente na década de sessenta, para identificar esse grupo de pesquisadores.

Contexto do surgimento da Escola de Frankfurt

A Escola se desenvolveu no período de entre-guerras quando já se assistia as consequências devastadoras da Primeira Grande Guerra enquanto se orquestravam os indícios iniciais da Segunda Guerra Mundial.

O final da década de 20 foi marcado pela ascensão do nazismo e pela perseguição aos judeus. Em 1933 a casa de Horkheimer foi invadida - os oficiais não encontraram o intelectual nem a sua mulher, que prevenidos estavam vivendo em um hotel.

A mudança da Escola de país

Em julho de 1933 a escola foi fechada pelos nazistas sob o argumento de desenvolverem "atividades hostis" e precisou ser transferida para Genebra. Lá se tornou a Société Internationale de Recherches Sociales. Depois ainda migrou novamente para Paris e em 1934 para Nova Iorque (Universidade de Columbia).

A Escola só regressou à sua sede original em 1953.

Obras publicadas

De Theodor Adorno

  • Indústria Cultural e sociedade
  • Minima Moralia

De Max Horkheimer

  • Teoria Tradicional e Teoria Crítica
  • Eclipse da razão

De Theodor Adorno e Max Horkheimer

  • Dialética do Esclarecimento

De Erich Fromm

  • Análise do homem
  • Conceito marxista do homem

De Walter Benjamin

  • Conceito de crítica de arte no romantismo alemão
  • A origem do drama barroco alemão

De Jürgen Habermas

  • Teoria da ação comunicativa
  • O discurso filosófico da modernidade

De Herbert Marcuse

  • Eros e civilização
  • A ideologia da sociedade industrial

Conheça também

Rebeca Fuks
Rebeca Fuks
Formada em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2010), mestre em Literatura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2013) e doutora em Estudos de Cultura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e pela Universidade Católica Portuguesa de Lisboa (2018).